Escrito por: José Miguel Nunes Cá estamos em 2014, o ano em que, eles, os políticos, essa classe de gente que deveria ser nobre, mas que ao invés, é cada vez mais desprezível (salvo raras excepções), dizem que a “troika” se vai embora, e que o pior já passou. Chupados até ao tutano, por culpa de uma crise, que não provocámos, classe média, trabalhadora, como lhe queiram chamar, mas que temos de pagar, para que haja quem continue a engordar a conta bancária, pois curiosamente, ou talvez não, em 2013, tanto na Grécia, como em Portugal, os ricos aumentaram as suas fortunas e os pobres engrossaram as suas fileiras com novos recrutas … não sei se é coincidência, ou se existe aqui uma relação de causa/efeito… o que é facto, é que continuamos a ser roubados para dar de mamar a essa corja de sanguessugas, dispostas em lugares-chave, numa promiscuidade político-económica de bradar aos céus. Vivemos uma era consumista, de aparências, que mais vale parecer do que ser, em que o importante é ganhar muito dinheiro (ou pelo menos crédito) para o poder ostentar, e se para isso, necessário for, espezinhar, roubar (com legitimidade, claro) para atingir tal objectivo, assim será. O colectivismo, o voluntariado e a preocupação social, deixaram de ter significado, interessando apenas e só, o plano individual, numa cultura narcisista, onde o consumo de bens materiais ganha importância incrementada numa sociedade cada vez mais podre de valores. O surf, acabou ele também por ser contaminado e conspurcado por esta realidade, e muito por culpa desta geração de “yuppies do surf” que acabaram por vender a alma ao diabo, engolidos por esta máquina terrível, ficando completamente dependentes das grandes empresas que neste momento põem e dispõem a seu belo prazer de um, mais que desporto, estilo de vida, a ficar cada vez mais despido de valores, que deveriam servir de base ao seu desenvolvimento sustentável. Casos como os da Ericeira, Açores ou Carcavelos, com expropriações, projectos turísticos em ambiente natural, completamente desajustados do meio, tendo surfistas como mentores, ou projectos megalómanos por parte de uma Universidade que poderá por em risco uma das mais emblemáticas ondas do País, curiosamente a mesma que desenvolve um estudo sobre o valor das ondas em Portugal, são exemplos, de que o surf é um mero acessório nesta máquina de fazer dinheiro. A falta de coragem de alguns dos mais altos dirigentes deste desporto, em se insurgirem e repudiarem de modo vigoroso estes atentados, mostra bem o nível de dependência económico-politica a que o surf chegou. O surf, actividade de expressão livre, rebelde e em comunhão com o meio natural envolvente, tendo como pilar a busca da onda perfeita, está a ser delapidado destes valores, chegados ao extremo em que um surfista, dá ou não, o seu aval, para que outro surfista possa ir surfar, escudado em teorias de segurança, que mais não são do que malabarismos empresariais de protecção económica, promiscuamente relacionados com o poder politico. Haja esperança, e que esta crise, pelo menos nos possa permitir enxergar o caminho erróneo que estamos a trilhar, e que a ser seguido, inevitavelmente levará à descaracterização de um estilo de vida que tanto gostamos, dominado por meia dúzia de “yuppies” que envergonham o significado da palavra surfista.
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Dezembro 2016
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