Escrito por: José Miguel Nunes “Surfing passed through four distinct stages: (1) articulation; (2) expansion; (3) corruption; and (4) decline. (…) The central patterns, meanings and understandings of the scene (surfing) cannot be maintained. The scene becomes diluted, splintered and distorted. (…) The exterior conception of the scene changes from appreciation, with some concern over deviance and bizarreness, to recognition of its corruption and loss of authenticity, and finally to vehement derogation. (…) And in the end, even the late arrivals, who are no longer able to earn prestige by membership in a scene which is now viewed as defunct and who were never immersed enough in its actual patterns to learn to enjoy it, drop out.” – Jonh Irwin Perguntei à minha filha de oito anos: Qual é a cor do surf? e ela respondeu de imediato: Azul. Foi instintivo. Voltei a inquirir: Porquê azul? Resposta: Então… paaiiii… dahhh… é a cor do mar. Ok, disse eu, tens razão. Mas logo de seguida acrescentou: Também podia ser verde, justificando, às vezes o mar é assim meio verde. Chegámos a um consenso, a cor do surf é azul esverdeado. Na realidade é esta a cor do surf, entre o azul e o verde, umas vezes mais azul, outras vezes mais verde, umas vezes azul esverdeado, outras, verde azulado. Esta é a cor do surf, vista por olhos ainda inocentes, vista por olhos que ainda conseguem enxergar apenas e só a sua essência, vista por olhos verdadeiros, no sentido mais profundo da expressão. O surf mudou, evoluiu, globalizou-se, economizou-se e politizou-se, tornando-se necessariamente diferente. Fruto da inevitável mudança de paradigmas sociais e de valores com os quais as sociedades modernas se regem, a cor do surf está ela também a mudar, deixando gradualmente o brilho genuíno do azul e a profundidade do verde, para uma cor esbatida, de boneca, fútil, bonita por fora, vazia por dentro, sem profundidade nem brilho, o surf está a ficar cor-de-rosa. Nos últimos tempos, tenho reparado que nas principais publicações especializadas em noticias de surf, nomeadamente nas portuguesas, é cada vez mais frequente aparecerem noticias relativamente ao que de mais fútil o surf tem, muito ao estilo da imprensa, cá está, dita cor-de-rosa, como por exemplo, os dois milhões de dólares que Kelly Slater gastou num apartamento na Gold Coast, ou uma entrevista com o pai biológico do recente campeão do mundo, ou uma noticia dando conta que Kelly Slater desenha moveis para jovens, ou ainda um vídeo sobre uma surfada em Pipeline, que abre, com o protagonista a rejeitar uma chamada telefónica, supostamente, de Kelly Slater. Espero que seja apenas dos meus olhos, que por força da idade, estão mais batidos, já perderam a inocência, e que não seja efectivamente o surf a perder de forma galopante a sua essência.
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Dezembro 2016
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