Escrito por: José Miguel Nunes Esta é a palavra que assusta tanta gente no meio do surf, esta é a palavra que os grandes interesses no negócio do surf, sejam eles comerciais ou políticos, gostam de criticar, e as razões são principalmente duas, e não necessariamente por esta ordem de importância, primeiro, é politicamente correto fazê-lo, segundo, prejudicam fortemente os seus interesses se não o fizerem, e basicamente é isto, toda a gente o sabe, mas poucos o assumem. É também comum, gente com importância e cargos relevantes dentro do meio do surf, adotarem discursos anti-localismo quando falam publicamente, mas que depois na prática, quando estão dentro de água, nos “picos” em que são locais, tomam atitudes completamente contrárias àquilo que apregoaram. Antes de mais é preciso diferenciar o localismo radical do localismo moderado, e não colocar tudo no mesmo “saco”, nem generalizar atos isolados e esporádicos como práticas comuns, o que normalmente acontece, possivelmente pelas mesmas razões enunciadas no primeiro parágrafo deste texto. Não há nenhum surfista que não “dropine”, como não há nenhum surfista que não tenha já sido “dropinado”, agora, a reação a estas duas variáveis da equação, o “dropinador” e o “dropinado” é que se altera conforme o local e a situação em que cada um está, esta é que é a grande diferença, e não vale a pena escamoteá-la. A questão é bem simples, e tem de haver coragem de a assumir: não há nenhum surfista em nenhum local do mundo, que quando está a surfar na sua terra, não tenha uma postura muito mais conservadora relativamente aos não locais, do que quando não está, e quem o negar não está a ser honesto. A defesa do território e o sentimento de pertença é algo intrínseco à qualidade humana, está-nos nos genes. Existem regras implicitamente agregadas à prática da modalidade, que qualquer surfista conhece ou deveria conhecer, e estas aprendem-se, ou deveriam aprender-se, da mesma forma que se aprende a fazer surf, aprendem-se na praia, aprendem-se com os surfistas mais velhos, e se forem colocadas em prática dificilmente haverá problemas em qualquer local onde se faça surf, inclusivamente no “spot” onde se é local. Hoje em dia, com o ritmo a que a nossa sociedade nos obriga a viver, os surfistas acabam por ser também um produto fabricado à pressão, ou seja, o aspirante a surfista aprende mais rapidamente a fazer surf, do que a entender e a interiorizar as regras pelas quais se deve reger dentro de água. Como resultado, quando chega à água, não para de remar de um lado para o outro tipo “barata tonta”, numa tentativa de estar sempre em local de prioridade para apanhar a onda, dá “voltinhas” a quem está sentado no “pico” à espera, faz ondas umas a seguir às outras sem se preocupar em esperar pela sua vez, mete o bico em locais críticos da onda, fazendo quebrar secções que prejudicam o surfista que já lá vem, etc, etc, etc… Com o aumento exponencial de praticantes, estas situações têm tendência a serem mais comuns, se juntarmos a isso locais onde as ondas são realmente de qualidade ou de “pico” único, como são os casos de Supertubos, Molhe Leste ou Lagide, a mistura tende a ser explosiva, e digam o que disserem, os locais têm, e têm de ter alguma prioridade relativamente aos restantes, é assim em todo o mundo, e assim terá de continuar a ser, ou então corre-se o risco de cairmos na anarquia. Sejamos mais uma vez honestos e admitamos: o problema do localismo coloca-se quando esta postura típica e ajustadamente local, é transportada pelos surfistas quando se deslocam para surfar num outro “spot” em que não são locais, ignorando as regras comumente aceites dentro da própria cultura do surf. O agravar desta situação deve-se a uma questão muito simples: hoje existem muito mais pessoas a fazer surf do que a serem surfistas, e enquanto os últimos aceitam e respeitam as regras próprias da cultura e modo de vida do surf, fazendo surf porque se identificam com isso, os primeiros não. O sentimento de impunidade e que toda a gente tem o direito de fazer tudo aquilo que quer, só porque sim, tendo apenas direitos e muito poucos deveres, é algo que começa a estar enraizado no seio da própria sociedade, transportando-se obviamente para o mundo do surf. Se qualquer surfista tem o direito de ir fazer surf para qualquer lugar do mundo, tem também o dever de respeitar quem já lá está há mais tempo do que ele, e que faz daquela onda/praia a sua casa, e em muitos casos, há mais anos do que a