Localismo, voltamos ao tema. O tal que causa embaraço a muita gente, principalmente àqueles que tem necessidade de ser politicamente correctos, por este ou aquele motivo. Não é o meu caso. Já aqui há uns meses tive oportunidade de falar sobre localismo, hoje volto ao assunto, pois começam a passar-se em Peniche situações que pela sua gravidade terão de ter uma solução. Estes três episódios que irei relatar, passaram-se por cá em pouco mais de um mês, sendo que os dois últimos foram na mesma semana, e são, por si só, demonstrativos do ambiente que se vive nas praias de Peniche. No primeiro estive envolvido, nos outros dois não irei revelar as identidades dos protagonistas, eles o farão, se assim o entenderem. 1º Estávamos em finais de Agosto, princípios de Setembro nos Supertubos, num daqueles poucos dias em que as ondas, apesar de pequenas, nos brindaram por aquelas bandas, numa surfada descontraída de verão. A determinada altura um amigo meu, local dos sete costados, leva um dropino até terra, e ao tirar satisfações do sucedido com o infractor, este empina-se e grita de tal maneira que me fez remar até eles para ver o que se passava… a coisa acalmou. Já cá fora, junto dos chuveiros onde estávamos a tirar os fatos, a conversa começa outra vez entre o meu amigo e o tal forasteiro que entretanto chegara. No meio da conversa, que até estava a ser calma, este vira-se e diz que já faz surf há seis anos e que não tem medo de ninguém. Eu que ainda não tinha intervindo, e já estava com a minha filha ali ao pé, virei-me para ele e disse-lhe que se ele faz surf há seis, eu faço quase há trinta, e que a sorte dele era ter sido com um gajo calmo, pois se fosse com outro, talvez a coisa fosse mais complicada. E virei costas para me ir embora. O personagem vem atrás de mim pela esplanada do bar e começa a gritar comigo e a desafiar-me para resolver o assunto já ali. Ainda parei, mas com a minha filha ao colo, achei que não seria o melhor exemplo que lhe dava, ignorei e segui caminho. Soube mais tarde que este forasteiro manteve esta mesma atitude com outros locais no Baleal e no Molhe Leste. 2º É de conhecimento local que o Pico do Cerro não é uma onda de excelência nem nada que se pareça, mas permite fazer desporto, mexer o corpo, treinar nem que seja rodinhas e cut-backs e por vezes até consegue proporcionar momentos divertidos, lá isso é verdade. Pela primeira vez em 15 anos que faço bodyboard tive medo de estar a surfar, correndo o risco de não sair dali com a minha cara inteira...no pico de onde consigo avistar a minha casa, e onde pela primeira vez senti o que era fazer bodyboard… Se calhar muitos de vós irão pensar: “olha este meteu-se a armar em esperto, se calhar merecia!”, até nem foi o caso, e quem me conhece sabe que não sou violento, nem stressado, até sou calmo. Quando entrei nem estava quase ninguém, depois foi chegando o crowd, e com aquelas ondas nem vale a pena stressar muito. Eis então que sou dropinado, sim fui dropinado e não o contrário. Não puxei o bottom porque senão de certeza que me iria magoar contra o surfista e tranquilo disse-lhe: “pah já dropinas aqui? Aqui não dropinas quase que me magoavas, têm mas é calminha” – responde em brasileiro: ”o que é que você quer, me deixa surfar!!” – Voltei a dizer quem ele pensava que era, que ali não dropinava ninguém. E foi aí que as coisas se complicaram, veio direito a mim e disse nestas palavras: “Brasileiro não briga não, brasileiro parte logo para cima, você quer ir lá para fora?? Você não me conhece cara eu sou maluco!! Vê lá se queres que te estrague essa tua carinha!!” Perante toda aquela agressividade e de ainda me avisar que nos víamos por aí, estando eu sozinho, infelizmente fui obrigado a baixar a bolinha na minha própria terra, no pico onde aprendi a fazer bodyboard. 3º Hoje nos Super, um “pintarolas” do surf, a falar castelhano, meteu-se numa onda de set, supostamente minha, e ainda ficou muito chateado por lhe ter agarrado na remada. De tal maneira, que teve o desplante de me desafiar para ir para a areia resolver o assunto. O ... [outro local] veio ao pé de nós, para perceber porque não fui na onda e também foi convidado para ir lá para fora. Isto é grave, muito grave, e não há muito a falar sobre o assunto, apenas que senhores como estes, são capazes de precisar de uma ajudinha para rever a sua atitude, pois desta maneira não são bem-vindos a Peniche. No entanto, não é por acaso que isto acontece cada vez com maior frequência por cá, e a desunião existente entre os surfistas de Peniche, tanto no “line-up”, como em torno do clube de surf local, é uma das razões que potenciam este tipo de situações. Quem chega, não vê a força/união que deveria ver por parte dos surfistas locais. Por outro lado, e não menos importante que o ponto em cima, os constantes atropelos à dignidade que o surf penicheiro é alvo, uns mais dissimulados do que outros, por parte da imprensa e de alguns lobbies surfísticos, sem que ninguém com responsabilidades institucionais tenha coragem ou vontade de se insurgir, acaba também por potenciar este tipo de situações. Peniche já foi conhecida no mundo do surf nacional pelo respeito que os seus locais impunham a quem cá vinha, mas isso devia-se principalmente há união existente e ao respeito, que nós locais, tínhamos uns pelos outros, e quem chegava percebia nitidamente isso quando entrava na água. Quem faz surf, e não quem anda há meia dúzia de dias metido nestas andanças, sabe perfeitamente que existem regras intrínsecas ao próprio desporto que devem ser respeitadas, e uma delas é o respeito pelos locais. Nos “line-up’s” da Capital da Onda, começa a ser banal essa falta de respeito, e isto é algo que não pode acontecer. Está na altura, de nós locais, mudarmos de atitude, e a palavra de ordem terá de ser… UNIÃO. O rastilho está acesso, esperemos que não rebente a bomba.
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Novembro 2016
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