Escrito por: José Miguel Nunes “Dado que a «vaga» de cavalgar as ondas surgiu na Europa e vai aumentando de volume, é de esperar uma crescente afluência de praticantes à procura das nossas praias e do nosso sol que persiste através do Inverno.” – Pedro Martins de Lima De acordo com Buckley o turismo de surf enquadra-se na rubrica turismo de aventura com base na natureza. A mesma opinião tem Tantamjarik, que no seu estudo refere que o turismo de surf é apenas um dos nichos de mercado do sector turismo de aventura com base na natureza. Já Dolnicar e Fluker enquadram-no como um subsector do turismo desportivo. Segundo dados da EuroSIMA (2012) a indústria mundial do surf movimenta cerca de 11 biliões de euros por ano, onde se incluem receitas de publicidade, marcas, patrocínios e turismo, desenvolvendo-se o turismo de surf em milhares de zonas costeiras desde a Islândia até à Antártida. Um dos primeiros estudiosos a propor uma definição para este fenómeno foi Fluker, descrevendo-o como “um turismo que envolve pessoas a deslocarem-se para destinos domésticos por um período de tempo não superior a seis meses, ou para um destino internacional por um período não superior a doze meses, que permanecem pelo menos uma noite, e onde a participação ativa no desporto de ondas é a motivação primária na seleção do destino”, ressalvando no entanto que o “turismo de surf não inclui necessariamente apenas surfistas (praticantes), mas também espectadores e companheiros (as) não surfistas”. Existe no entanto uma contradição na definição apresentada por Fluker, pois a determinada altura refere a participação activa no desporto, para depois incluir acompanhantes e mesmo especatdores. Buckley, distinguiu o turismo de surf recreativo do turismo de surf comercial, e defini-os de forma pragmática. Relativamente ao primeiro conceito, definiu-o como uma “viagem superior a 40 quilómetros a partir do local de residência, para passarem pelo menos uma noite com o intuito de ocuparem o seu tempo de lazer ativo, principalmente a fazer surf”, para o segundo, acrescentou apenas o prefixo pacote de férias à definição, ou seja, no primeiro caso, os surfistas planeiam as suas viagens, utilizam transporte e equipamentos próprios e pernoitam em alojamentos locais, enquanto no segundo caso, utilizam operadores turísticos para adquirirem um pacote que poderá englobar transporte, alojamento, alimentação, equipamento e surf tours. Ponting, não engloba a vertente de distância na sua definição, mas utiliza o termo surfista, o que acrescenta algo de novo às definições anteriores e define turismo de surf como “a viagem e permanência temporária, realizada por um surfista, envolvendo pelo menos uma noite fora da sua região de domicílio habitual, cuja principal expectativa é surfar”, definindo surfista como a “pessoa com habilidade e conhecimento suficiente para utilizar a força da onda de modo a impulsioná-lo para a frente em toda a sua extensão, conseguindo antecipar e responder à sua constante mutação”. De acordo com Standeven e De Knop, para os surfistas serem encarados como turistas têm primeiro de sentir a necessidade de se deslocar para fora da sua zona de residência ou do local de trabalho, podendo este tipo de turismo ser considerado doméstico ou internacional, consoante os destinos escolhidos para praticar surf, sejam dentro das fronteiras do país de residência, ou ao invés, num país estrangeiro. No entanto, e segundo Buckley, os turistas de surf primeiro são surfistas e só depois turistas. Neste sentido, o sonho do turista de surf é muito específico e surpreendentemente coerente em todas as idades e nacionalidades, ou seja, os surfistas caracterizam-se pelo esforço e tempo que investem no surf e a sua predisposição e propensão para se deslocarem em busca da onda perfeita, o primeiro elemento simbólico da utopia do turista de surf. Outra das características do turista de surf é a sua preferência por destinos com pouco “crowd”, segundo elemento simbólico da utopia do turista de surf, sendo este o fator mais limitativo para o desenvolvimento do turismo de surf, ou seja, o excesso de “crowd” é um fator especialmente importante, pois evitá-lo é uma das principais motivações na escolha de um destino para uma viagem de surf. Temos então o “turismo para fazer surf”, que encaixa na definição de Ponting, de acordo com o que este entende por um surfista, e o “turismo de surf”, que encaixa na definição de Dolnicar e Fulker, que engloba os não surfistas. Martin e Assenov, propõem que turista de surf seja qualquer viajante que, deliberadamente, se envolva na prática do surf, incluindo aqueles que o fazem pela primeira vez ou iniciantes, intermédios e surfistas experientes. Dividem então o conceito de surfista em três, em que os primeiros serão aqueles que procuram lições de surf em local seguro, de ondas pequenas, acompanhados de um instrutor, para classificar os intermédios como viajantes que procuram estadias em surfcamps/hostels, onde podem ter acesso a guias e material de surf e, por fim, os experientes, que viajam propositadamente para locais de ondas grandes e de elevada qualidade, e seguindo a mesma lógica, acabam por propor também a divisão de turismo de surf, e utilizando a sua própria nomenclatura, em “Hard surf tourism”, “Soft surf tourism” e “Incidental surf tourism”, em que os turistas que se encaixam na primeira categoria serão aqueles que empreendem a viagem com o propósito único de fazer surf, na segunda, aqueles que tendo o surf como objetivo, não foi no entanto a sua primeira motivação e, por fim, a terceira, em que o turista não tendo qualquer contacto prévio com o surf, mas estando de férias na praia e vendo outros praticando, decidem também experimentar. No contexto do turismo de surf, quando um novo destino é descoberto a indústria do surf mediatiza-o, nomeadamente através dos media, criando um discurso de “Wonderland surfing”, pois é este que atrai turistas e cria lucros comerciais para os operadores turísticos, correndo-se um sério risco de “overcrowding” que, por sua vez, poderá pôr em causa e poderá destruir o produto vendido no referido discurso de “Wonderland”, uma experiência de surf num destino, sem “crowd”. Ponting e O’Brien, evoluem então para a definição do que consideram turismo de surf sustentável, que segundo eles se encaixa na concepção de atividade turística sustentável, conforme recomendação da UNESCO, ou seja, centrada na prática do surf, satisfazendo por um lado as necessidades dos turistas de surf e, por outro lado, respeitando o bem-estar atual e futuro da população local, tanto ao nível sociocultural, como económico e ambiental. (*)Texto original integrante da Dissertação de Mestrado em Turismo e Ambiente: “O SURFISTA E A SUA SATISFAÇÃO NA COMPONENTE DA EXPERIÊNCIA TURÍSTICA DE SURF: O CASO DE PENICHE“, defendida em 1 de Outubro de 2015 na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar do Instituto Politécnico de Leiria.
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Dezembro 2016
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