Escrito por: Edgar Henriques O “aquecimento” antes de iniciar qualquer prática desportiva deve ser um hábito comum, sendo que este é um dos fatores importantes na prescrição e execução de qualquer programa de atividade física, como tal o Surf não deve fugir a esta regra. Na verdade quase todos os surfistas sabem que devem realizar um bom “aquecimento” antes de ir surfar, ato este que é fundamental para um bom funcionamento de toda a estrutura corporal, mas ainda encontramos alguns, nas nossas praias que ignoram este aspeto e resistem á sua aplicação. O “aquecimento” é imprescindível, pois a sua realização permite um “alerta” a nível fisiológico, que tem como função enviar um aviso prévio ás estruturas, cardiovascular, respiratória e muscular, notificando-as para entrar em funcionamento através de ações físico motoras. Permite também um aumento da temperatura corporal, logo uma melhor adaptação do organismo ao exercício físico. Segundo Weineck (1999), “ “o aquecimento” tem a função de determinar o desempenho de cada sistema funcional e de estabelecer o momento adequado para o seu funcionamento, a fim de que o organismo possa atingir o seu desempenho máximo. Além disso, ao atingir a temperatura corporal ideal, as reações fisiológicas importantes para o desempenho motor ocorrem nas proporções adequadas para aquela determinada atividade”. O principal objetivo da realização de exercícios de “aquecimento”, consiste na preparação do organismo para que se adapte na passagem da situação de repouso para uma condição de esforço, este possibilita ao atleta um melhor desempenho físico e técnico, pois o aumento da circulação sanguínea favorece uma maior oxigenação muscular, sendo que esta ativação faculta às estruturas musculares e ligamentares uma maior prontidão para dar respostas ao nível da agilidade e equilíbrio e consequentemente encontrar soluções mais precisas e seguras aos comandos neuromusculares. O “aquecimento” tem também como função a reduzir os índices de possíveis lesão, que possam ocorrer nas primeiras ações motoras da prática desportiva. No que diz respeito ao “aquecimento”, será importante não confundir “aquecimento” com alongamento, pois como já foi dito, “aquecimento” implica o aumento da temperatura corporal interna e muscular, enquanto o alongamento aumenta o comprimento das fibras musculares, ou seja não causa “aquecimento”. Desta forma podemos dividir o “aquecimento” em 3 (três) fases:
A Fase Geral, o “aquecimento” deve possibilitar um funcionamento mais ativo do organismo como um todo. Deve ser realizado através de exercícios que mobilizem grandes grupos musculares, e executado inicialmente com uma intensidade baixa e ir aumentando gradualmente. Esta fase do “aquecimento” poderá ter uma duração de 5 a 10 minutos e pode ser realizado com marcha, seguida de corrida lenta e posteriormente aumentar o ritmo. Exemplo de exercícios a realizar nesta fase: A Fase Especifica, baseia-se na realização de exercícios específicos para a modalidade, que visam a ativação de pequenos grupos musculares, que são especificamente usados em determinados gestos desportivos. Estes exercícios devem assemelhar-se tecnicamente aos movimentos típicos da modalidade. No caso do Surf, o aquecimento deve caracterizar-se pela realização de exercícios que envolvam, membros superiores, inferiores e tronco, através de rotações, torções e flexões, sempre realizadas de forma suave. O tempo dispendido nesta fase poderá variar entre 10 a 15 minutos. Exemplo de exercícios a realizar nesta fase: A Fase de Alongamento, esta consiste na realização de exercícios estáticos, baseados no alongamento dos vários grupos musculares e tendões, que são recrutados para a execução técnica da modalidade, deste modo pretende-se desenvolver uma maior flexibilidade dos mesmos, permitindo mover os músculos e articulações em todas as amplitudes de movimento. Estes exercícios são realizados através de alongamento suave dos músculos e devem ter uma duração entre 15 a 25 segundos, cada exercício. Durante o alongamento o atleta deve manter o ritmo respiratório lento e coordenado, visando oxigenar ao máximo os músculos que são alongados. Este alongamento é bastante importante na prevenção de lesões musculares e articulares. Exemplo de exercícios a realizar nesta fase: Quando vamos realizar uma surfada, é nosso dever em primeiro lugar pensar fazer um bom “aquecimento”, este vai permitir-nos tirar um maior proveito da atividade, bem como uma maior satisfação a nível motor e técnico. Em algumas situações, queremos realizar uma surfada rápida porque estamos limitados em termos de horários, situação que nos pode levar a ignorar o “aquecimento” ou realizá-lo de forma menos correta. Nunca devemos entrar na água, sem aquecer bem porque o “aquecimento” permite obter mais benefícios do que prejuízos, senão vejamos tudo o que de bom nos pode proporcionar:
