Escrito por: José Miguel Nunes “…agora há que manter e tornar o desafio sustentável para que isto não seja uma bola de neve que passe por aqui e destrua tudo. O futuro vai passar muito pela qualidade (…) tanto ao nível dos serviços, dos surfcamps, hotelaria ou da restauração como da própria autarquia e dos próprios penichenses.” – José Farinha O mês de Novembro é um mês um pouco atípico relativamente a estas questões do surf e do turismo de surf em Peniche. É o mês seguinte à etapa do WT que por cá passa, ou seja, é o mês em que efetivamente o verão acaba. É o mês em que a maioria dos hostels, surfcamps, guesthouses e outros que tais começam a mandar os seus empregados para o fundo de desemprego e a fechar portas para um merecido período de férias, que em alguns casos se estende até Março. Mas é também o mês em que acontece algo que considero bastante importante para o turismo em Peniche, não só para Peniche, mas sobretudo para Peniche. Refiro-me concretamente ao CONGRESSO INTERNACIONAL DE TURISMO, que este ano realiza já a sua oitava edição na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar. Este evento, infelizmente não me parece ter tido por parte dos operadores e decisores locais a importância que julgo deveria ter relativamente à mais-valia que efetivamente tem, tanto para uns como para outros. Da parte dos operadores turísticos locais poucos ou nenhuns por lá passam para assistir às palestras, relativamente aos decisores, apenas na cerimónia de abertura e na de fecho fazem a sua aparição. Gostaria de frisar que têm passado por cá os maiores nomes a nível mundial na investigação e estudo do fenómeno turístico, e nós, que somos cada vez mais uma região virada para este desígnio, teremos muito a aprender ao ouvir estes especialistas. Mas falemos especificamente de surf, e de turismo de surf. Este ano um dos “Keynote Speakers” neste congresso será Jess Ponting, porventura um dos maiores especialistas a nível mundial sobre o estudo desta área tão específica do Turismo. Jess Ponting faz uma abordagem muito relevante nos seus estudos à questão sustentável do turismo de surf, daí que se torne ainda mais importante ouvir o que ele tem para dizer, isto se o rumo que se pretende trilhar para Peniche neste segmento seja esse, o do Turismo de Surf Sustentável. Há pouco tempo ao navegar por esse mundo das redes sociais deparei-me com uma fotografia do Baleal com o seguinte comentário a acompanhar, e passo a transcrever: “…centenas de surfistas na água! E não tenho dúvida que mais de 90% serão estrangeiros. A economia local só pode agradecer e continuar a qualificar-se para tirar ainda mais partido deste invejável afluxo de turistas”. Este tipo de afirmações e a leveza com que se fazem, deixam-me um pouco perplexo, pois não sei com que fundamento científico se afirma tal. Tenho lido umas dezenas largas de artigos, e falo de artigos científicos, provenientes de investigações de pessoas que por esse mundo fora estudam estas matérias, tenho lido umas dezenas de teses, tanto de mestrado como de doutoramento sobre estas matérias, e em nenhum lado encontrei escrito que centenas de surfistas na água era algo de bom para o turismo de surf e muito menos para um destino turístico de surf, principalmente se este se quer sustentável. Sejamos justos, e verdade seja dita, nunca ninguém com responsabilidades de decisão disse “preto no branco” que queria ou gostaria de desenvolver um modelo de turismo de surf para Peniche que assentasse na sustentabilidade. Nunca ninguém com responsabilidades de decisão disse “preto no branco” que queria para Peniche um modelo de turismo de surf que fosse viável no médio e longo prazo. Assim, continuamos a trabalhar num modelo de curto-prazo, coincidente com ciclos políticos, que à boa maneira portuguesa significam uma coisa tão simples como: massificação e mediatização. Isto só pode ter, na minha opinião, uma de duas explicações: (1) que conscientemente é este o modelo que se quer seguir, o da massificação, mesmo que isso implique a implosão do recurso e do destino, (2), que não se sabe efetivamente o que significam os conceitos de sustentabilidade, de turismo de surf e de turismo de surf sustentável, e em que premissas assentam. A hipótese um revela-nos um problema grave, muito grave até, e não terá um fim feliz, por outro lado, a hipótese dois, apesar de ser também grave, poderá ainda ser solucionável, e ouvir com muita atenção o que o Dr. Jess Ponting terá para dizer pode ser um excelente começo.
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Dezembro 2016
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