Escrito por: José Miguel Nunes “…the idea of packaging it under all the pomp of the Olympics makes me cringe. Surfing is at its worst when people are trying to exploit it, and this push for the Olympics feels like it’s being driven by the exploiters. And I fear we’ll all end up being embarrassed if it happens. If it were up to a vote, I’d say no for sure.” – Steve Hawk Foi anunciado a inclusão do surf como modalidade experimental nos Jogos Olímpicos de 2020 a realizar no Japão. Já sei que me vão chamar velho do restelo, e mais isto e mais aquilo, mas muito sinceramente, não é uma notícia que me deixe particularmente feliz e faço desde já um parêntesis para dizer que aceito e compreendo quem tenha uma opinião diferente. Tenho a convicção que esta inclusão não será necessariamente positiva para o futuro do surf como desporto. O surf é diferente de todos os outros desportos e acima de tudo é muito mais do que um desporto. “…the thought of surfing in the Olympics brings a familiar dab of bile to my throat. Can we just all agree to pretend, for a little while longer, that surfing is a unique thing to do.” – Matt Warshaw Como surfista que adora ver surf, acho que será por demais enfadonho ver uma competição de surf numa piscina, com ondas todas iguais, falta de areia, falta de vento, falta do cheiro a maresia, falta de mudança da maré, saber se a onda que é preciso vem ou não, e se vier se é boa ou não… Acho que não irei gostar de uma competição de surf em que a probabilidade de ver surf de “rail” tenderá a desaparecer e o que passará a contar serão o número de rotações e cambalhotas que se conseguirão fazer num aéreo, e isto é algo que não me atrai minimamente. Por outro lado, a esfregar as mãos de contentes devem estar os tubarões da indústria do surf. Conseguiram finalmente ter acesso ao “galinheiro dos ovos de ouro” e a perspetiva dos lucros é enorme. Nesta sociedade em que o mais importante é ganhar este ano mais um milhão do que no ano anterior… e se para o atingir for necessário, que se venda a alma ao diabo, o surf nos Jogos Olímpicos caiu que nem ginjas. Neste lote inclui-se o melhor surfista de todos os tempos, sim, ele mesmo, Kelly Slater, que coincidência das coincidências apresentou a sua piscina de ondas, com vídeos de alguns dos seus “amigos” do “tour” a desfrutarem daquela “maravilha”, poucos meses antes desta decisão histórica, com um impacto mediático acima de todas as outras apresentações de projetos similares. As negociatas que por aí já devem andar com a Kelly Slater Wave Company, ZoeSea’s e COI’s à mistura. A alma do surf já há muito que foi vendida ao diabo, disso não há dúvida, e a maior prova foi a entrada da ZoeSea para o comando do surf mundial, que culminou com a extinção da ASP e a criação da WSL (até o nome é americanizado e tresanda a yuppie), com ramificações em todo o mundo, bem ao estilo tentacular dessa espécie marinha da classe “cephalopoda” e ordem “octopoda”. Esta entrada para as Olimpíadas é apenas mais uma confirmação. “The Olympics are a cynical institution that degrades sport in the name of tv ratings every two years…” - Tetsuhiko Endo É provável que para a realização dos jogos em 2020 no Japão, aqueles em que o surf irá entrar pela primeira vez como modalidade experimental, se destruam três ondas de qualidade (Osaki, Kabune e Inamura). É o preço a pagar para se contruir uma zona de residências que, servirá de casa aos atletas da vela que estarão presentes no evento. Presumo que o melhor surfista de todos os tempos conviva bem com esta realidade, desde que… a sua piscina entre nas contas, claro… Identifico-me a 100% com o Damien Hobgood quando afirma, “I love the Olympics, but for some reason seeing surfing as part of that hasn’t ever really been something that I’ve felt very strongly about.” Espero sinceramente que o surf nos Jogos Olímpicos não passe de 2020 como modalidade experimental, e eu até gosto de ver os Jogos Olímpicos, a sério que gosto, mas muito honestamente acho que não são a nossa onda. “Não imagino o surfe na Olimpíada. Perderia um pouco do espírito do esporte mesmo. Acho que não combina com nosso clima.” – Ítalo Ferreira Só para terminar, uma palavra aos nosso surfistas, nomeadamente para aqueles que até agora consideraram que representar a seleção portuguesa e o seu país em mundiais e europeus não era benéfico nem prestigiante para as suas carreiras desportivas, tenham agora alguma decência e vergonha na cara e não se ponham na fila da frente para irem às próximas Olimpíadas cantar A Portuguesa de mão no peito. Boas ondas…
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Dezembro 2016
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