Após a realização da surfada, deve o surfista efetuar uma Recuperação Ativa, esta deve ser breve, cerca de 5 a 10 minutos, com a realização de exercícios de alongamento e relaxamento, de forma a prevenir as contraturas e dores musculares, provocadas pelo encurtamento muscular devido ás fortes contrações ao que foi submetido durante a prática do surf e também facilitar a adaptação do aparelho locomotor e cardio respiratório ao repouso. A realização destes exercícios tendem a restabelecer os níveis satisfatórios de mobilidade articular, reduzir tensões musculares dos tecidos moles, resultando numa melhor mecânica articular. É recomendado que estes exercícios de alongamento sejam efetuados de forma lenta e controlada e que não devam ultrapassar o limite articular. Segundo a Associação Americana de Medicina Desportiva, “ os exercícios de alongamentos provocam o relaxamento muscular, o que faz aliviar as dores causadas pelo stress muscular do treino, além de aumentar a sensação de bem-estar melhorando o humor dos indivíduos”. O “aquecimento” é muito importante e deve ser realizado por todos os surfistas, independentemente da sua idade ou nível técnico.
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Escrito por: Patrícia Reis (...continuação) (O surf como subcultura e estilo de vida) Difundido através do cinema norte-americano, o surf tornou-se a partir da década de 50/60, o centro de gravidade de uma diversificada indústria na Califórnia. O aparecimento das primeiras lojas, bandas musicais (Beach Boys), revistas (The Surfer Quarterly) e filmes de surf (The Endless Summer), permite o nascimento da cultura do surf, que passa a ser encarado como um estilo ou uma forma de estar na vida – surf lifestyle, também designado de “espírito aloha”. Na língua havaiana Aloha significa “alegria (oha) de compartilhar (alo) energia vital (ha) no presente (oha). Este mito do surfista na praia com sol, boas ondas e fins de tarde à volta da fogueira, criou no imaginário das pessoas a visão de um sonho. Se refletirmos sobre o conceito de cultura de um grupo, pode afirmar-se que é o estilo de vida peculiar e distintivo desse grupo, os significados, valores e ideias encarnados nas instituições, nas relações sociais, nos sistemas de crenças, nas tradições e costumes, nos usos de objetos e vida material (Clarke, Jefferson e Roberts,1976). Nesta visão cultura é algo social e historicamente inserido, construído e vivido. Na cultura do surf, os surfistas formam um grupo dentro da sociedade, ou seja, uma subcultura onde os seus membros dividem crenças e experiências comuns que se distinguem dos outros. A cultura do surf inclui, assim, as pessoas, a linguagem, a moda, a música, a literatura, os filmes e o estilo de vida, havendo um lugar privilegiado para a convivência dos que se identificam com essa cultura - a praia, quer sejam praticantes ou simplesmente admiradores do desporto, mas que com a cultura se identificam. Os surfistas buscam o desejo pela onda perfeita, a vida em torno do oceano e a cultura da praia, daí o surf se ter consagrado não apenas como um desporto, mas também como uma cultura, um estilo de vida, um estado de espírito, liberdade e integração com a natureza. O surf é, assim, algo que mistura desporto, paixão, estilo de vida, comportamento e lazer. Isto significa que, o desporto extrapolou o espaço da praia e configurou um estilo de vida que é consumido por pessoas que podem ser ou não surfistas, frequentar ou não praias, enfrentar ou não o mar, viver ou não em zonas litorais. O surf não se resume, à prática de um desporto, manifesta-se sobretudo, na cultura: diz respeito a roupas, visual, lojas e marcas, comida, natureza, saúde, música, hábitos, media. Em 1976, Hull elegeu cinco fatores intrínsecos necessários para o surgimento e manutenção de uma cultura de surf, que podem ser aplicáveis para a grande maioria dos destinos de surf: 1. Qualidade e consistência das ondas; 2. Clima (temperatura da água); 3. Acessos públicos relativamente fáceis à praia/linha de costa (exclusividade, custos, distância); 4. Recetividade dos residentes/comunidade local à prática do surf e aos surfistas; 5. Divulgação da atividade de forma a atrair a comunidade. Daqui se conclui, que é a coexistência destes cinco fatores geográficos e sociais que contribuem para o surgimento de uma cultura de surf e consequentemente para o desenvolvimento de um