Na Surf Portugal, nº 185, rubrica MEN OF THE BOARD, a entrevista ao shaper do mês foi a ANTÓNIO LEOPOLDO. In Surf Portugal nº 185, pág. 112 e 113 (Junho de 2008) Natural de Peniche e um dos mais antigos e respeitados surfistas da zona, com mais de 25 anos de surf, António Leopoldo fez da geometria muito própria da sua terra natal a tela perfeita para as suas criações. E ali (re)nasceu a Phynix. Há quanto tempo shapas? O primeiro contacto aconteceu quando comecei por reparar tábuas nos anos 80, porque na altura não havia ninguém a reparar tábuas em Peniche. Depois, quando o Nuno Taveira iniciou a Papoa, em 1986, comecei a trabalhar com ele. Continuei a trabalhar com ele mais dois anos, antes de ir à tropa. Depois do serviço militar, voltei e arranjei um emprego em Peniche durante dois anos e meio, na Junta Autónoma de Portos. Nessa altura trabalhava em part-time com o Luís da Koala, com o Fernando Horta e com o Taveira. Depois chateei-me com o emprego, fartei-me daquela coisa rotineira e decidi montar a oficina num espaço que era dos meus pais. Primeiro era uma oficina de reparações e fibragens. Passado um ano comecei a shapar, primeiro com o nome de Leo Surfboards, depois Phynix, de Fénix… naquela onda do “fim da terra”, que era e continua a ser Peniche. Para mim Phynix significa Peniche. O negócio começou em 1991 e a marca existe desde 1993. Desde lá, estive na África do Sul, em Jeffrey’s Bay, onde trabalhei seis meses com o Glenn D’Arcy e o Byrning Spearsuns, que são uns shapers meio underground mas muito experientes, e com o Peter Daniels. Depois deste grande estágio, num lugar onde a nível de trabalho não há segredos, porque o que interessa é que o trabalho fique bem feito, porque há muita procura, libertei as mãos. Eles ensinaram-me as técnicas todas e a partir daí profissionalizei-me. Desde essa altura, e até há 3 anos atrás, sempre que havia menos trabalho por cá, passei a ir todos os Invernos para Hossegor e para Sopelana. Em 2004 abri o surfcamp (Peniche Surf Camp) e a Phynix passou a ser uma fábrica um bocado underground, no sentido em que não há publicidade nem nada no género. Mas continuo a fazer tábuas, quer para clientes habituais, quer para os clientes do camp, com os pormenores todos e a máxima personalização. Aliás, acho que é uma coisa que associada ao surf camp resulta muito bem. Faço também workshops de shape e de glass, sobretudo para clientes do camp. Digamos que a fábrica é um complemento para o camp e as duas coisas funcionam muito bem em conjunto. Encaixarás tu um bocado no papel, também ele mítico, de shaper underground de um lugar com ondas clássicas? Underground sim, no sentido em que não tenho uma equipa a trabalhar comigo e não faço publicidade. Mas tenho uma clientela certa, que acompanha a produção da prancha a para e passo. Naquele espaço estão sempre livres para entrar e ver o que se passa com o fabrico da sua prancha, e não há muita gente que faz isso. As pessoas ali têm liberdade para isso. Em Peniche encontras várias condições e vários tipos de ondas. Achas que é uma boa escola para um shaper? Sim, muito boa. Tem ondas boas, mas bastante diferentes. De Supertubos para o Lagido, da Baía para o Molhe Leste, há uma enorme diferença. Os Super são super verticais, o Lagido tem umas mais verticais e outras mais deitadas. Por exemplo, uma prancha que é boa para os Super nunca é boa para o Lagido ou para a Baía. Há ondas de um metro em que tens que surfar de 6’4’’ e outras de 2 metros em que com uma 6’1’’ estás na boa. Nos últimos anos houve uma grande mudança no fabrico de pranchas. De repente parece que depois de anos e anos de padronização de pranchas, com pequenas variações, apareceram as retros, as quads, e houve lugar para uma grande variação. Em que te afectou isso como shaper?
Em princípio um gajo que é shaper faz tudo o que o cliente quer a partir de um bloco. Há até clientes que me pedem coisas que nunca vi. Mas se me derem as medidas, faz-se. Acho que o espirito das pessoas abriu-se totalmente e a criatividade também. O shaper nunca vai mandar na prancha que o cliente vai surfar. O surfista é que decide o tipo de prancha e de surf que quer, e o shaper só tem que acompanhar isso. Mais clássico, radical, para ondas grandes, power… e acho que com os novos designers de pranchas o surf beneficiou a nível de qualidade. Na fase de ouro do Kelly Slater, em que ele usava as pranchas todas finas, isso reflectia-se na praia: toda a gente usava pranchas finas. Penso que nessa altura regredimos um pouco. Agora as pessoas estão a andar melhor, apanham melhor as ondas, têm pranchas mais largas, mais grossas. Se tiveres uma retro no Verão vais curtir mais do que com uma prancha estreita e fina. A prancha não é para andar debaixo do braço, é para andar debaixo dos pés e com estes novos designs, têm-se visto mais estilo dentro de água. O facto da Phynix ser uma fábrica pequena com trabalho personalizado, oferece-te uma grande liberdade de criação, já não precisas de estar colado aquela imagem da fábrica que faz pranchas altamente progressivas e de topo? Dá muito mais liberdade para exprimires as tuas ideias. Não há a prancha standard. É conforme o que o cliente pede, dedico-me completamente ao cliente, não há produção em massa. Aceito todas as reclamações. Um gajo numa prancha delira, porque as pranchas são instrumentos de prazer… e essa é a maior recompensa que tenho como shaper. Site: www.phynixsurfboards.com Agradecimento: Ricardo Leopoldo
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