Escrito por: José Miguel Nunes “Quando chega alguém novo, esperamos que essa pessoa se apresente e, pelo menos, diga olá. No fundo, é uma questão de respeito.” – Bruce DeSoto Nos últimos tempos tenho escrito alguma coisa à volta da minha desilusão relativamente à falta de cultura de surf patente na generalidade dos surfistas, principalmente os da nova geração. A juntar a isto, há ainda outra questão, que não tendo directamente a ver com surf, acaba por se reflectir também no surf. É um problema social, não lhe chamarei falta de educação, mas antes falta de humildade, ou, excesso de altivez, se não quisermos ser muito bruscos no adjectivo. Resumindo, os direitos são muitos, os deveres, muito poucos. Ao passar os olhos pela banca de jornais que normalmente frequento, desperta-me a atenção a reputadíssima National Geographic, pois um dos títulos de capa é: A RAIZ DO SURF NO HAWAII. Comprei. Fala essencialmente de Makaha e da experiência de surf de John Lancaster por essas bandas. Situada na costa ocidental de O’ahu, longe das exuberantes multidões que povoam as praias da costa norte, como Sunset Beach ou Pipeline, caracteriza-se por ser uma comunidade algo fechada, dominada por descendentes dos antigos marinheiros polinésios que colonizaram as ilhas. Após uma primeira, nas suas próprias palavras, desventura de surf em Makaha, o nosso interlocutor decide pedir alguns conselhos a Bruce DeSoto, membro de uma das famílias mais proeminentes do local, para que assim possa usufruir das boas ondas que dão por aquelas praias. Para além daquele que no início deste texto transcrevemos, outro se revelaria de grande importância: “Se respeitar, é bem-vindo e poderá surfar na nossa praia quando quiser. Mas se não respeitar, então vai ter problemas.” Conhecedor profundo das raízes do surf e o que ele representa, os conselhos, simples, de DeSoto, revelar-se-iam fundamentais, e não resisto a transcrever o final desta aventura: “A ondulação estava absolutamente perfeita. As ondas eram maiores do que alguma vez vira. Remei mar adentro e meti conversa com um havaiano robusto com pouco mais de 40 anos. Descobri que era nadador-salvador em Makaha e construía pranchas como actividade paralela. (…) Surgiu uma onda. Olhei para ele. Posso? O seu aceno de concordância foi subtil, ao nível da telepatia. Remei com força e apanhei a onda, uma esplendorosa muralha azul-cobalto com 2,5 metros de altura que me transportou até ao outro lado do recife.” Afinal, tudo se resume a uma questão de respeito…
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Escrito por: José Miguel Nunes “Surfing passed through four distinct stages: (1) articulation; (2) expansion; (3) corruption; and (4) decline. (…) The central patterns, meanings and understandings of the scene (surfing) cannot be maintained. The scene becomes diluted, splintered and distorted. (…) The exterior conception of the scene changes from appreciation, with some concern over deviance and bizarreness, to recognition of its corruption and loss of authenticity, and finally to vehement derogation. (…) And in the end, even the late arrivals, who are no longer able to earn prestige by membership in a scene which is now viewed as defunct and who were never immersed enough in its actual patterns to learn to enjoy it, drop out.” – Jonh Irwin Perguntei à minha filha de oito anos: Qual é a cor do surf? e ela respondeu de imediato: Azul. Foi instintivo. Voltei a inquirir: Porquê azul? Resposta: Então… paaiiii… dahhh… é a cor do mar. Ok, disse eu, tens razão. Mas logo de seguida acrescentou: Também podia ser verde, justificando, às vezes o mar é assim meio verde. Chegámos a um consenso, a cor do surf é azul esverdeado. Na realidade é esta a cor do surf, entre o azul e o verde, umas vezes mais azul, outras vezes mais verde, umas vezes azul esverdeado, outras, verde azulado. Esta é a cor do surf, vista por olhos ainda inocentes, vista por olhos que ainda conseguem enxergar apenas e só a sua essência, vista por olhos verdadeiros, no sentido mais profundo da expressão. O surf mudou, evoluiu, globalizou-se, economizou-se e