Escrito por: José Miguel Nunes
O surf em Peniche terá cerca de 50 anos, é pelo menos dessa altura o registo mais antigo conhecido, um vídeo de 1964 no Baleal, onde é possível ver um pequeno grupo de crianças a apanhar umas espumas nos antigos colchões repimpa e também um jovem a dar os primeiros passos em cima de uma prancha. As filmagens mostram ainda outros surfistas já adultos e com alguma experiência na matéria, provavelmente estrangeiros na zona da Prainha e do Lagido. Só em 1967, foi comprada por Jaime Cruz a primeira prancha, uma longboard com mais de três metros, destinada ao filho, João Cruz, para em 1968 serem adquiridas mais duas, uma delas para o miúdo que se vê no vídeo de 1964, João Castanheira, tendo sido estes possivelmente os primeiro surfistas da zona da atual Capital da Onda. No início dos anos setenta, já os bifes assentavam arraiais com alguma regularidade no Baleal nas tradicionais carrinhas pão-de-forma, o que proporcionou adquirir mais pranchas, e mais evoluídas, e a partir de 1973, um grupo composto por meia-dúzia de jovens começou a fazer surf tanto de Inverno como de Verão. É por esta altura, que iniciou a sua prática no Molhe Leste e na Praia do Medão Grande, mais tarde designada como Supertubos, aquele que se considera ter sido o primeiro surfista de Peniche (cidade), Luís Chaves. Entre 1973 e 1975 apareceram mais dois ou três surfistas, para só depois a partir de 1977, com a realização do 1º Torneio Internacional de Surf aparecer uma segunda geração de surfistas. A década de oitenta é quando se dá o primeiro boom em termos de número de praticantes e o aparecimento dos primeiros negócios especificamente de surf. Entre 1 e 3 de Novembro de 1985 acontece o segundo evento de surf de cariz internacional em Peniche,este já com referências a alguns negócios na área do surf, como é o caso da primeira surf shop existente em Peniche, a Pitau Surf Shop, assim como da marca de fatos Waterline, que veio a servir de antecâmara para a vinda da marca Rip Curl para Portugal. Em 1986, Nuno Taveira abre a primeira fábrica de pranchas em Peniche, a Papoa Surfboards, e dois anos mais tarde chegaria o Rip Curl Pro-Am 88. É ainda em 1988 que se realiza o primeiro Circuito Regional de Surf e Bodyboard de Peniche, organizado pelo Peniche Surf Clube, o qual, embora com existência efémera, foi no entanto o primeiro clube com sede na Capital da Onda, na forma de secção de surf da Associação de Educação Física, Recreativa, Cultural e Desportiva Penichense (AEFRCDP). Em 1995, Teresa Ayala, sagra-se campeã nacional de surf e bodyboard masters no INTERCLUBES 95, em representação do Clube Naval de Peniche (CNP), que desde 1992 acolhia a secção de surf. A primeira década do novo milénio, serve de afirmação para o surf em Peniche, e arranca com a fundação de um novo clube, em 20 de Outubro de 2000, o PPSC – Península de Peniche Surf Clube, agora independente e não anexado a qualquer instituição, sendo neste momento o quarto clube com maior número de federados na FPS, contando com setenta e um membros (dados de 2014). Em 2004 Hugo Nunes e Bruno Grandela sagram-se campeões nacionais de bodyboard e Longboard, respetivamente. Em 2007, Silvano Lourenço arrecada o título mais importante até ao momento para o surf penicheiro, o de Campeão Europeu de Bodyboard. Nesse mesmo ano, o PPSC vence pela primeira vez o Nacional de Clubes, feito que viria a repetir em 2008, para em 2009 se sagrar vencedor da Taça de Portugal em Surfing, a mais importante prova nacional organizada pela Federação Portuguesa de Surf. A chegada do Word Tour em 2009, e o Centro de Alto Rendimento em 2012, serão assim os últimos grandes feitos do surf em Peniche. (*)Texto original integrante da Dissertação de Mestrado em Turismo e Ambiente: “O SURFISTA E A SUA SATISFAÇÃO NA COMPONENTE DA EXPERIÊNCIA TURÍSTICA DE SURF: O CASO DE PENICHE“, defendida em 1 de Outubro de 2015 na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar do Instituto Politécnico de Leiria.
