Escrito por: José Miguel Nunes Comecei a ler sobre surf quase desde que comecei a fazer surf, e já lá vão mais de trinta anos. Primeiro pelas inevitáveis revistas de surf, a que se seguiram os livros e por fim os inesgotáveis recursos que a internet nos proporciona. Nos finais dos anos oitenta apareceram as primeiras revistas de surf portuguesas, a Surf Portugal e a Surf Magazine, ambas já desaparecidas. Antes disso lia a Fluir e a Visual, vindas do outro lado do atlântico, também estas já desaparecidas. Chegavam ao Mário Bandeira com seis meses de atraso. Não interessava, devorava tudo sobre os campeonatos, via e revia vezes sem conta as fotos dos meus ídolos em Pipeline, Waimea, Sunset, Margaret River, Bells Beach, Jeffreys Bay, … Decalcava os logos das marcas de surf em papel autocolante para colar na prancha. Recortava as fotos para forrar os livros da escola. Cobria as paredes do quarto com os “posters” que todas traziam nas páginas do meio. Lia também algumas Surfer’s e Surfing’s. Essas eram os bifes que as traziam. Algumas delas já não completas, e muitas delas com muito mais de seis meses, mas isso pouco interessava. Os anos noventa mudam tudo, temos as nossas revistas em plena atividade, as outras começam a chegar a “tempo e horas”, e até os campeonatos e os nossos ídolos começam a passar por cá. A informação está então muito mais disponível, e com a chegada da internet tudo avança a uma velocidade supersónica. A imprensa em papel perde algum fulgor, mas em contrapartida a digital ganha contornos dantescos. Aparecem meios de comunicação exclusivamente digitais, os tradicionais adaptam-se e migram conteúdos para o digital, os blogues ganham expressão. Chegámos ao ponto em que toda a gente escreve e fala sobre o surf em Peniche. Peniche e as suas condições de excelência para esta actividade começam a ter importância estratégica, começam a fazer parte de diversas agendas, tanto económicas como políticas. Curiosamente, ou não, ninguém escreve nem fala sobre os surfistas de Peniche. Os surfistas de Peniche não tinham um espaço onde se falasse deles, os surfistas de Peniche não tinham um espaço onde os seus feitos fossem divulgados, os surfistas de Peniche não tinham um espaço em que pudessem dar voz aos seus anseios, os surfistas de Peniche não tinham um espaço onde pudessem opinar, os surfistas de Peniche não tinham um espaço onde pudessem falar do surf em Peniche. Os surfistas de Peniche não interessavam a quem tanto se interessava pelo surf em Peniche. Decido em 2011 dar o meu contributo para tentar reverter esta tendência, ainda que com a perfeita noção da escala diminuta que representava, e crio o PENICHE SURF NEWS. Foram mais de dois mil artigos, desde simples notícias sobre campeonatos e resultados, passando por artigos de opinião, uns mais elaborados que outros, uns mais técnicos que outros, história e estórias, crónicas de viagens e até algum humor com caricaturas e banda desenhada. Na vida tudo tem um fim, e o PENICHE SURF NEWS não é exceção, chegou também a sua hora. Termina com a firme convicção que cumpriu o seu propósito, falou e fez falar dos surfistas de Peniche, falou e fez falar do surf em Peniche na perspetiva dos surfistas de Peniche. Deixar uma palavra a todos aqueles que de alguma forma colaboraram neste projecto: JOÃO PAULO JORGE, LUÍS ALMEIDA, LISA MARQUES, PAULO FERREIRA, EDGAR HENRIQUES, NUNO CATIVO, LUÍS MATOS, JOÃO ROSADO, MARCO GONÇALVES, ANTÓNIO RODRIGUES, NUNO BALTAZAR, PEDRO DIAS, SILVANO LOURENÇO, DANIEL FONSECA, e GUILHERME FONSECA. Muito obrigado. Àqueles que nos leram ao longo destes anos, um enorme agradecimento, pois foi também para eles e por eles que o PENICHE SURF NEWS existiu. Foi um enorme desafio, mas acima de tudo foi um orgulho escrever sobre o surf em Peniche e os seus surfistas, e por isso não direi adeus, mas até já… com a convicção que outros projectos surgirão e outras formas de se falar do surf em Peniche e dos seus surfistas acontecerão. BOAS ONDAS
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Escrito por: José Miguel Nunes Num mundo em que mais vale parecer que ser, num mundo em que a hipocrisia é a virtude dos espertos, num mundo em que a ilusão tem mais força que a realidade, num mundo em que a manipulação e difusão de informação particionada é vista como uma brilhante estratégia de marketing promocional, o surf vive envolto numa áurea economicamente positiva e de crescimento exponencial, qual sol tapado pela peneira, que impede que se enxergue verdadeiramente a bolha em que efectivamente gravita. É frequente na comunicação social a referência aos milhões de euros que a etapa da WSL que passa por Peniche trás para a economia local, dois exemplos, passo a citar: “…estima-se que os mais de 100 mil visitantes que passam anualmente por Peniche durante a etapa