Foi anunciado no passado dia 26, em Carcavelos, o MOCHE SERIES - CASCAIS TROPHY - PORTUGAL 2013, uma pareceria entre as Câmaras Municipais de Peniche e Cascais, conjuntamente com a MOCHE, naquilo que foi designado como o maior evento combinado de Surf na Europa, que engloba pela primeira vez, as quatro maiores provas internacionais da modalidade realizadas em Portugal. Em termos genéricos o que vai acontecer é a integração coletiva das principais provas internacionais de Surf realizadas em Portugal, onde para além da etapa do WT masculino, que decorre desde 2009 em Peniche, e do WQS 6 estrelas que acontece em São Miguel, nos Açores, foi ainda anunciada a promoção do EDP Surf Fest, em Carcavelos, de evento do WQS para etapa do WT feminino. De raiz vai ser ainda criada uma etapa Prime – as de maior importância do circuito WQS masculino - em Carcavelos. Muito bem, até aqui nada de extraordinário, e até acho interessante o conceito, mas atenção, é só o conceito que acho interessante, tudo o resto acho bastante desinteressante, para não lhe chamar outra coisa. Vamos então lá ver o que poderá estar por de trás de tudo isto. Em 25 de Dezembro de 2009, num artigo intitulado “O Natal mais ‘cool’ da Capital da Onda”, a determinada altura escrevi o seguinte: Algo que me preocupa também, e apelo à atenção dos responsáveis locais, estejam atentos, e vejam o que aconteceu com o “Red Bull Air Race”, que recentemente foi deslocalizado do Porto para Lisboa. Com o “Rip Curl Pro Portugal” o ‘apetite’ também é grande, e pode-lhe perfeitamente acontecer o mesmo, aliás, assunto já aflorado em alguma imprensa da especialidade, muito subtilmente, mas já aflorado, não se esqueçam que apesar do País ser pequeno, a sua costa estende-se até ao “Allgarve”. Ora isto, a propósito da então tentativa de deslocalização do evento lá mais para o sul do País, assunto que esteve em cima da mesa em reunião de altas esferas com interesse nestes assuntos de turismo e surf. Reparem na data, foi logo mal acabou o “The Search”, o primeiro evento cá realizado, não perderam tempo. Na altura não o conseguiram. Um pouco mais à frente, no mesmo artigo, escrevo o seguinte: … se a qualidade das ondas de Peniche por alguma razão pudesse ser minimamente posta em causa, já aí estariam alguns em fila de espera para o levar para outras paragens, e não para tão longe de Peniche como possam imaginar, pois acreditem, existe por aí muita dor de cotovelo por Peniche ter uma prova do “World Tour”. A oportunidade que esperavam para avançar surgiu, e não se fizeram rogados, e tendo como fundo as ondas que deram no último “Rip Curl”, aí estão eles a fazê-lo, “de mansinho” para não dar muita “bandeira”, e aqui há algo que tenho de dizer, o Turismo de Portugal deveria ter como um dos principais desígnios o de proporcionar meios para desenvolver áreas menos mediáticas e não o contrário, como está a acontecer neste caso, em que estamos a ser engolidos pela marca Cascais/Lisboa. Neste sentido, a pergunta é: CASCAIS TROPHY porquê? O evento de charneira deste, como dizem os seus mentores, troféu “umbrella”, é o “RIP CURL PRO PORTUGAL”, agora renomeado de “MOCHE WORLD PRO”, que eu saiba, preferencialmente realizado em Peniche (só se eles já têm outras ideias em mente). Parece-me por outro lado, que os Açores também fazem parte desta parceria, pergunto novamente CASCAIS TROPHY porquê? No mínimo PORTUGAL TROPHY, para sermos coerentes, pois há diferentes eventos espalhados por vários locais de Portugal, e não só em Cascais, como parecem querer fazer crer. Já agora, curiosamente, o campeonato em Peniche nunca se chamou “RIP CURL PRO PENICHE”, aliás como se deveria ter chamado, só para sermos coerentes. A justificação na altura era que não fazia sentido Peniche, mas sim Portugal, pois era esta a marca que se queria passar, parece que agora já não é esse o entendimento, já é Cascais e não Portugal, isto mais uma vez, só para sermos coerentes. Mas já que falamos de coerência, ou em falta dela, é interessante ver que na nota de imprensa, quando falam de Cascais dizem isto: Para Cascais, berço nacional do surf, a associação ao MOCHE SERIES – Cascais Trophy - Portugal 2013 foi um passo natural numa estratégia de desenvolvimento que passa, em grande parte, pela afirmação da marca “Cascais” através do potencial do mar. Habituada a ser o palco de grandes acontecimentos mundiais, a Câmara Municipal de Cascais tem acolhido algumas das mais prestigiadas provas desportivas internacionais, como a America’s Cup World Series, Campeonato Mundial de Vela do ISAF ou a Audi Med Cup. Muito bem, Cascais, Cascais e mais Cascais, nitidamente a promover Cascais. Vejamos agora os termos relativamente a Peniche na mesma nota: Ao longo dos últimos anos, essencialmente devido a projeção dada pelo World Tour em Portugal, o surf ganhou nome além-fronteiras. A excelência das ondas, a beleza do País, a gastronomia típica, a hospitalidade das pessoas e o clima inigualável foram fatores determinantes para a afirmação de Portugal enquanto o spot de surf para a elite dos atletas da modalidade e para a promoção do nosso País enquanto destino preferencial para o “Turismo do mar”. Bem diferente não? É interessante reparar que referem os eventos em Cascais para promover Cascais, enquanto que a referência aos eventos em Peniche, nunca mencionam a palavra da terra, e estes já são para promover o País. É por este tipo de coisas, que em 22 de Fevereiro de 2012, no artigo “Estará o surf penicheiro refém de uma utopia?” escrevi o seguinte: Os jogos de interesses começam também agora cada vez mais a fazerem parte do fenómeno surf, e de quem tenta a todo o custo liderar o processo. Todos sabemos que nestes jogos de poder há sempre quem tenha de ser “queimado”, e no surf, somos sempre nós, continuando a máxima a ser: Lisboa é Portugal, o resto é paisagem, e nós, paisagem, estamos cá para acatar as ordens daquilo que eles lá em Lisboa decidem. Passado um ano, nada mais atual. Como disse em cima, isto está a ser feito de mansinho, para não levantar muitas ondas, e depois dar a estocada final, e começa logo por aqui, como que, a preparar o terreno para o que está para vir, senão vejamos o que o Record escreve na sua edição on-line de 26 de Fevereiro: Destaque ainda para a praia de Carcavelos passar a ser palco secundário do Rip Curl Pro Portugal, o que poderá fazer com que o campeonato mude de local, caso as condições não sejam as ideias em Peniche. Meus amigos, devem estar a brincar, ou então julgam que somos todos parvos, Carcavelos como “backup” de Supertubos? O que isto quer dizer é muito simples, o campeonato só será feito nos Supertubos se as ondas estiverem realmente boas, caso contrário será sempre em Carcavelos, esta intenção é por demais evidente. O objetivo nesta primeira fase é levar para lá todo aquele mar de gente na praia, enfraquecer as reservas de alojamento naquela altura em Peniche e estabelecer o “quartel-general” do staff por lá, e não se esqueçam do número de quartos que só o staff ocupa, já para não falar dos atletas, ou seja, se estiver realmente muito bom em Peniche, eles vêm cá aproveitar as ondas, e isso pode acontecer apenas um dia, ou dois, conforme as condições, e depois vão embora, caso contrário, nem sequer cá põem os pés, a animação será toda por lá, de dia… e de noite… ah, e claro, é lá que os tais 130 mil visitantes gastarão o dinheiro, lembram-se daqueles milhões de euros tão falados e difundidos na imprensa, são esses que os senhores de Cascais querem levar, até ao último cêntimo, não pode é ser já. Este ano, ainda têm de suportar a “ralé” penicheira misturada com a “fina flôr” de Cascais, mas daqui a um ano, se calhar já não…. Escrevi-o em 19 de Março de 2009, no artigo “Entre a discriminação e a ingratidão": Peniche e o surf penicheiro continuam a ser tratados e discriminados de um modo inaceitável por parte dos principais agentes deste desporto. Quase quatro anos depois, reforço esta ideia, não mudaram de atitude, refinaram apenas o modo como o fazem. Desenganem-se os mais ingénuos, a coisa está montada e em andamento, o “Rip Curl Pro Portugal”, desculpem, o “Moche World Pro”, em Peniche, tem os dias contados. A raposa descobriu a entrada para o galinheiro, agora ..., desculpem a linguagem, mas estamos a ser “comidos”… e à grande.
