Escrito por: José Miguel Nunes Num mundo em que mais vale parecer que ser, num mundo em que a hipocrisia é a virtude dos espertos, num mundo em que a ilusão tem mais força que a realidade, num mundo em que a manipulação e difusão de informação particionada é vista como uma brilhante estratégia de marketing promocional, o surf vive envolto numa áurea economicamente positiva e de crescimento exponencial, qual sol tapado pela peneira, que impede que se enxergue verdadeiramente a bolha em que efectivamente gravita. É frequente na comunicação social a referência aos milhões de euros que a etapa da WSL que passa por Peniche trás para a economia local, dois exemplos, passo a citar: “…estima-se que os mais de 100 mil visitantes que passam anualmente por Peniche durante a etapa do Mundial de surf representem um impacto económico local superior a 10 milhões de euros.” (in Beachcam); “CT de Peniche gera mais de 10 milhões de euros para a economia local” (in Onfire). Esta informação não reflete a verdade. Quem escreve estas notícias, das duas uma, (1) não leu o relatório do estudo que cita e limitou-se a escrever o que ouviu alguém dizer, ou (2) leu, mas achou que escrito desta forma tinha mais impacto, apesar de não ser totalmente verdade. No referido relatório não está escrito em lado nenhum que o MOCHE RIP CURL PRO 2015 teve um impacto na economia local de 10 milhões de euros, o que está escrito é que o volume de negócios gerado pelo MOCHE RIP CURL PRO 2015 é de 10 milhões de euros, o que é substancialmente diferente. Em recente reportagem, a determinada altura está escrito, e passo a citar: “O estudo “Impacto do turismo no desenvolvimento local – o caso prático do Surf em Peniche”, realizado pela própria autarquia, indica um retorno global da realização da prova de 30 milhões de euros em 2015…” (in ECO-Economia Online). Confesso que quando li esta afirmação fiquei baralhado. Passo a explicar, (1) Nunca tinha ouvido falar em tal estudo. Apenas um pequeno parêntesis para referir que em e-mail dirigido à Câmara Municipal de Peniche (CMP), datado de 26 de Outubro de 2016, com conhecimento ao e-mail do Sr. Presidente, solicitei a sua disponibilização. Ainda aguardo resposta; (2) Encontrei efetivamente uma referência a um valor de 30 milhões numa apresentação, inclusivamente disponível no site da CMP, não sei se será a este valor que se referem, mas se sim, apenas um pequeno pormenor, mas que faz toda a diferença, é que na dita apresentação o retorno global a que esta se refere, como lá está escrito, é relativo ao “Media return”, isto é, aos meios de comunicação social, o que é substancialmente diferente de apenas retorno global. Nos exemplos apresentados, percebemos que pelo simples facto de acrescentarmos ou retirarmos uma simples palavra, damos uma dimensão ilusória da realidade. Dá-se a parecer que são 10 milhões para a economia local, quando na realidade não é isso que o estudo diz. Dá-se a parecer que são 30 milhões de retorno global, quando afinal não é isso que a apresentação diz. O mais importante é que parece, e enquanto conseguirmos manter a aparência a bolha vai respirando. Como bem escreveu um conhecido “blogger” local, “esses milhões vão ter que aparecer nos IRC e IRS de toda esta gente”. Quando a bota não bater com a perdigota, o parece que é, transforma-se rapidamente no afinal não é, e a bolha rebenta.
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Dezembro 2016
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