do Mundial de surf representem um impacto económico local superior a 10 milhões de euros.” (in Beachcam); “CT de Peniche gera mais de 10 milhões de euros para a economia local” (in Onfire). Esta informação não reflete a verdade. Quem escreve estas notícias, das duas uma, (1) não leu o relatório do estudo que cita e limitou-se a escrever o que ouviu alguém dizer, ou (2) leu, mas achou que escrito desta forma tinha mais impacto, apesar de não ser totalmente verdade. No referido relatório não está escrito em lado nenhum que o MOCHE RIP CURL PRO 2015 teve um impacto na economia local de 10 milhões de euros, o que está escrito é que o volume de negócios gerado pelo MOCHE RIP CURL PRO 2015 é de 10 milhões de euros, o que é substancialmente diferente. Em recente reportagem, a determinada altura está escrito, e passo a citar: “O estudo “Impacto do turismo no desenvolvimento local – o caso prático do Surf em Peniche”, realizado pela própria autarquia, indica um retorno global da realização da prova de 30 milhões de euros em 2015…” (in ECO-Economia Online). Confesso que quando li esta afirmação fiquei baralhado. Passo a explicar, (1) Nunca tinha ouvido falar em tal estudo. Apenas um pequeno parêntesis para referir que em e-mail dirigido à Câmara Municipal de Peniche (CMP), datado de 26 de Outubro de 2016, com conhecimento ao e-mail do Sr. Presidente, solicitei a sua disponibilização. Ainda aguardo resposta; (2) Encontrei efetivamente uma referência a um valor de 30 milhões numa apresentação, inclusivamente disponível no site da CMP, não sei se será a este valor que se referem, mas se sim, apenas um pequeno pormenor, mas que faz toda a diferença, é que na dita apresentação o retorno global a que esta se refere, como lá está escrito, é relativo ao “Media return”, isto é, aos meios de comunicação social, o que é substancialmente diferente de apenas retorno global. Nos exemplos apresentados, percebemos que pelo simples facto de acrescentarmos ou retirarmos uma simples palavra, damos uma dimensão ilusória da realidade. Dá-se a parecer que são 10 milhões para a economia local, quando na realidade não é isso que o estudo diz. Dá-se a parecer que são 30 milhões de retorno global, quando afinal não é isso que a apresentação diz. O mais importante é que parece, e enquanto conseguirmos manter a aparência a bolha vai respirando. Como bem escreveu um conhecido “blogger” local, “esses milhões vão ter que aparecer nos IRC e IRS de toda esta gente”. Quando a bota não bater com a perdigota, o parece que é, transforma-se rapidamente no afinal não é, e a bolha rebenta. Escrito por: José Miguel Nunes "Vivemos um novo "boom" do surf português, sobretudo devido aos estrangeiros, mas também a instituições como escolas, health clubs ou câmaras municipais que querem incluir o surf nos seus programas lúdicos. É bom para o negócio, mas agrava a sobrelotação das praias.” – João Diogo No negócio do turismo de surf, quem toma decisões de regulamentação nesta matéria, ou não se tratasse efectivamente de um negócio, foca-se quase exclusivamente na parte económica, e é usual vermos nos principais meios de comunicação social, apenas e só, referências aos 400 milhões de euros de impacto do surf na economia nacional ou aos 10 milhões de impacto do Rip Curl Pro Portugal. Obviamente existem aspetos positivos a reter ao nível económico, e estes referem-se principalmente à criação de receitas provenientes dos consumos turísticos dos surfistas, oportunidades de emprego e investimento em novos negócios de surf. A troca de experiências e de culturas, bem como a criação de (algumas) infraestruturas, destacam-se nos impactes socioculturais positivos. É importante no entanto ter em conta que este mercado assente no turismo de surf, pode criar impactos negativos nos destinos de surf, e mais uma vez ao nível económico, sociocultural e ambiental, que obviamente reduzem a satisfação da experiência turística, resultantes do que Barilotti apelidou, de colonialismo surfista, com implicações nomeadamente ao nível do lixo, estradas, erosão, poluição da água, degradação ambiental e esgotamento de recursos. Relativamente ao económico, a proliferação de negócios ilegais relacionados com a atividade de surf, como por exemplo surfcamps ou surfscools, colocam em causa a segurança, ao mesmo tempo que inflacionam os preços na dicotomia qualidade/preço. No âmbito sociocultural, o aumento do crowd, revela-se mais uma vez de grande importância, pois dificulta o processo de apanhar e de surfar a onda, criando tensões e constantes conflitos no line-up. Ao nível ambiental, novamente em resultado do aumento do crowd, este gera problemas de poluição das praias, pressão sobre os recursos, tráfego e congestionamento dos estacionamentos. Relativamente à questão ambiental, o destaque positivo vai para o