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Desde que o surf se tornou a “menina dos olhos” do turismo em Portugal que ouço frases do tipo “as ondas não desaparecem”, “os estádios de surf já estão construídos” ou ainda que “as ondas não são passiveis de serem replicadas”, como argumentos justificativos para o investimento no produto surf. Há muito que sou defensor, que o surf pode ser uma mais-valia muito importante para o desenvolvimento da economia da nossa região, tenho-o escrito variadíssimas vezes. O produto surf tem como base a onda, pois é nela que se pratica a modalidade que serve de âncora a todo o desenvolvimento dos negócios a ele associados, sejam surfcamps, surfschools, surfshops, fábricas de pranchas, etc, etc, etc..., ou seja, sem ondas não há surf, e sem surf não há negócios associados, daí o tal argumento de que as ondas estão lá e não desaparecem, claro está, na perspetiva de não ser necessário construi-las, bastando unicamente que não destruam a sua envolvência, que elas continuam a rolar, como sempre rolaram. Totalmente de acordo até este ponto, é quase uma ‘verdade de la palisse’, fisicamente a onda não desaparece (partindo do princípio que não a destroem), no entanto, o que está aqui em causa é a onda como produto turístico, e nesta perspetiva, na minha opinião, pode efetivamente desaparecer. Senão vejamos, e existem alguns conceitos importantes para percebermos a questão. TURISMO e não havendo uma definição única desse conceito, o que a Organização Mundial de Turismo (OMT) recomenda é que seja entendido como: "as atividades que as pessoas realizam durante as suas viagens e permanência em lugares distintos dos que vivem, por um período de tempo inferior a um ano consecutivo, com fins de lazer, negócios e outros." Partindo do princípio que os turistas são aqueles que praticam o turismo, ainda segundo a OMT, TURISTA “é todo o visitante temporário que permanece no local visitado mais de 24 horas”, o que nos leva à questão dos que permanecem menos de 24 horas, que segundo a mesma organização são os EXCURSIONISTAS. À conjugação destes dois conceitos aplica-se o conceito de VISITANTE, que “é toda a pessoa que se desloca temporariamente para fora da sua residência habitual, quer seja no seu próprio país ou no estrangeiro, por uma razão que não seja a de aí exercer uma atividade remunerada.” Ponting, um dos estudiosos desta matéria, definiu então como TURISMO DE SURF “toda a viagem e permanência temporária, realizada por um surfista, envolvendo pelo menos uma noite fora da sua região de domicílio habitual, cuja principal expectativa é surfar.” Então, analogamente podemos dizer, e numa lógica de, VISITANTE = TURISTA = SURFISTA (e aqui deixamos de fora os acompanhantes dos surfistas e aqueles que vêm ver os surfistas), que TURISTA DE SURF será toda a pessoa que se desloca temporariamente para fora da sua residência habitual, quer no seu próprio país ou no estrangeiro, por uma razão que não seja aí exercer uma atividade remunerada, cuja principal expectativa é surfar. Qualquer turista, e o de surf não é excepção, tem no final da sua estadia, como objetivo, retirar uma sensação de satisfação, resultante da sua experiência de consumo, neste caso da onda, pois é nela que se baseia toda a oferta turística do surf. Muito bem, assim, tudo isto nos leva à regra base do surf, um surfista, uma onda, e só havendo uma determinada percentagem de ondas de um turista de surf que satisfaça esta regra, é que o mesmo retira satisfação da sua estadia, caso contrário o feedback será negativo, com as implicações que isso terá. Temos ainda de separar, na minha opinião, mais dois conceitos, os turistas de surf, que já fazem surf, e vêm para fazer surf, e os turistas de surf, que não fazem surf, mas que vêm para aprender a fazer. São dois nichos de mercado completamente diferentes, e que devem ser vistos de modo diferente. Começando pelo primeiro caso, aqueles que não fazem já surf, aqui a tal regra básica do surf não se aplica, e uma onda (espuma) serve para muito mais do que um ‘surfista’, havendo apenas a preocupação da segurança com o número de ‘surfistas’ sem experiência dentro de água ao mesmo tempo. No segundo caso, aqueles que já fazem surf, então aqui sim, a regra aplica-se, e o seu grau de satisfação aumenta ou diminui consoante aumenta ou diminui o número de ondas que conseguem fazer sozinhos, e não podemos correr o risco de chegar ao ponto de no futuro aparecerem títulos de notícias referentes a Peniche, como aquele que recentemente saiu no site Surftotal, no passado dia 19 de Fevereiro, referente à Gold Coast Australiana, e passo a citar, “As águas da Gold Coast na Austrália são uma autêntica "zona de guerra" com os surfistas a lutarem por espaço no meio do crowd”. SUSTENTABILIDADE, este é o conceito base para o sucesso de Peniche como destino de surf. Este conceito assenta, grosso modo, em três pilares, que só em conjunto o definem: o ambiental, o económico e o social, que nos leva a um outro, o de DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, que se refere a um modo de desenvolvimento capaz de responder às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de crescimento das gerações futuras, visando melhorar as condições de vida dos indivíduos, preservando simultaneamente o meio envolvente a curto, médio e, sobretudo, longo prazo, comportando um triplo objectivo: um desenvolvimento economicamente eficaz, socialmente equitativo e ecologicamente sustentável. O ser sustentável, passa por criar condições para que o crowd não aumente desmesuradamente, pois isso irá ter implicações a médio/longo prazo, na vertente ambiental, económica e até social (e aqui falamos também na comunidade local), influenciando diretamente o grau de satisfação dos surfistas/turistas, e a escolha destes para viajar. O ser sustentável passa por termos a noção que existem ondas que têm capacidades de carga diferentes, consoante o tipo de surfistas que as procuram. O ser sustentável passa por percebermos que os mega-investimentos turísticos têm quase como única e exclusiva preocupação, o ganhar muito dinheiro e o mais rapidamente possível, sem preocupações ambientais e muito menos sociais. O ser sustentável, passa por criarmos condições em infraestruturas que melhorem as condições das praias. O ser sustentável, passa por legislar especificamente o surf e não adaptar legislação ao surf, de modo a que quem tenha negócios nesta área os possa desenvolver de forma ordenada, sustentada e principalmente em igualdade de circunstâncias no mercado concorrencial. Se não conseguirmos desenvolver de modo sustentável o turismo de surf em Peniche, declarações como as de Kelly Slater ao Jornal “A Bola”, de dia 9 de Outubro de 2012, começam a fazer sentido, e mais importante, a “fazer mossa” na afirmação de Peniche como destino turístico de excelência para o surf, e que passo a citar: “Já com Peniche tenho uma relação de amor/ódio. Adoro as ondas mas está sempre lotado. Há tantas escolas de surf que, para ser honesto, nem vou surfar fora dos heats, porque está sempre muita gente. A única hipótese é tentar escapar para alguns spots mais distantes.", e não nos esqueçamos de quem é Kelly Slater, e que tudo aquilo que este Senhor diz, é ouvido com redobrada atenção. O surf é uma excelente aposta para o desenvolvimento turístico, mas não pode ser unicamente “à conta” do surf que resolveremos todos os nossos problemas nesta área, pois para que isso acontecesse seria necessário tanta gente, que o produto turístico surf, deixaria de ser apelativo, perdendo qualidade e sustentabilidade, acabando por desaparecer enquanto tal. Então, as ondas não precisam de desaparecer fisicamente, para