politizou-se, tornando-se necessariamente diferente. Fruto da inevitável mudança de paradigmas sociais e de valores com os quais as sociedades modernas se regem, a cor do surf está ela também a mudar, deixando gradualmente o brilho genuíno do azul e a profundidade do verde, para uma cor esbatida, de boneca, fútil, bonita por fora, vazia por dentro, sem profundidade nem brilho, o surf está a ficar cor-de-rosa. Nos últimos tempos, tenho reparado que nas principais publicações especializadas em noticias de surf, nomeadamente nas portuguesas, é cada vez mais frequente aparecerem noticias relativamente ao que de mais fútil o surf tem, muito ao estilo da imprensa, cá está, dita cor-de-rosa, como por exemplo, os dois milhões de dólares que Kelly Slater gastou num apartamento na Gold Coast, ou uma entrevista com o pai biológico do recente campeão do mundo, ou uma noticia dando conta que Kelly Slater desenha moveis para jovens, ou ainda um vídeo sobre uma surfada em Pipeline, que abre, com o protagonista a rejeitar uma chamada telefónica, supostamente, de Kelly Slater. Espero que seja apenas dos meus olhos, que por força da idade, estão mais batidos, já perderam a inocência, e que não seja efectivamente o surf a perder de forma galopante a sua essência. Escrito por: José Miguel Nunes “…surfing is a phenomenologically unique experience, something novel, ineffable and transcendental.” - Leslie Kerby
Em pouco mais de uma semana li dois artigos que achei bastante interessantes, um na emblemática Surfer Magazine, e outro na portuguesa SurfTotal, e que cada um deles, com abordagens diferentes, colocam o dedo na ferida relativamente ao modelo, não muito promissor, na minha opinião, em que o surf está a assentar. Há um par de meses, escrevi que falta cultura de surf a quem toma decisões relativamente ao surf em Portugal. Já tinha escrito há bastante mais tempo, que hoje em dia, a maioria dos miúdos aprendem primeiro a fazer surf do que a serem surfistas, e acrescento agora, muitos deles nunca chegam a ser surfistas, continuam apenas a saber fazer surf, e em alguns casos bastante bem. Na esmagadora maioria das escolas e academias de surf que por aí existem, ninguém lhes ensina que ser surfista, é muito mais do que mandar pauladas verticais e fazer tubos profundos. Ninguém lhes ensina que ser surfista, é conhecer o “crowd”. Ninguém lhes ensina que ser surfista, é saber o lugar que devem ocupar dentro de água. Ninguém lhes ensina que ser surfista é reconhecer e respeitar uma hierarquia na água, e que um dia irá chegar a sua altura. Ninguém lhes ensina que ser surfista é perceber que o cota que lá está à frente tem trinta ou quarenta anos de surf, e que já não tem braços para competir com ele na remada, e que por isso não deve ir lá pressionar. Na esmagadora maioria das escolas e academias de surf que por aí existem, ensinam os miúdos a fazer surf e a competir, a competir de forma animal, só, nada mais. Ninguém lhes ensina as origens do surf, a conhecerem a sua história, a saberem que quase desapareceu e porquê, a saberem da sua importância social nas comunidades onde se desenvolveu, a conhecerem e a sentirem o significado que uma prancha tem para um surfista, a sentirem a sua espiritualidade e o contacto com a natureza. Grande parte dos jovens “surfistas” sabe, porque ouviu dizer, que o surf nasceu no Hawaii, apenas isto, nada mais. Já agora, aproveitando a ocasião, nem isso é exactamente assim, se estivermos a falar de surfing e não de surf, mas mesmo que fosse, saber apenas isto sobre a história do surf é manifestamente pouco para quem se diz ser surfista. Se o ser surfista se restringir apenas a surfar bem e competir, de modo a satisfazer, por um lado, economicamente, uns, e por outro, os egos de outros, para além do dele, em que os autocolantes na prancha de última geração são mais importantes do que a onda que se pretende apanhar com ela, então o surf tem uns dias bastante negros à sua frente. Escrito por: José Miguel Nunes Jess Ponting, um dos mais conceituados investigadores a nível mundial na área do surf escreve: “when a new surfing destination