surgimento de ONG’s como a Save The Waves Coalition (SWC), a Surfrider Foudation (SRF), a Surfers Against Sewage (SAS) ou a SOS – Salvem o Surf, que promovem a defesa ambiental das zonas costeiras tendo como base, as ondas, o surf e o seu valor. Por outro lado, classificações como as de Reserva Regional de Surf (RRS), Reserva Nacional de Surf (RNS) e Reserva Mundial de Surf, promovem a sustentabilidade ambiental das zonas onde estão inseridas, em que os critérios para a sua atribuição assentam em: 1) Qualidade e consistência da onda; 2) Características ambientais da zona; 3) Cultura e história do surf na região; 4) Apoio da comunidade local, tendo os surfistas como intervenientes principais. As duas primeiras, RRS e RNS, são atribuições a um nível interno existentes em alguns países, como são os casos do Havai e da Austrália, enquanto a terceira, RMS, é uma atribuição a um nível externo. A título de exemplo, o turismo de New South Wales (NSW), Austrália, no documento que produziu sobre turismo de surf, Catching the Waves, refere a existência de seis reservas nacionais no seu território, como informação pertinente do seu desígnio de posicionar a NSW como primeiro destino de surf na Austrália. Como refere João Araújo em recente artigo, “Dizer que o surf em Portugal está na crista da onda soa a cliché …” no entanto “no meio de tantas rosas, há, porém, alguns espinhos” que convém não esquecer. (*)Texto original integrante da Dissertação de Mestrado em Turismo e Ambiente: “O SURFISTA E A SUA SATISFAÇÃO NA COMPONENTE DA EXPERIÊNCIA TURÍSTICA DE SURF: O CASO DE PENICHE“, defendida em 1 de Outubro de 2015 na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar do Instituto Politécnico de Leiria. Escrito por: José Miguel Nunes “Dado que a «vaga» de cavalgar as ondas surgiu na Europa e vai aumentando de volume, é de esperar uma crescente afluência de praticantes à procura das nossas praias e do nosso sol que persiste através do Inverno.” – Pedro Martins de Lima De acordo com Buckley o turismo de surf enquadra-se na rubrica turismo de aventura com base na natureza. A mesma opinião tem Tantamjarik, que no seu estudo refere que o turismo de surf é apenas um dos nichos de mercado do sector turismo de aventura com base na natureza. Já Dolnicar e Fluker enquadram-no como um subsector do turismo desportivo. Segundo dados da EuroSIMA (2012) a indústria mundial do surf movimenta cerca de 11 biliões de euros por ano, onde se incluem receitas de publicidade, marcas, patrocínios e turismo, desenvolvendo-se o turismo de surf em milhares de zonas costeiras desde a Islândia até à Antártida. Um dos primeiros estudiosos a propor uma definição para este fenómeno foi Fluker, descrevendo-o como “um turismo que envolve pessoas a deslocarem-se para destinos domésticos por um período de tempo não superior a seis meses, ou para um destino internacional por um período não superior a doze meses, que permanecem pelo menos uma noite, e onde a participação ativa no desporto de ondas é a motivação primária na seleção do destino”, ressalvando no entanto que o “turismo de surf não inclui necessariamente apenas surfistas (praticantes), mas também espectadores e companheiros (as) não surfistas”. Existe no entanto uma contradição na definição apresentada por Fluker, pois a determinada altura refere a participação activa no desporto, para depois incluir acompanhantes e mesmo especatdores. Buckley, distinguiu o turismo de surf recreativo do turismo de surf comercial, e defini-os de forma pragmática. Relativamente ao primeiro conceito, definiu-o como uma “viagem superior a 40 quilómetros a partir do local de residência, para passarem pelo menos uma noite com o intuito de ocuparem o seu tempo de lazer ativo, principalmente a fazer surf”, para o segundo, acrescentou apenas o prefixo pacote de férias à definição, ou seja, no primeiro caso, os surfistas planeiam as suas viagens, utilizam transporte e equipamentos próprios e pernoitam em alojamentos locais, enquanto no segundo caso, utilizam operadores turísticos para adquirirem um pacote que poderá englobar transporte, alojamento, alimentação, equipamento e surf tours. Ponting, não engloba a vertente de distância na sua definição, mas utiliza o termo surfista, o que acrescenta algo de novo às definições anteriores e define turismo de surf como “a viagem e permanência temporária, realizada por um surfista, envolvendo pelo menos uma noite fora da sua região de domicílio habitual, cuja principal expectativa é surfar”, definindo surfista como a “pessoa com habilidade e conhecimento suficiente para utilizar a força da onda de modo a impulsioná-lo para a frente em toda a sua extensão, conseguindo antecipar e responder à sua constante mutação”. De acordo com Standeven e De Knop, para os surfistas serem encarados como turistas