idade daquele que agora acaba de chegar ao “pico” de peito feito como se fosse o novo “galo do galinheiro”. Esta é a atitude que tem que ser combatida, e com isto não digo que não haja excessos também por parte dos locais, sem dúvida que os há, sou o primeiro a admitir que já cometi alguns. Agora o que ninguém fala, é que existem muitos surfistas em Peniche, alguns deles que fazem surf há muito mais tempo do que eu, e eu já faço há uns anitos, com os quais aprendi e surfei muitas vezes no Molhe, Super ou Lagide, e hoje não vão para lá, ficando a surfar ondas que não valem nada, porque o “crowd” é tanto e sem respeito, que acabam por não se divertirem, que é “ao fim e ao cabo” a razão última pela qual fazem surf. Não estou disposto a aceitar isto, não estou disposto a que o mesmo me aconteça, e se para isso tiver que me impor dentro de água, fá-lo-ei, pois a idade também aqui, é e terá de ser um posto. Termino com algo retirado do “site” yosurfer.com, meia-dúzia de linhas que resumem na perfeição uma das regras mais importantes nos “line-up’s” de qualquer parte do mundo, e em Peniche não é, e não será nunca diferente: Respect Respect Respect. There is an etiquette to surfing. If you don’t understand the rules of the waves, don’t even bother putting the key in the ignition to start your surf trip till you do. Once you understand these rules and you are visiting a break that has a big crowd and a reputation for localism then obey the rules with maximum prejudice. Don’t hassle don’t snake. Even if there is not a big crowd and the spot seems mellow, you should still respect the locals of that spot and not be too aggressive in your attempts to catch waves. É a minha opinião…
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_ Escrito por: Edgar Henriques Estamos quase no final do primeiro mês do ano de 2012 e em fevereiro vão ter inicio as primeiras competições oficiais de surf e bodyboard. Logo os atletas estão em fase de pré época, tendo iniciado o seu primeiro ciclo de treinos para preparação da sua época desportiva. Paralelamente ao treino, eles tem de tratar dos aspetos burocráticos, mais designados por “papelada”, que são o Exame Médico Desportivo, o preenchimento da Ficha de Atleta para inscrição na Federação, o associar-se a um clube, pois a federação não aceita a inscrição de atletas individuais, mas para o atleta se inscrever por algum clube, este tem de se filiar na respetiva federação no ano corrente, para ser reconhecido e agregar assim os atletas. Segundo as regras da F.P.Surf, o processo de licenciamento de atletas, tem de dar entrada na federação 10 (dez) dias antes da data da realização da 1ª prova oficial da época, como o primeiro evento do Campeonato Nacional de Surf de Esperanças se vai realizar de 18 a 20 de fevereiro, na Costa da Caparica, os atletas estão em luta contra o tempo, a fim de conseguir tratar de toda a “papelada” necessária para a respetiva inscrição. Após ter falado com alguns pais de atletas que no ano passado representaram o PPSC, e tentar avaliar a situação para o ano de 2012, fiquei desconfiado que a vida dos surfistas de Peniche não estaria fácil. Hoje mesmo, dia 24 de janeiro, realizei um contacto telefónico com a F.P.Surf, para saber se o Península de Peniche Surf Clube já estava filiado para o ano de 2012, ao qual a funcionária da secretaria me respondeu que não. Com esta informação conclui que a vida dos surfistas de Peniche está mesmo difícil e mesmo sem solução à vista. Os atletas têm intenção continuar a representar o clube da Capital da Onda, mesmo sem apoios, ambicionam continuar, mas agora já não depende deles. Vou até mais longe no caso de os atletas de “Peniche”procurarem resolver a sua vida passando a representar outros clubes, a culpa não será deles, mas sim de quem não fez nada por resolver esta situação do clube local, que se arrasta há mais de um ano. Será que ninguém está preocupado com o surf e com os surfistas de Peniche? Será que ninguém quer apoiar os atletas, pelo menos os jovens deviam merece-lo, pois são daqueles que “correm por gosto” e não se cansam. Mesmo sem um clube organizado e com a ausência de apoio, os jovens surfistas gostam de representar Peniche, e penso que nunca fizeram exigências algumas, apenas necessitam dos “serviços mínimos” para poder continuar a surfar e competir, quê é provavelmente aquilo que mais gostam de fazer na vida. Mas a vida de um jovem surfista em Peniche não é fácil, pois a única facilidade que tem é aquela