desaparecerem como produto turístico, e para que tal não aconteça, devem ser aproveitadas de modo sustentável e equilibrado. O “site” Surftotal colocou um vídeo “on-line” de uma onda de ontem nos Supertubos, onde um surfista que não é de Peniche (Nicolau Von Rupp), aliás nem Português, pois segundo me parece, são as cores da Alemanha que ele defende nos circuitos profissionais que corre, portanto é “bife”, faz uma ultrapassagem a um bodyboarder local dentro do tubo. Isto posto assim até parece que não tem nada de especial, e até é o bodyboarder que está a dropinar, como se fosse ele o mau da fita, e que até mereceu. No entanto os factos não são bem estes, e é preciso que se explique bem a envolvência da questão: 1º) O “bife” chegou aos Supertubos em excursão com mais uma “carrada” de amiguinhos, ou seja, trouxe “crowd” com fartura (imaginem o que era se eu chegasse com mais vinte amigos lá ao rio que eles têm no meio de Berlim para surfar, se eles gostavam); 2º) Passa por toda a gente e senta-se no local da prioridade, ignorando quem já lá estava antes dele à espera de ondas, nomeadamente os locais, onde o bodyboarder que o dropinou se incluí, e arranca na onda que o vídeo documenta (imaginem o que era quando eu chegasse lá ao tal rio de Berlim que dá ondas e passasse à frente da fila toda, se eles gostavam); 3º) A colocação em tempo recorde do vídeo na Internet mostra claramente a intenção de dar um sentido depreciativo ao incidente, e reparem que não está disponibilizada na notícia a tradicional caixa de comentários, o que desde logo é demostrativo dessas intenções. Na minha opinião tudo isto é uma afronta direta aos locais de Peniche, e nem o senhor Von Rupp, nem a imprensa que o divulgou tiveram uma atitude digna e de respeito para com os locais de Peniche, bem pelo contrário. O senhor Von Rupp com atitudes destas deixa de ser bem-vindo a Peniche e às suas ondas, e espero que os locais se unam, e que cada vez que o apanhem por cá dentro de água, lhe dropinem todas as ondas que puderem, pode ser que assim aprenda que não chega com vinte amigos a uma praia em que não é local e que ainda se julgue o “rei” do pico. António Silva (Foto: Diogo D'Orey) Muito se tem falado nestes últimos dias da onda da Nazaré e do Sr. McNamara, o homem que a “dropou”. Correu mundo o feito, e a Nazaré esteve mais uma vez nas bocas do mundo. Na minha opinião é muito positivo, e irá trazer mais-valias importantes no futuro. Das variadíssimas crónicas que li sobre o assunto, a de Pedro Bidarra no DINHEIRO VIVO chamou-me a atenção, e penso que ele disse tudo relativamente a este projeto, classificando-o como provavelmente o mais moderno e criativo programa de marketing e comunicação realizado nos últimos tempos, e que dá pelo nome de THE ZON NORTH CANYON SHOW. Até aqui a coisa está toda muito bem, no entanto este projeto, sim, isto é um projeto, onde para além de rolarem ondas, rola também muito dinheiro, com o Sr. McNamara e a sua equipa, como profissionais que são, a ganharem o seu, e verdade seja dita, merecem cada cêntimo, e a ZON a querer tirar o maior proveito possível do investimento que fez. Continuamos ainda sem nada de extraordinário, e num plano completamente legítimo. No entanto houve algo que me despertou também alguma atenção, que foi esta afirmação ao IONLINE dada pelo único português (a surfar), sim, português, dentro de água nesse dia: “Ontem senti-me excluído, como se estivesse ali a mais”, referindo-se à organização do ZON NORTH CANYON SHOW, ou seja, o que eu li naquela afirmação foi, que toda a equipa do projeto, dentro e fora de água têm obrigatoriamente de garantir que é o Sr. McNamara que apanha a maior onda. Basicamente a coisa funciona do seguinte modo, há a monitorização da boia de medição, em que se estima que a onda tal tem tantos metros, essa informação é transmitida para a água aos membros da equipa, e eles têm de garantir que nessa o Sr. McNamara vai. Enquanto assim for, está tudo bem, o Sr. McNamara apanhou a maior, eventualmente bate o recorde, dá entrevistas com o boné da ZON, e toda a gente ganha dinheiro, o problema colocar-se-á quando algum maluco que por lá ande, conseguir dar a volta à situação e ser ele a “dropar” aquela onda que deveria ser para o Sr. McNamara, e depois como é que é, …é uma carga dos trabalhos, o Sr. McNamara já não dá entrevistas com o boné da ZON, já não bate (outra vez) o recorde… e por aí fora. Desta vez já houve alguém que lá foi e que “mordeu os calcanhares” ao Sr. McNamara, e da próxima, possivelmente estará lá outra vez, e quem sabe até pode ser que leve um amigo, e com mais gente dentro de água, as probabilidades do Sr. McNamara perder a tal onda aumentam, ora, nem ele (que é o seu ganha pão), nem a ZON querem que isto aconteça. Neste momento, a organização do ZON NORTH CANYON SHOW, já reserva dissimuladamente o melhor local fora de água, unicamente para os seus fotógrafos. Qual será o próximo passo? Sem dúvida reservar a zona de ondas, através de algum estratagema de licenciamento que estas empresas bem sabem montar, e assim garantir que é o seu atleta a apanhar a grande, continuando a “teta da vaca a dar leite”, e quem quiser ir lá nestes dias fora do esquema, simplesmente não pode. Eu sei que não haverá muita gente a querer lá ir naqueles dias, mas haverá seguramente alguns, e com aspirações legítimas a também eles serem reconhecidos, mas, ou muito me engano, ou a coisa afigura-se cada vez mais difícil, e irá resumir-se ao seguinte, quem tem dinheiro para montar o circo, vai lá, quem não tem, não vai. Baía Escrito por: Luís Rafa Matos A minha experiência com ondas começou nos anos 70 como observador, e advém de ambos os meus progenitores serem Penicheiros, apesar de eu ser nascido e criado em Torres Vedras. A minha infância foi passada a enrijar o esqueleto nas então grandes dunas (as mesmas que hoje infelizmente quase desapareceram na totalidade) da Baía, nas quais mandava grandes voos...e grandes estalos. O tempo decorria entre essa actividade e a observação dos surfistas no Cantinho da Baía, Lagido e de “windsurfistas” na pouco frequentada Praia do Medão, antes apelidada pelos meus familiares de “praia do guano/moscas”, devido ao mau cheiro exalado pela fábrica de processamento de resíduos das indústrias pesqueiras e de conservas que foi entretanto desactivada. Esta praia é a agora internacionalmente conhecida e concorrida Praia de Supertubos. Mas voltando às ondas, ansiava pelo momento de me fazer a elas, mas os receios normais de quem é pai adiaram o ansiado momento até aos 14 anos. Comecei na “pior” onda de Peniche: - O Cantinho da Baía! Foi lá que conheci os primeiros “bodyboarders” como o André e Filipe Cardoso, o Zézé, o Lois, o Guilherme de Lisboa e mais alguns que não me recordo o nome, todos eles impecáveis sendo o Filipinho já na altura um grande “fuçanga” de ondas. Peniche era praticamente uma terra só de pescadores e o Baleal durante o verão era frequentado excepcionalmente por algumas famílias “bem” de Lisboa e arredores que apreciavam a beleza e o isolamento permitido pelo local. O “crowd” era assim constituído por pessoal das Caldas Rainha, Lisboa (os do Baleal), e de Peniche. O pessoal de Peniche preferia as ondas do lado sul, como o Molhe Leste e os Super. De verão entregavam-se mais à caça, às gatas e outras actividades, excepção feita ao Albano, Valara, Jorge Cação, Joãozinho da Consolação, Faxica e a mais alguns que tinham muita pica e surfavam tudo todo o ano. O pessoal de Peniche tinha a fama de pessoal “hardcore” eram supostamente drogados, localistas e maus como as cobras, mas o que vi não apoia essa tese, o que vi desde puto, diz-me que esse pessoal tinha (tem) sangue a bombar nas veias e