têm primeiro de sentir a necessidade de se deslocar para fora da sua zona de residência ou do local de trabalho, podendo este tipo de turismo ser considerado doméstico ou internacional, consoante os destinos escolhidos para praticar surf, sejam dentro das fronteiras do país de residência, ou ao invés, num país estrangeiro. No entanto, e segundo Buckley, os turistas de surf primeiro são surfistas e só depois turistas. Neste sentido, o sonho do turista de surf é muito específico e surpreendentemente coerente em todas as idades e nacionalidades, ou seja, os surfistas caracterizam-se pelo esforço e tempo que investem no surf e a sua predisposição e propensão para se deslocarem em busca da onda perfeita, o primeiro elemento simbólico da utopia do turista de surf. Outra das características do turista de surf é a sua preferência por destinos com pouco “crowd”, segundo elemento simbólico da utopia do turista de surf, sendo este o fator mais limitativo para o desenvolvimento do turismo de surf, ou seja, o excesso de “crowd” é um fator especialmente importante, pois evitá-lo é uma das principais motivações na escolha de um destino para uma viagem de surf. Temos então o “turismo para fazer surf”, que encaixa na definição de Ponting, de acordo com o que este entende por um surfista, e o “turismo de surf”, que encaixa na definição de Dolnicar e Fulker, que engloba os não surfistas. Martin e Assenov, propõem que turista de surf seja qualquer viajante que, deliberadamente, se envolva na prática do surf, incluindo aqueles que o fazem pela primeira vez ou iniciantes, intermédios e surfistas experientes. Dividem então o conceito de surfista em três, em que os primeiros serão aqueles que procuram lições de surf em local seguro, de ondas pequenas, acompanhados de um instrutor, para classificar os intermédios como viajantes que procuram estadias em surfcamps/hostels, onde podem ter acesso a guias e material de surf e, por fim, os experientes, que viajam propositadamente para locais de ondas grandes e de elevada qualidade, e seguindo a mesma lógica, acabam por propor também a divisão de turismo de surf, e utilizando a sua própria nomenclatura, em “Hard surf tourism”, “Soft surf tourism” e “Incidental surf tourism”, em que os turistas que se encaixam na primeira categoria serão aqueles que empreendem a viagem com o propósito único de fazer surf, na segunda, aqueles que tendo o surf como objetivo, não foi no entanto a sua primeira motivação e, por fim, a terceira, em que o turista não tendo qualquer contacto prévio com o surf, mas estando de férias na praia e vendo outros praticando, decidem também experimentar. No contexto do turismo de surf, quando um novo destino é descoberto a indústria do surf mediatiza-o, nomeadamente através dos media, criando um discurso de “Wonderland surfing”, pois é este que atrai turistas e cria lucros comerciais para os operadores turísticos, correndo-se um sério risco de “overcrowding” que, por sua vez, poderá pôr em causa e poderá destruir o produto vendido no referido discurso de “Wonderland”, uma experiência de surf num destino, sem “crowd”. Ponting e O’Brien, evoluem então para a definição do que consideram turismo de surf sustentável, que segundo eles se encaixa na concepção de atividade turística sustentável, conforme recomendação da UNESCO, ou seja, centrada na prática do surf, satisfazendo por um lado as necessidades dos turistas de surf e, por outro lado, respeitando o bem-estar atual e futuro da população local, tanto ao nível sociocultural, como económico e ambiental. (*)Texto original integrante da Dissertação de Mestrado em Turismo e Ambiente: “O SURFISTA E A SUA SATISFAÇÃO NA COMPONENTE DA EXPERIÊNCIA TURÍSTICA DE SURF: O CASO DE PENICHE“, defendida em 1 de Outubro de 2015 na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar do Instituto Politécnico de Leiria. Escrito por: José Miguel Nunes “…the idea of packaging it under all the pomp of the Olympics makes me cringe. Surfing is at its worst when people are trying to exploit it, and this push for the Olympics feels like it’s being driven by the exploiters. And I fear we’ll all end up being embarrassed if it happens. If it were up to a vote, I’d say no for sure.” – Steve Hawk Foi anunciado a inclusão do surf como modalidade experimental nos Jogos Olímpicos de 2020 a realizar no Japão. Já sei que me vão chamar velho do restelo, e mais isto e mais aquilo, mas muito sinceramente, não é uma notícia que me deixe particularmente feliz e faço desde já um parêntesis para dizer que aceito e compreendo quem tenha uma opinião diferente. Tenho a convicção que esta inclusão não será necessariamente positiva para o futuro do surf como desporto. O surf é diferente de todos os outros desportos e acima de tudo é muito mais do que um desporto. “…the thought of