is “discovered,” it typically features heavily in the surf industry’s print and video media. In this way, the global surf media complex creates a discourse of surfing “Wonderland” … “This Wonderland discourse is what attracts surf tourists, and in turn, creates profit for commercial surf tourism operators. However, achieving Western notions of commercial success runs the very real risk of overcrowding. Overcrowding, in turn, risks destroying the very product that is sold to surf tourists.” A perda de irreverência e de valores característicos desta comunidade, estão a ser delapidados, levando-a à inclusão no modelo economicista desta nova vaga de “yuppies”, em que o expoente máximo terá sido a entrada na ASP destes novos “players” da ZoeSea. A transformação desta actividade milenar, em qualquer coisa, independentemente do que for, à imagem americana do “show-off” com “rios” de dinheiro a rolar, não se sabendo bem de onde vêm nem para onde vão, assente em mecanismos económico-financeiros, em tudo semelhantes aos que nos levaram ao estado de crise global em que nos encontramos, é por demais evidente. Mas vamos aos santos da casa, e à promiscuidade entre os “meninos do surf” e alguns políticos. Há por aí políticos, que não têm qualquer tipo de pejo em aprovar projectos que destroem praias e ondas, mas que ao mesmo tempo, hipocritamente, digo eu, apoiam eventos de surf. Há por aí políticos, que não têm qualquer tipo de pejo em expropriar, destruindo vidas e projectos sustentáveis, só para esmifrarem o surf, que agora é também um grande negócio. Há por aí políticos, que não têm qualquer tipo de pejo em abdicar de uma competição importante para o clube da sua terra, colocando-a como moeda de troca no sujo jogo dos apoios políticos. Surpreso!… não, antes desiludido, não com os políticos, entenda-se, pois esses já perderam a capacidade de me desiludirem, mas sim com os “meninos do surf”, com esses sim, que dão cobertura a este tipo de jogadas, tendo como único interesse o seu, o económico. Ver surfistas de sorriso estampado, em poses para a fotografia, em conferências de imprensa e recepções em salões nobre, com discursos elogiosos, a individualidades como estas, que dão com uma mão, para tirar com as duas, como se nada se passasse, isso sim, desilude-me, e bastante. Ver surfistas de mão estendida receberem de bom grado e sorriso na cara, algo que provém de manobras políticas menos claras, lavando as mãos como Pilatos, isso sim, desilude-me, e bastante. Ver surfistas fazerem “panelinha” em jogadas políticas para desviar campeonatos para locais onde comprovadamente a qualidade dos mesmos sairia afectada, isso sim, desilude-me e bastante. Ver após tanto tempo de espera, realizar-se um curso de treinadores de surfing, e nenhum dos Centros de Alto Rendimento existentes em Portugal, que custaram uns largos milhares de euros ao erário público, reunirem as condições necessárias para o sediar, isso sim, desilude-me e bastante. Ver o organismo responsável pela promoção turística do nosso país, desembolsar a favor de um negociante do surf, não sei quantos mil euros, para ele andar vinte e um dias a surfar e a filmar, na pior época de ondas em Portugal, qualquer coisa que lhe aparecesse pela frente, e apresentar ondas miseráveis de locais de ondas excelentes, quando deveríamos estar a promover qualidade e diversidade, isso sim, desilude-me e bastante. Ver um país em francas dificuldades económicas como o nosso, ser apenas suplantado por EUA e Austrália, em atribuição de “prize money’s” em provas da ASP, desilude-me, claro que me desilude, pois mais tarde serei eu a sofrer no bolso estes exageros… mas por essa altura, já os “meninos do surf”… encaixaram o seu. E mais um ano se passou, o surf e os surfistas dominados pelo negócio, pelos negócios e pelos negociantes, deixaram-se subjugar pela acção política. Mais uma vez os “meninos do surf” desiludiram-me… Escrito por: José Miguel Nunes Conforme a foto documenta, são cinco os volumes em formato A4, que representam o trabalho desenvolvido ao longo de sete anos, unicamente sobre SURF EM PENICHE.
