Escrito por: José Miguel Nunes A importância de sermos os primeiros de qualquer coisa, acarreta em si, um significado importante de orgulho pessoal. É algo natural e até legitimo, próprio da raça humana. Devemos orgulhar-nos dos nossos feitos, claro que sim, sem complexos, falsas modéstias e acima de tudo sem vedetismos. A importância de sermos os primeiros a fazer algo, dá-nos a possibilidade de entrarmos para a história. Dá-nos a possibilidade de atingirmos algo perseguido deste sempre… a imortalidade, e este facto é determinante para a incessante busca do pioneirismo. Claro está, que podemos ficar na história por boas ou más razões. O Sócrates por exemplo ficará para a história, não por ter sido primeiro-ministro, ou um grande primeiro-ministro, mas por ter sido o primeiro primeiro-ministro a ser preso em Portugal. Não sei se sentirá motivo de orgulho pelo facto, mas que ficará para a história, lá isso ficará. Mas vamos ao surf, que este é um “blog” de surf. O “Saca” ficará para a história do surf em Portugal, não por ter entrado na elite do surf mundial, mas por ter sido o primeiro Português a fazê-lo. O “Bubas”, ficará para a história do surf em Portugal, não por ter sido campeão nacional de surf (ainda que com as reservas que esse título possa deixar), mas por ter sido efectivamente o primeiro a sê-lo. O “Micá” ficará para a história do SUP em Portugal, não por ganhar as provas todas, passe o exagero, de SUPWave, mas por ter sido o primeiro campeão nacional da modalidade. É assim, através dos seus feitos, do seu pioneirismo, perderam a característica mortal dos simples, passaram para o outro nível, tornaram-se imortais, ficaram na história. Depois há os outros, aqueles que terão de ficar para a história por terem sido os percursores dos anteriores, o Beltrano que fazia carreirinhas, que agora também é surfing, o Sicrano que andava num colchão “repimpa”, ou o Zé da Esquina que com uns bocados de cortiça já praticava o bellyboard. A comunicação social, adora encontrar os primeiros de qualquer coisa. Numa perspectiva de marketing, as empresas são pródigas em aproveitar os primeiros de qualquer coisa. Alguns políticos “dão o rabinho e cinco tostões” para aparecer na fotografia ao lado dos primeiros de qualquer coisa, e nós… bem, nós, simples desconhecidos, continuamos a nossa busca incessante de sermos os primeiros de qualquer coisa, para podermos ser adorados pela comunicação social, aproveitados pelo marketing das empresas e aparecermos na fotografia ao lado dos políticos do momento. Sorrisos e mais sorrisos. A “vipalhada” a fazer fila para nos cumprimentar. As histórias para contar são mais que muitas. O discurso aprimora-se, aqui e ali, uma pontinha de exagero torna a história sem interesse em interessante. A t-shirt da marca, dissimuladamente patrocinadora, não falha. As solicitações para eventos são tantas que já é quase um emprego. O orgulho e a auto-estima estão nos píncaros. Tudo corre às mil maravilhas… E se por mero acaso o primeiro de qualquer coisa, afinal não o foi? Ui…ui… os políticos são os primeiros a dar de slide, as empresas correm a pente fino o eventual acordo na esperança de o solucionarem, os convites para os eventos escasseiam, e do antigo primeiro, tratado como um semi-Deus, à condição imortal, já não rezará a história. Retornou à simples condição de mortal, condenado ao esquecimento como qualquer outro. Quão efémero é o reconhecimento por algo que tanto nos orgulha, quão efémera é esta sociedade de aparências, em que o mais importante é o rótulo do que fazemos e não efectivamente o que fazemos. Como disse o meu bom amigo Ricas: “Numa época em que muitos afirmam, sem qualquer hesitação, que foram os primeiros a surfar em Portugal, os primeiros a surfar em Carcavelos, os primeiros no Baleal, os primeiros lá da rua… Porra pá, eu nem o primeiro do meu prédio fui!!” Agora que penso nisso, eu fui o primeiro do meu prédio. Será que o novo dono da loja de electrodomésticos do rés-do-chão sabe disso? Hummm…
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Dezembro 2016
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