pica para surfar certas ondas que o pessoal do Baleal apenas sonhava em surfar. Lembro-me de um surfista do Baleal, bem conhecido hoje em dia e que é grande caçador submarino, dizer que Supertubos era uma “merda” porque fechava muito...!! Assim como este, muitos frequentadores do Baleal, arranjavam desculpas para não surfar quando o vento virava norte! Mas com o tempo e a evolução natural, todos se foram fazendo ao ouro... No dia de Natal de 1988 foi a primeira vez que surfei ondas que considerei grandes, na minha estreia no Molhe Leste. Estava clássico e com três pessoas na água: o Albano e mais dois surfistas, um deles bastante parvalhão que me engodou para os maiores “close-outs” que tinha apanhado até à data. Todos se riram às minhas custas, mas o Albano a dada altura lá me ensinou como escolher as boas, mas o “bottom-turn” revelou-se bastante mais truculento do que no Cantinho da Baía, evidenciando a minha falta de talento e de experiência. Saí bastante amarrotado da água, mas tinha gostado de sentir aquele poder e de ter tido o primeiro vislumbre de um tubo antes de embicar, ou de levar com o “lip” pelas costas, pois naquele dia deu para tudo. Jurei a mim mesmo que haveria de conseguir surfar decentemente (ainda que deitado) aquelas ondas. Dediquei-me à causa e todos os fins de semana de verão ou de inverno lá ia eu, aproveitando a boleia dos passeios dominicais familiares. Assim decorreu o tempo até que adquiri uma vespa e obtive finalmente a minha liberdade, aumentando a frequência de surfadas. Isto apesar de tal feliz evento não ser isento de um sofrimento penitencial, enfrentar de vespa com um “bodyboard” ás costas, chuva, vento e frio durante os intermináveis 36 km que separam Torres Vedras de Peniche, não era pêra doce, mas todo o sofrimento me parecia mínimo em comparação com a satisfação obtida por surfar ondas perfeitas, e elas eram de facto perfeitas. Pelo menos é assim que me recordo delas. Cada “set” que entrava nos Super desde que estivesse vento norte, equivalia a 7 ou 8 ondas perfeitas em cada 10 que entravam, hoje não sei se continua assim. O Molhe Leste era irreal até ao momento da ampliação do Pontão da Ribeira; constituía um parque de diversões sem igual com rampas em cotovelo, tubos e tudo o que se tem direito em sonhos. Sempre com “crowd” é certo, mas lembro-me de muitas surfadas em dias de semana com 2 e 3 pessoas no pico e ondas de 1m com off... Apesar da apregoada rivalidade surf / bodyboard, o facto é que surfistas como o Jorge Cação e Joãozinho da Consolação me deram valiosas dicas principalmente em mares de respeito nos Super, onde a coisa se tornava mais séria. Juntamente com o Barrela, Tino, Armindo, e outros bodyboarders referidos anteriormente, posso afirmar que mais parecíamos uma família das ondas do que qualquer outra coisa. Foram tempos indescritíveis com mares clássicos em todos os picos desde os Super passando pela Baía até aos Belgas e sempre com um “crowd” impulsivo mas fundamentalmente respeitador e divertido. Uma presença semi-constante em Peniche eram os bifes. Eram respeitados desde que respeitassem, mas cheguei a ver alguns (merecidos) apertos a carapaus de corrida que pensavam que eram mais que os outros. Lembro-me particularmente de um episódio com um alemão particularmente pouco inteligente que me “dropinou” de forma perigosa no Lagido e que acabou por apanhar uns tabefes, não sei se aprendeu algo com isso, mas gostei de vê-lo a olhar para os outros surfistas à procura de apoio e de todos encolherem os ombros como quem diz:” Bem mereceste a galheta ó parvalhão” – infelizmente este bife não largou o osso, e hoje é dono de um conhecido “surfcamp” ajudando assim a “crowdear” as praias de Peniche. Não sei se continua parvo, espero que não, mas acredito que sim, pois como nos ensinam a história e a infeliz actualidade económica, os alemães não aprendem nem quando levam na tromba. Estávamos a meio dos anos 90 quando o “crowd” começou a tornar-se mais denso. Lembro-me de muitos “Pro´s” do surf que até eram capas de revista chegarem ao parque de estacionamento dos Super, arregalarem os olhos com os “sets” de 2m a entrar na maré-vazia, e ficarem nos carros em actividades pouco dignas de um desportista profissional. Os poucos que entravam tinham atitudes típicas de um medíocre “campeão da praia”, evidenciando assim a sua parca inteligência. Basicamente o pessoal de Peniche surfava muito melhor naquelas condições do que estes supostos pro´s da tanga, e por isso até hoje considero essa geração de surfistas como sendo a geração mais “poser” que o surf português já viu, curiosamente alguns ainda andam aí às voltas, alguns com motas de água a apanhar rabinhos de ondas grandes, não entendo bem o como ou o porquê de ainda serem apoiados. Mas pronto, adiante. Felizmente a nova geração do surf profissional nada tem a ver com esta dos 90´s. De há uns anos para cá, Peniche tornou-se numa Meca do surf Português com tudo o que isso tem de bom e de mau. O “crowd” tornou-se relativamente insuportável, e existe muita gente a ganhar dinheiro com surf, muitos (se calhar a maioria) não são de Peniche o que é profundamente lamentável. Eu pessoalmente deixei de surfar em Peniche no início dos anos 2000 e deixei de surfar de todo em 2007. Porquê? Porque se passou de um ambiente de verdadeira contemplação e disfrute da natureza, para uma coisa estranha que não sei bem definir; mas incluí competição, conversa fiada e muita mas muita pose. Ainda é possível obter as mesmas sensações Zen de antigamente, mas em condições especiais para as quais deixei de ter disponibilidade para procurar e forma física para enfrentar. Ainda assim foram 20 anos de Gozo à Grande. Um muito Obrigado a esta mãe natureza que me permitiu tantas horas de prazer! PS: De vez em quando ainda lá vou... Vamos hoje recuperar mais um artigo. Publicado no desaparecido Jornal de Peniche On-line, em 20 de Abril de 2009, intitulei-o de “Doutor em Suf”: Hoje tive um sonho, tive o sonho de chegar a uma qualquer praia da minha terra, com a minha prancha debaixo do braço, e de me perguntarem qual a minha formação académica, e eu responder sou Licenciado em Surf. Foi só um sonho… Sendo o surf o meu desporto de eleição, tenho através dos meus modestos artigos, feito tudo o que está ao meu alcance para que seja visto com outros olhos por quem ainda tem alguma relutância em aceitá-lo como uma mais-valia para Peniche. Não sei se o tenho conseguido, mas isso também não é muito importante para mim, pois continuarei a fazê-lo o melhor que posso e sei. No entanto tenho de admitir que por cada vez que o surf consegue mobilizar as forças vivas locais, e algumas vezes nacionais em seu redor, isso me deixa imensamente feliz. Hoje o surf, ao contrário do que sucedia à algum tempo atrás, e não há tanto tempo assim, é um desporto altamente profissional, e objecto de estudo especifico, o que o vai tornando cada vez mais forte e respeitado no meio dos desportos ditos tradicionais. A pouco e pouco tem-se libertado do estigma que ainda o assombra, com a ligação que muitos ainda fazem questão de fazer, a uma vida muito “flower power” intimamente relacionada com o consumo de drogas e álcool, imagem de marca dos idos anos sessenta do passado século. Posso garantir-vos que no meio do surf não há nem mais nem menos droga e álcool do que há noutro meio desportivo qualquer. O surf, e tudo o que o rodeia, é nos dias de hoje uma das actividades com maior nível de progressão neste mundo globalizado em que vivemos, fazendo até finca-pé à crise que a todos nos atinge. No meu tempo aprendíamos a fazer surf sozinhos, à nossa custa, vendo os mais velhos, tentando imitar o que eles faziam, muitas das vezes nem os nomes