Dois deles, entre 2007 e 2011, no extinto JORNAL DE PENICHE ON-LINE, sendo os restantes três, entre 2011 e 2014, neste PENICHE SURF NEWS. São cerca de dois milhares de escritos, entre notícias, reportagens, história, estórias, banda desenhada, caricaturas e claro, opiniões, que contaram com preciosa contribuição de alguns colaboradores, aos quais não podemos deixar de formular o nosso mais sentido agradecimento. Se para alguns, muitos destes escritos, resultaram em idas à farmácia para adquirir as famosas pastilhas “Rennie”, para outros, acreditamos que a maioria, nem tanto. Até ao momento, e apenas contabilizando os do PENICHE SURF NEWS, ou seja, desde Julho de 2011, foram quatrocentos e cinquenta e três mil trezentos e cinquenta e um visitantes. OBRIGADO
turismo de surf. A comunicação social enche as gordas com títulos de oito milhões, de centenas de empregos criados, de dezenas de novos negócios. Os políticos desdobram-se em entrevistas e declarações sobre surf e turismo de surf e na sua importância para as economias locais, num discurso… como dizê-lo… bem, à político… com muita parra e pouca uva…
Até parece uma nova corrida ao ouro, ao estilo da que se desenrolou lá pelo século XIX por terras do tio Sam. Esta corrida desenfreada a que assistimos ao surf, e a tudo o que o surf envolve, em que a anarquia é quase total, com "surfcamps", "surfhouses", "surfschools", etc, etc… a brotarem como cogumelos por todo o lado, bastando para isso pouco mais do que um apartamento e uns beliches comprados no Ikea, e “bora” lá alugar isto aos “bifes” e fazer dinheiro que é o que está a dar, sem qualquer preocupação de DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, é bastante preocupante para o futuro de Peniche como DESTINO TURÍSTICO tendo como base o surf. A palavra SUSTENTABILIDADE, que muita gente com responsabilidade nestas matérias, nomeadamente ao nível político, não sabe o que é, nem quais os seus pressupostos, é fulcral para que a curva do CICLO DE VIDA DO DESTINO TURÍSTICO possa ser o mais longa possível, pois o objectivo deverá ser, retardar ao máximo a sua fase de declínio, que é inevitável. Seria importante que pessoas com esse tipo de responsabilidades, volto a repetir, nomeadamente políticas, tivessem conhecimentos, ou pelo menos vontade de os ter, ainda que superficiais, sobre estes conceitos, e já agora também sobre mais alguns, como por exemplo: DESTINO TURÍSTICO, PRODUTO TURÍSTICO, RECURSO TURÍSTICO e ATRACTIVO TURÍSTICO, e quais as suas diferenças, talvez assim não fizessem discursos políticos, encapuçados de cometário, completamente desajustados do contexto, como o proferido na recente apresentação do NIS (Núcleo de Investigação em Surf), pelo representante do nosso município, a interversão por parte de um investigador da área sobre até que ponto o modelo até agora seguido para o surf é sustentável. Só uma pequena nota, e a atalho de foice, o NIS é um grupo de investigação que “pretende fomentar a pesquisa em turismo e SUSTENTABILIDADE em zonas costeiras”. Cá está… SUSTENTABILIDADE. Retive do referido comentário algumas frases: “Fico contente por ver centenas ou milhares de surfistas a caminho das nossas praias…”, não é necessariamente bom nem para o turismo em geral, nem para o turismo de surf em particular, coloca questões a vários níveis como a satisfação (dos turistas de surf e dos outros) e até mesmo a possível saturação do destino, entre outras; “Se deixarmos uns saquinhos na praia já é um problema…” e “…a GNR vira costas para fumar um cigarrito, vão meia-dúzia para as dunas e já é um problema…” (numa alusão aos problemas ocorridos na desmontagem das infraestruturas do Rip Curl Pro em 2012 e às criticas daí resultantes), são efectivamente um problema (não as críticas, entenda-se), em primeiro lugar porque não foram uns saquinhos, em segundo, porque não foi o pisoteio dunar, mas sim a deslocação de maquinaria pesada por cima