surfing in the Olympics brings a familiar dab of bile to my throat. Can we just all agree to pretend, for a little while longer, that surfing is a unique thing to do.” – Matt Warshaw Como surfista que adora ver surf, acho que será por demais enfadonho ver uma competição de surf numa piscina, com ondas todas iguais, falta de areia, falta de vento, falta do cheiro a maresia, falta de mudança da maré, saber se a onda que é preciso vem ou não, e se vier se é boa ou não… Acho que não irei gostar de uma competição de surf em que a probabilidade de ver surf de “rail” tenderá a desaparecer e o que passará a contar serão o número de rotações e cambalhotas que se conseguirão fazer num aéreo, e isto é algo que não me atrai minimamente. Por outro lado, a esfregar as mãos de contentes devem estar os tubarões da indústria do surf. Conseguiram finalmente ter acesso ao “galinheiro dos ovos de ouro” e a perspetiva dos lucros é enorme. Nesta sociedade em que o mais importante é ganhar este ano mais um milhão do que no ano anterior… e se para o atingir for necessário, que se venda a alma ao diabo, o surf nos Jogos Olímpicos caiu que nem ginjas. Neste lote inclui-se o melhor surfista de todos os tempos, sim, ele mesmo, Kelly Slater, que coincidência das coincidências apresentou a sua piscina de ondas, com vídeos de alguns dos seus “amigos” do “tour” a desfrutarem daquela “maravilha”, poucos meses antes desta decisão histórica, com um impacto mediático acima de todas as outras apresentações de projetos similares. As negociatas que por aí já devem andar com a Kelly Slater Wave Company, ZoeSea’s e COI’s à mistura. A alma do surf já há muito que foi vendida ao diabo, disso não há dúvida, e a maior prova foi a entrada da ZoeSea para o comando do surf mundial, que culminou com a extinção da ASP e a criação da WSL (até o nome é americanizado e tresanda a yuppie), com ramificações em todo o mundo, bem ao estilo tentacular dessa espécie marinha da classe “cephalopoda” e ordem “octopoda”. Esta entrada para as Olimpíadas é apenas mais uma confirmação. “The Olympics are a cynical institution that degrades sport in the name of tv ratings every two years…” - Tetsuhiko Endo É provável que para a realização dos jogos em 2020 no Japão, aqueles em que o surf irá entrar pela primeira vez como modalidade experimental, se destruam três ondas de qualidade (Osaki, Kabune e Inamura). É o preço a pagar para se contruir uma zona de residências que, servirá de casa aos atletas da vela que estarão presentes no evento. Presumo que o melhor surfista de todos os tempos conviva bem com esta realidade, desde que… a sua piscina entre nas contas, claro… Identifico-me a 100% com o Damien Hobgood quando afirma, “I love the Olympics, but for some reason seeing surfing as part of that hasn’t ever really been something that I’ve felt very strongly about.” Espero sinceramente que o surf nos Jogos Olímpicos não passe de 2020 como modalidade experimental, e eu até gosto de ver os Jogos Olímpicos, a sério que gosto, mas muito honestamente acho que não são a nossa onda. “Não imagino o surfe na Olimpíada. Perderia um pouco do espírito do esporte mesmo. Acho que não combina com nosso clima.” – Ítalo Ferreira Só para terminar, uma palavra aos nosso surfistas, nomeadamente para aqueles que até agora consideraram que representar a seleção portuguesa e o seu país em mundiais e europeus não era benéfico nem prestigiante para as suas carreiras desportivas, tenham agora alguma decência e vergonha na cara e não se ponham na fila da frente para irem às próximas Olimpíadas cantar A Portuguesa de mão no peito. Boas ondas… Escrito por: José Miguel Nunes “Stoked, the surfers term for the dizzy-like hight that is achieved in vertigo producing activities” – R. J. Farmer “Surfer stoke is impossible to adequately explain unless you’ve experienced it.” - N. Holtz A satisfação no surf, ou a satisfação do surfista, ancora na expressão stoke ou stoked, que embora não possa ser literalmente traduzida, e dificilmente explicada, significa na gíria surfista, algo como ficar animado, contente, feliz, emocionado. Começou a ser usada pelos surfistas da Califórnia em meados dos anos cinquenta, numa adaptação da palavra holandesa do século XVII stoke, usada para descrever o acto de reposição dos toros de madeira numa lareira para avivar as chamas. "I can see the stoke in their eyes and in a smile that burns as bright as a bonfire…" - Tomson & Moser Segundo Keauokalani, na sua obra "Traditions of Hawaii", os antigos havaianos teriam uma expressão para se referirem a este estado de estar stoked, que designavam de höpüpü. "…during November, which in the Hawaiian calendar is called ‘Ikuwä, in honor of “defending” winds, storms and waves that occur during that month, early Hawaiians would become particularly höpüpü." O surf