Foto: Francisco G. Vieira Escrito por: Edgar Henriques Tive vontade de escrever sobre os recentes acontecimentos ligados ao surf Penicheiro, mas fui adiando essa vontade, por não ter a certeza que as palavras que iria escrever, seriam bem aceites, pelos meus amigos e também por aqueles que gostam de surf e das ondas de Peniche. Fui pensando e refletindo sobre o assunto e decidi que seria cobardia não dar a minha opinião sobre os aspetos positivos e negativos que ocorreram antes, durante e após os grandes eventos de surf que decorreram no mês de outubro na Capital da Onda. O mês dez do calendário proporcionou a Peniche grandes eventos ao nível do surf, musica, cinema e cultura de surf. Toda esta envolvência em torno do evento principal WT, só veio engrandecer esta etapa do circuito mundial de surf. No que diz respeito á cultura de surf, esta foi vincada pela dinâmica dos seguintes eventos:
Estas atividades culturais ligadas ao surf, vieram suprimir uma lacuna existente nas edições anteriores da prova do World Tour. É de salientar que estes espetáculos contribuíram para uma diversidade de oferta ao público que se deslocou a Peniche para ver o WT. Parece-me que a envolvência de diversos parceiros foi deveras importante para melhorar a dinâmica da cultura de surf, pois estes eventos culturais secundários, vieram elevar o valor do evento principal, penso que ninguém duvida deste aspecto. Segundo opiniões de alguns órgãos de comunicação social o evento deste ano foi muito bem planeado, com uma organização excelente, aliada a uma oferta complementar de animação, principalmente noturna. É de realçar também algumas ações de cariz social e ambiental que foram levadas a cabo pelo organizador do evento e ou parceiros, nomeadamente:
No que diz respeito, concretamente ao surf o cartaz foi bastante preenchido com os seguintes eventos:
Vou direcionar-me mais para os eventos que decorreram na praia, logicamente os de surf. De todos os eventos de surf que ocorreram em outubro, apenas estive envolvido na estrutura do, Rip Curl Trials Of The Trials, evento organizado pelo clube local, Peniche Surf Clube, mas em relação aos outros eventos, fiz o acompanhamento através de webcaste, redes sociais e comunicação social. Devido a compromissos, não me foi possível estar presente no dia do arranque do WT, no dia seguinte estava com alguma disponibilidade, mas por azar o evento estava "off", mas permaneci pela zona de Peniche e observei o grande movimento de pessoas e viaturas junto dos acessos ao evento, admito que fiquei admirado com a multidão de pessoas a circular na área. É de salientar que a natureza, não nos deixou ficar mal e brindou-nos com grandes ondas, as quais possibilitaram grande espetáculo de surf. A Liga Meo Surf realizou-se nos Supertubos, com ondas perfeitas às quais os surfistas responderam com surf de boa qualidade. Esta era a última etapa da liga, na qual não estiveram presentes os dois atletas que ainda poderiam disputar o título, facto que retirou, talvez uma maior espetacularidade ao evento. Como as ondas estavam de feição a organização deu continuidade ao surf, com a realização da finalíssima Europeia do Rip Curl Groms Search, que contava com surfistas sub 16, masculinos e femininos, apurados em etapas que decorreram em, França, Reino Unido, Espanha e Portugal. Esta prova decorreu nas ondas dos Supertubos, que se apresentavam potentes, característica que as define e pela qual são bastante conhecidas. Devido a este facto apenas os rapazes enfrentaram as ondas dos Super, sendo que as baterias das meninas foram realizadas no Pico da Mota. Neste evento destaco positivamente a organização pela atribuição de um wild card, no evento feminino a uma atleta do clube local. Já não posso ter a mesma opinião naquilo que diz respeito á prova masculina, pois segundo me parece esse wild card foi oferecido a um atleta francês, mais concretamente das Ilhas S. Bartolomeu, que é patrocinado pela marca. Gostaria de ver uma prova realizada em França, e a organização atribuir um Wild Card a um atleta Português, eu não acredito e vocês? Mesmo sem wild card o surf local foi muito bem representado pelo atleta Guilherme Fonseca que atingiu as meias-finais da prova. O Rip Curl of the Trails, evento com muitos atletas nacionais, que disputaram entre si a oportunidade de competir na prova principal. Mesmo em maioria o contingente nacional deixaria fugir a tão desejada vaga no evento principal, para um atleta francês, que recebera convite da organização para estar presente, o qual retribuiu com uma vitória e presença no WT. A inauguração do Centro de Alto Rendimento de Surf, este equipamento é o primeiro a nível nacional e poderá ser para Peniche e para o surf nacional, um grande mais-valia. Segundo palavras do senhor Presidente da Federação Portuguesa de Surf, “esta e uma casa para ser utilizada por todos os praticantes de desportos de ondas, independentemente do seu nível e origem”.