das dunas. Isto coloca questões ao nível ambiental, mas também ao nível da imagem do destino, entre outras, e citando o anfitrião do evento, especialista na matéria: “A construção de uma boa imagem é fundamental no Turismo, não se pode falhar, pode não haver uma segunda oportunidade”; “Todos temos de vestir a camisola”, concordo plenamente, mas vestir o fato e a gravata, e querer dar-se a entender que se veste a camisola é que não pode ser. O discurso político baseado em chavões, que servem às mil maravilhas o apetite da imprensa, não se coaduna quando proferido em ambiente académico, profundamente especializado e assente em pressupostos bem diferentes, que tem como base a lógica cientifica e não a lógica politica. As ondas e o surf são uma mais-valia para Peniche como fonte de rendimento e de desenvolvimento económico, já o defendo há muitos anos e continuo a defende-lo, mas não caíamos no erro de trabalhar este mercado numa lógica de curto-prazo, a quatro anos de cada vez, de nos deslumbrarmos, de permitirmos tudo e mais alguma coisa, numa lógica de quanto mais melhor, sem preocupações evidentes de SUSTENTABILIDADE e DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, pois se assim for, o resultado será o mesmo do da corrida ao ouro do outro século, meia-dúzia deles fizeram fortuna, e ganharam peso nos centros de decisão, os restantes, bem, os restantes definharam até morrerem na miséria. Escrito por: José Miguel Nunes Voltamos a um assunto recorrentemente abordado neste espaço e que dá a volta às entranhas mais que salgadas deste surfista de Peniche. Começou hoje, dia 2 de Setembro, nos Açores, o primeiro de quatro eventos, que irão trazer o melhor surf mundial a terras lusas: SATA AZORES PRO, CASCAIS WOMEN’S PRO, CASCAIS BILLABONG PRO, MOCHE RIP CURL PRO PORTUGAL e ERICEIRA ASP WORD JUNIOR. Muito bem, repararam com certeza que o único que não ostenta no “naming” do evento o nome da terra onde se realiza é aquele que decorre em águas penicheiras. Andamos a falar deste assunto desde o primeiro ano em que o WT aterrou em PENICHE, sim em PENICHE, não tenham medo de dizer que o único evento WT em Portugal se realiza em PENICHE. Cerca de 60% dos eventos da ASP (WT+WQS) ostentam o nome da terra ou da onda no “naming” do evento, prova da sua importância, estranho então, a razão pela qual, destes quatro eventos realizados em Portugal, o único que não ostenta o nome da terra no seu “naming” é justamente o mais importante dos quatro, precisamente aquele que se realiza em PENICHE. Têm sido muitas as evidências que nos levam a pensar que não é por acaso que isso acontece, e consideramos esta questão do “naming”, relevante em termos de promoção, mas para além disso, é em nossa opinião, uma afronta e uma falta de respeito por parte das organizações envolvidas, ao bom nome de PENICHE e do surf penicheiro, e neste seguimento, não terá sido por acaso que relativamente ao evento de 2013, a ASP ostentou no seu “site” oficial como local de realização do evento, durante mais de nove meses, o nome de Cascais, tendo sido essa a informação que recebeu por parte da organização. O MOCHE RIP CURL PRO PORTUGAL deveria ser sempre MOCHE RIP CURL PRO PENICHE, e assim respeitavam e valorizavam devidamente o nome da terra que apresenta em Portugal a única onda/praia com condições para receber a elite do surf mundial. Escrito por: José Miguel Nunes E completaram-se três anos do Peniche Surf News, foi no passado dia 26 de Julho. Feito nas horas livres, sem compromissos de qualquer nível, a não ser com o surf e os surfistas de Peniche, existem alturas em que nos é difícil manter alguma regularidade na escrita, e desde já o nosso pedido de desculpas pelo facto. Ainda assim, temos tentado de alguma forma trazer novas abordagens ao fenómeno surf penicheiro, nomeadamente de caracter humorístico, que nesta fase em que vivemos, ao menos que nos possam ajudar a esboçar um sorriso.
