Escrito por: José Miguel Nunes Somos um País com uma história impressionante, grandes feitos, grandes conquistas, só possíveis num povo de excelentes trabalhadores, de pessoas inteligentes, aventureiras, com espirito de sacrifício. No entanto, como em tudo, não são só qualidades, e temos também os nossos defeitos. A típica esperteza latina, é um deles, atraiçoa-nos o raciocínio e faz-nos cair em asneiras recorrentes. A característica aventureira aliada a esta última, proporciona que embarquemos em projectos de grandeza exagerada, levando-nos a arranjar mil e uma artimanhas para arranjar dinheiro, que não temos, mas que depois, de uma forma ou de outra, vamos ter de pagar (esperteza, quem vier a seguir que feche a porta), para a realização dos mesmos. Temos uma necessidade quase doentia de querermos mostrar aos outros que também temos, e que até temos mais que eles (muito importante esta parte, à falta de melhor, alimentamos o ego), quando na realidade somos um País tão pequenino que um quarto daquilo “dava para os gastos” e ainda sobrava, mas não, é tudo à grande. Tomemos o exemplo dos Centros de Alto Rendimento para o Surf. Lembram-se, toda a gente queria um, eram sete ou oito, de norte a sul, num País que se atravessa em pouco mais de meia-dúzia de horas. Acabaram por se concretizar três projectos (ainda assim demais na minha opinião), com o ridículo de dois deles distarem um do outro apenas 60 Km, meia horinha de carro. Gastaram-se uns milhares de euros, que arranjámos em fundos daqui e dali, desnecessariamente, só pela mania das grandezas. Ao menos que estivessem a cumprir o propósito para o qual foram construídos, mas nem isso, estão fechados ou semi-fechados (a inércia do poder central relativamente a este assunto tem sido gritante), só dão é despesa. Na realidade, apenas um, bem localizado, serviria na perfeição as necessidades efectivas da modalidade ao nível do alto rendimento, essa é que é a realidade. Mas continuamos a cometer os mesmos erros, está-nos no sangue. Agora são as piscinas de ondas que estão na moda, e lá vamos nós outra vez, em grande, para variar. É em Peniche, é na Costa da Caparica, já se fala também em Viana do Castelo... uns já têm os projectos aprovados, outros mandaram fazer os estudos com vista a aprová-los, uns já falaram com os Australianos, outros com os Espanhóis… Mas que raio, num País com cerca de 92 mil Km2 e 900 Km de uma costa cheia de ondas, três piscinas destas não será um exagero, não será mais dinheiro deitado à rua, e que servirá apenas para alimentar a mania das grandezas e eventualmente alguns egos políticos nos dias das inaugurações. Lá diz o velho ditado, o passo deve ser dado à medida da perna… a nós, infelizmente, parece que nos ofereceram umas andas de madeira podre, que frequentemente se partem e que teimamos em remendar e voltar a usar… Deixem-se disso…
1 Comentário
Joao Maya
1/3/2014 09:35:06
Mais um excelente texto, Zé!
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