Escrito por: José Miguel Nunes Jess Ponting, um dos mais conceituados investigadores a nível mundial na área do surf escreve: “when a new surfing destination is “discovered,” it typically features heavily in the surf industry’s print and video media. In this way, the global surf media complex creates a discourse of surfing “Wonderland” … “This Wonderland discourse is what attracts surf tourists, and in turn, creates profit for commercial surf tourism operators. However, achieving Western notions of commercial success runs the very real risk of overcrowding. Overcrowding, in turn, risks destroying the very product that is sold to surf tourists.” A perda de irreverência e de valores característicos desta comunidade, estão a ser delapidados, levando-a à inclusão no modelo economicista desta nova vaga de “yuppies”, em que o expoente máximo terá sido a entrada na ASP destes novos “players” da ZoeSea. A transformação desta actividade milenar, em qualquer coisa, independentemente do que for, à imagem americana do “show-off” com “rios” de dinheiro a rolar, não se sabendo bem de onde vêm nem para onde vão, assente em mecanismos económico-financeiros, em tudo semelhantes aos que nos levaram ao estado de crise global em que nos encontramos, é por demais evidente. Mas vamos aos santos da casa, e à promiscuidade entre os “meninos do surf” e alguns políticos. Há por aí políticos, que não têm qualquer tipo de pejo em aprovar projectos que destroem praias e ondas, mas que ao mesmo tempo, hipocritamente, digo eu, apoiam eventos de surf. Há por aí políticos, que não têm qualquer tipo de pejo em expropriar, destruindo vidas e projectos sustentáveis, só para esmifrarem o surf, que agora é também um grande negócio. Há por aí políticos, que não têm qualquer tipo de pejo em abdicar de uma competição importante para o clube da sua terra, colocando-a como moeda de troca no sujo jogo dos apoios políticos. Surpreso!… não, antes desiludido, não com os políticos, entenda-se, pois esses já perderam a capacidade de me desiludirem, mas sim com os “meninos do surf”, com esses sim, que dão cobertura a este tipo de jogadas, tendo como único interesse o seu, o económico. Ver surfistas de sorriso estampado, em poses para a fotografia, em conferências de imprensa e recepções em salões nobre, com discursos elogiosos, a individualidades como estas, que dão com uma mão, para tirar com as duas, como se nada se passasse, isso sim, desilude-me, e bastante. Ver surfistas de mão estendida receberem de bom grado e sorriso na cara, algo que provém de manobras políticas menos claras, lavando as mãos como Pilatos, isso sim, desilude-me, e bastante. Ver surfistas fazerem “panelinha” em jogadas políticas para desviar campeonatos para locais onde comprovadamente a qualidade dos mesmos sairia afectada, isso sim, desilude-me e bastante. Ver após tanto tempo de espera, realizar-se um curso de treinadores de surfing, e nenhum dos Centros de Alto Rendimento existentes em Portugal, que custaram uns largos milhares de euros ao erário público, reunirem as condições necessárias para o sediar, isso sim, desilude-me e bastante. Ver o organismo responsável pela promoção turística do nosso país, desembolsar a favor de um negociante do surf, não sei quantos mil euros, para ele andar vinte e um dias a surfar e a filmar, na pior época de ondas em Portugal, qualquer coisa que lhe aparecesse pela frente, e apresentar ondas miseráveis de locais de ondas excelentes, quando deveríamos estar a promover qualidade e diversidade, isso sim, desilude-me e bastante. Ver um país em francas dificuldades económicas como o nosso, ser apenas suplantado por EUA e Austrália, em atribuição de “prize money’s” em provas da ASP, desilude-me, claro que me desilude, pois mais tarde serei eu a sofrer no bolso estes exageros… mas por essa altura, já os “meninos do surf”… encaixaram o seu. E mais um ano se passou, o surf e os surfistas dominados pelo negócio, pelos negócios e pelos negociantes, deixaram-se subjugar pela acção política. Mais uma vez os “meninos do surf” desiludiram-me…
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Dezembro 2016
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