O editorial deste mês é um texto que me está a custar escrever. É cada vez mais evidente que o surf está a ser dominado e conspurcado por interesses politico-economicistas. Era algo previsível que acontecesse mal estes senhores vissem que havia aqui um novo filão. A técnica usada não é nova, e vem em todos os manuais de política barata. Do latim “Divide et impera”, nasce o ancestral “Dividir para reinar”, que consiste em estimular diferenças e discórdias no seio de um grupo, que coletivamente pode ser capaz de se opor ao seu governo. Obviamente que com os tempos esta técnica tem vindo a ser apurada, e hoje em dia existem técnicas associadas, nomeadamente de subtileza que ajudam a disfarçar o objetivo da primeira, e nestes casos o uso da imprensa é crucial. Deixemo-nos de filosofias baratas, e vamos a casos concretos. Nesta última semana, alguns locais de Peniche insurgiram-se quanto ao modo desleixado e irresponsável como os organizadores do Rip Curl Pro promoveram a desmontagem e limpeza da Praia dos Supertubos, e isso aconteceu de três maneiras diferentes: Divulgação de fotografias nas redes sociais, um texto escrito neste “sitio” e colocação de uma montagem fotográfica em vídeo no “youtube”. Foi o “ai Jesus”, pois a coisa começou a ganhar dimensão, e estava a começar a por em causa a imagem, não de Peniche, como quiseram fazer crer, mas sim de algumas pessoas e instituições, e esse é que foi problema. Ao verem exposto aos olhos do mundo o que não fizeram em tempo útil e deveriam ter feito, em vez de assumirem a sua quota-parte de responsabilidade no sucedido, optaram então pela técnica acima referida, usando todos os meios ao seu dispor para inverter o ónus do problema, ou seja, passar a mensagem que o prejudicial era a denuncia publica da situação, e não a situação em si, e começou logo por pequenos recados em comentários nas redes sociais, tais como, e passo a citar: “…O responsável deste Post (eu) poderia ter enviado este seu registo para a CMP…” e “…a pessoa que apresentou este Post (eu) poderia ter feito chegar esta sua preocupação para a CMP e dessa forma dava uma boa colaboração…” (só a nível de curiosidade, estes dois comentários foram feitos pela mesma pessoa no mesmo sítio), como se a Câmara não tivesse essa obrigação. No entanto, e rapidamente perceberam que só assim não iam lá, pois aqui há felizmente a possibilidade de resposta, no mesmo nível de exposição. Então, o passo seguinte era colocar notícias na imprensa especializada, fazendo uso dos contactos privilegiados que possuem, para dar continuidade à técnica já em marcha, pois aí, como facilmente se compreenderá a única possibilidade é comentar, e a exposição mediática de uma notícia e de um comentário a essa notícia é completamente díspar. Mais, nas próprias notícias, a mistura propositada dos assuntos, leva a que mais uma vez o foco do principal problema seja completamente desvirtuado, e para que se perceba, a questão tem três itens: 1º - Desmontagem das coberturas; 2º - Desmontagem das estruturas de base; 3º - Destruição das dunas Nas referidas notícias, é por demais evidente a mistura dos dois primeiros itens, e a semi-omissão relativamente ao terceiro, e com isso começaram a criar uma imagem destorcida do problema principal e da sua resolução, dando assim a volta à questão, lá está, mais uma vez a ancestral técnica a funcionar, ainda para mais quando só um lado tem possibilidade de ter este destaque na imprensa. Para que se perceba bem, o lixo que se via na praia era obviamente relativo ao primeiro item, o da desmontagem das coberturas, e não da desmontagem das estruturas base, claro que não eram ferros nem andaimes que lá estavam espalhados pela praia, eram na sua maioria bocados de plástico, alcatifas, braçadeiras plásticas,…, e isto deveria ter sido imediatamente retirado aquando da desmontagem das coberturas, não era preciso esperar pela desmontagem das estruturas de base para o fazer, como tentaram passar a mensagem com as referidas notícias. O grau de intensidade colocado na descredibilização de quem teve a coragem de denunciar o assunto foi tal, que em alguns “sites” da especialidade estavam a sair notícias às nove da noite. Foram tornados públicos pareceres de entidades ambientais, de uma página, sim, uma página, com cinco parágrafos, em que os dois primeiros e o último não falam da questão em concreto, ou seja o parecer resume-se a dois parágrafos. Como é que é possível que um parecer sobre um evento daquela dimensão se resuma a dois parágrafos. Enfim… era o vale tudo. A questão da destruição da duna foi completamente omitida no tal parecer, é no mínimo estranho para uma entidade de defesa ambiental. Aliás, esta questão foi recorrentemente passada para segundo plano nas notícias que foram saindo na tal imprensa especializada, onde o foco foi sempre colocado na questão do lixo, o que não é de admirar, pois é o problema mais facilmente justificável e de resolução mais célere. A exceção é feita na descrição dos procedimentos de minimização de impacte ambiental com a montagem/desmontagem das estruturas. Muito bem, agora o que não disseram e deveriam ter dito é que não se vai para cima de uma duna com máquinas pesadas, só porque depois há um procedimento de “reposição das condições iniciais do coberto vegetal”, seja lá isso o que for, principalmente porque aquando da montagem não o fizeram com a displicência com que o fizeram na desmontagem, essa é que é a grande questão. Já que no ano passado não vi na tal imprensa especializada quaisquer pareceres e/ou relatórios de entidades ambientais sobre estes impactes, era no mínimo interessante saber, em primeiro lugar se houveram, e se sim, quais as recomendações feitas na altura, e se realmente elas foram tidas em conta este ano, nomeadamente sobre esta questão das dunas e das “pick-ups” a andarem para tás e para a frente, em muitos dos casos só com pessoas lá dentro. Para terminar, gostava que isto ficasse bastante claro, e não aceito que me venham com a conversa da intervenção positiva, expressão que me faz sentir sempre o peso da pressão, que é o seguinte: o mal não foi denunciar a situação, o mal foi, quem devia ter feito as coisas bem não as fez. Resumindo, a imagem de Peniche não fica fragilizada por haver pessoas que digam que a Praia dos Supertubos ficou durante mais dias do que devia imunda e com dunas destruídas, a imagem de Peniche fica fragilizada é por a Praia dos Supertubos ter ficado durante mais dias do que devia imunda e com dunas destruídas. É esta a grande diferença, e foi isto que aquela campanha assente na técnica “Divide et impera” pretendeu fazer, e isso, eu não aceito. Só para terminar, e a título de curiosidade, pelo segundo mês consecutivo batemos o recorde de visitantes, e entre 26/9 e 25/10 foram precisamente 14.200. Obrigado a todos. BOAS ONDAS
4 Comentários
Pedro Feliciano
1/11/2012 05:32:56
Muito bem José Miguel, um abraço Pedro Feliciano
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João Maya
1/11/2012 11:00:57
Excelente texto Zé.
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José Miguel Nunes
1/11/2012 11:57:30
Oi João
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André Cardoso
2/11/2012 19:44:49
Parabéns Zé Miguel, por este texto. Abraço a todos
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