(in website da FPS) Será desejável que o surf local possa beneficiar desta infraestrutura e consequentemente possa ser realizado trabalho no sentido de melhorar a qualidade do surf em Peniche e consequentemente elevar o nível dos surfistas locais. Na realidade, quase tudo aquilo que ocorreu é acessório em relação ao evento principal o Rip Curl Pró Peniche, etapa do WT, este sim é o evento que faz agitar tudo em seu redor, e em virtude desse aspeto, deve merecer o maior relevo possível. As baterias foram apontadas no sentido do sucesso deste grande evento, foram realizados os maiores esforços para que tudo corresse bem. Havia a necessidade de transformar esta organização num grande evento desportivo, ou melhor num enorme espetáculo desportivo, para tal nada poderia ser descurado. O caminho foi longo, o trabalho de preparação do evento foi com toda a certeza bastante árduo, foram dados passos seguros e bem calculados rumo ao sucesso. As etapas de planeamento do evento foram sendo cumpridas, com maiores ou menores dificuldades, foram ultrapassadas, com o objetivo de que tudo estivesse pronto na data prevista para o início do evento. O trabalho mais visível foram as montagens das enormes infraestruturas na praia, estas foram planeadas com intenção de minimizar os impactos ambientais, principalmente da zona dunar, salienta-se a menor dimensão das estruturas, a colocação de barreiras metálicas para proteger as dunas, bem com a instalação de uma passadeira pedonal, desde o bar ate ao pico dos Supertubos. Mas durante este período foi realizado muito e árduo trabalho que escapou a vista de muitos, mas que foi importante e contribuiu para o sucesso. Na realidade no dia “D”, estava tudo a postos para soar a buzina da abertura do campeonato, deu-se então o sinal sonoro, e com este a entrarem na água os melhores surfistas do mundo, aspeto que dava garantias de um grande espetáculo desportivo, com as ondas dos Super a darem o seu contributo. O “pontapé de saída” estava dado, mas ninguém sabia quantos dias seriam necessários para apurar o vencedor da etapa de Peniche, estando dependente das condições de ondulação. Durante o evento a ondulação não foi constante e levou a organização a interromper a prova, durante vários dias. Salienta-se o facto que nos dias de paragem do campeonato, os atletas terem presenteado todos os espectadores com grandes sessões de free surf, em Supertubos, Baleal, Pico da Mota, Belgas, entre outras. A ondulação voltou e o campeonato reiniciou e só parou com a consagração do vencedor, que foi Julian Wilson, numa final disputada ate ao último minuto, com o surfista brasileiro Gabriel Medina. Depois de consagrado o vencedor, foram nos dias seguintes ouvidos alguns relatos e opiniões sobre o evento e transmitidos na comunicação social, das quais destaco as seguintes: “O senhor presidente da Câmara Municipal de Peniche, faz um balanço muito positivo quer da prova deste ano, quer do impacto que teve quer na economia, quer na divulgação do seu município e da região Oeste. Foi mais um sucesso, é essa a nossa avaliação e pelo contacto que fomos tendo com todos na praia é também a dos surfistas, dos patrocinadores e do público. No início do Rip Curl Pro 2012, a organização definiu como objectivo superar os 120 mil espectadores na praia, o que foi atingido. Apontamos para os 150 mil no acumulado dos 10 dias, adianta o presidente da câmara de Peniche, que aponta que só no sábado tenham estado entre 40 a 50 mil pessoas.” (in Gazeta das Caldas) “Segundo o CEO da Rip Curl em Portugal, empresa que organiza a prova, adiantou que a repercussão acaba por ser nacional. O surf está a gerar muitos postos de trabalho, de norte a sul do País. Vimos junto ao Litoral uma nova economia a crescer à volta deste desporto, que está a trazer a estes períodos conturbados um auxílio à economia, vincou.” (in Correio da Manhã) Se o evento terminou para os atletas, espectadores e media, o organizador tinha ainda pela frente muito trabalho, a fim de fechar este dossier. Os trabalhos desta última fase do evento foram decorrendo, avaliando-se que de forma e ritmo normal, mas dez dias depois surgem nos meios de comunicação social da especialidade noticias, fotografias