O “Mádie da Praia” foi a primeira experiência, em parceria, pois, como alguém há uns tempos disse, não nos lembramos bem quem, mas também não deve ter sido ninguém importante, que não escrevemos lá muito bem, e em determinadas altura até mesmo mal, então desenhar, e agora somos nós que o afirmamos, um perfeito desastre, assim precisávamos de ajuda para os “bonecos”. Foram lançados treze “posts” em pouco menos de um ano. A aceitabilidade foi bastante boa, mas infelizmente não foi possível continuar, o que muito nos entristece, pois era um projecto que tenderia a crescer, inclusivamente noutros formatos, pode ser que um dia volte. Continuámos no entanto a pensar nesta linha humorística, a vida está difícil, é importante levantar a moral, e nada melhor para isso, que uma boa gargalhada, então lançámos as “Figuras do Surf Penicheiro”, a aceitação tem sido felizmente positiva, assim, é para continuar, e aqui a única parceria é connosco, não há riscos. Em termos de visitas, ultrapassámos dois dias depois do aniversário, as quatrocentas mil, ou seja, mais de cem mil por ano, número que achamos bastante interessante para um simples "blog" que fala apenas de surf Penicheiro. Obrigado e boas ondas… Escrito por: José Miguel Nunes Estamos no mês em que o Peniche Surf News cumpre o seu terceiro ano de vida, no próximo dia 26, e assim, são já quase quatrocentas mil visitas, mais precisamente trezentas e oitenta e oito mil oitocentas e cinquenta e cinco. No livro “Stoked – Uma História da Cultura do Surf” de Drew Kampion e Bruce Brown, no capítulo intitulado “A Cultura do Boom”, está escrito: “A Cultura do surf era um negócio importante e os capitalistas avançaram.” Estamos a falar das décadas de sessenta e setenta, e ainda não se previa esta nova entrada a que assistimos nos dias de hoje, a dos políticos, que viram na “subcultura mais emocionante e carismática do planeta”, frase retirada do mesmo livro, uma fonte enorme de mediatismo, tão importante para as suas actividades. O surf está na moda, e a promiscuidade existente entre a política e o capital, que todos nós estamos a pagar (todos menos eles, claro) desvirtua qualquer actividade no seu elemento mais puro, e o surf não é excepção, e está a levar esse caminho. Se para os capitalistas a única e exclusiva preocupação é fazer dinheiro, muito dinheiro, nem que para isso tenham de “secar a fonte”, com a massificação da actividade, sem qualquer preocupação sustentável, já os políticos, para além de autorizarem, incentivarem e inaugurarem determinados empreendimentos completamente megalómanos, alguns em zonas de fragilidade ambiental reconhecida, ainda usam o surf como moeda de troca para arranjinhos e favores entre eles, do género, levas para lá este campeonato, mas depois apoias-me quando eu precisar na reunião tal e tal. Para terminar, e com a devida vénia, do editorial de João Valente na última Surf Portugal: “Lembrem-se: foi o sistema que nos procurou a nós e não nós que fomos atrás do sistema. Ele é poderoso o suficiente para transformar qualquer rebelião em lucros, não precisamos de o ajudar.” Escrito por: José Miguel Nunes Tenho sido algumas vezes acusado de ser pouco tolerante relativamente às situações sobre as quais escrevo as minhas opiniões, que sou excessivamente duro nas críticas, que deveria ser mais flexível nas considerações, sei lá… já me disseram inclusive que não escrevo lá muito bem. São opiniões. Uma das pessoas que gostava de ler o que eu escrevia era o meu pai. Apesar dos assuntos não fazerem parte do seu rol de interesses, tinha sempre uma palavra sobre os textos. O meu pai pautou a sua vida pela retidão, frontalidade e honestidade, e não era por eu ser seu filho, que quando tinha que me criticar não o fazia, e de forma bastante eloquente para que não restassem dúvidas da sua opinião. Se ele dizia que gostava do que eu escrevia e do modo como o escrevia era porque gostava mesmo, não tenho duvidas, caso contrário dir-mo-ia de imediato. Era assim o meu pai, sempre frontal, fosse com quem fosse. Há uma frase que não esqueço, e que ele proferia muitas vezes quando acabava de ler os meus textos: Parece que foi escrito por mim. Esta frase chega para me encher de orgulho, pois tem o significado de ter vindo da boca do meu pai, mas para além disso, e apesar de não ser “doutor”, tinha apenas o quinto ano do liceu, era um autodidata, que durante mais de quarenta anos foi assíduo colaborador na imprensa escrita em vários jornais e revistas, com várias centenas de artigos publicados, citado em inúmeras obras, tendo editado ainda três monografias e mais alguns crepúsculos. Então, será porventura, uma opinião no mínimo com algum fundamento, pois não vem de alguém que nunca escreveu nada na vida, bem pelo contrário. A maior homenagem que lhe posso fazer é continuar a escrever da mesma maneira que sempre escrevi, de modo frontal, verdadeiro, e nunca subserviente, tal como ele, e se assim for, algo dele perdurará na minha escrita, o que muito me satisfaz. Pai, foram estas as palavras expressas por ti aquando da criação deste Peniche Surf News: “Esperamos que seja um espaço aberto, livre, necessariamente friccionante quanto baste para defesa de pontos de vista, responsável, mas nunca servil.” Espero não te desiludir, e onde quer que neste momento te encontres, quando leres o que escrevo, que possas continuar a dizer: Parece que foi escrito por mim. |
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Dezembro 2016
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