das manobras sabíamos. No meu tempo o meu pai dizia-me: Mas que desporto é esse? Nem federação tem. Hoje existe uma Federação Portuguesa de Surf. Hoje existem escolas de surf por todo o lado, com monitores e treinadores credenciados. Hoje os miúdos aprendem a fazer surf com técnica e acompanhamento especializado. Hoje os miúdos que começam a fazer surf evoluem num mês aquilo que nós levávamos seis meses a fazer. Hoje os surfistas de topo rodeiam-se de treinadores, preparadores físicos, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas, etc. Hoje os surfistas de topo tem planos de treino altamente profissionais para que possam estar nas melhores condições possíveis quando entram em competição, nada é feito ao acaso, não basta ter só jeito para surfar, pois se assim for não chegam lá. Hoje os surfistas que chegam ao topo, estão a ser acompanhados desde miúdos, passando por diversas fases na sua evolução, com um plano bem delineado e bastante rigoroso, que só dará frutos se for seguido à risca. Hoje o surf movimenta milhões, sendo uma indústria em franca expansão. Hoje o surf é notícia não só na imprensa especializada, como também nos jornais desportivos, e até mesmo em matutinos generalistas, alguns dos quais de referência no meio jornalístico nacional. Hoje o surf aparece com frequência nas televisões, tanto em programas específicos sobre a modalidade, bem como nos entra olhos dentro em diversos anúncios publicitários de tudo quanto são produtos, no meu tempo era só o do “Old Spice”, “aftershave” que na altura fiz questão de usar, pois era para surfistas, e pasme-se, até as telenovelas já se renderam ao fenómeno. Este ano o surf em Portugal é pela primeira vez objecto de uma Pós-Graduação, ministrada na mais importante Universidade do país ligada à prática desportiva, a Faculdade de Motricidade Humana (FMU), da Universidade Técnica de Lisboa (UTL), tendo como coordenadores o Prof. Doutor Miguel Moreira e o Prof. Doutor César Peixoto. Está dividida em quatro módulos, abordando os seguintes temas: Módulo 1: Sistemática do Surf; Módulo 2: Fisiologia do Treino; Módulo 3: Métodos de Treino Desportivo; Módulo 4: Didáctica do Surf. Isto é algo que há uns anos a esta parte era impensável neste país com uma forte ligação e tradição a tudo o que ao mar diz respeito. Desde os anos noventa do passado século, que no Reino Unido, é ministrada uma Licenciatura em “Surf Science and Technology”, mais concretamente na Plymouth University, que posteriormente foi exportada para a Austrália, onde a Edith Cowan University seguiu o exemplo. Há bem pouco tempo foi noticiado, e até alvo de um programa de rádio o facto do governo Britânico atribuir bolsas de estudo para aqueles que pretendam enveredar por este curso superior. Não se pense no entanto, e desde já respondo àqueles que eventualmente o possam imaginar, que uma Licenciatura em Surf, é ir para a praia todos os dias fazer surf. Não, não é, nem pouco mais ou menos. Do plano curricular destes cursos superiores (Bachelor of Science – Surf Science and Technology e BSc (Hons) Surf Science and Technology), fazem parte matérias como Oceanografia, Meteorologia, Biologia, História, Psicologia, Organização e Gestão de Eventos de Surf, entre muitas outras. O surf hoje em dia chegou a um patamar tal, que quem o ignorar comete um erro crasso relativamente ao que ele poderá significar para o futuro de uma qualquer região que tenha a felicidade de o poder aproveitar. É esse o nosso caso em Portugal, é esse o nosso caso muito particularmente em Peniche. Não foi por acaso que o governo português decidiu apostar no surf com os Centros de Alto Rendimento para esta modalidade, num investimento a todos os níveis surpreendente, proporcionando condições até agora nunca imaginadas para esta modalidade. Recordo que o primeiro destes centros vem para Peniche. Será que não podemos nós ter também Licenciaturas em Surf, será que não podemos nós ter também pessoas altamente qualificadas para enfrentar este mercado cada vez mais especifico e bastante prometedor em termos futuros, num país e numa terra onde o turismo é cada vez mais a aposta certa para a nossa sobrevivência. Acredito que sim. Acredito que posso chegar a uma qualquer praia da minha terra, com a minha prancha debaixo do braço, e de se me perguntarem qual a minha formação académica, eu responder sou Licenciado em Surf. Pois foi, hoje tive um sonho… ____________________________________________ Nota de atualização: Universidade Técnica de Lisboa, Faculdade de Motricidade Humana, Portugal Lisboa, Portugal Pós-graduação em surf (4ª edição) Plymouth University, United Kingdom Plymouth, United Kingdom BSc (Hons) in Surf Science and Technology Southern Cross University, Australia Tweed Heads, Australia Diploma of Sport Management (Surfing Studies) Edith Cowan University, Australia Margaret River, Australia Bachelor of Science (Surf Science and Technology) Foto: PPSC / André Delgado Foram recentemente colocados, à semelhança do que já tinha acontecido no estacionamento à entrada de Peniche, pórticos de restrição à entrada no estacionamento do Lagido, Baleal. É uma medida obviamente direcionada para as autocaravanas, que assentam arraiais e fazem de um estacionamento publico, uma vivenda com vista para o mar, são avançados, pranchas, mesas, cadeiras, fogões, estendal da roupa, etc, etc, etc… 'Abancam' por lá os dias que querem, como querem, e é vê-los sentadinhos nas suas cadeiras a apreciar a vista magnífica que aquela paisagem proporciona, como se do seu quintal se tratasse, e quem por lá passa tem que andar quase em gincana pelo meio daquela ‘tracalhada’ toda para poder também usufruir da bela paisagem, ou então, a única coisa que vê, é a parte de trás de uma caravana e um par de cuecas penduradas. Antes de mais, que fique bem claro, concordo plenamente com esta medida, independentemente do impacto paisagístico da “coisa”, e vou até mais longe, deveria ser estendida a outros locais, como por exemplo, o outro lado do estacionamento, virado para o Cantinho, e até na entrada da estrada que dá acesso aos Supertubos. No entanto só isto não chega, e se ficarmos só pela colocação dos ditos pórticos, retiro imediatamente tudo o que disse em cima. Não basta proibir e restringir, é absolutamente necessário que se criem zonas adequadas para que os autocaravanistas possam estar, e que para lá sejam redirecionados pelas autoridades competentes. Não se pode na minha opinião, simplesmente proibir e não proporcionar alternativas. Senão vejamos, restringe-se agora no Lagido, e muito bem, vão para o Cantinho, o aglomerado vai ser ainda maior, não tarda muito vamos restringir no Cantinho, e muito bem, mas vamos mandá-los para onde? Esta é que é a grande questão relativamente a uma medida, que até é, no meu entender, bastante positiva. É urgente que se criem parques de raiz para as autocaravanas, com as condições necessárias para as suas necessidades, bem como melhorar as existentes no Parque de Campismo Municipal, e só assim uma medida destas faz sentido, e mais, que seja acompanhada, de legislação municipal adequada que a suporte. Depois de criar condições alternativas, então sim, já podemos dizer com alguma propriedade: quem quer andar com a casa às costas, que a ponha onde não prejudica os outros. Foto: Francisco G. Vieira Escrito por: Edgar Henriques Tive vontade de escrever sobre os recentes acontecimentos ligados ao surf Penicheiro, mas fui adiando essa vontade, por não ter a certeza que as palavras que iria escrever, seriam bem aceites, pelos meus amigos e também por aqueles que gostam de surf e das ondas de Peniche. Fui pensando e refletindo sobre o assunto e decidi que seria cobardia não dar a minha opinião sobre os aspetos positivos e negativos que ocorreram antes, durante e após os grandes eventos de surf que decorreram no mês de outubro na Capital da Onda. O mês dez do calendário proporcionou a Peniche grandes eventos ao nível do surf, musica, cinema e cultura de surf. Toda esta envolvência em torno do evento principal WT, só veio engrandecer esta etapa do circuito mundial de surf. No que diz respeito á cultura de surf, esta foi vincada pela dinâmica dos seguintes eventos:
Estas atividades culturais ligadas ao surf, vieram suprimir uma lacuna existente nas edições anteriores da prova do World Tour. É de salientar que estes espetáculos contribuíram para uma diversidade de oferta ao público que se deslocou a Peniche para ver o WT. Parece-me que a envolvência de diversos parceiros foi deveras importante para melhorar a dinâmica da cultura de surf, pois estes eventos culturais secundários, vieram elevar o valor do evento principal, penso que ninguém duvida deste aspecto. Segundo opiniões de alguns órgãos de comunicação social o evento deste ano foi muito bem planeado, com uma organização excelente, aliada a uma oferta complementar de animação, principalmente noturna. É de realçar também algumas ações de cariz social e ambiental que foram levadas a cabo pelo organizador do evento e ou parceiros, nomeadamente:
No que diz respeito, concretamente ao surf o cartaz foi bastante preenchido com os seguintes eventos:
Vou direcionar-me mais para os eventos que decorreram na praia, logicamente os de surf. De todos os eventos de surf que ocorreram em outubro, apenas estive envolvido na estrutura do, Rip Curl Trials Of The Trials, evento organizado pelo clube local, Peniche Surf Clube, mas em relação aos outros eventos, fiz o acompanhamento através de webcaste, redes sociais e comunicação social. Devido a compromissos, não me foi possível estar presente no dia do arranque do WT, no dia seguinte estava com alguma disponibilidade, mas por azar o evento estava "off", mas permaneci pela zona de Peniche e observei o grande movimento de pessoas e viaturas junto dos acessos ao evento, admito que fiquei admirado com a multidão de pessoas a circular na área. É de salientar que a natureza, não nos deixou ficar mal e brindou-nos com grandes ondas, as quais possibilitaram grande espetáculo de surf. A Liga Meo Surf realizou-se nos Supertubos, com ondas perfeitas às quais os surfistas responderam com surf de boa qualidade. Esta era a última etapa da liga, na qual não estiveram presentes os dois atletas que ainda poderiam disputar o título, facto que retirou, talvez uma maior espetacularidade ao evento. Como as ondas estavam de feição a organização deu continuidade ao surf, com a realização da finalíssima Europeia do Rip Curl Groms Search, que contava com surfistas sub 16, masculinos e femininos, apurados em etapas que decorreram em, França, Reino Unido, Espanha e Portugal. Esta prova decorreu nas ondas dos Supertubos, que se apresentavam potentes, característica que as define e pela qual são bastante conhecidas. Devido a este facto apenas os rapazes enfrentaram as ondas dos Super, sendo que as baterias das meninas foram realizadas no Pico da Mota. Neste evento destaco positivamente a organização pela atribuição de um wild card, no evento feminino a uma atleta do clube local. Já não posso ter a mesma opinião naquilo que diz respeito á prova masculina, pois segundo me parece esse wild card foi oferecido a um atleta francês, mais concretamente das Ilhas S. Bartolomeu, que é patrocinado pela marca. Gostaria de ver uma prova realizada em França, e a organização atribuir um Wild Card a um atleta Português, eu não acredito e vocês? Mesmo sem wild card o surf local foi muito bem representado pelo atleta Guilherme Fonseca que atingiu as meias-finais da prova. O Rip Curl of the Trails, evento com muitos atletas nacionais, que disputaram entre si a oportunidade de competir na prova principal. Mesmo em maioria o contingente nacional deixaria fugir a tão desejada vaga no evento principal, para um atleta francês, que recebera convite da organização para estar presente, o qual retribuiu com uma vitória e presença no WT. A inauguração do Centro de Alto Rendimento de Surf, este equipamento é o primeiro a nível nacional e poderá ser para Peniche e para o surf nacional, um grande mais-valia. Segundo palavras do senhor Presidente da Federação Portuguesa de Surf, “esta e uma casa para ser utilizada por todos os praticantes de desportos de ondas, independentemente do seu nível e origem”.(in website da FPS) Será desejável que o surf local possa beneficiar desta infraestrutura e consequentemente possa ser realizado trabalho no sentido de melhorar a qualidade do surf em Peniche e consequentemente elevar o nível dos surfistas locais. Na realidade, quase tudo aquilo que ocorreu é acessório em relação ao evento principal o Rip Curl Pró Peniche, etapa do WT, este sim é o evento que faz agitar tudo em seu redor, e em virtude desse aspeto, deve merecer o maior relevo possível. As baterias foram apontadas no sentido do sucesso deste grande evento, foram realizados os maiores esforços para que tudo corresse bem. Havia a necessidade de transformar esta organização num grande evento desportivo, ou melhor num enorme espetáculo desportivo, para tal nada poderia ser descurado. O caminho foi longo, o trabalho de preparação do evento foi com toda a certeza bastante árduo, foram dados passos seguros e bem calculados rumo ao sucesso. As etapas de planeamento do evento foram sendo cumpridas, com maiores ou menores dificuldades, foram ultrapassadas, com o objetivo de que tudo estivesse pronto na data prevista para o início do evento. O trabalho mais visível foram as montagens das enormes infraestruturas na praia, estas foram planeadas com intenção de minimizar os impactos ambientais, principalmente da zona dunar, salienta-se a menor dimensão das estruturas, a colocação de barreiras metálicas para proteger as dunas, bem com a instalação de uma passadeira pedonal, desde o bar ate ao pico dos Supertubos. Mas durante este período foi realizado muito e árduo trabalho que escapou a vista de muitos, mas que foi importante e contribuiu para o sucesso. Na realidade no dia “D”, estava tudo a postos para soar a buzina da abertura do campeonato, deu-se então o sinal sonoro, e com este a entrarem na água os melhores surfistas do mundo, aspeto que dava garantias de um grande espetáculo desportivo, com as ondas dos Super a darem o seu contributo. O “pontapé de saída” estava dado, mas ninguém sabia quantos dias seriam necessários para apurar o vencedor da etapa de Peniche, estando dependente das condições de ondulação. Durante o evento a ondulação não foi constante e levou a organização a interromper a prova, durante vários dias. Salienta-se o facto que nos dias de paragem do campeonato, os atletas terem presenteado todos os espectadores com grandes sessões de free surf, em Supertubos, Baleal, Pico da Mota, Belgas, entre outras. A ondulação voltou e o campeonato reiniciou e só parou com a consagração do vencedor, que foi Julian Wilson, numa final disputada ate ao último minuto, com o surfista brasileiro Gabriel Medina. Depois de consagrado o vencedor, foram nos dias seguintes ouvidos alguns relatos e opiniões sobre o evento e transmitidos na comunicação social, das quais destaco as seguintes: “O senhor presidente da Câmara Municipal de Peniche, faz um balanço muito positivo quer da prova deste ano, quer do impacto que teve quer na economia, quer na divulgação do seu município e da região Oeste. Foi mais um sucesso, é essa a nossa avaliação e pelo contacto que fomos tendo com todos na praia é também a dos surfistas, dos patrocinadores e do