Veio a público nos últimos dias, tanto na imprensa nacional como estrangeira, a possibilidade de construção de uma piscina de ondas em Peniche. Se nuns casos, os títulos das notícias são na mesma linha dos textos, noutros nem tanto, e aparecem títulos completamente desvirtuados da realidade, gerando impactos altamente mediáticos. Aliás, a própria notícia vinculada no “site” da Câmara Municipal de Peniche (CMP) tem esse propósito. Na notícia AQUI colocada a publico pela CMP no seu “site” oficial, em nenhum lugar está escrito que se vai construir uma piscina de ondas, o que está escrito é que a Câmara aprovou, e passo a citar, “…os termos de referência para a elaboração de Plano de Pormenor que visa acolher um Parque Temático, que terá uma piscina de ondas como projecto âncora”, é isto que está lá escrito, nada mais, ou seja, aprovou a elaboração do plano, só isso, nem sequer há ainda nenhum plano aprovado, só a elaboração do mesmo, sendo que, e volto a citar, “a área de intervenção localiza-se na região do tombolo que liga Peniche ao Baleal, confina a Norte com a EM 578 e a Sul tem como limite físico parcial o IP6 e incide sobre uma área de aproximadamente 280 hectares, nas freguesias de Atouguia da Baleia e Ferrel”, por outras palavras, a vulgarmente conhecida Quinta dos Salgados. Tudo o que se disser para além disto é pura especulação. Os 70 milhões de euros e a centena de postos de trabalho, referidos na mesma notícia, são claramente os itens que a permitem mediatizar e que entram pelos olhos dentro dos eleitores, servindo para desviar o foco do essencial, que na minha opinião, é tudo isto estar ainda no campo das hipóteses. Assim, a pergunta que fica no ar é: Porque razão se divulga algo que não passa de uma hipótese, acenando com milhões de investimento e dezenas de postos de trabalho, que podendo ser uma realidade, não podem no entanto neste momento “preto no branco” dizer-se que são reais. Não vi em lado nenhum naquela notícia o nome do investidor (diz AQUI que é Australiano), nem poderia ver, pois nada ainda está aprovado, exceptuando a luz verde para a elaboração do plano. E se este depois de concluído não é aprovado? E se é aprovado, mas com limitações que inviabilizem o interesse do investidor? Há ainda muita coisa que não está, nem pode estar, num estado tal de certeza, que permita lançar estas notícias, criando espectativas às pessoas que podem sair defraudadas. Isto é pura propaganda política. Vamos então tentar esquematizar. Temos a certeza de duas coisas: 1 - A aprovação da elaboração do plano de pormenor; 2 - Que a área de intervenção é a Quinta dos Salgados. Para além disto especula-se por AQUI, que além da piscina de ondas, o investidor pretende ainda construir um campo de golfe e um hotel de cinco estrelas. Não sei se esta última informação tem a ver com, e passo mais uma vez a citar a notícia da CMP, “Associadamente estão previstas instalações para a prática de diversas modalidades desportivas ao ar livre e unidades de alojamento que constituirão um parque turístico-desportivo desenvolvido no conceito de ecoturismo”. Tenho algumas dúvidas na ligação do golfe ao conceito de ecoturismo. Chegados a esta fase, o ponto de situação é o seguinte:
1 – O projeto não tem sustentabilidade e nem sequer sai do papel; 2 – O projeto tem sustentabilidade e interesse por parte do suposto investidor e avança. No primeiro caso, era a confirmação da teoria propagandística, e alguém sairá muito mal na fotografia se assim for. No segundo, partindo então do princípio que o projeto tem pernas para andar, só existe um de dois desfechos, ou a coisa corre bem, e toda a gente ganha rios de dinheiro, ou ao invés, a coisa corre mal, e o investidor perde o seu dinheiro, mas isso é um problema que é do investidor, e não me preocupa muito. O que me preocupa é, corrermos o risco de ficar com uma estrutura enorme votada ao abandono, a degradar-se, com um enorme impacto visual, que dificilmente alguém pegará novamente, tal é a sua dimensão, tendo por outro lado destruído um terreno sensível ao nível ambiental, que fica completamente inutilizado para outro fim que não seja o imobiliário. Isto tem que ser muito bem ponderado. Em cima da mesa têm de estar todos os cenários, e existir um plano de “backup” credível para o pior deles. Setenta milhões de euros não se rentabilizam em meia-dúzia de anos, isto são projetos a 15, 20 ou mais anos, e não é uma piscina de ondas que serve para rentabilizar um projeto destes, ainda que acreditando nos números generosos apresentados no “site” de uma das tecnologias apontadas AQUI como ideal para o efeito. Estou convicto que só a nível de especulação imobiliária isto poderá ser rentável. Espero que este investimento não extravase em termos de construção, para a frente de praia da nossa onda rainha, local bem apetecível por parte destes investidores, com os constrangimentos daí inerentes e que não fiquemos, agarrados a conceder autorizações de construção de tudo e mais alguma coisa para salvarmos o investimento numa piscina de ondas, que ao contrário do que vem na notícia da CMP não contribui para a redução da sazonalidade, vamos lá ser verdadeiros, o que contribui para a redução da sazonalidade, é o surf, não é a piscina. Muito sinceramente, apesar da dimensão, do local, do meio envolvente e do risco inerente, não posso dizer que me escandalize um empreendimento deste tipo em Peniche, pelo contrário, que não sendo essencial, poderá ser um bom complemento, reforço, complemento, à nossa oferta turística, baseada no surf. Ressalvo no entanto, que me reporto unicamente ao que está na notícia da CMP (e que é manifestamente pouco), onde não há qualquer referência específica, por exemplo, a campos de golfe, sendo o conceito baseado no ecoturismo (apesar do termo mais indicado possivelmente não ser este, percebo a ideia que pretende transmitir). Essencialmente é necessário ter bastante cuidado em termos das contrapartidas para com o investidor. Se assim for, venha de lá essa piscina de ondas, que eu já estou a ficar velhote, e começa-me a cansar ter de levar com elas em cima para chegar ao pico.
