Escrito por: José Miguel Nunes Tenho sido algumas vezes acusado de ser pouco tolerante relativamente às situações sobre as quais escrevo as minhas opiniões, que sou excessivamente duro nas críticas, que deveria ser mais flexível nas considerações, sei lá… já me disseram inclusive que não escrevo lá muito bem. São opiniões. Uma das pessoas que gostava de ler o que eu escrevia era o meu pai. Apesar dos assuntos não fazerem parte do seu rol de interesses, tinha sempre uma palavra sobre os textos. O meu pai pautou a sua vida pela retidão, frontalidade e honestidade, e não era por eu ser seu filho, que quando tinha que me criticar não o fazia, e de forma bastante eloquente para que não restassem dúvidas da sua opinião. Se ele dizia que gostava do que eu escrevia e do modo como o escrevia era porque gostava mesmo, não tenho duvidas, caso contrário dir-mo-ia de imediato. Era assim o meu pai, sempre frontal, fosse com quem fosse. Há uma frase que não esqueço, e que ele proferia muitas vezes quando acabava de ler os meus textos: Parece que foi escrito por mim. Esta frase chega para me encher de orgulho, pois tem o significado de ter vindo da boca do meu pai, mas para além disso, e apesar de não ser “doutor”, tinha apenas o quinto ano do liceu, era um autodidata, que durante mais de quarenta anos foi assíduo colaborador na imprensa escrita em vários jornais e revistas, com várias centenas de artigos publicados, citado em inúmeras obras, tendo editado ainda três monografias e mais alguns crepúsculos. Então, será porventura, uma opinião no mínimo com algum fundamento, pois não vem de alguém que nunca escreveu nada na vida, bem pelo contrário. A maior homenagem que lhe posso fazer é continuar a escrever da mesma maneira que sempre escrevi, de modo frontal, verdadeiro, e nunca subserviente, tal como ele, e se assim for, algo dele perdurará na minha escrita, o que muito me satisfaz. Pai, foram estas as palavras expressas por ti aquando da criação deste Peniche Surf News: “Esperamos que seja um espaço aberto, livre, necessariamente friccionante quanto baste para defesa de pontos de vista, responsável, mas nunca servil.” Espero não te desiludir, e onde quer que neste momento te encontres, quando leres o que escrevo, que possas continuar a dizer: Parece que foi escrito por mim.
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Dezembro 2016
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