que a natureza lhes dá as ONDAS. Porque não existe em Peniche um projeto de treino, aperfeiçoamento e acompanhamento em competição direcionado para os jovens atletas. Esta é uma realidade e uma grande lacuna existente na Capital da Onda. Alguns jovens atletas que estão interessados em evoluir, tem de procurar apoio técnico em paragens mais distantes, segundo conhecimento que tenho uns direcionaram-se para a “Linha”, Carcavelos ou Guincho, outros para a Ericeira, locais de treino que são muito longínquos e só permite aos atletas treinar do fim de semana. Sendo que estamos a falar de investimento dos pais dos atletas, pois pagam para os seus filhos terem o tão precioso acompanhamento técnico. Mas penso que estariam dispostos a pagar em Peniche no caso de aparecer algum projeto credível de treino. Será que alguém quer apostar no futuro dos jovens surfistas de Peniche? Não seria para trabalhar de “borla”, mas sim recebendo o justo valor pelo trabalho desenvolvido. Já que não temos clube para dar início a um projeto, haverá alguma entidade ou empresa que queira lançar um projeto que possa acolher os surfistas jovens de Peniche e dar-lhes algum apoio? Provavelmente num futuro muito próximo, poderia haver retorno, pois a qualidade dos surfistas de Peniche haveria de ser muito melhor, bem como poderia também surgir um crescimento no número de atletas. Tenho tentado ajudar, estarei disponível para continuar a fazê-lo, mas não me quero intrometer, pois não resido em Peniche, embora passe muitos dias por ai. Apenas o faço porque o meu filho é atleta do PPSC, se ele tiver de mudar de clube por força maior, naquilo que depender de mim, voltará no dia em as condições assim o permitam. Já agora deixo uma ideia às entidades e empresas com envolvimento e responsabilidade no Surf Penicheiro, que seria a realização de um encontro/debate cujo tema seria abrangente e o título poderia ser: SURF PENICHEIRO QUE FUTURO? _ Escrito por: João Paulo Jorge Existe atualmente um grande interesse em conhecer o valor das ondas, particularmente no que se refere ao surf, um desporto milenar com origem na Polinésia, desenvolvido no Hawaii, levado para a Califórnia no início do seculo XX e daí para o mundo. As ondas com qualidade para a prática do surf têm um enorme valor económico e social, muitas vezes subestimado pelos empresários e lideres políticos (não é o caso de Peniche) como é demonstrado pelos infelizes casos de Jardim do Mar (Madeira) e Mundaka (Espanha). Tomemos como referência, a título ilustrativo, alguns números: quanto ao número de surfistas no mundo não existem dados concretos e definitivos mas em 2005 eram estimados, pela International Surfing Association, 17 milhões de praticantes, distribuídos por 70 países. Já a organização Surfing Australia, em 2009, calcula esse número em 23 milhões, considerando ainda que apenas E.U.A. e Austrália agregam cerca de 5 milhões. Muito recentemente (Julho de 2011) um estudo da Universidade de San Diego estima o impacto económico anual do surf em cerca de 5 mil milhões de dólares, apenas nos Estados Unidos, considerando um gasto médio diário de 66 dólares por visitante. Por outro lado, considerando dados da indústria de vestuário ligada ao surf, esta representa muito perto de 13 mil milhões de dólares em vendas anuais segundo o estudo de mercado da Ninety 9 (uma marca criada pelo grupo Benetton a preparar-se para entrar neste mercado específico). Não sendo efetivamente um mainstream product, no âmbito da atividade turística global, parece claro que esta atividade terá já ultrapassado o estatuto de “nicho”, como ainda é habitualmente classificada por muitos. Este conhecimento do valor da onda não dispensa evidentemente o conhecimento, que se quer o mais profundo possível, de quem a usa. A alta competitividade dos tempos atuais exige que os gestores de marcas e produtos (incluo aqui os lideres políticos) tenham uma visão aprofundada dos agentes e dos fatores condicionantes do mercado e sejam capazes de utilizar, como parte integrante de suas estratégias, as perceções dos consumidores em relação ao seu produto. A compreensão do que pensa, sente e deseja o consumidor é um elemento fundamental para fundamentar a tomada de decisão. Esse conhecimento deve resultar da investigação, realizada de forma metodológica e científica. Nesse sentido, no âmbito da dissertação de mestrado em Gestão e Sustentabilidade no Turismo da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar (ESTM), a Patrícia