te determinados territórios emergindo como uma dimensão com aparente potencial para diferenciar os destinos de surf e aumentar a sua competitividade. No entanto, não há estudos que permitam avaliar com rigor o potencial da cultura de surf, nem que forneçam linhas de orientação para melhor aproveitar este potencial.
Num cenário de elevada competição em termos de oferta turística, a identificação de fatores capazes de aumentar a competitividade dos destinos e as análises de posicionamento para o conhecimento do processo de escolha dos destinos turísticos, constituem ferramentas de investigação muito importantes (Echtner & Ritchie, 1991). O posicionamento dos destinos implica definir uma imagem do destino na mente dos visitantes, de forma a que estes compreendam as mais-valias em relação aos destinos concorrentes (Aaker et al, 2004) e procedam à escolha do destino. A imagem de um destino transmite os seus atributos e é simultaneamente um fator de diferenciação, que permite segmentar o mercado e posicioná-lo no imaginário do visitante. Essa diferenciação pode ocorrer pelos aspetos intangíveis (emoções e experiências) que os destinos conseguem proporcionar aos visitantes (Carneiro et al, 2014). Assim, compreender a relevância da cultura do surf para o posicionamento competitivo dos destinos de surf é de extrema importância. Na história do surf verifica-se que as viagens com motivação principal de surf ganham expressão. A procura da onda secreta, das praias nunca surfadas (situadas em destinos tropicais paradisíacos) e a vivência da envolvente ao surf tornam-se, para muitos, a essência da experiência do surf. Nesta perspetiva, o surf como desporto e o ato de viajar complementam-se no âmbito do turismo de surf, uma vez que os surfistas se aventuram em experiências de viagem com o objetivo de surfar as ondas perfeitas. Entretanto o surf torna-se moda e o seu desenvolvimento tem promovido o aparecimento de uma cultura específica associada ao surf (Butts, 2001), marcada por um estilo de vida e de valores relacionados com o surf – o estilo surfista (surf lifestyle) (Dolnicar & Fluker, 2003). Nesta cultura diferenciada, os adeptos do desporto compartilham valores e ideias diferentes dos indivíduos comuns, ou de uma cultura dominante, tendo como elemento principal o ato de surfar. Assiste-se, assim, ao que se designa de comercialização do ideal surfista (Ponting, 2009) (utilização da imagem do surf como ferramenta de marketing). A comercialização do surf enfatiza a liberdade do estilo de vida e projeta a imagem de um destino de sonho, o que dá origem a novos produtos e novas experiências, que influenciam o imaginário da procura turística e motivam a escolha do destino (Dolnicar & Fluker, 2003). É com base nesta imagem de destino de sonho, nas suas histórias e aventuras que assenta a cultura do surf. De notar que, as imagens mudam de acordo com o imaginário de cada um, pois dependem das experiências e necessidades dos turistas de surf, quer sejam praticantes ou simpatizantes. Cada destino tem as suas valências e elementos distintivos, ou seja, tem a sua personalidade (Bartikowski et al, 2009), devendo estas valências e elementos ser tidos em consideração na definição do tipo de segmentos de mercado a atrair e das estratégias a desenvolver para atrair esses segmentos. Muitas regiões possuem boas praias e boas ondas, podendo ser concorrentes entre si. No entanto, a cultura de cada região é exclusiva e este detalhe distintivo poderá tornar-se determinante na escolha de um destino de surf. Por isso, torna-se importante obter informação sobre o modo como diferentes turistas de surf avaliam a atratividade dos destinos de surf. Deste modo, será fundamental descobrir que referências se encontram no imaginário do público, a fim de satisfazer os seus sonhos e fantasias e, assim, motivar os turistas a escolherem um destino. Consequentemente, a promoção de um imaginário local associado ao surf vai alterando a cultura desse local, que se reinventa através de uma renovada e revalorizada ligação ao mar, agregando valor às experiências turísticas. Assim, um dos desafios dos destinos de surf parece ser a transformação em lugares que proporcionem a vivência de experiências ligadas ao surf lifestyle - não esquecendo a sua cultura original, suas tradições e modos de vida -, que tenham a capacidade de marcar a diferença, de fazer sonhar e criar desejo. Um destino de surf assenta na onda perfeita e tudo o resto gira à volta desta atração principal, - o imaginário do surf. O turista de surf vem em busca da onda perfeita e do ambiente que a envolve; mesmo que não a surfe, esteve lá e vivenciou o que o destino tem para oferecer, a sua cultura reportada no estilo de vida da “tribo” do surf. É preciso, pois, procurar novas soluções, novas oportunidades de negócio, no sentido de desenvolver destinos de surf mais competitivos. A localização, comunidade local, recursos naturais e culturais, indústria do surf, serviços e a cultura de surf do local ajudam a definir o estilo dos destinos de surf e determinam a experiência dos visitantes. É, por isso, importante aprofundar a investigação científica a fim de estudar os desafios dos novos destinos de surf, de compreender estes destinos como espaços sociais (Ponting, 2009), avaliar a imagem e consequente atratividade destes locais percecionada pelos turistas e analisar a forma como diferentes tipologias de turistas de surf (praticantes e simpatizantes) se envolvem e vivem a atividade. Apesar da investigação realizada sobre a cultura do surf (Martin & Assenov, 2012), do reconhecimento de que a cultura e estilo de vida dos turistas podem introduzir alterações profundas nos destinos influenciando a sua atratividade e do importante papel da cultura no âmbito da competitividade dos destinos, não têm sido realizados estudos relativos à influência da cultura do surf na competitividade dos destinos de surf, que permitam analisar em que medida este atributo contribui para o posicionamento competitivo destes destinos face aos concorrentes. Relembrar, que a aposta no turismo de surf poderá ter, seguramente, efeitos estruturantes num quadro de desenvolvimento económico e social, contribuindo para o aumento da atratividade dos destinos turísticos, pela valorização, diversificação e otimização da oferta turística.
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