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Na Surf Portugal nº 186, o Circuito Universitário de Bodyboard e Surf da ESTM, com grande destaque para os locais Marco Silva e Filipa Prudêncio. In Surf Portugal nº 186, pág. 118 (Julho de 2008) ÚLTIMA ETAPA CIRCUITO UNIVERSITÁRIO ESTM Teve lugar, nos dias 17 e 18 de Maio a última etapa do 5º Circuito Universitário de Bodyboard e Surf da Escola Superior de Tecnologia do Mar. O mar, melhor no primeiro dia, com ondas ordenadas e sets de metro, ofereceu um agradável espectáculo. Em disputa, estiveram as categorias de Bodyboard Open e Feminino, Surf Open e Feminino. Nesta última etapa confirmou-se o favoritismo da campeoníssima Filipa Prudêncio – que venceu as três edições anteriores deste circuito, bem como a primeira etapa deste ano. Atrás de Filipa, ficaram Sofia Paula (FAUP) e Mariana Rocha (UA). Quanto ao campeonato masculino, o local Marco Silva foi o grande vencedor desta etapa, deixando atrás de si Nuno Côrte-Real (ISEP), Xavier Lima (ISEL) e Edson Natário (IPAM).
Os rankings ficaram assim ordenados – Surf Open: 1º Nuno Côrte-Real, 2º Francisco Canelas, 3º Marco Silva. Surf Feminino: 1º Filipa Prudêncio, 2º Mariana Rocha, 3º Sofia Paula. Destaque ainda para a acção Be Ocean Cool onde um grupo de alunos da ESTM promoveu a sensibilização dos presentes para a conservação, preservação e recuperação do ecossistema costeiro. Aliado a esta sensibilização foi feita também uma recolha de lixo da praia com a respectiva separação, numa acção que contou com o apoio da Surfrider Foudation. FILHOS DO MAR - I Escrito por: Edgar Henriques No início do ano de 2008, surgiu em Portugal a primeira revista de surf, com distribuição gratuita. A Free Surf Magazine, marca registada pela Alfarroba Amarela – Ideias e Eventos Ldª., empresa pertencente ao empreendedor António Pedro, que pôs em marcha mais um projeto, assumindo a direção da revista. Sendo uma publicação bimestral, o seu número 2 editado em março/abril, dava um relevo muito especial ao surf e surfistas de Peniche, dedicando-lhe doze páginas com texto e imagens muito coloridas. Neste destaque predominavam a qualidade das ondas Penicheiras o talento dos seus surfistas, mas também empresários ligados à indústria do surf, e nem os políticos foram esquecidos. Desta dúzia de páginas, ficou-me na retina o seguinte titulo “ A lenda, o mito e o rapaz mergulhador que virou homem-mar”. Na verdade este registo era dedicado a Acácio Grandela, mais conhecido por Lélé, segundo o autor do artigo, “um dos últimos filhos do mar e uma lenda viva de Peniche”. De acordo com a narração realizada pelo Miguel Bordalo, a qual não podemos considerar uma normal entrevista, com perguntas e respostas, mas sim uma conversa quase informal, um “contar de histórias” que ele foi ouvindo ao Lélé, que depois reproduziu nas páginas da Free Surf. Dos muitos parágrafos escritos nas duas páginas dedicadas ao Lélé, vou destacar aqueles que mais me fascinaram, por retratarem histórias de algumas aventuras que seduzem qualquer ser humano. In FreeSurf Magazine nº 2 (Março/Abril de 2008) Texto: Miguel Bordalo / Imagens: André Cameron “ Imaginem uma equipa de mergulhadores altamente especializados, com equipamento de ultima geração, todos influenciados por expedições de Cousteu, preparados para descobrir alguns tesouros perdidos junto ao Baleal, onde se encontram várias caravelas afundadas. A expedição com todos os cuidados atentando todas as medidas de segurança para otimizar a obtenção dos resultados. Os cientistas e mergulhadores profissionais estavam preparados para explorar as profundezas do Baleal. Agora imaginem os mergulhadores e cientistas, no breu do mar, apoiados por luzes aquáticas e equipamentos submergíveis, a retirar peças dos galeões e caravelas, quando de repente um puto com cerca de 7 anos aparelhado de calções e pouco mais, se põe ao lado deles, para explorar a nave, o galeão ou caravela, sem qualquer equipamento! Identifica uma bala e aquilo que parece ser um punhal, pega neles e vai-se embora. Este miúdo, o ultimo a ter nascido na Ilha do Baleal, meio peixe-meio homem, chamado pelo nome de Lélé, azucrinou a vida de cientistas e mergulhadores durante toda a expedição, suscitando vários pedidos de auxilio aos seus pais, que com compreensível condescendência, compreendiam que o fundo do mar era de direito de nascença do seu filho, filho também das águas que o isolavam muitas vezes do resto do mundo.”
