FILHOS DO MAR - I Escrito por: Edgar Henriques No início do ano de 2008, surgiu em Portugal a primeira revista de surf, com distribuição gratuita. A Free Surf Magazine, marca registada pela Alfarroba Amarela – Ideias e Eventos Ldª., empresa pertencente ao empreendedor António Pedro, que pôs em marcha mais um projeto, assumindo a direção da revista. Sendo uma publicação bimestral, o seu número 2 editado em março/abril, dava um relevo muito especial ao surf e surfistas de Peniche, dedicando-lhe doze páginas com texto e imagens muito coloridas. Neste destaque predominavam a qualidade das ondas Penicheiras o talento dos seus surfistas, mas também empresários ligados à indústria do surf, e nem os políticos foram esquecidos. Desta dúzia de páginas, ficou-me na retina o seguinte titulo “ A lenda, o mito e o rapaz mergulhador que virou homem-mar”. Na verdade este registo era dedicado a Acácio Grandela, mais conhecido por Lélé, segundo o autor do artigo, “um dos últimos filhos do mar e uma lenda viva de Peniche”. De acordo com a narração realizada pelo Miguel Bordalo, a qual não podemos considerar uma normal entrevista, com perguntas e respostas, mas sim uma conversa quase informal, um “contar de histórias” que ele foi ouvindo ao Lélé, que depois reproduziu nas páginas da Free Surf. Dos muitos parágrafos escritos nas duas páginas dedicadas ao Lélé, vou destacar aqueles que mais me fascinaram, por retratarem histórias de algumas aventuras que seduzem qualquer ser humano. In FreeSurf Magazine nº 2 (Março/Abril de 2008) Texto: Miguel Bordalo / Imagens: André Cameron “ Imaginem uma equipa de mergulhadores altamente especializados, com equipamento de ultima geração, todos influenciados por expedições de Cousteu, preparados para descobrir alguns tesouros perdidos junto ao Baleal, onde se encontram várias caravelas afundadas. A expedição com todos os cuidados atentando todas as medidas de segurança para otimizar a obtenção dos resultados. Os cientistas e mergulhadores profissionais estavam preparados para explorar as profundezas do Baleal. Agora imaginem os mergulhadores e cientistas, no breu do mar, apoiados por luzes aquáticas e equipamentos submergíveis, a retirar peças dos galeões e caravelas, quando de repente um puto com cerca de 7 anos aparelhado de calções e pouco mais, se põe ao lado deles, para explorar a nave, o galeão ou caravela, sem qualquer equipamento! Identifica uma bala e aquilo que parece ser um punhal, pega neles e vai-se embora. Este miúdo, o ultimo a ter nascido na Ilha do Baleal, meio peixe-meio homem, chamado pelo nome de Lélé, azucrinou a vida de cientistas e mergulhadores durante toda a expedição, suscitando vários pedidos de auxilio aos seus pais, que com compreensível condescendência, compreendiam que o fundo do mar era de direito de nascença do seu filho, filho também das águas que o isolavam muitas vezes do resto do mundo.”
“De todas as atividades do mar, a que começou mais tarde terá sido o surf, aos 16 anos. O primeiro contacto com o surf foi com pranchas emprestadas de surfistas estrangeiros que desciam da Europa e seguiam até Marrocos em viagens que duravam cerca de três meses. Alguns paravam em Peniche e deixavam as suas pranchas nas lojas, mas o Lélè, aprendeu a fazer surf a pedir pranchas emprestadas, e teve o prazer, que como o próprio diz, de aprender ao lado de alguns dos melhores surfistas do mundo, um prazer que, com o “boom” de pessoas que tem chegado a Peniche, tem vindo a diminuir, visto que esses surfistas mais conceituados procuram noutros países, lugares mais sossegados. Essa é a forma como Lélé gosta de surfar. Diz-me em comiseração que devia ir mais vezes à Ericeira, onde há ondas de grande qualidade, e surfistas com alto nível que seriam bons para melhorar o seu surf, mas quando está bom na Ericeira é fácil encontrar picos bons em Peniche, e ele fica por ali, na sua terra e nos seus tubos.” “Mas ultimamente Lélé até tem ido para mais longe, para Marrocos, para a zona de Casablanca, não para fazer surf, mas sim para fazer mergulho. É como o mergulho que mais se identifica a viajar, pois é nessas ocasiões que consegue ir para um sítio pescar, e oferecer o peixe que captura à população que o recebe de barcos abertos. O rapaz de Peniche gosta de conhecer novas culturas, de viajar, e sente-se bem com os locais, com hábitos estranhos, tão estranhos como reconhece os seus.” “Num dos dias que fomos falar com o Lélé, ele estava acompanhado de um amigo, que tentava lembrar o antigo nadador-salvador do Baleal de um recente salvamento que tinha feito de duas senhoras de idade que tinham posto o pé na água, mas que não foram a tempo de o tirar quando as ondas as apanharam. Num dia de mar grande o Lélé estava sozinho dentro de água, na direita ao lado da Ilha do Baleal … a meio da conversa, o herói da história interrogou “Qual delas”, o amigo riu-se com a naturalidade da pergunta – ao longo dos anos deverão ter sido mais que muitas. “ A gorda!”, o Lélé riu-se virou-se para mim e continuou a história: “ Pu-la em cima da prancha, tinha bem uns 100 quilos, a prancha enterrou-se tanto que pensava que nos íamos afogar os dois… “ Turistas, visitantes, e provavelmente algum incauto morador, muitos já foram salvos às mãos de um nadador-salvador, que seguiu uma carreira numa dinastia desde o pai ao avô.” “Quando temos tantas histórias ricas de homens do mar em Portugal, vale a pena interrogar-nos quantas coisas estão por ai por contar. O próprio Lélé terá muito ainda a oferecer à imaginação, aventuras, histórias, com pequenos dramas, algumas alegrias do passado e as que estão por construir. Às vezes quando procuramos pelo fascínio lá fora, encontramos as melhores recordações e as melhores memórias partilhadas bem perto de casa. E porque as terras são feitas das suas pessoas, um bom pedaço de Peniche é contada com histórias dos seus habitantes, grande parte dessas histórias acabam e terminam com o nome do Lélé, rapaz mergulhador que virou homem mar.”
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BODYBOARD, MOLHE LESTE - PENICHE 1994 Escrito por: José Miguel Nunes Retirado do "site" The Board Central, mais um contributo em video para a História do Surf Penicheiro: Molhe Leste, Peniche – Matéria filmada em 1994 e editada para o programa Portugal Radical 152, com “broadcast” na SIC a 15 de Janeiro de 1995. O Molhe Leste, na ponta direita de Supertubos era então o local onde os bodyboarders encontravam as ondas com características ( força, buraco e “rampas”) para desenvolver o que viria a ser o futuro do desporto com manobras aéreas e muita projecção. Nas imagens podemos ver os então jovens talentos “Moranguinho” e Barrela. Moranguinho viria a obter excelentes classificações a nível nacional e Barrela é hoje Manager na Refresh Boards a única fábrica nacional de bodyboards que conta com uma equipa sólida de jovens talentos, muitos deles de Peniche. Fonte/Autor: The Board Central
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