Escrito por: José Miguel Nunes “Quando chega alguém novo, esperamos que essa pessoa se apresente e, pelo menos, diga olá. No fundo, é uma questão de respeito.” – Bruce DeSoto Nos últimos tempos tenho escrito alguma coisa à volta da minha desilusão relativamente à falta de cultura de surf patente na generalidade dos surfistas, principalmente os da nova geração. A juntar a isto, há ainda outra questão, que não tendo directamente a ver com surf, acaba por se reflectir também no surf. É um problema social, não lhe chamarei falta de educação, mas antes falta de humildade, ou, excesso de altivez, se não quisermos ser muito bruscos no adjectivo. Resumindo, os direitos são muitos, os deveres, muito poucos. Ao passar os olhos pela banca de jornais que normalmente frequento, desperta-me a atenção a reputadíssima National Geographic, pois um dos títulos de capa é: A RAIZ DO SURF NO HAWAII. Comprei. Fala essencialmente de Makaha e da experiência de surf de John Lancaster por essas bandas. Situada na costa ocidental de O’ahu, longe das exuberantes multidões que povoam as praias da costa norte, como Sunset Beach ou Pipeline, caracteriza-se por ser uma comunidade algo fechada, dominada por descendentes dos antigos marinheiros polinésios que colonizaram as ilhas. Após uma primeira, nas suas próprias palavras, desventura de surf em Makaha, o nosso interlocutor decide pedir alguns conselhos a Bruce DeSoto, membro de uma das famílias mais proeminentes do local, para que assim possa usufruir das boas ondas que dão por aquelas praias. Para além daquele que no início deste texto transcrevemos, outro se revelaria de grande importância: “Se respeitar, é bem-vindo e poderá surfar na nossa praia quando quiser. Mas se não respeitar, então vai ter problemas.” Conhecedor profundo das raízes do surf e o que ele representa, os conselhos, simples, de DeSoto, revelar-se-iam fundamentais, e não resisto a transcrever o final desta aventura: “A ondulação estava absolutamente perfeita. As ondas eram maiores do que alguma vez vira. Remei mar adentro e meti conversa com um havaiano robusto com pouco mais de 40 anos. Descobri que era nadador-salvador em Makaha e construía pranchas como actividade paralela. (…) Surgiu uma onda. Olhei para ele. Posso? O seu aceno de concordância foi subtil, ao nível da telepatia. Remei com força e apanhei a onda, uma esplendorosa muralha azul-cobalto com 2,5 metros de altura que me transportou até ao outro lado do recife.” Afinal, tudo se resume a uma questão de respeito…
0 Comentários
|
Arquivo
Dezembro 2016
|