como actividade dominada por sensações extraordinárias que se baseiam no aproveitamento directo de uma força da natureza, as ondas, alcança patamares que se encontram muito para além do económico, tais como a felicidade, a relação com a natureza e os benefícios físicos, relacionados numa primeira instância, com a qualidade e diversidade das ondas, e numa segunda instância com a vivência do ambiente e cultura de surf, ou seja, a vida em torno do oceano e a cultura da praia. Envolvendo várias vertentes, como a desportiva, a de lazer ou a de aventura, os surfistas apresentam uma relação de grande proximidade com os princípios de desenvolvimento sustentável, pois a pretensão é o desfrute de um ambiente natural num cenário não congestionado estando dispostos a recusar outras actividades em prol de um bom dia de surf, tornando-se a procura do surf em locais não descobertos ou não povoados, a essência da experiência de surf, na incessante busca da onda perfeita. Segundo estudo realizado por Dolnicar e Fulker o crowd constitui-se como um factor extremamente importante na selecção de um destino de surf, ou seja, quanto mais crowd houver menos atractivo será o destino. Refere ainda Ralph Buckley que o crowd tem implicações ao nível da experiência do turista de surf no local, destacando entre outras, a qualidade do ambiente natural, a duração das condições favoráveis à prática de surf e a existência de secret spots, assim como questões de segurança. A regra de ouro no surf, “um surfista, uma onda”, sai seriamente afectada com o aumento do crowd, sendo um bom indicador desta evidência, o rácio do número de ondas que um surfista está em posição de aproveitar, mas que são aproveitadas ou estragadas por outros, sobre o número de ondas efectivamente concretizadas pelo surfista. Quanto mais surfistas estiverem na zona de take-off à espera do set para surfar uma onda, mais feroz será a disputa, com as probabilidades de sucesso a baixarem exponencialmente. O crowding assume-se assim como um factor social que limita a capacidade de desfrutar do turismo de surf, pois como nos diz Buckley para os surfistas dispostos a pagar para praticar surf, a atracção não é apenas haver ondas boas, mas sobretudo haver ondas boas sem crowd. (*)Texto original integrante da Dissertação de Mestrado em Turismo e Ambiente: “O SURFISTA E A SUA SATISFAÇÃO NA COMPONENTE DA EXPERIÊNCIA TURÍSTICA DE SURF: O CASO DE PENICHE“, defendida em 1 de Outubro de 2015 na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar do Instituto Politécnico de Leiria. Escrito por: José Miguel Nunes Fará no próximo mês cinco anos que iniciei este este blogue. Antes disso escrevi no Jornal de Peniche on-line durante quatro anos, e ainda antes, num outro blogue durante sensivelmente dois anos. Ao longo deste tempo por várias vezes fui pressionado relativamente ao que escrevo, várias vezes criticado, e felizmente, algumas vezes elogiado. É assim que se joga este jogo das opiniões. Nenhum problema relativamente a isso, bem pelo contrário, pois tenho a firme convicção que todas as criticas são bem vindas, todas as opiniões são válidas, desde que cumpram um pressuposto essencial, que sejam fundamentadas. Mentiria se dissesse que as criticas não me afetam, tanto as negativas como as positivas. Mentiria se dissesse que não me sinto orgulhoso pelas positivas e triste pelas negativas. Relativamente às pressões, também estas tiveram influência em mim, mas neste caso, e felizmente, com o resultado inverso aos seus propósitos, ou seja, redobraram o ânimo para continuar. Algumas vezes senti mágoa, não seria verdadeiro se não o assumisse, é normal que isso aconteça quando a crítica é negativa, como diz o velho ditado, quem não se sente não é filho de boa gente. Como consequência, debatem-se pontos de vista, esgrimem-se posições, e de uma forma ou de outra encaixa-se o resultado. Em determinadas situações analisando a origem dos comentários, quando possível, conseguia-se perceber o verdadeiro alcance dos mesmos, a sua profundidade e os seus objetivos, o que nunca chegou para me fazer sentir desapontado, pois mais coisa, menos coisa, era o que se esperava. Ultimamente tenho-me dedicado a outro tipo de escrita, menos de opinião, mais científica, baseada em estudo e análise estatística, suportada por bibliografia, conceitos, fórmulas, num trabalho conjunto com pessoas que muito me orgulham em me aceitarem como parceiro de estudos. É uma escrita muito mais elaborada, técnica, requer muita informação, muitas horas de pesquisa. Não se baseia nem em perceções, nem em experiencia pessoal e muito menos em opiniões, daí que me tenha ocorrido que se até agora não tinha ainda sentido o amargo sabor da desilusão por escrever sobre surf, que não seria agora que o iria sentir. Esta perceção, por assim dizê-lo, baseava-se