marketing, campanhas publicitárias, bem como imagem de marca do Turismo de Portugal. A associação destes factos conduziu ao acréscimo da procura da atividade de surf, consequentemente para dar resposta a este fenómeno surgiram como “cogumelos”, de norte a sul, as designadas escolas de surf, que não são mais do que empresas prestadoras de serviços desportivos, que observaram que o surf poderia ser uma forma de aumentar a sua faturação anual.
Podemos afirmar que o crescimento do número de praticantes, mesmo que alguns deles ocasionais, contribuíram para um desenvolvimento económico dos negócios de surf. A venda de aulas de surf aumentou, a oferta cresceu com o aparecimento de novas escolas, muitas delas nas mesmas praias. Este desenvolvimento poderá assentar no facto de ser muitíssimo fácil iniciar este tipo de negócio, através da criação da “Empresa na Hora”, aliado á escassa, confusa e obsoleta legislação, que é de acessível contorno e de fiscalização bastante reduzida. Sou da opinião que as empresas que vendem serviços desportivos, vulgo, escolas de surf, não deveriam estar sob a alçada da federação que tutela a modalidade. Porque as federações desportivas devem apenas reger o desporto de âmbito federado, sendo que este assenta no associativismo (clubes). Não me parece normal, mas também não conheço o pressuposto que a FPS (Federação Portuguesa de Surf) utiliza para aceitar no seu seio as escolas de surf. Se as escolas de surf pertencem ao mundo empresarial, porque a maioria delas são Operadores Marítimo-Turístico e algumas Empresas de Animação Turística, licenciadas pelo Turismo de Portugal, e inscritas no RNAAT, (Registo Nacional Agentes Animação Turística), não vejo razão para que a FPS, intervenha na atuação destas. Não faz sentido a FPS regular algo que não lhe pertence, temos de ver que apenas os clubes podem estar inseridos no contexto do associativismo. Numa entrevista o Presidente da FPS, falou de clubes e escolas de surf, algumas das suas afirmações não fazem sentido, senão vejamos, afirma que a linha entre ambos é muito curta, mas será que esta avaliação é correta? Um clube pertence ao mundo do associativismo, tal com a FPS, uma escola de surf pertence ao mundo empresarial, logo podemos afirmar que estão em campos opostos, porque os seus objetivos são bem diferentes, os primeiros pretendem fomentar o desporto, criando bases para o aparecimento de futuros atletas da modalidade, os segundos tem como primeiro objetivo o lucro e a faturação, aspetos que são fundamentais para manter o negócio, só em segundo plano é que aprece a preocupação de algumas escolas em formar atletas. Afirma também que a formação é a espinha dorsal de uma federação, isto é uma verdade absoluta, esta formação deverá ser realizada pelos clubes, mas sempre com o apoio e incentivo da respetiva federação. A FPS tem o dever de delinear estratégias que vão ao encontro das suas necessidades e trilhar um caminho que permita no futuro um aumento do número de praticantes federados. Todos sabemos que quanto maior for a base de recrutamento, maior será a possibilidade de captar jovens talentos, que através da formação e treino podem no futuro evoluir e representar o nosso pais em competições internacionais. Será desta forma urgente criar um Programa de Desenvolvimento Desportivo, que devolva a modalidade aos clubes, dando-lhes mais condições e apoios para desenvolver a formação de base no surf. Os apoios poderiam passar por acompanhamento técnico, ajuda em material técnico e logístico ou até apoio financeiro. Algumas medidas interessantes poderiam ser a isenção de taxas de inscrição nos campeonatos ou circuitos para escalões de formação até aos Sub-16, também apoio nas deslocações, prémio monetário para os clubes com maior número de atletas jovens federados e ou com participação nos campeonatos ou circuitos. Provavelmente a implementação destas medidas iria a longo prazo dar frutos e fazer crescer o surf em Portugal. A FPS ao permitir que as escolas de surf substituam os clubes em matéria de formação está a “matar” os clubes e o associativismo. Reconhece que as escolas de surf são um negócio, têm portanto objetivos com fins lucrativos, os quais são antagónicos aos do associativismo e da própria federação. Reconhece que existe concorrência entre escolas e clubes, será esta uma concorrência leal? Fala ainda em alunos federados, estes pertencentes a escolas de surf e atletas federados de clubes, isto não faz sentido, uma federação não deve ter alunos federados, mas apenas atletas federados. A base da pirâmide da FPS, deveriam ser os clubes, mas o cenário atual vai em sentido oposto. De acordo com os dados obtidos no “website” da federação, relativos ao ano de 2014, observa-se que existem inscritas 189 (cento e oitenta e nove) escolas de surf, com três estatutos diferentes, (privadas, associadas a clube e não estipulado), estas representam 216 (duzentos e dezasseis) federados, salienta-se o facto de 66 (sessenta e seis) dessas escolas não ter qualquer federado e qua na sua maioria, cada uma tem apenas 1 (um) federado. De acordo com estes dados o panorama não é assim tão animador, porque as escolas de surf não representam um grande número de federados. Questiono, qual o interesse da FPS nestas escolas, se elas não acrescentam em número de federados, este acolhimento só pode fazer sentido num acréscimo de receita, porque cada escola paga anualmente 150,00 € (cento e cinquenta) euros de taxa, será esta receita importante para o orçamento da federação e que a mesma é colocada ao dispor da formação desportiva de base. Os 79 (setenta e nove) clubes inscritos na federação representam 1.323 (mil trezentos e vinte e três) federados, os números provam que o movimento associativo é de estrema importância para a vitalidade da federação, os clubes e os seu atletas são a razão da existência de qualquer federação desportiva. Razão suficiente para que a federação encare esta realidade como prioritária e procure soluções que visem beneficiar os clubes e o associativismo. Tem também o dever de renunciar o acolhimento de algumas escolas de surf, principalmente as privadas, que cumulativamente são operadores marítimo-turísticos, que em nada contribuem para os objetivos da federação, com exceção da parte económica, através do pagamento das taxas anuais. O líder da FPS, na mesma entrevista, fala da regulação das escolas de surf, de assimetrias de escolas em relação à área de praias disponível para a prática, das escolas itinerantes. Aborda também a lei dos operadores marítimo-turísticos, que lhes permite operar sem a credenciação da FPS. Afirma que a figura jurídica dos operadores marítimo-turísticos não mencionar “aulas de surf”, resulta numa facilidade em poderem fazê-lo em virtude da fiscalização ser muito reduzida ou inexistente. Sugere regulação e regulamentação, a fim de este desporto sair mais credibilizado, bem como acabar com a grande confusão que existe neste mercado. Estas apreciações são importantes e devem ser consideradas para a resolução de uma situação que se vai arrastando, mesmo com o surgimento de legislação nova o problema persiste. Admito que encontrar uma solução para o assunto não seja tarefa fácil, mas devem as instituições com responsabilidade no surf dialogar a fim de encontrar um resultado que satisfaça ambas as partes. As instituições têm de ter a capacidade para ver a realidade de forma imparcial e cada uma deve contribuir construtivamente, mostrando os argumentos e visão que possam contribuir para uma solução de igualdade para todos. (continua…)
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