“De todas as atividades do mar, a que começou mais tarde terá sido o surf, aos 16 anos. O primeiro contacto com o surf foi com pranchas emprestadas de surfistas estrangeiros que desciam da Europa e seguiam até Marrocos em viagens que duravam cerca de três meses. Alguns paravam em Peniche e deixavam as suas pranchas nas lojas, mas o Lélè, aprendeu a fazer surf a pedir pranchas emprestadas, e teve o prazer, que como o próprio diz, de aprender ao lado de alguns dos melhores surfistas do mundo, um prazer que, com o “boom” de pessoas que tem chegado a Peniche, tem vindo a diminuir, visto que esses surfistas mais conceituados procuram noutros países, lugares mais sossegados. Essa é a forma como Lélé gosta de surfar. Diz-me em comiseração que devia ir mais vezes à Ericeira, onde há ondas de grande qualidade, e surfistas com alto nível que seriam bons para melhorar o seu surf, mas quando está bom na Ericeira é fácil encontrar picos bons em Peniche, e ele fica por ali, na sua terra e nos seus tubos.” “Mas ultimamente Lélé até tem ido para mais longe, para Marrocos, para a zona de Casablanca, não para fazer surf, mas sim para fazer mergulho. É como o mergulho que mais se identifica a viajar, pois é nessas ocasiões que consegue ir para um sítio pescar, e oferecer o peixe que captura à população que o recebe de barcos abertos. O rapaz de Peniche gosta de conhecer novas culturas, de viajar, e sente-se bem com os locais, com hábitos estranhos, tão estranhos como reconhece os seus.” “Num dos dias que fomos falar com o Lélé, ele estava acompanhado de um amigo, que tentava lembrar o antigo nadador-salvador do Baleal de um recente salvamento que tinha feito de duas senhoras de idade que tinham posto o pé na água, mas que não foram a tempo de o tirar quando as ondas as apanharam. Num dia de mar grande o Lélé estava sozinho dentro de água, na direita ao lado da Ilha do Baleal … a meio da conversa, o herói da história interrogou “Qual delas”, o amigo riu-se com a naturalidade da pergunta – ao longo dos anos deverão ter sido mais que muitas. “ A gorda!”, o Lélé riu-se virou-se para mim e continuou a história: “ Pu-la em cima da prancha, tinha bem uns 100 quilos, a prancha enterrou-se tanto que pensava que nos íamos afogar os dois… “ Turistas, visitantes, e provavelmente algum incauto morador, muitos já foram salvos às mãos de um nadador-salvador, que seguiu uma carreira numa dinastia desde o pai ao avô.” “Quando temos tantas histórias ricas de homens do mar em Portugal, vale a pena interrogar-nos quantas coisas estão por ai por contar. O próprio Lélé terá muito ainda a oferecer à imaginação, aventuras, histórias, com pequenos dramas, algumas alegrias do passado e as que estão por construir. Às vezes quando procuramos pelo fascínio lá fora, encontramos as melhores recordações e as melhores memórias partilhadas bem perto de casa. E porque as terras são feitas das suas pessoas, um bom pedaço de Peniche é contada com histórias dos seus habitantes, grande parte dessas histórias acabam e terminam com o nome do Lélé, rapaz mergulhador que virou homem mar.” BODYBOARD, MOLHE LESTE - PENICHE 1994 Escrito por: José Miguel Nunes Retirado do "site" The Board Central, mais um contributo em video para a História do Surf Penicheiro: Molhe Leste, Peniche – Matéria filmada em 1994 e editada para o programa Portugal Radical 152, com “broadcast” na SIC a 15 de Janeiro de 1995. O Molhe Leste, na ponta direita de Supertubos era então o local onde os bodyboarders encontravam as ondas com características ( força, buraco e “rampas”) para desenvolver o que viria a ser o futuro do desporto com manobras aéreas e muita projecção. Nas imagens podemos ver os então jovens talentos “Moranguinho” e Barrela. Moranguinho viria a obter excelentes classificações a nível nacional e Barrela é hoje Manager na Refresh Boards a única fábrica nacional de bodyboards que conta com uma equipa sólida de jovens talentos, muitos deles de Peniche. Fonte/Autor: The Board Central
LAGIDO ANOS 70 Escrito por: José Miguel Nunes Chegou-nos pela mão de Nuno Almeida Baltazar, um dos pioneiros do surf em Peniche, mais uma raridade relativa à história do surf penicheiro. Um dos vídeos mostrados no passado dia 12 de Abril durante o almoço de comemoração dos cinquenta anos de surf em Peniche, realizado no Surfcastle. Uma surfada no Lagido, filmada pelo Toninho Esteves, também ele surfista, nos idos anos setenta, com os surfistas Nuno Almeida Baltazar, Paulinho Cruzeiro, Guilherme Ferreira de Almeida e Ichi Luz. 50 ANOS DE SURF EM PENICHE Escrito por: Lisa Marques / SurfCastle E foi este sábado, dia 12 de Abril, que os pioneiros do surf Penicheiro se encontraram no Surfcastle para uma tarde recheada de boas recordações. Uns atrás dos outros foram chegando, de prancha antiga num braço, e álbuns de fotos no outro. Em meia hora, o relvado do jardim do Surfcastle encheu-se não só de pranchas retro, mas de memórias, e a conversa e boa disposição prologaram-se por toda a tarde. A “surfada mítica” estava agendada para as 12:00h, no pico do Lagido. A natureza cooperou, e as ondas estavam acessíveis para aqueles que se viram afastados do mar e do surf pela força de outras obrigações. Apesar de alguns receios iniciais, a sessão estendeu-se por hora e meia, e surpreendentemente todos os surfistas da velha guarda apanharam ondas! Se aos olhos dos espectadores era perceptível a proximidade daquele grupo, lá fora no line up, o ambiente era de amizade, companheirismo e partilha. À mesa corrida deste almoço tardio estavam alguns dos primórdios do surf em Peniche. Aqueles que deram os primeiros passos nesta aventura, partilhando pranchas, ondas e experiências desde 1964: Mário Castanheira, Paulo Cruzeiro, Toninho Cruzeiro, Pedro Príncipe Cruzeiro, Guicha Ferreira de Almeida, Paulinho Vaivém, Nuno Castanheira, Manuel Castanheira, Valeriano Pego, Luís Sotto, Rita Bela Morais, António Leopoldo , Nuno Baltazar, João Coelho, João Antunes, Rafael Crespo, João Castanheira, Albano Viana, Damião Granada, Luís Chaves, Bruno Bairros, Pedro Cruzeiro, Duarte Baltazar, Bernardo Picciochy, Tiago Teixeira da Cruz, Miguel Botelho, António Henriques (Toneca) e Luís Inglês. A descoberta de alguns vídeos de família antigos, motivaram a curiosidade do João Gaúcho, um dos gerentes do Surfcastle. A outrora casa de férias da sua família, construída em 1922, e convertida há cerca de 7 anos em unidade de alojamento para surfistas, testemunhou ao longo das décadas a evolução do surf em Peniche, através de várias gerações da sua família e amigos.
