É DA CASA, ESTÁ EM CASA, E AI DE QUEM O TIRAR DAQUI Aos nove anos, "assim meio na brincadeira", ele ajudou na organização do primeiro campeonato internacional de surf que houve em Portugal. Depois disso não quis outra coisa. A culpa foi do "bichinho" e dá a impressão que preferia não ser entrevistado. O Expresso continua a observar diariamente o circuito mundial de surf. Em Peniche. Porque Raul Brandão, que conhecia os mistérios da cidade, disse ou escreveu e seguramente pensou que "existe uma certa grandeza em repetir todos os dias a mesma coisa". Paulo Ferreira conhece bem Peniche. Durante um passeio pela cidade mostra a Serra de Sintra ao longe e diz que quando se vê bem a serra é porque no dia a seguir vai chover. Não é natural de cá (os pais voltaram de Luanda em 1974, seis anos depois de nascer), mas garante que é como se fosse. Aos treze anos apanhou a primeira onda, numa altura em que as praias de Peniche eram muito frequentadas por surfistas estrangeiros que vinham em "surf trip" - australianos, franceses, ingleses - e depois decidiu dedicar-se a sério à modalidade, mas ao lado dos que fazem as coisas acontecer.
Já havia "bichinho": quando tinha nove anos, ajudou na organização, "assim meio na brincadeira", daquele que diz ter sido o primeiro campeonato internacional de surf que houve em Portugal, em 1977 (vieram australianos e americanos e isso foi uma novidade). Também participou na organização do primeiro campeonato Rip Curl que se fez em Peniche, em 1988 (disso temos prova, uma fotografia dele sentado num palco com mesas e cadeiras, tudo em madeira, onde se lê "Rip Curl Pro-Am"). É presidente do Peniche Surfing Clube, organização que divulga os desportos de ondas, e desde 2013 que é responsável técnico do circuito nacional de kayaksurf e wave sky. Todos os anos vem assistir à passagem do campeonato mundial de surf por Peniche. Perguntamos-lhe ao que vem e ele diz-nos que está a acompanhar a equipa técnica (enviada pelo tal clube de que é presidente) que trabalha no campeonato. Vemo-lo ir e vir várias vezes num destes corredores estreitos, cumprimentando este e aqueloutro, mais um abraço, mais um abraço, mais um abraço, "então pá, como é que estás?", "vens à praia? O campeonato arrancou às nove", "já conheces aqui o Zé? E o....? E o ....? E o....?", e não temos dúvidas, Paulo já faz parte disto. É da casa, está em casa, e ai de quem o tirar daqui. Perguntamos-lhe o que mudou desde 2009, primeira vez que o campeonato passou por Peniche, e ele diz que mudou quase tudo: há mais negócios a crescer, ligados ao surf mas também à hotelaria e à restauração, que vão prolongando o período de verão e só param depois do mundial, e há mais pessoas a assistir - "essa massa humana enorme que envolve os surfistas e lhes dá muito apoio, o que é raro no circuito mundial" - sem qualquer ligação ao surf em termos de prática. "Vêm pelo espetáculo e por ser em Supertubos, que é garantia de espetáculo ainda maior. Os melhores surfistas do mundo estão aqui a 20 metros, é um palco brutal para nós e para eles." Fonte/Autor: Jornal Expresso / Helena Bento
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Julho 2016
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