público. No início do Rip Curl Pro 2012, a organização definiu como objectivo superar os 120 mil espectadores na praia, o que foi atingido. Apontamos para os 150 mil no acumulado dos 10 dias, adianta o presidente da câmara de Peniche, que aponta que só no sábado tenham estado entre 40 a 50 mil pessoas.” (in Gazeta das Caldas) “Segundo o CEO da Rip Curl em Portugal, empresa que organiza a prova, adiantou que a repercussão acaba por ser nacional. O surf está a gerar muitos postos de trabalho, de norte a sul do País. Vimos junto ao Litoral uma nova economia a crescer à volta deste desporto, que está a trazer a estes períodos conturbados um auxílio à economia, vincou.” (in Correio da Manhã) Se o evento terminou para os atletas, espectadores e media, o organizador tinha ainda pela frente muito trabalho, a fim de fechar este dossier. Os trabalhos desta última fase do evento foram decorrendo, avaliando-se que de forma e ritmo normal, mas dez dias depois surgem nos meios de comunicação social da especialidade noticias, fotografias e vídeos, que relatam ou ilustram a forma menos profissional com que estes trabalhos foram realizados. Todos nos sabemos que existe pressa em efetivar os trabalhos, pois o “tempo é dinheiro”, por isso à que despachar, muitas vezes não olhando a meios para atingir os objetivos. Neste capítulo e segundo as imagens publicadas, as dunas foram bastante mal tratadas, por quem estava a laborar naquele local. Outro aspeto também muito focado foi a grande quantidade de resíduos, principalmente plástico, que foi deixado no local, embora não fosse previsível, a intensidade o vento que se fez sentir, levou a que os resíduos fossem sendo espalhados pela praia. Provavelmente algumas pessoas que se interessam pelo ambiente, indignaram-se e revoltaram-se com esta ocorrência e manifestaram o seu desagrado, na minha opinião penso que foi um ato legítimo, pois o mal estava feito e seria de mau carácter esconder tão gravoso facto. Segundo as conversas informais que fui ouvindo na praia, que dizem que estas denúncias realizadas através de imagens e escrita, que não correspondem a uma convicção ambientalista, mas sim a um intuito de vingança. Vingança? Pergunto eu, contra quem e qual a razão? Não obtive respostas concretas, mas consegui aperceber-me também através daquilo que fui ouvindo aqui e ali, quem fez a denúncia sobre os factos que lesaram o ambiente, foi alguém que no passado, recebeu convites para as festas VIP ou acessos privilegiados durante a prova do World Tour por parte do organizador. Será verdade, não sei? Segundo alguns comentários ouvidos na comunidade, que mencionam que essas mesmas pessoas, este ano não tiveram o mesmo tratamento, pois não foram incluídos no rol dos VIP, facto que as levou a agir de forma menos própria, tentando denegrir a imagem do organizador, será isto uma realidade? Não tenho capacidade nem conhecimento local para conseguir avaliar sobre este assunto, mas localmente deve haver pessoas com conhecimento desta causa, que provavelmente nos podem elucidar, se assim o entenderem sobre este assunto. No caso de tudo isto ser verdade, era obrigação do organizador ter a consciência, que estas pessoas deveriam constar na lista de potenciais ameaças ao evento, e inclui-las no seu planeamento, digo isto porque seria de adivinhar que em determinada fase do evento elas iriam aparecer e poderiam causar danos ou entraves a uma boa realização. O organizador planeou com todo o cuidado o evento, que provavelmente foi assente nas seguintes etapas ou fases de desenvolvimento:
Depois do evento ter terminado e segundo aquilo que nos foi dado a observar, direta ou indiretamente, que algumas das coisas não correram bem e que foi talvez descurado na fase da Realização/Construção, o levantamento de situações de risco, associadas ao evento, bem como s sua classificação e avaliação qualitativa. Parece provável que as lacunas ao nível da Gestão do Risco, foram patentes, sendo que esta deveria ter merecido uma atenção muito especial por parte do organizador. Esta Gestão do Risco deveria ter permitido ao organizador uma correta avaliação de todas as potenciais ameaças ao evento e desta forma definir ações de prevenção e formas de atuação, para resolução de problemas surgidos. Podemos afirmar que Risco, é toda a possibilidade do evento não correr como o previsto nas hipóteses do organizador, devido a acontecimentos suscetíveis de impedir o cumprimento dos objetivos ou reduzir a sua dimensão. É sabido que a ocorrência de risco pode provocar prejuízos mais ou menos importantes para o organizador, dai a necessidade de os limitar ou suprimi-los completamente. Após a realização do evento e de acordo com aquilo que se passou, verificou-se que a organização se mostrou vulnerável, naquilo que diz respeito á Gestão do Risco. No futuro será de investir mais na Gestão do Risco, avaliando de forma mais exaustiva quais os que podem por em causa o projeto e nas mais diversas áreas tais como:
Não pode também ser esquecida a Avaliação Qualitativa do Risco, favorecendo a pesquisa dos critérios suscetíveis de informar sobre os riscos, nomeadamente:
Provavelmente se os itens acima enumerados tivessem sido colocados em prática, teria sido avaliado, que uma potencial ameaça, poderia advir das tais pressupostas pessoas, aquelas que tinham sido excluídas dos tais privilégios. Seria de prever que estas iriam estar de olhos bem abertos e atentos á espera que algo corresse menos bem para atacar a organização, o que na realidade veio a acontecer. Não podemos contudo ignorar, que ao nível do desmantelamento, os trabalhos não correram da melhor forma e o tal “caso” surgiu e foi badalado, ao qual os parceiros do organizador deram resposta através da imprensa, saindo em defesa do mesmo. Para além das palavras escritas o mais importante foi a ação realizada no terreno com a limpeza das dunas e Praia dos Supertubos. Iniciativa que permitiu que a praia ficasse mais limpa do estava anteriormente á realização do evento. Saliento ainda o facto de alguns aspetos que não correram da melhor forma, nomeadamente a nível do trânsito, e segurança. No que diz respeito ao trânsito, refiro-me á capacidade dos parques de estacionamento, que se mostrou insuficiente e que levou a alguma desorganização no estacionamento de viaturas junto das vias de comunicação, um dos exemplos passou-se na estrada que vai da Rotunda IP6 / Supertubos, para o Casal da Vala, onde havia bastantes viaturas estacionadas na zona dunar, com muita desorganização. Em relação á segurança, sei que não é uma questão de fácil resolução, mas falo nela devido ao facto de ter havido alguns assaltos a viaturas, roubo de equipamentos, entre outros. Reconheço que é um assunto difícil mas que preocupa todos os visitantes do evento e principalmente aqueles que ficaram lesados por perda de bens. Há que tentar ajustar e melhorar este aspeto da segurança futuramente. Sendo o enfoque nas coisas negativas, uma forma de crítica construtiva, com objetivo de transmitir as ocorrências e desta forma elucidar nas correções que podem ou devem ser efetuadas em futuros eventos. Não fugindo a esta linha de pensamento também devem ser realçadas as coisas positivas que ocorreram no evento, algumas delas já foram transmitidas em parágrafos anteriores, mas quero realçar a operacionalidade dos Bombeiros Voluntários de Peniche, durante todos os eventos de surf que ocorreram em Peniche. A capacidade de comando, organização e gestão de recursos, demonstrada pelo Comandante José António Rodrigues, foi apreciada e reconhecida por todos aqueles que com ele trabalharam, factos que levaram a que a Associação Nacional de Surfistas o tivesse distinguido com o Prémio “Moche