Pelos registos familiares encontrados, calcula-se aproximadamente que as primeiras surfadas em Peniche, remetem a 1964 – 65. A Celebração das Bodas de Ouro do Surf em Peniche tornou-se o pretexto ideal para convocar velhos amigos de surf, e proporcionar-lhes um reencontro, em alguns dos casos, após anos sem contacto. Um dos propósitos do Surfcastle, é vincular a história do surf, não apenas enquanto factor de diferenciação, mas sobretudo enquanto promotor da cultura de surf em Peniche. À semelhança de outras estâncias balneares europeias, que fazem do surf um dos seus produtos turísticos, a distinção da oferta de um território está na identidade histórica, e na valorização desses factos verdadeiramente genuínos. O êxito do evento foi manifestado pela boa disposição e alegria de todos os intervenientes, que por entre fotos e vídeos antigos, animaram a sala com histórias e estórias do “arco da velha”. Refira-se ainda a presença do Presidente da Câmara Municipal de Peniche, António José Correia, que também ele não quis deixar de marcar presença neste convívio histórico. A vontade de se fazer uma segunda edição desta celebração da história do Surf, e desta vez, já contando com a presença daqueles que não compareceram, é comum a todos os que participaram. A data já está pré-definida na agenda: “lá para Setembro” para uma espécie de campeonato “à antiga!”. Tudo em memória dos velhos tempos de surf em Peniche. PRIMÓRDIOS DO SURF EM PENICHE: TUDO COMEÇOU HÁ 50 ANOS Quando nos fizeram chegar este "clip" nem queríamos acreditar no que estava perante os nossos olhos. Uma filmagem de surf em Peniche com 50 anos… Seria possível? Era mesmo! Ao que tudo indica este é o registo mais antigo de surf nas praias daquela península, na altura em que o desporto terá começado a surgir no Oeste. Nas imagens é possível ver um pequeno grupo de crianças a apanhar umas espumas nos antigos colchões repimpa e também um jovem a dar os primeiros passos em cima de uma prancha. As filmagens mostram a zona da Prainha e do Lagido, no Baleal, e foram feitas em 1964. Depois, é possível também identificar outros surfistas já adultos e com alguma experiência na matéria. A SURFPortugal tentou saber mais pormenores sobre esta filmagem dos primórdios do surf em Peniche e chegou à conversa com João Castanheira. É ele o pequeno surfista que aparece no vídeo. Foi ali, no longínquo ano de 1964 que teve o primeiro contacto e a partir daí o vício cresceu. Juntamente com alguns amigos, tornou-se num dos pioneiros do surf em Peniche. “Desde que nasci que ia de férias para o Baleal, tanto o meu avô paterno como materno tinham lá casas, e passava lá praticamente os três meses de verão”, começa por explicar-nos o senhor João. “Há cerca de 50 anos começaram a aparecer por lá os primeiros surfistas estrangeiros, australianos ou ingleses, que vinham nas célebres carrinhas pão-de-forma. Foi aí que nasceu o meu interesse”, confessa. A primeira surfada está documentada nestas filmagens da autoria do seu pai. Foi praticamente amor à primeira vista, pois João Castanheira nunca tinha tido contacto anteriormente com a modalidade, nem sequer tinha visto algo idêntico. O interesse aumentou mas as dificuldades da altura só lhe permitiam surfar precisamente durantes as férias. “A minha mobilidade nessa altura era nula: não tinha carta de condução e só podia fazer surf ali”, conta-nos, ele que morava em Carcavelos na altura. Apesar de morar no berço do surf nacional, João nunca tinha visto surf na Linha. Os tempos eram outros, a atividade não era tão badalada e as pranchas não existiam. “Comprei a minha primeira prancha em 1968 e antes disso só surfava quando me emprestavam prancha”. Algo que apenas acontecia no Baleal. Mas como era a interação com os surfistas estrangeiros e como se deu a iniciação? “Eles explicavam-nos mais ou menos como se fazia e depois desenrascávamo-nos. Ia cada um à vez, até perdermos a prancha. Depois entrava outro”, explica. Anos mais tarde, já com pranchas, com borrachas a servir de leash, parafina improvisada e os fatos possíveis para a altura, João Castanheira e o grupo de amigos começaram a aventurar-se por eles próprios, já sem a ajuda.O surf continuou na vida de João, mas só até emigrar para o Brasil, em meados de 70. O vício acabou por abrandar um pouco, pois a partir daí só voltou a surfar pontualmente, embora se mantivesse atento ao meio. Contudo a tradição continuou na família. Surfcastle