13 Comentários
Bruce
11/7/2013 12:09:53
Verifico que estás atento e sensivel a esta situação, é sem dúvida um assunto que tem de ser muito bem ponderado, pesar prós e contras.
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Pedro
11/7/2013 14:06:39
I think that Peniche has already enought waves around, so why building a wave house? It wouldnt profit if so...
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Pedro Verissimo
12/7/2013 00:24:50
Como foi dito o projeto trará mais postos de trabalho para a nossa população e neste momento ,pela situação que tenho observado em peniche esse é sem duvida um dos pontos principais pelo qual acho isto uma boa oportunidade.
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Lisa
12/7/2013 04:00:35
\\ ao Zé não choca, mas a mim choca-me verdadeiramente! A piscina até poderia constituir um bom complemento à oferta turística de surf, mas não posso concordar com um empreendimento monstro de 200 e tal hectares num local abarcado pela já ultrapassada REN (reserva ecológica nacional). O problema não está em ser uma piscina de ondas, um resort de 5* ou um campo de golfe, porque enquanto surfista não posso deixar de achar piada ao facto de ter uma piscina de ondas no “meu quintal”.... a questão que coloco, é 1º - a pertinência de se construir uma piscina de ondas (que é o que se fala, mas que ACHO EU não passa de uma dissimulação para algo mais “perverso”) num local onde há ondas o ano inteiro; 2º - comprometer o futuro turístico de Peniche! Mas afinal o que queremos ser? Queremos ser um destino de eleição de surf, ou a disneyland do surf?? É que nós AINDA temos uma paisagem praticamente virgem, que na minha optica deveria ser mantida e conservada, porque é isso que os surfistas elegem – os destinos exóticos escolhidos para surftrips são premiados com boas ondas, mas também com paisagens virgens, intocadas! E por isso são o “paraíso”. O surf é natureza! O surf não é betão! Mesmo que no interior dessas estruturas sejam colocadas surfshops ou bares “da onda” para dar “os ares” do surf....!
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Mário Manuel Belo Pedro
12/7/2013 08:06:23
Subscrevo totalmente
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Sara Pereira
12/7/2013 05:50:44
O que se lê na notícia publicada pela CM, é que se está a propor a elaboração de um plano de pormenor que contemple um conjunto turístico (resort) cujo equipamento de animação autónomo é um parque temático. Um resort tem obrigatoriamente que dispor, para além deste tipo de equipamento de um estabelecimento hoteleiro de 4 ou 5 estrelas, um restaurante e de unidades de alojamento que poderão ser em forma de aldeamentos ou apartamentos turísticos, portaria,vias de circulação interna, áreas de estacionamento, espaços verdes, bem como outros equipamentos de desporto e lazer e piscina comum (DL 228/2009 de 14 de Setembro). Ou seja, face aos parâmetros urbanísticos em vigor (retirados daqui: http://dre.pt/pdf1s/2009/10/19201/0000200038.pdf , pag 27) e à dimensão da propriedade, poderemos estar a falar de um hotel de cerca de 2.700 m2 (4 ou 5 estrelas)e de uma área de construção de cerca de 20.000 m2 (de 3 estrelas ou inferior) para outras unidades de alojamento, e atribuindo uma média de 35m2/cama (requisito para unidades de 5 estrelas) de cerca de 648 camas (máximo). Atribuindo 77 camas ao hotel, restarão 571 camas, que admitindo uma tipologia de t2 (4 camas/unidade de alojamento) significariam 142 novas unidades de alojamento.
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José Miguel Nunes
12/7/2013 07:41:36
Cara Sara Pereira
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Sara Pereira
12/7/2013 08:08:57
José Miguel Nunes,
Rui Lobo
12/7/2013 08:50:01
Se ao contrário do que se especulou em relação à vinda do Continente (Sonae), e da sua virtual criação de postos de trabalho, facto que ficou muito aquém dos números anunciados, este projeto puder na realidade incrementar a economia turística desta região, porque não?
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André
1/8/2013 09:05:33
Lá está, não passa por enquanto de um projecto que a ser realizado, estaremos cá para ver, deverá haver um processo de consulta pública (?). Quanto ao investimento e aos postos de trabalho que poderão, ser criados, tem de vir na proposta de investimento. Na comunicação da CMP, está a informação por enquanto disponível, se os jornalistas dão a noticia de uma forma ou outra tem a ver com a sua forma de trabalhar com ou mais profissionalismo, onde muitas vezes impera o sensacionalismo. Quanto ao possível investidor, foi dito que era australiano, pelo Presidente da Câmara num programa de televisão. No passado quem se lembra do centro hípico, feito dentro da praia e que não levou a nada, além de destruir a zona de Dunas.
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José Miguel Nunes
1/8/2013 09:18:52
Caro André
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17/9/2013 01:18:54
Como e' bom ter-se algo para desenvolvermos ideias e neste caso este projecto foi lancado como propaganda eleitoral.
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Slater
25/10/2013 07:07:06
O projeto tem visão, mas o problema é que falha redondamente no local. Peniche já tem ondas para todos os gostos e níveis.
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