Escrito por: José Miguel Nunes “The disembedding of Wonderland has enabled the development of a model of surf tourism which is market focussed, economically neo-liberal and disconnected from local place and people.” – Jess Ponting Lisboa recebeu esta semana uma conferência da World Surfing League (WSL), onde foi abordado o impacto que os eventos mundiais de surf têm em Portugal. Estiveram presentes as mais proeminentes figuras desta área existentes cá pelo burgo. Políticos, claro, ao mais alto nível, CEO’s, e até CCO’s. Tenho sido desde sempre um defensor, que o surf poderia ser um enorme catalisador de desenvolvimento económico para determinadas regiões, nomeadamente a de Peniche, e fico sinceramente feliz e orgulhoso, com os milhões que o surf tem feito girar na economia, apesar de achar, porque também leio os estudos, pelo menos aqueles que lá vou conseguindo ter acesso, ainda que não com uma visão de necessidade de mediatização dos números, que não serão estes milhões todos, e que possivelmente estarão um pouco sobrevalorizados, por várias razões, algumas delas políticas. Outra das coisas que me dá enorme satisfação, é cruzar-me na praia, nomeadamente durante o campeonato, estou a falar do Rip Curl Pro Portugal, com quem há alguns anos atrás, considerava os surfistas simples “pés-de-chinelo”, e alguns até a austentarem a bela da pulseira de acreditação no pulso, só não reparei se levavam ‘havaianas’ enfiadas, mas isso é um pormenor insignificante, as ‘havaianas’, claro está. Não sou defensor, nunca fui, nem acredito, que o surf seja o “salvador da pátria”, como parece ser a mensagem que muito boa gente com responsabilidade quer fazer passar, até porque, como diz o ditado, “quando a esmola é grande, o pobre desconfia”, e isto, meus amigos, é muito milhão. São não sei quantos milhões de retorno mediático, mais não sei quantos milhões de receita total, e mais não sei quantos milhões disto e mais não sei quantos milhões daquilo, é só milhões. Parece que a única coisa que não é aos milhões no meio disto tudo, são os empregos com estabilidade e condições dignas de trabalho para quem está no sector, e agora estou a falar de gente comum, do simples trabalhador, essencial para a máquina rolar e gerar todos aqueles milhões. A notícia sobre esta conferência trazia um vídeo associado, em que os senhores do surf, uns efectivamente Senhores (letra maiúscula) do surf, outros nem tanto, mas isso são outros quinhentos, davam a sua opinião sobre o assunto. A título de exemplo, a tónica comum no discurso dos três Presidentes de Câmara auscultados, foi claramente os milhões do turismo de surf, declaradamente numa óptica de curto prazo, e onde a sustentabilidade é apenas uma palavra vã, que fica bem no discurso, sem qualquer consequência na prática. Basta olhar para alguns dos projectos realizados e/ou autorizados ou em vias de realização e/ou autorização nestes municípios. Tenho sérias dúvidas que algum destes decisores tenha lido, ou mandado algum dos seus assessores ler, autores como Lazarow, Buckley, Ponting, Assenov, Dolnicar, Barbieri, Fluker ou Farmer, só para citar alguns, pois se o tivessem feito, é muito provável que o modelo que estão a seguir para o turismo de surf em Portugal, não trilhasse o caminho que está a trilhar. Um dos Senhores (este com letra maiúscula) que deu a sua opinião neste vídeo, foi Fred Patacchia, surfista profissional, e ele disse algo que nos deveria deixar a pensar um pouco, e que é o seguinte: gosto de vir a Portugal, porque não está americanizado. Acrescento eu, não está, AINDA, mas pelo andar da carruagem, para lá caminhamos, e a passos largos.
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Dezembro 2016
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