Escrito por: José Miguel Nunes “Stoked, the surfers term for the dizzy-like hight that is achieved in vertigo producing activities” – R. J. Farmer “Surfer stoke is impossible to adequately explain unless you’ve experienced it.” - N. Holtz A satisfação no surf, ou a satisfação do surfista, ancora na expressão stoke ou stoked, que embora não possa ser literalmente traduzida, e dificilmente explicada, significa na gíria surfista, algo como ficar animado, contente, feliz, emocionado. Começou a ser usada pelos surfistas da Califórnia em meados dos anos cinquenta, numa adaptação da palavra holandesa do século XVII stoke, usada para descrever o acto de reposição dos toros de madeira numa lareira para avivar as chamas. "I can see the stoke in their eyes and in a smile that burns as bright as a bonfire…" - Tomson & Moser Segundo Keauokalani, na sua obra "Traditions of Hawaii", os antigos havaianos teriam uma expressão para se referirem a este estado de estar stoked, que designavam de höpüpü. "…during November, which in the Hawaiian calendar is called ‘Ikuwä, in honor of “defending” winds, storms and waves that occur during that month, early Hawaiians would become particularly höpüpü." O surf como actividade dominada por sensações extraordinárias que se baseiam no aproveitamento directo de uma força da natureza, as ondas, alcança patamares que se encontram muito para além do económico, tais como a felicidade, a relação com a natureza e os benefícios físicos, relacionados numa primeira instância, com a qualidade e diversidade das ondas, e numa segunda instância com a vivência do ambiente e cultura de surf, ou seja, a vida em torno do oceano e a cultura da praia. Envolvendo várias vertentes, como a desportiva, a de lazer ou a de aventura, os surfistas apresentam uma relação de grande proximidade com os princípios de desenvolvimento sustentável, pois a pretensão é o desfrute de um ambiente natural num cenário não congestionado estando dispostos a recusar outras actividades em prol de um bom dia de surf, tornando-se a procura do surf em locais não descobertos ou não povoados, a essência da experiência de surf, na incessante busca da onda perfeita. Segundo estudo realizado por Dolnicar e Fulker o crowd constitui-se como um factor extremamente importante na selecção de um destino de surf, ou seja, quanto mais crowd houver menos atractivo será o destino. Refere ainda Ralph Buckley que o crowd tem implicações ao nível da experiência do turista de surf no local, destacando entre outras, a qualidade do ambiente natural, a duração das condições favoráveis à prática de surf e a existência de secret spots, assim como questões de segurança. A regra de ouro no surf, “um surfista, uma onda”, sai seriamente afectada com o aumento do crowd, sendo um bom indicador desta evidência, o rácio do número de ondas que um surfista está em posição de aproveitar, mas que são aproveitadas ou estragadas por outros, sobre o número de ondas efectivamente concretizadas pelo surfista. Quanto mais surfistas estiverem na zona de take-off à espera do set para surfar uma onda, mais feroz será a disputa, com as probabilidades de sucesso a baixarem exponencialmente. O crowding assume-se assim como um factor social que limita a capacidade de desfrutar do turismo de surf, pois como nos diz Buckley para os surfistas dispostos a pagar para praticar surf, a atracção não é apenas haver ondas boas, mas sobretudo haver ondas boas sem crowd. (*)Texto original integrante da Dissertação de Mestrado em Turismo e Ambiente: “O SURFISTA E A SUA SATISFAÇÃO NA COMPONENTE DA EXPERIÊNCIA TURÍSTICA DE SURF: O CASO DE PENICHE“, defendida em 1 de Outubro de 2015 na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar do Instituto Politécnico de Leiria.
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Dezembro 2016
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