Escrito por: José Miguel Nunes Terminou mais uma etapa do circuito mundial de surf em Peniche, a sétima consecutiva, e esta ficará para sempre nos anais do surf português. Não é todos os dias que primeiro e segundo classificados do “ranking” mundial são eliminados por atletas nacionais e, não é todos os dias que dois atletas lusos atingem os quartos e as meias-finais de um evento do “World Tour”. Fez-se história neste evento. Fez-se mais uma vez história em Peniche. Houve ondas para todos os gostos, desde más e medíocres a boas e muito boas. É verdade que houve atletas a serem eliminados em condições muito complicadas, mas também é verdade que aconteceram dos “heats” mais competitivos do circuito, com “scores” altíssimos e até o mais elevado até ao momento de todo o circuito. Houve tubos nota dez, ou não estivéssemos em Supertubos, a que se juntaram ainda aéreos do outro mundo. Vimos aspirantes ao título despedirem-se dessa condição, vimos os líderes do circuito caírem prematuramente às mãos improváveis dos “wildcards” nacionais e vimos a disputa do título ganhar contornos dificilmente imagináveis há uns tempos a esta parte. Resumindo, foi uma prova justa, chegaram à final os dois surfistas que melhor surf apresentaram ao longo da competição, e quando assim é pouco há a dizer. Não foi uma etapa fácil de gerir por parte da organização, as previsões foram sempre muito inconstantes e haviam decisões que tinham de ser tomadas. Mas, é para tomar decisões difíceis que são escolhidos os melhores e com remunerações a condizer. Claro que é sempre mais fácil “à posteriori” vir dizer que as decisões não deveriam ter sido neste ou naquele sentido, isso já todos nós sabemos, os ‘prognósticos’ depois dos jogos são sempre mais fáceis. No entanto, há decisões e decisões, e se os atletas têm preferência, como já afirmaram várias vezes, por competir nos Supertubos, independentemente das condições não serem as ideais, é perfeitamente compreensível que a organização siga essa linha, agora, já não é de todo compreensível que os coloquem a competir no Molhe Leste nas condições em que o fizeram, em detrimento de um dos vários picos a norte com ondas muito melhores. Nem a desculpa esfarrapada de essas ondas a norte não rolarem mais de duas horas serve, pois no Molhe Leste, mais coisa, menos coisa, foi o tempo que a competição durou. Estas decisões não devem ser tomadas do outro lado do atlântico com telefonemas de última hora, pois colocam não só os atletas em situações complicadas, como colocam o prestígio de uma zona com excelentes ondas em causa. Como alguém com responsabilidades neste evento se fartou de repetir nas entrevistas que deu à comunicação social, o objetivo é sempre colocar os melhores surfistas a competir nas melhores ondas, ora, o que aconteceu na passada terça-feira, dia 27 de Outubro, não foi isso, principalmente depois de uma paragem da competição nos Supertubos no fim-de-semana em que durante toda a tarde as ondas estiveram com boa qualidade e onde os melhores do mundo mostraram numa sessão de “freesurf” tudo aquilo que fazem como ninguém. Convinha provavelmente passar da teoria à prática, é que já não é a primeira vez que acontece em Peniche. É incompreensível que a organização e os decisores não se aconselhem junto de quem sabe, como por exemplo o clube local, para os auxiliarem na tomada das suas decisões. Há muito “knowhow” e experiência acumulada de vários anos que tem sido utilizada por dois ou três atletas deste grupo dos melhores do mundo e que também poderia ser utilizada pela organização para variadas situações. A título de exemplo, o palanque todos os anos está montado cerca de cinquenta metros antes do local onde deveria estar, entre outros “pormenores” (não sou eu que o digo, mas pessoas com responsabilidades técnicas no evento e que nem sequer são portugueses). Falemos agora de outro assunto que levantou alguma celeuma antes do evento, e que há aqui pelo burgo quem não goste que se fale dele. Refiro-me à atribuição dos “wildcards”. Se até aqui a organização barrava a entrada de um surfista local como “wildcard” nesta prova assente na justificação que não existia ninguém com qualidade suficiente para tal, apesar das escolhas feitas na altura não refletiam essa justificação (recordo o ano de 2009), hoje em dia até essa justificação já não é de todo plausível. Existem exemplos de eventos por todo o mundo onde os atletas locais tem essa possibilidade, seja através de eventos “trial”, o que até isso esta organização nos tirou, seja de atribuição direta. Para não irmos muito longe dou-vos o exemplo do SATA Azores Pro, um QS 10,000, isto é, evento imediatamente abaixo em termos de importância a este, em que um jovem local, e muito bem, teve esse privilégio, então a pergunta é: Porque não em Peniche? O Peniche Surfing Clube conta nas suas fileiras com um surfista com um percurso impressionante na sua jovem carreira, falo de Guilherme Fonseca. Este atleta é o atual bi-campeão nacional de surf esperanças na categoria de Sub-18 (para além de o ter sido em todas as outras categorias), é o atual vice-campeão nacional projunior e o segundo melhor português no “ranking” europeu projunior de 2015, a que junta ainda o facto de ser um atleta com constante presença na seleção nacional. Esta discriminação relativamente aos surfistas de Peniche é por demais evidente, e não falando da feira de vaidades em que se transformou a estrutura de praia, com fartura de surfistas das zonas mais a sul e de pessoas que nada têm a ver com este desporto, que só lá estão para o “show-off”, onde os de Peniche nem entram, este é apenas o mais recente exemplo. Independentemente de reconhecer o enorme esforço que é feito para tornar possível a realização deste evento no nosso concelho, é revoltante a falta de coragem na defesa enérgica por parte da classe politica local, que nos deveria defender, e estando diretamente envolvida nesta organização, não o faça relativamente ao facto de os surfistas de Peniche terem legitimidade e aspirações a serem tratados de maneira diferente do que presentemente acontece, e isto é algo que considero inaceitável para não lhe chamar vergonhoso. O modo como reagiram aos desabafos pré-evento sobre esta questão é por si só demostrativo da preocupante dependência que têm relativamente aos senhores que dominam o surf em Portugal, anuindo nestes jogos de interesses que desde sempre têm prejudicado e continuam a prejudicar o surf e os surfistas de Peniche. Tirando isto, gostei bastante de ver os melhores do mundo a mostrarem como se faz surf. Que venha o próximo que este já passou…
1 Comentário
Alfredo
6/11/2015 16:06:25
E a malta do surf de Peniche, o que diz daquela pecuária que está a funcionar ilegalmente há uma meia dúzia de meses junto à Rotunda de Porto de Lobos?
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