Um evento único que terá lugar no dia 8 de Novembro na Ilha do Baleal
Tendo a Ilha do Baleal uma forte ligação à pesca e uma comunidade que vive desta atividade, a Procissão incluirá também uma bênção dos pescadores aquando da passagem pela praia onde estes guardam as embarcações.
Este evento único em Portugal e muito provavelmente no mundo não poderia ocorrer noutra praia: situado no Concelho de Peniche, já conhecido como "Capital da Onda" e palco de uma das maiores competições mundiais de surf, o Baleal é das melhores praias do país para a prática e aprendizagem de surf. Prova disso é o crescimento de negócios ligados a estas modalidades ao longo dos últimos anos: surfcamps, escolas, aluguer de material, surfshops, restaurantes, hotéis e hostels vocacionados para este mercado que não pára de crescer. Milhares de turistas de todo o mundo visitam o Baleal doze meses por ano para aprender e praticar surf, sendo raro o dia em que não encontramos dezenas de surfistas dentro de água. O envolvimento deste novo sector desportivo e económico com a comunidade tem sido cada vez maior e o ressurgimento das quase extintas Festas de Santo Estêvão deve-se, sobretudo, ao apoio de negócios ligados ao surf. As Festas de Santo Estêvão As Festas de Santo Estêvão são uma tradição ancestral que esteve décadas sem se realizar. Por altura do São Martinho reuniam-se no Baleal famílias de localidades vizinhas, que aí vinham gozar férias após a época das vindimas. No dia de São Martinho faziam uma procissão à volta da Ilha do Baleal, consagrada a Santo Estêvão, padroeiro da ermida local. E à noite tinha lugar o tradicional magusto seguido de bailarico. De há cinco anos para cá a tradição foi retomada, com o apoio de negócios locais, ligados sobretudo ao surf, um desporto que cada vez mais tem vindo a dinamizar a economia local. Com os lucros obtidos foi possível financiar o restauro das imagens de Santo Estêvão e Nossa Senhora das Mercês, peças do século XVI guardadas na ermida da ilha e que já apresentavam sinais de elevada degradação. PROGRAMA Sexta, dia 7 de Novembro, a partir das 22h: Quermesse, Magusto, baile com a acordeonista Sara Pessoa Exposição de fotografias antigas do Baleal na Associação Recreativa dos Amigos da Praia do Baleal (patente durante os dias das Festas) Sábado, dia 8 de Novembro: 15h: Missa na capela de Santo Estêvão seguida de Procissão à volta da ilha, Benção dos Surfistas e Benção dos Pescadores. 22h: Quermesse e baile com o Conjunto Musical Old Star Fonte/Autor: CMP
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Escrito por: José Miguel Nunes
Ficou finalmente concluído um dos mais desejados equipamentos de apoio ao "surfing" em Peniche e uma pretensão muito antiga da comunidade surfista local, os Chuveiros do Molhe Leste. Inicialmente previstos como uma das contrapartidas para a realização do Capitulo Perfeito na Praia dos Supertubos, foi necessário a Câmara Municipal de Peniche substituir-se à organização do referido evento e ficar encarregue da obra, que agora finalizou. É DA CASA, ESTÁ EM CASA, E AI DE QUEM O TIRAR DAQUI Aos nove anos, "assim meio na brincadeira", ele ajudou na organização do primeiro campeonato internacional de surf que houve em Portugal. Depois disso não quis outra coisa. A culpa foi do "bichinho" e dá a impressão que preferia não ser entrevistado. O Expresso continua a observar diariamente o circuito mundial de surf. Em Peniche. Porque Raul Brandão, que conhecia os mistérios da cidade, disse ou escreveu e seguramente pensou que "existe uma certa grandeza em repetir todos os dias a mesma coisa". Paulo Ferreira conhece bem Peniche. Durante um passeio pela cidade mostra a Serra de Sintra ao longe e diz que quando se vê bem a serra é porque no dia a seguir vai chover. Não é natural de cá (os pais voltaram de Luanda em 1974, seis anos depois de nascer), mas garante que é como se fosse. Aos treze anos apanhou a primeira onda, numa altura em que as praias de Peniche eram muito frequentadas por surfistas estrangeiros que vinham em "surf trip" - australianos, franceses, ingleses - e depois decidiu dedicar-se a sério à modalidade, mas ao lado dos que fazem as coisas acontecer.