em algo muito simples, os números são o que são, estão lá, não enganam, quer se goste, quer não se goste do resultado. Erro crasso da minha parte. A vida realmente é uma aprendizagem constante. E foi precisamente nesta escrita em que a subjetividade escasseia e a opinião pessoal não conta, que acabei por me desiludir, não com as críticas, não com a escrita, não com os números, mas com as pessoas. Escrito por: José Miguel Nunes Foi no passado sábado, dia 30 de Abril, que o Surf Castle, instalado na mítica casa em frente ao Lagido, comemorou o seu décimo aniversário. Depois de em 2014 ter tido a iniciativa, excelente iniciativa, diga-se, de comemorar os 50 anos de surf em Peniche onde juntou alguns dos mais respeitados dinossauros cá da terrinha, acompanhados dos respectivos “bacalhaus”, este ano repetiu o encontro, agora para comemorar os seus 10 anos de existência. Nas palavras de um dos participantes, foi um dia marcado por “momentos excepcionais de grandes e relevantes memórias, nas nossas vidas de surfistas”. Pela segunda vez tive a honra de ser convidado, e infelizmente, pela segunda vez não consegui comparecer. Ao visualizar as fotografias que ficarão para a posteridade a emoção levou a melhor. Tenho esperança que surjam outras oportunidades, até porque o momento faz transparecer vibrações que indicam que iniciativas como esta, e esta em particular, têm tudo para se tornar em algo mais, começando já a roçar contornos de alguma tradição. Uma palavra aos seus pensadores, João Gaúcho e Pedro Pulido Valente, este último com o qual partilhei algumas boas surfadas, principalmente no Lagido. Era vê-lo sempre cheio de pica a refilar com a malta mais velha quando levava algum dropino. Lá está, memórias, o surf também é feito de memórias… No mundo em que vivemos hoje, de concorrência feroz, é necessário marcar positivamente a diferença relativamente aos demais, e vocês já o fizeram.
Obrigado Gaúcho... obrigado Ginjas. Escrito por: José Miguel Nunes “A imprensa, nomeadamente a imprensa especializada e os outros média, incluindo os modernos meios de comunicação eletrónica, devem fornecer informação honesta e equilibrada sobre os acontecimentos e situações suscetíveis de influir na frequência turística (…)” – Artigo 3, nº1 do Código Mundial de Ética no Turismo Desde 2009 que passa por Peniche o principal circuito mundial de surf, primeiro como evento especial, e a partir de 2010 como prova fixa do calendário. Aconteceram portanto sete edições e foram feitos quatro estudos, mais precisamente sobre os anos de 2010, 2012, 2013 e 2015. No passado dia 21 de Março, foi promovida pela Câmara Municipal de Peniche (CMP), com toda a pompa e circunstância na Fortaleza de Peniche, a conferência de imprensa para apresentação do ESTUDO DO IMPACTO DO MOCHE RIP CURL PRO PORTUGAL 2015. Nos dias seguintes não houve órgão de comunicação social tanto de âmbito nacional como regional que não se referisse à mesma. Que bom. Achei no entanto deveras enfadonho ler precisamente a mesma coisa em todos eles, ou seja, a única coisa a que se referiram de um relatório de 25 páginas em formato A4, foi à última célula da última coluna do quadro 9 da página 21 do mesmo. Até parecia “copy paste”. Das duas uma, ou ninguém leu o relatório e limitaram-se a seguir as informações veiculadas, se existir, pelo gabinete de imprensa da CMP, ou por quem o substitua, ou então, efetivamente o relatório nada mais tinha de interesse que não esse quadro 9 da página 21. Rejeito por completo a segunda hipótese, o que me leva a concluir relativamente à primeira quatro coisas: (1) os estudos encomendados têm apenas um único objetivo, o interesse mediático; (2) a dependência relativamente às comunicações veiculadas deixam transparecer a fraca qualidade jornalística existente; (3) a informação que chega ao público em geral via imprensa vem ferida de interesses e (4) a filtragem informativa nas comunicações veiculadas demostram uma enorme falta de respeito pelo trabalho dos investigadores. Se continuarmos a olhar apenas para a última célula dos quadros 9 das páginas 21 destes estudos, muito dificilmente planearemos a atividade turística de surf de modo sustentável para um período mais abrangente que não apenas o do ciclo politico. Se continuarmos a olhar apenas para a última célula dos quadros 9 das páginas 21 destes estudos, muito dificilmente perceberemos o que efetivamente teremos de mudar para tornar este segmento turístico como uma atividade efetivamente duradoura e sustentável. Se continuarmos a olhar apenas para a última célula dos quadros 9 das páginas 21 destes estudos, continuamos unicamente a promover os egos de alguns e os interesses económicos de outros, poucos, enturmados que estão no lóbi do surf nacional, que pouco ou nada lhes interessa os benefícios que um evento