Escrito por: José Miguel Nunes Deu que falar nos últimos dias na imprensa especializada e até na desportiva mais generalista, a convocatória do seleccionador nacional para o mundial júnior que irá decorrer no próximo mês de Abril no Equador. Antes de mais, dizer que não conheço na verdadeira acepção da palavra o seleccionador nacional, falei com ele duas ou três vezes, se tanto, em conversas informais de praia. Dizer também, que o acho um profissional competente, com resultados que o comprovam, e me parece um dos treinadores de topo do surf nacional. Relativamente às críticas de que foi alvo por parte de alguns surfistas da praça, nomeadamente um texto que circulou nas redes sociais, temos, em minha opinião, de analisa-las noutra perspectiva. A alegada incompatibilidade entre as funções de seleccionador e de treinador numa empresa privada em simultâneo. Até considero esta apreciação pertinente, legítima de ser levantada e discutida, sem dúvida, mas, se tivesse sido feita na altura em que o seu nome foi anunciado por parte da Federação Portuguesa de Surf para o cargo, e isso não me parece que tenha acontecido, pelo menos nestes termos. Agora já não. Isto ter acontecido apenas depois de determinado atleta não ter sido convocado, leva a que se possam ter outro tipo de leituras relativamente às verdadeiras intenções das críticas feitas. Pondo de parte as questões meramente técnicas, e essas foram devidamente explicadas antes da convocatória, três momentos de avaliação dos atletas, dois estágios (refira-se, acompanhados por juízes da FPS) e ainda a primeira etapa do nacional de surf esperanças na Costa da Caparica, há algo que considero bastante importante no seio de uma equipa, que é o espírito de camaradagem existente entre os seus membros, e que pode sair bastante abalado quando se começam a tratar miúdos destas idades como profissionais maduros e adultos, que ainda não são. Não é de todo aceitável que se utilize um ainda muito jovem atleta, com as consequências ao nível psicológico que isso poderá ter para o seu desenvolvimento enquanto atleta, mas também, e bem mais importante, enquanto Homem, para defender posições estratégico-empresariais, às quais ele deve ser completamente alheio, e porquê? Porque é apenas um miúdo, e a guerra dos negócios do surf ainda não o deviam afectar. É triste quando estes miúdos são tratados como projectos de uma indústria que se prepara para os engolir de forma a retirar o mais depressa possível retorno económico, esquecendo por completo a vertente humana e desportiva, essencial ao seu crescimento enquanto pessoas. O que este miúdo deveria ouvir, seriam palavras de incentivo no sentido de melhorar o seu surf e dizer-lhe que desta vez não foi convocado porque houve outros miúdos que estiveram melhor do que ele, mas que ele como bom surfista que é, terá novas oportunidades e que para a próxima terá todas as hipóteses de lá estar, e nunca, repito, nunca, passar-lhe a ideia de que não foi, porque os outros miúdos, apesar de surfarem menos do que ele, estão lá porque são beneficiados por esta ou por aquela razão. Isto é completamente errado. Esta questão não afecta apenas este miúdo em particular, pois os outros, também eles miúdos, aqueles que foram convocados, sentir-se-ão também de alguma forma afectados, afinal o outro, é que merecia lá estar e não eles. Errado. Dêem-lhes tempo de serem miúdos, chegará a altura de serem adultos e profissionais, e se agora forem apenas miúdos, com toda a certeza serão melhores adultos no futuro. A este miúdo em particular, e a todos os outros da mesma idade, façam surf, muito surf, e acima de tudo, divirtam-se a fazer surf.
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Novembro 2016
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