Surfista do Mês”, referente a outubro. Registo com toda a certeza que as coisas boas representam um maior volume em relação às más e que o evento deste ano foi muito melhor que o de 2011 a vários níveis, tais como: organização, espetáculo desportivo, actividades complementares, público, cultura de surf, mediatismo, etc. Não devem contudo ignorar, que na organização de um evento, aquilo que corre menos bem, e ate pode representar apenas um grão de areia na enorme engrenagem, mas muitas vezes abafa tudo aquilo que de bom se realizou. Pois o eco negativo sobrepõe-se ao positivo. Mas contudo devem ser realçados os aspetos positivos das organizações, baseando, este pensamento no provérbio popular “por morrer uma andorinha, não acaba a primavera”. De uma forma elementar e abordando todos os aspetos relacionados com a definição de evento, podemos afirmar que este é um acontecimento especial, planeado, organizado com objetivos, num determinado momento e local, para um publico alvo, será esta uma definição sucinta de evento, mas contudo não nos devemos esquecer que o evento por si só, poderá ser motivo de noticia, causar impacto, ser novidade, fazer com que o resultado seja apenas o sucesso, esta devera ser a imagem que o evento deve deixar depois de terminar. O evento de 2012 terminou, agora será importante reunir todos os elementos, essencialmente os de Controlo e Monitorização e realizar uma avaliação final, a fim de perspetivar os ajustes necessários realizar para suprimir lacunas existentes e consequentemente melhorar o evento de 2013, com data já marcada, 9 a 20 de Outubro naquele local magico a Praia de Supertubos. Faço votos para que o Rip Curl Pró Peniche, 2013, seja um evento ainda mais especial e que a sua grandeza e importância local e nacional e internacional, seja reconhecida por todos sem restrições. Como a época natalícia esta próxima, aproveito a ocasião para desejar a todos Boas Ondas e um Super Natal. Assumimos neste espaço que uma das suas prioridades seria a defesa do património ambiental da Capital da Onda, e consequentemente a denúncia de casos que o lesassem de algum modo, e já o fizemos algumas vezes. Escrevi recentemente que a organização do Rip Curl Pro este ano tinha tido uma preocupação acrescida em minimizar a pegada ecológica que um evento desta magnitude deixaria na zona onde decorre. Assentei esta opinião fundamentalmente na observação que fiz na montagem da estrutura, que me pareceu bastante razoável neste aspeto. Para além disso, houve algumas iniciativas de cariz ambiental durante o evento que me pareceram importantes, bem como a inclusão de algumas ONG’s com preocupações nesta área. Mais de uma semana depois de o evento ter terminado, aquilo que podemos ver na Praia dos Supertubos, vai completamente em sentido contrário do que me tinha sido dado a observar no início. É verdadeiramente inadmissível o estado em que aquela praia está, estou chocado com a irresponsabilidade demonstrada pelo organizador, pois isto de Rip Curl Planet’s …, de não pisem as dunas …, de salvem as nossas praias … e mais não sei o quê, com constantes avisos ao longo do evento é tudo muito bonito, mas quando se vão embora o que fica é isto: Não me venham com a desculpa que ainda não terminaram de desmontar, e mais isto e mais aquilo, pois o estado em que aquela duna ficou nada tem a ver com lixo, tem a ver com o facto de estar completamente destruída na sua biodiversidade, pois andaram lá com máquinas em cima, como é possível ver pelo rasto deixado.
O organizador deste evento tem de ser chamado à responsabilidade pela agressão ambiental que está a praticar nesta praia, não sei é se haverá coragem por parte das instituições que nos representam para o fazer. Se fizermos fé no que fizeram, quando este verão destruíram uma duna na Praia do Cerro, então já sabemos qual é a resposta: NADA Ainda bem que eu não ganho dinheiro nenhum com o surf, pelo menos assim tenho tempo para estas infantilidades… Foto: Carlos Tiago As expectativas estavam altas, muito altas, pois em 2011, Supertubos tinha estado simplesmente extraordinário. Apesar de uma estrutura ligeiramente mais leve, a imponência da mesma não deixou de marcar ainda assim a pacata paisagem desta praia, conhecida e reconhecida nos quatro cantos do mundo, onde foi no entanto notória a preocupação de minimizar ao máximo a pegada ecológica de um evento deste calibre. Foi um evento difícil de gerir, talvez pela expectativa das previsões serem bastante animadoras, e de ainda, na nossa memória estarem presentes os tubos do ano anterior. O “swell” esteve pouco consistente ao longo de todo o período de espera, não encaixando sempre nos bancos dos Supertubos, ainda assim, em determinadas alturas da maré, foi possível ver ondas de altíssima qualidade, que aliadas ao talento dos intervenientes, proporcionaram “scores” quase perfeitos. A nível de curiosidade, das duzentas e trinta e três ondas que contaram para definir os “scores”, quase metade delas foram pontuadas com notas de bom para cima (cinco notas dez incluídas), mais precisamente 49,8%. Admitindo que é sempre mais fácil falar à posteriori, houve no entanto na minha opinião, à semelhança de 2009, alguns erros de avaliação das condições por parte do diretor de prova. Exemplo disto, foi a quarta-feira, dia 17, em que os “heats” da parte da manhã nunca deveriam ter ido para a água, pois não se põe em causa daquela maneira, a imagem tanto dos surfistas, como da própria onda, quando nos dois dias anteriores teve a possibilidade de os fazer no pico alternativo em condições bastante melhores. Foi a todos os níveis frustrante ver um surfista como Kelly Slater ter nas suas duas melhores ondas um 2,67 e um 2,60, quando um par de horas depois houve um dez, e várias notas acima de oito. Quanto à final, e se houve um erro por parte de Gabriel Medina que perdeu a prioridade já no último minuto, o 8,43 atribuído à última onda de Julian Wilson deixou no mínimo algumas dúvidas, mas isso, são contas de outro rosário... Para a história o que perdurará será a vitória do australiano, a primeira da sua carreira no World Tour. Um dos aspetos bastante positivos neste Rip Curl Pro 2012, foi a proximidade existente com o PPSC – Peniche Surf Clube, clube que legitimamente representa os surfistas de Peniche, e que permitiu entre muitas outras coisas, a realização pela primeira vez em Portugal de um “Trials of the Trials”. Esta prova organizada pelo clube local, apurou um atleta para o “Trials” oficial do evento, merecendo destaque o facto de ter sido autorizado pela Rip Curl, a utilização da estrutura do evento principal para a sua realização. Francamente negativo na minha opinião, foi a realização do Festival Moche naquele local. Defendo que este tipo de iniciativas deve ter sempre lugar dentro de Peniche. Foi-me garantido que houve essa preocupação por parte das entidades locais, e acredito que sim, mas que os promotores foram irredutíveis nesse aspeto. É preciso então que não nos verguemos em demasia às decisões de quem tem o dinheiro e que imponhamos também a nossa vontade, puxando se for caso disso, dos galões da legitimidade de sermos parceiros e detentores do bem que eles querem utilizar, a onda dos Supertubos. De uma vez por todas, se nós precisamos deles para realizar cá este evento de modo a nos promovermos, eles também precisam de o fazer cá (lá está, parceiros), pois em Portugal não encontram outro lugar com as condições que nós temos para lhes oferecer. Haja coragem, e se necessário for, dêem-se alguns murros na mesa. Para terminar, os números não mentem, e na minha opinião este campeonato merece nota positiva. Que venha 2013. |
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