destino de surf. Em suma, pode dizer-se, que muitas regiões possuem boas praias, boas ondas e que podem ser concorrentes entre si, mas, com certeza, a cultura de cada uma delas é exclusiva e este detalhe diferencial torna-se determinante na escolha de um destino de surf. Como referido na primeira parte deste artigo, o estudo realizado mostrou que a grande diferença no processo de escolha de um destino de surf, reside no atributo ambiente e cultura do surf e que este é o atributo diferenciador e estratégico na gestão de um destino de surf. É, por isso, importante que quem visite o destino “respire” e veja surf por todo o lado, seja na praia, nos centros urbanos, na zona dos bares e restaurantes, nos alojamentos, no comércio local. O ambiente (local) deve identificar-se com o surf, e o surf com esse ambiente. Além disso, é fundamental que a comunidade local se identifique com esta realidade e se embrenhe com ela. Neste sentido, a cultura do surf deverá influenciar tanto as comunidades visitadas como as visitantes, com um estilo de vida que remete à liberdade e à busca de novas sensações, uma vez que viver o ambiente e a cultura do surf é, sem dúvida, uma experiência que renderá memórias para toda a vida. É importante relembrar a existência de dois consumidores de surf, os praticantes e os simpatizantes (espectadores e companheiros (as) não-surfistas): aqueles que não surfam, mas que admiram o estilo de vida do desporto e se identificam com os valores da subcultura e que são responsáveis pela maior parte de consumo no mercado de surf, ou seja, partilham os valores da subcultura sem frequentar a praia, justamente através do consumo dos produtos a ela relacionados. É possível perceber que a cultura do surf está aberta a novos integrantes, sendo que a única condição imposta é gostar de surf. O ambiente e a cultura do surf influenciam, assim, não só os praticantes mas todos os que se querem associar a essa cultura, o que torna este segmento de turismo num importante fator de desenvolvimento. Além disso, o surf tem grande apelo emocional, pois mesmo que não haja boas ondas, os surfistas continuam nos destinos, contemplando o mar e as ondas, palco onde tudo acontece. Tal não sucede com outro tipo de desporto! No turismo, o que poderá persuadir os turistas a visitar (e revisitar) um determinado local em detrimento de outro é o nível de visibilidade, conhecimento e empatia com o destino e com os seus valores. Os destinos de surf devem, pois, procurar transformar-se em lugares que proporcionem a vivência de experiências ligadas ao surf lifestyle, em vez de simples lugares que apenas possuam ótimas condições para a prática do surf, mas que não tenham mais nada para oferecer. Os destinos de surf devem ter a capacidade de marcar a diferença, de fazer sonhar e criar desejo, só desta forma conseguirão posicionar-se, se praticarem um marketing inovador, capaz de criar vantagens competitivas e comunicar para segmentos específicos. Sendo o surf uma cultura e um estilo de vida, há que partilhá-lo tentando proporcionar o ambiente, o espaço e as condições ideais para que as pessoas que amam o surf se possam encontrar, partilhar ondas e gostos em comum, num ambiente saudável e descontraído, bem ao estilo do espírito e filosofia surfista. Um ambiente que proporcione a envolvência que eles tanto gostam e onde se sentem bem, o ambiente e cultura do surf. De referir que, o atributo ambiente e cultura de surf não depende das condições naturais existentes, como a diversidade do tipo de ondas e dos locais para surfar, mas sim da visão dos agentes locais ligados ao surf (surfistas locais, população, autarquia, patrocinadores, associações locais e outras entidades públicas e privadas) e do seu envolvimento para a definição de uma estratégia sustentável e de longo prazo. Essa estratégia deve apostar no surf como um negócio, criador de riqueza, emprego e desenvolvimento local e deverá dar enfoque às questões ambientais, através da valorização da costa, das ondas e praias locais. O atributo ambiente e cultura de surf tem a capacidade de atrair mais segmentos de turistas de surf, combatendo a sazonalidade, contribuindo para um aumento dos consumos em restauração, alojamento, património e outros recursos, e em simultâneo identificar-se com a comunidade local, posicionando o destino como um verdadeiro destino de surf. Conforme os princípios da sustentabilidade, a indústria do turismo só faz sentido quando traz qualidade de vida, bem-estar e riqueza para as populações locais. |
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Novembro 2016
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