desta magnitude representa para a economia local da região onde efetivamente este acontece. Como resultado, as parangonas gordas da imprensa sobre este assunto a única coisa a que se reportaram foi provavelmente ao item que nesta fase menos interesse terá, uma vez que os três estudos anteriores já refletiram sobejamente sobre ele, os mediáticos 10 milhões indicados na última célula do quadro 9 da página 21. É necessário evoluir, é necessário avançar, é necessário pelo menos olhar atentamente para os diversos itens que permitiram chegar a tal resultado, mas mais importante, é necessário olhar para todos os outros aspetos estudados e refletidos no mesmo relatório, para assim pelo menos tentar cumprir o disposto no artigo inicialmente referido neste texto. Assim, continua a “chover no molhado”… é pena… Escrito por: José Miguel Nunes Nos passados dias 21 e 22 de Fevereiro iniciou-se a época competitiva 2016 ao nível regional para os atletas do PPSC – Peniche Surfing Clube. Foi com excelentes ondas nos Supertubos que se realizou a primeira etapa do CIRCUITO DE SURF DO CENTRO, que irá passar também pela Figueira da Foz, Nazaré e Ericeira, e neste caso simultaneamente a primeira etapa do CIRCUITO INTERSÓCIOS DO PPSC. Acontecerá também este ano pela primeira vez o CIRCUITO DE BODYBOARD DO CENTRO, que passará pelas mesmas localidades. Ver jovens e menos jovens, mas sobretudo jovens atletas locais competirem em clima de festa nestes circuitos é algo extremamente motivante para quem, com bastante dificuldade e de forma completamente desinteressada tenta dar dignidade e reconhecimento ao clube local, proporcionando competição a todos os seus associados. Ver jovens, alguns muito jovens, iniciarem-se na competição e ficarem muito contentes por verem na praia, ao seu lado, alguns dos seus ídolos, é algo que não se consegue transmitir por palavras. É de todos conhecida a enorme dificuldade com que um clube com a dimensão do PPSC tem em conseguir apoios que proporcionem a realização deste tipo de eventos, que ainda assim só são possíveis apenas pelo espirito associativo e voluntário dos seus responsáveis e associados. Apenas um exemplo, há quase uma década que não passava por Peniche uma etapa do principal circuito de bodyboard nacional. Apesar das enormes dificuldades, no final do ano passado aconteceu. A mensagem que passou é que Peniche é uma terra de bodyboarders, de grandes bodyboarders e que uma etapa do principal circuito nacional teria forçosamente que passar por cá, pois a sua história e o que o bodyboard já deu e continua a dar a esta terra não pode ser esquecido. Foi empolgante ver os nossos atletas baterem-se de igual para igual com os melhores, foi empolgante ver os nossos atletas chegarem às finais. Foi um grande campeonato, por todos reconhecido. Já em 2016 Peniche receberá uma etapa do Nacional Open, do Nacional de Dropknee, uma etapa do Nacional de Esperanças, uma etapa do Regional de Bodyboard, para além do circuito intersócios e de eventuais eventos especiais. Neste sentido foi com muita pena que uns meses depois, num evento organizado pelo clube, com muitos participantes locais, como já referi, alguns muito jovens, que vi alguns bodyboarders locais, dois dos quais dos mais antigos e “respeitados”, que apesar das sucessivas chamadas de atenção por parte da organização, darem um péssimo exemplo, principalmente aos mais jovens, de falta de respeito pelo clube da sua terra, ao não respeitarem a área de competição e interferirem com ondas dos competidores, de um evento por si organizado, numa atitude descaradamente provocatória e egoísta. É realmente pena que atitudes destas partam de quem em tempos também competiu e é visto hoje como ídolo de alguns dos jovens que se encontravam na praia. Atitudes destas relativamente ao clube da terra, o qual deveria merecer união, orgulho e apoio por parte de todos os locais, principalmente dos mais velhos, deixam trespassar uma muito fraca imagem, nada abonatória, principalmente para quem tem responsabilidades profissionais na área. Provavelmente estes dois bodyboarders sejam da opinião que não faz sentido haver um clube de surf em Peniche. Provavelmente estes dois bodyboarders sejam da opinião que não faz sentido o clube promover um circuito regional de bodyboard. Provavelmente estes dois bodyboarders sejam da opinião que não faz sentido o clube fazer passar por Peniche uma etapa do Circuito Nacional de Bodyboard Esperanças. Provavelmente estes dois bodyboarders sejam da opinião que a passagem de uma etapa do Circuito Nacional de Bodyboard Open e de Dropknee não seja importante tanto para os bodyboarders como para as marcas locais. Provavelmente... Para reflexão… |
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Dezembro 2016
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