O Surfcastle é um dos mais famosos surf camps do Baleal e pertence ao filho de João Castanheira. Curiosamente, era lá que há 50 anos passava férias. “O meu irmão ficou com aquela casa que tem uma localização geográfica única. O facto de estar exposta aos ventos fazia com que se deteriorasse de forma rápida e tinha custos de manutenção elevados. Há poucos anos houve a possibilidade de fazerem uma sociedade e avançaram com o surf camp”, explica. João Castanheira continua a ir atualmente até ao Baleal e tem notado a evolução que o surf trouxe até à terra. “O surf está na moda e desde que o campeonato do Mundo também veio para Supertubos que tem havido ali um incremento e existe uma enorme movimentação”, conclui. No início do próximo mês, alguns destes pioneiros voltam a juntar-se no “local do crime” para um almoço de comemoração dos 50 anos do surf no Baleal. Fonte/Autor: Surf Portugal Na Surf Portugal, nº 185, rubrica MEN OF THE BOARD, a entrevista ao shaper do mês foi a ANTÓNIO LEOPOLDO. In Surf Portugal nº 185, pág. 112 e 113 (Junho de 2008) Natural de Peniche e um dos mais antigos e respeitados surfistas da zona, com mais de 25 anos de surf, António Leopoldo fez da geometria muito própria da sua terra natal a tela perfeita para as suas criações. E ali (re)nasceu a Phynix. Há quanto tempo shapas? O primeiro contacto aconteceu quando comecei por reparar tábuas nos anos 80, porque na altura não havia ninguém a reparar tábuas em Peniche. Depois, quando o Nuno Taveira iniciou a Papoa, em 1986, comecei a trabalhar com ele. Continuei a trabalhar com ele mais dois anos, antes de ir à tropa. Depois do serviço militar, voltei e arranjei um emprego em Peniche durante dois anos e meio, na Junta Autónoma de Portos. Nessa altura trabalhava em part-time com o Luís da Koala, com o Fernando Horta e com o Taveira. Depois chateei-me com o emprego, fartei-me daquela coisa rotineira e decidi montar a oficina num espaço que era dos meus pais. Primeiro era uma oficina de reparações e fibragens. Passado um ano comecei a shapar, primeiro com o nome de Leo Surfboards, depois Phynix, de Fénix… naquela onda do “fim da terra”, que era e continua a ser Peniche. Para mim Phynix significa Peniche. O negócio começou em 1991 e a marca existe desde 1993. Desde lá, estive na África do Sul, em Jeffrey’s Bay, onde trabalhei seis meses com o Glenn D’Arcy e o Byrning Spearsuns, que são uns shapers meio underground mas muito experientes, e com o Peter Daniels. Depois deste grande estágio, num lugar onde a nível de trabalho não há segredos, porque o que interessa é que o trabalho fique bem feito, porque há muita procura, libertei as mãos. Eles ensinaram-me as técnicas todas e a partir daí profissionalizei-me. Desde essa altura, e até há 3 anos atrás, sempre que havia menos trabalho por cá, passei a ir todos os Invernos para Hossegor e para Sopelana. Em 2004 abri o surfcamp (Peniche Surf Camp) e a Phynix passou a ser uma fábrica um bocado underground, no sentido em que não há publicidade nem nada no género. Mas continuo a fazer tábuas, quer para clientes habituais, quer para os clientes do camp, com os pormenores todos e a máxima personalização. Aliás, acho que é uma coisa que associada ao surf camp resulta muito bem. Faço também workshops de shape e de glass, sobretudo para clientes do camp. Digamos que a fábrica é um complemento para o camp e as duas coisas funcionam muito bem em conjunto. Encaixarás tu um bocado no papel, também ele mítico, de shaper underground de um lugar com ondas clássicas? Underground sim, no sentido em que não tenho uma equipa a trabalhar comigo e não faço publicidade. Mas tenho uma clientela certa, que acompanha a produção da prancha a para e passo. Naquele espaço estão sempre livres para entrar e ver o que se passa com o fabrico da sua prancha, e não há muita gente que faz isso. As pessoas ali têm liberdade para isso. Em Peniche encontras várias condições e vários tipos de ondas. Achas que é uma boa escola para um shaper? Sim, muito boa. Tem ondas boas, mas bastante diferentes. De Supertubos para o Lagido, da Baía para o Molhe Leste, há uma enorme diferença. Os Super são super verticais, o Lagido tem umas mais verticais e outras mais deitadas. Por exemplo, uma prancha que é boa para os Super nunca é boa para o Lagido ou para a Baía. Há ondas de um metro em que tens que surfar de 6’4’’ e outras de 2 metros em que com uma 6’1’’ estás na boa. Nos últimos anos houve uma grande mudança no fabrico de pranchas. De repente parece que depois de anos e anos de padronização de pranchas, com pequenas variações, apareceram as retros, as quads, e houve lugar para uma grande variação. Em que te afectou isso como shaper?
