Escrito por: José Miguel Nunes "The notion of sustainable surf tourism fits with the conception of sustainable touristic activity centered on the sport of surfing, where the needs of surf tourists are met whilst also respecting the current and future social, cultural, economic, and ecological welfare of local people" – Ponting & O’Brien O surf atravessa um período de enorme expansão em Portugal. Ao nível desportivo as mais recentes conquistas mundiais provam-no, ao nível recreativo, o nome de Portugal está intimamente associado às ondas, sejam elas de quarenta metros na Nazaré, ou tubos perfeitos em Peniche. A vertente recreativa do surf está fortemente associada ao negócio do turismo, o tão badalado turismo de surf, com proporções dificilmente imagináveis há meia dúzia de anos atrás. Como consequência, o perigo da massificação dos destinos associados, nomeadamente o de Peniche, ganham contornos que começam a ser preocupantes. Se por um lado o crescente número de turistas que se deslocam a Peniche com o intuito de fazer surf, cria no curto-prazo uma dinâmica económica, por esta altura ainda em fase ascendente, que serve de justificação para quase tudo, por outro, a médio e longo prazo, o previsível declínio, económico, mas sobretudo ambiental e social, poderá ser significativo, e com danos dificilmente reparáveis. Como escreveu Carolina Pereira num recente artigo, “o turismo de surf, na sua essência, cresceu muito orientado para o lucro, com o ‘status quo’ ocidental e já universalizado”, prática que, ainda nas suas palavras “oculta o papel negativo que os surfistas tem na exploração e destruição desses puros paraísos”, na linha do que Barilotti apelidou de colonialismo surfista, com implicações nomeadamente ao nível do lixo, estradas, erosão, poluição da água, degradação ambiental e esgotamento de recursos. É pois imperativo que se inverta o modelo existente, que se legisle e fiscalize adequadamente numa óptica efectivamente sustentável, de modo a que a preservação ambiental e social do destino seja uma prioridade, afirmando-se inquestionavelmente como a base que alavancará a vertente económica, em que a qualidade da oferta terá forçosamente que se sobrepor à quantidade, numa diferenciação positiva de Peniche como destino não só privilegiado em termos de ondas, mas também agradável para a prática do surf. Não nos iludamos, a legislação desadequada e insipiente fiscalização ao fenómeno surf enquanto produto turístico, tende a promover a expansão descontrolada, onde a preservação da qualidade do destino turístico passa para segundo plano, relativamente à obsessão quantitativa dos turistas que pretende albergar, quase numa lógica “troikiana” que desde que se cumpram os números, o resto é irrelevante e até descartável.
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Dezembro 2016
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