Escrito por: José Miguel Nunes “Crowding of surf resources is perhaps the greatest challenge of surf tourism management.” … “Over-exploitation, decline in experience quality.” - Jess Ponting Decorreu nos passados dias 25 e 26 de Novembro na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar em Peniche mais um CONGRESSO INTERNACIONAL DE TURISMO, e ao oitavo ano falou-se finalmente de surf no principal painel. Antes de irmos ao turismo de surf, mas ainda assim não esquecendo que estamos a falar de turismo, disse-nos o Professor John Tribe no referido congresso, na qualidade de especialista em turismo sustentável, “não ser possível continuar a promover um destino que já está sobrelotado”, e na sequência deixa-nos uma pergunta muito pertinente: “Crescer, crescer, crescer… mas quando devemos parar de crescer?” Ora esta é a pergunta que deve ser respondida, e que raramente é. As razões são várias, mas que assentam fundamentalmente numa: A não existência de um modelo de crescimento que inclua esta variável de forma sustentável. Isto leva-nos a outra questão: Qual a razão da não existência de tal modelo? Mais uma vez as razões são várias, mas assentam fundamentalmente numa: Discurso politicamente pouco interessante, pouco populista e de matriz numérica pouco mediatizavel. Passando por cima das imprescindíveis questões de regulamentação (diga-se, inexistente), a que já nos referimos várias vezes em escritos anteriores, existem alguns pontos que os decisores devem ter em atenção quando se lançam nestas jornadas de exploração turística:
Juntemos-lhe agora o surf para falarmos de turismo de surf, então mais três pontos temos de acrescentar aos anteriores e que devem ser também levados em conta se pretendemos a exploração turística com base no surf:
Relativamente ao conceito de onda perfeita, este é diferente de surfista para surfista, conforme o nível de surf em que cada um se enquadra. A onda perfeita para um surfista de nível avançado será com toda a certeza diferente da de um surfista de nível iniciante, e vice-versa, mas cada uma delas encaixar-se-á no seu padrão expectável. Quanto ao crowd, a questão é bem diferente, e seja em que onda for, seja com que nível de surfistas for, muita gente dentro de água implica sempre restrições e desconforto. Este é um ponto sobre o qual já não há qualquer dúvida. O ambiente natural em que qualquer surfista prefere estar inserido aquando da sua prática é algo intrínseco à própria cultura do surf, até porque quanto menos natural for o ambiente que rodeia a praia e a própria onda mais interferências estas sofrem na sua qualidade e consequentemente na experiência vivenciada. No turismo de surf e para o turista de surf o mais importante são as ondas, a sua qualidade, diversidade e a existência de muito ou pouco crowd. A este respeito Jess Ponting deixou-nos no mesmo congresso um importante recado, isto se pretendermos evoluir para um mercado de surf sustentável: “Controlar os turistas e não os locais para controlar o crowd”. Voltando a John Tribe, “educar os turistas é fundamental para que o relacionamento com as comunidades locais seja profícuo e que daí resulte uma maior comunhão, que por consequência trará uma maior satisfação”, ou seja, o paradigma de que quem visita, porque paga, tem todos os direitos, e que quem recebe, por esse fato, tudo deve subvalorizar, terá que mudar. Neste sentido, afirma Doug Palladini, “nos dias de hoje o maior entrave para o surf sustentável é a educação”, e sustenta Fernando Aguerre “a promoção do desporto (surf) não foi acompanhada por qualquer promoção da educação e etiqueta na água.” “Sem previsão e um mapeamento demográfico realista e sustentável, o sonho surf cairá num ponto de rutura”, palavras de Wayne ‘Rabbit’ Bartholomew, isto é, apenas o investimento em infraestruturas para alojamento de cada vez mais turistas de surf, sejam eles provenientes de capitais italianos, alemães ou russos, pouco valem se a capacidade de carga na água estiver já esgotada, ou seja, não controlar a capacidade de carga na água serve apenas para agravar a situação que já de si é problemática, com impactos ainda ao nível ambiental e social. Resumindo, a capacidade de carga de um destino turístico que tenha por base o turismo de surf, tem que ser forçosamente medido dentro de água e nunca, repito, nunca, fora de água, pois é da água e das ondas que os turistas de surf retiram a maior fatia de satisfação da sua experiência de surf, sejam eles iniciantes ou avançados. O não interpretar este aspeto como fulcral para um destino de surf sustentável a longo prazo é um erro de palmatória por parte de quem tem responsabilidades na sua promoção. No final, e como nos diz Aguerre: “When we go surfing we are pursuing happiness.”
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Dezembro 2016
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