Já havia "bichinho": quando tinha nove anos, ajudou na organização, "assim meio na brincadeira", daquele que diz ter sido o primeiro campeonato internacional de surf que houve em Portugal, em 1977 (vieram australianos e americanos e isso foi uma novidade). Também participou na organização do primeiro campeonato Rip Curl que se fez em Peniche, em 1988 (disso temos prova, uma fotografia dele sentado num palco com mesas e cadeiras, tudo em madeira, onde se lê "Rip Curl Pro-Am"). É presidente do Peniche Surfing Clube, organização que divulga os desportos de ondas, e desde 2013 que é responsável técnico do circuito nacional de kayaksurf e wave sky. Todos os anos vem assistir à passagem do campeonato mundial de surf por Peniche. Perguntamos-lhe ao que vem e ele diz-nos que está a acompanhar a equipa técnica (enviada pelo tal clube de que é presidente) que trabalha no campeonato. Vemo-lo ir e vir várias vezes num destes corredores estreitos, cumprimentando este e aqueloutro, mais um abraço, mais um abraço, mais um abraço, "então pá, como é que estás?", "vens à praia? O campeonato arrancou às nove", "já conheces aqui o Zé? E o....? E o ....? E o....?", e não temos dúvidas, Paulo já faz parte disto. É da casa, está em casa, e ai de quem o tirar daqui. Perguntamos-lhe o que mudou desde 2009, primeira vez que o campeonato passou por Peniche, e ele diz que mudou quase tudo: há mais negócios a crescer, ligados ao surf mas também à hotelaria e à restauração, que vão prolongando o período de verão e só param depois do mundial, e há mais pessoas a assistir - "essa massa humana enorme que envolve os surfistas e lhes dá muito apoio, o que é raro no circuito mundial" - sem qualquer ligação ao surf em termos de prática. "Vêm pelo espetáculo e por ser em Supertubos, que é garantia de espetáculo ainda maior. Os melhores surfistas do mundo estão aqui a 20 metros, é um palco brutal para nós e para eles." Fonte/Autor: Jornal Expresso / Helena Bento UM DELES TINHA UMA PRANCHA DO PAI, QUE ERA USADA POR TODOS: CINCO MINUTOS OU TRÊS ONDAS A CADA UM Isto começou com fatos de surf emprestados, uma prancha para sete ou oito putos. Na altura, andar ali assim metido com as ondas era considerado um ato subversivo. Depois vieram os estrangeiros com as técnicas e sabe-se lá mais o quê - mudou tudo. O Expresso continua a observar diariamente o circuito mundial de surf. Em Peniche. Porque Raul Brandão, que conhecia os mistérios da cidade, disse ou escreveu e seguramente pensou que "existe uma certa grandeza em repetir todos os dias a mesma coisa". Era uma vez um anúncio de "aftershave" com a "onda de sonho" que deu a sete ou oito putos uma vontade imensa de se porem em cima de uma prancha. Mas como é que isso se fazia, se não havia internet e revistas de surf em Portugal (as que havia eram enviadas pelo correio do Brasil e dos Estados Unidos mais de meio ano depois de saírem) para lhes mostrar? Alguém tinha de lhes ensinar. E foram os surfistas estrangeiros, que no inverno chegavam a Peniche - sim, é como imaginamos, ao volante das míticas pão-de-forma - que o fizeram. Ensinaram-lhes que não bastava subir à prancha a pés juntos e jurar a pés juntos não cair - porque iam acabar por cair -, que havia uma posição e mais delicadeza em estar lá cima, que havia diferentes tipos de pranchas e a cada onda a sua prancha, e a todas as pranchas, assim como aos restantes materiais, o devido tratamento, a chamada manutenção. "Em Portugal ninguém sabia estas coisas, éramos todos autodidatas", conta Jorge, que era um dos putos.
Aprenderam, fizeram-se ao mar, aprenderam, fizeram-se ao mar. Usavam fato emprestado - porque na altura não havia lojas de surf e material à venda - e prancha emprestada. Um deles tinha uma prancha do pai, que era usada por todos: cinco minutos ou três ondas a cada um. No mar respeita-se. Depois começaram a comprar aos surfistas estrangeiros, que iam embora e deixavam-nas cá, a preço bom. Na altura, andar ali assim metido com as ondas era considerado um ato subversivo. No dia em que o surf esteve do lado desses que não vão muito à bola com as regras, Jorge fez-se ao mar e alguém lhe disse que aquilo era para "quem não queria fazer nada da vida, não queria trabalhar, não queria estudar". Era para a "malta da droga". Agora não, agora o surf já é uma coisa "séria", diz, que é como quem diz - uma profissão - e os miúdos já não vêm pela diversão, diz também Jorge, mas para terem reconhecimento profissional e participar em campeonatos (o Kelly Slater recebeu cá em Peniche um prémio simbólico do presidente da Câmara por, entre outras razões, ser um modelo para as gerações mais jovens). Velhos tempos esses em que o "deslizar na onda" era bem bom. Agora é mais "o andar no ar, os 'aerials' e o surf mais espetacular". Jorge é Jorge Cação. É surfista desde os 14 anos, tem agora 46. "É dos antigos", dizem quando se lhe referem. Ou: "é dos pioneiros". Ele diz que é de uma terceira geração de surfistas de Peniche. Na primeira eram quatro, cinco, na segunda dez ou doze e na dele sete ou oito putos que viram o anúncio da "onda de sonho" e a partir daí não quiseram outra coisa senão subir a uma prancha. Jorge, que é Jorge Cação, não competiu em campeonatos de surf, a não ser os da zona, semiprofissionais, numa fase mais evoluída do surf em Portugal. Considera-se, portanto, um "outsider". O surf foi sempre um "hobby". Mais a sério levou outras modalidades, como o badminton. Ele é selecionador nacional da Federação Portuguesa de Badminton. Conversamos com a onda de Supertubos aos pés. Jorge conta que foi ali que se pôs pela primeira vez dentro de água a remar com uma prancha e a primeira vez que se pôs em pé e ao fim de tanto tempo continua a ser ali que faz as melhores ondas. Fonte/Autor: Jornal Expresso / Helena Bento |
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Julho 2016
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