Reis dedicou-se a investigar o assunto o qual se encontra em fase de conclusão. Os resultados preliminares foram entretanto apresentados durante o V Congresso Internacional de Turismo, realizado em Novembro último na ESTM, dos quais se apresenta aqui uma síntese. Os objetivos do estudo consistiram em caracterizar o perfil do turista de surf, avaliar a importância dos atributos de um destino de surf e respetivas dimensões implícitas das suas motivações e, principalmente, determinar segmentos homogéneos (de turistas de surf) com base nessas dimensões implícitas. Para tal foram entrevistados aleatoriamente, durante o Rip Curl Pro 2010 realizado em Peniche, 210 praticantes de surf não residentes no concelho de Peniche, maiores de 18 anos. Relativamente ao perfil do turista de surf a caracterização sociodemográfica dos inquiridos revela que a maioria dos inquiridos é de nacionalidade portuguesa (65%), seguindo-se os espanhóis (9%), ingleses (8%) e alemães (5%) e franceses (3%). Dos portugueses cerca de 49% são provenientes da área metropolitana de Lisboa, 13% da região Oeste e os remanescentes do resto do país. A estrutura etária revela um mercado muito jovem, o que não é novidade: o grupo etário mais representado é o relativo às idades compreendidas entre os 25 e 34 anos (43,6%), seguindo os grupos etários 18-24 anos (38,1%) e 35-44 anos (15,8%). No que se refere ao nível de educação é interessante constatar que quase 60% dos entrevistados concluíram ou frequentam o ensino superior. Como referido o principal objetivo do trabalho consistiu na determinação de segmentos diferenciados de turistas de surf a partir das motivações presentes na escolha de um destino de surf. A metodologia empregue no estudo, muito sumariamente, consistiu - numa primeira fase – na avaliação da importância dos atributos motivadores na escolha de um destino (ver figura 1). Como se verifica destaca-se a importância dada a três atributos: a diversidade de ondas, a diversidade de locais e o ambiente e cultura do surf. Se os dois primeiros dependem das condições naturais e da sua preservação, o terceiro depende claramente de uma gestão estratégica do destino. _ Numa segunda fase, recorrendo a técnicas estatísticas multivariadas, foram identificados, a partir das correlações implícitas na escolha dos principais atributos, dois segmentos de turistas de surf com características diferenciadas. Um primeiro segmento de maior dimensão, reunindo cerca de 70% dos inquiridos, com predomínio do grupo etário dos 25 aos 34 anos, dos praticantes mais frequentes e incluindo a maioria dos estrangeiros dos dois principais mercados (Espanha e Inglaterra). Um segundo segmento caracterizado pelos praticantes mais jovens (predomínio do grupo etário dos 18 aos 25 anos), menos frequentes e provenientes sobretudo da área metropolitana de Lisboa.
Comum a ambos os grupos é considerarem como os dois principais atributos motivadores na escolha de um destino de surf a diversidade de ondas e de locais para surfar. Apenas diferem ligeiramente no terceiro factor mais importante: o ambiente e cultura de surf. Enquanto para o primeiro segmento, de maior dimensão e mais experiente, este atributo está praticamente ao nível dos dois primeiros, para o segundo segmento é o clima e só depois ambiente e cultura de surf. Poder-se-á concluir que a relevância dada a este atributo aumenta com a idade, a experiência e predisposição para viajar. O ambiente e cultura do surf constitui-se, pois, como um elemento muito particular, para além de diferenciador e estratégico na gestão de um destino de surf que se queira coerente e sustentável (até pelas características inerentes a essa cultura). Não só porque depende menos das condições naturais existentes (como acontece com a diversidade de tipos de ondas e de locais para surfar) e mais da qualidade e visão das acções e políticas locais, mas também porque exige o envolvimento de um conjunto alargado de actores e, muito especialmente, dos residentes. É um tema que merecerá, sem dúvida, muita atenção e que será abordado num próximo artigo. Nota: o título do artigo foi “ligeiramente” roubado a um trabalho de Sara Dolnicar sobre o surf e caraterização dos surfistas australianos, realizado em 2003, com o título “Who’s Riding the Wave? An Investigation Into Demographic and Psychographic Characteristics of Surf Tourists”. |
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Novembro 2016
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