Em princípio um gajo que é shaper faz tudo o que o cliente quer a partir de um bloco. Há até clientes que me pedem coisas que nunca vi. Mas se me derem as medidas, faz-se. Acho que o espirito das pessoas abriu-se totalmente e a criatividade também. O shaper nunca vai mandar na prancha que o cliente vai surfar. O surfista é que decide o tipo de prancha e de surf que quer, e o shaper só tem que acompanhar isso. Mais clássico, radical, para ondas grandes, power… e acho que com os novos designers de pranchas o surf beneficiou a nível de qualidade. Na fase de ouro do Kelly Slater, em que ele usava as pranchas todas finas, isso reflectia-se na praia: toda a gente usava pranchas finas. Penso que nessa altura regredimos um pouco. Agora as pessoas estão a andar melhor, apanham melhor as ondas, têm pranchas mais largas, mais grossas. Se tiveres uma retro no Verão vais curtir mais do que com uma prancha estreita e fina. A prancha não é para andar debaixo do braço, é para andar debaixo dos pés e com estes novos designs, têm-se visto mais estilo dentro de água. O facto da Phynix ser uma fábrica pequena com trabalho personalizado, oferece-te uma grande liberdade de criação, já não precisas de estar colado aquela imagem da fábrica que faz pranchas altamente progressivas e de topo? Dá muito mais liberdade para exprimires as tuas ideias. Não há a prancha standard. É conforme o que o cliente pede, dedico-me completamente ao cliente, não há produção em massa. Aceito todas as reclamações. Um gajo numa prancha delira, porque as pranchas são instrumentos de prazer… e essa é a maior recompensa que tenho como shaper. Site: www.phynixsurfboards.com Agradecimento: Ricardo Leopoldo Em 2008, três atletas do PPSC – Peniche Surf Clube, dão nas vistas no CIRCUITO NACIONAL DEEPLY SURF ESPERANÇAS. ANTÓNIO RIBEIRO, GUILHERME FONSECA e ANTÓNIO HENRIQUES na rubrica X-TRACOMP da Surf Portugal, nº 184. In Surf Portugal nº 184, pág. 86 e 89 (Maio de 2008) CIRCUITO NACIONAL DEEPLY SURF ESPERANÇAS 2008 1ª ETAPA, PRAIA DA POÇA, 29 DE FEVEREIRO A 2 DE MARÇO … nos sub-12, Vasco Melo havia levado de vencida Guilherme Fonseca, Tomás Fernandes e António Henriques. O vencedor do escalão principal do Deeply Surf Esperanças, os sub-18, acabou por ser António Ribeiro, da Foz do Arelho, que numa final irrepreensível, bateu Vasco Ribeiro, Zé Ferreira e Pedro Pinto. 2ª ETAPA, ARRIFANA, 15 A 17 DE MARÇO
Nos sub-12 a vitória foi para Guilherme Fonseca, seguido por Tomás Fernandes, António Henriques e Santiago Silva. Mas foi a final de sub-18 a roubar todas as atenções, tal a concentração de bom nível dos surfistas Filipe Jervis Pereira, Vasco Ribeiro, António Ribeiro e Francisco Laranjinha, cujos talentos explodiram na final, que acabou por ser vencida pelo alentejano emprestado Jervis… RANKINGS CIRCUITO DEEPLY SURF ESPERANÇAS 2008 SUB-12 1º - GUILHERME FONSECA – 1860 pts 2º - Tomás Fernandes – 1590 pts 3º - ANTÓNIO HENRIQUES – 1400 pts SUB-18 1º - ANTÓNIO RIBEIRO – 1730 pts 2º - Vasco Ribeiro – 1720 pts 3º - Filipe Jervis Pereira – 1610 pts Agradecimento: Ricardo Leopoldo Na Surf Portugal, nº 183, Nuno Silva, a mostrar mais uma vez a razão de ter estado entre os melhores surfistas nacionais durante quase duas décadas. In Surf Portugal nº 183, pág. 74 (Abril de 2008) “Entretanto, num dos outros templos de peregrinação obrigatória para os devotos das catedrais aquáticas, Nuno Silva encontra o resultado de boa parte das suas preces, Supertubos, em toda a sua divina geometria.” Agradecimento: Ricardo Leopoldo
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