e vídeos, que relatam ou ilustram a forma menos profissional com que estes trabalhos foram realizados. Todos nos sabemos que existe pressa em efetivar os trabalhos, pois o “tempo é dinheiro”, por isso à que despachar, muitas vezes não olhando a meios para atingir os objetivos. Neste capítulo e segundo as imagens publicadas, as dunas foram bastante mal tratadas, por quem estava a laborar naquele local. Outro aspeto também muito focado foi a grande quantidade de resíduos, principalmente plástico, que foi deixado no local, embora não fosse previsível, a intensidade o vento que se fez sentir, levou a que os resíduos fossem sendo espalhados pela praia. Provavelmente algumas pessoas que se interessam pelo ambiente, indignaram-se e revoltaram-se com esta ocorrência e manifestaram o seu desagrado, na minha opinião penso que foi um ato legítimo, pois o mal estava feito e seria de mau carácter esconder tão gravoso facto. Segundo as conversas informais que fui ouvindo na praia, que dizem que estas denúncias realizadas através de imagens e escrita, que não correspondem a uma convicção ambientalista, mas sim a um intuito de vingança. Vingança? Pergunto eu, contra quem e qual a razão? Não obtive respostas concretas, mas consegui aperceber-me também através daquilo que fui ouvindo aqui e ali, quem fez a denúncia sobre os factos que lesaram o ambiente, foi alguém que no passado, recebeu convites para as festas VIP ou acessos privilegiados durante a prova do World Tour por parte do organizador. Será verdade, não sei? Segundo alguns comentários ouvidos na comunidade, que mencionam que essas mesmas pessoas, este ano não tiveram o mesmo tratamento, pois não foram incluídos no rol dos VIP, facto que as levou a agir de forma menos própria, tentando denegrir a imagem do organizador, será isto uma realidade? Não tenho capacidade nem conhecimento local para conseguir avaliar sobre este assunto, mas localmente deve haver pessoas com conhecimento desta causa, que provavelmente nos podem elucidar, se assim o entenderem sobre este assunto. No caso de tudo isto ser verdade, era obrigação do organizador ter a consciência, que estas pessoas deveriam constar na lista de potenciais ameaças ao evento, e inclui-las no seu planeamento, digo isto porque seria de adivinhar que em determinada fase do evento elas iriam aparecer e poderiam causar danos ou entraves a uma boa realização. O organizador planeou com todo o cuidado o evento, que provavelmente foi assente nas seguintes etapas ou fases de desenvolvimento:
Depois do evento ter terminado e segundo aquilo que nos foi dado a observar, direta ou indiretamente, que algumas das coisas não correram bem e que foi talvez descurado na fase da Realização/Construção, o levantamento de situações de risco, associadas ao evento, bem como s sua classificação e avaliação qualitativa. Parece provável que as lacunas ao nível da Gestão do Risco, foram patentes, sendo que esta deveria ter merecido uma atenção muito especial por parte do organizador. Esta Gestão do Risco deveria ter permitido ao organizador uma correta avaliação de todas as potenciais ameaças ao evento e desta forma definir ações de prevenção e formas de atuação, para resolução de problemas surgidos. Podemos afirmar que Risco, é toda a possibilidade do evento não correr como o previsto nas hipóteses do organizador, devido a acontecimentos suscetíveis de impedir o cumprimento dos objetivos ou reduzir a sua dimensão. É sabido que a ocorrência de risco pode provocar prejuízos mais ou menos importantes para o organizador, dai a necessidade de os limitar ou suprimi-los completamente. Após a realização do evento e de acordo com aquilo que se passou, verificou-se que a organização se mostrou vulnerável, naquilo que diz respeito á Gestão do Risco. No futuro será de investir mais na Gestão do Risco, avaliando de forma mais exaustiva quais os que podem por em causa o projeto e nas mais diversas áreas tais como:
Não pode também ser esquecida a Avaliação Qualitativa do Risco, favorecendo a pesquisa dos critérios suscetíveis de informar sobre os riscos, nomeadamente:
Provavelmente se os itens acima enumerados tivessem sido colocados em prática, teria sido avaliado, que uma potencial ameaça, poderia advir das tais pressupostas pessoas, aquelas que tinham sido excluídas dos tais privilégios. Seria de prever que estas iriam estar de olhos bem abertos e atentos á espera que algo corresse menos bem para atacar a organização, o que na realidade veio a acontecer. Não podemos contudo ignorar, que ao nível do desmantelamento, os trabalhos não correram da melhor forma e o tal “caso” surgiu e foi badalado, ao qual os parceiros do organizador deram resposta através da imprensa, saindo em defesa do mesmo. Para além das palavras escritas o mais importante foi a ação realizada no terreno com a limpeza das dunas e Praia dos Supertubos. Iniciativa que permitiu que a praia ficasse mais limpa do estava anteriormente á realização do evento. Saliento ainda o facto de alguns aspetos que não correram da melhor forma, nomeadamente a nível do trânsito, e segurança. No que diz respeito ao trânsito, refiro-me á capacidade dos parques de estacionamento, que se mostrou insuficiente e que levou a alguma desorganização no estacionamento de viaturas junto das vias de comunicação, um dos exemplos passou-se na estrada que vai da Rotunda IP6 / Supertubos, para o Casal da Vala, onde havia bastantes viaturas estacionadas na zona dunar, com muita desorganização. Em relação á segurança, sei que não é uma questão de fácil resolução, mas falo nela devido ao facto de ter havido alguns assaltos a viaturas, roubo de equipamentos, entre outros. Reconheço que é um assunto difícil mas que preocupa todos os visitantes do evento e principalmente aqueles que ficaram lesados por perda de bens. Há que tentar ajustar e melhorar este aspeto da segurança futuramente. Sendo o enfoque nas coisas negativas, uma forma de crítica construtiva, com objetivo de transmitir as ocorrências e desta forma elucidar nas correções que podem ou devem ser efetuadas em futuros eventos. Não fugindo a esta linha de pensamento também devem ser realçadas as coisas positivas que ocorreram no evento, algumas delas já foram transmitidas em parágrafos anteriores, mas quero realçar a operacionalidade dos Bombeiros Voluntários de Peniche, durante todos os eventos de surf que ocorreram em Peniche. A capacidade de comando, organização e gestão de recursos, demonstrada pelo Comandante José António Rodrigues, foi apreciada e reconhecida por todos aqueles que com ele trabalharam, factos que levaram a que a Associação Nacional de Surfistas o tivesse distinguido com o Prémio “Moche Surfista do Mês”, referente a outubro. Registo com toda a certeza que as coisas boas representam um maior volume em relação às más e que o evento deste ano foi muito melhor que o de 2011 a vários níveis, tais como: organização, espetáculo desportivo, actividades complementares, público, cultura de surf, mediatismo, etc. Não devem contudo ignorar, que na organização de um evento, aquilo que corre menos bem, e ate pode representar apenas um grão de areia na enorme engrenagem, mas muitas vezes abafa tudo aquilo que de bom se realizou. Pois o eco negativo sobrepõe-se ao positivo. Mas contudo devem ser realçados os aspetos positivos das organizações, baseando, este pensamento no provérbio popular “por morrer uma andorinha, não acaba a primavera”. De uma forma elementar e abordando todos os aspetos relacionados com a definição de evento, podemos afirmar que este é um acontecimento especial, planeado, organizado com objetivos, num determinado momento e local, para um publico alvo, será esta uma definição sucinta de evento, mas contudo não nos devemos esquecer que o evento por si só, poderá ser motivo de noticia, causar impacto, ser novidade, fazer com que o resultado seja apenas o sucesso, esta devera ser a imagem que o evento deve deixar depois de terminar. O evento de 2012 terminou, agora será importante reunir todos os elementos, essencialmente os de Controlo e Monitorização e realizar uma avaliação final, a fim de perspetivar os ajustes necessários realizar para suprimir lacunas existentes e consequentemente melhorar o evento de 2013, com data já marcada, 9 a 20 de Outubro naquele local magico a Praia de Supertubos. Faço votos para que o Rip Curl Pró Peniche, 2013, seja um evento ainda mais especial e que a sua grandeza e importância local e nacional e internacional, seja reconhecida por todos sem restrições. Como a época natalícia esta próxima, aproveito a ocasião para desejar a todos Boas Ondas e um Super Natal.
2 Comentários
José Miguel Nunes
29/11/2012 05:18:36
Impõe-se da minha parte uma explicação sobre este assunto, e que passo a transcrever:
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Gonçalo Cardoso
4/12/2012 10:13:25
Zé, concerteza que esse comentário não era dirigido a ti. Só quem não te conhece é que poderia alguma vez imaginar que tu, mesmo que te "apaparicassem" com pulseiras e bejecas VIP, não emitirias a tua opinião honesta, fosse em que direcção fosse.
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