Escrito por: José Miguel Nunes Estamos a pouco mais de uma semana de se iniciar a etapa do World Tour em Peniche, a sétima consecutiva cá na terrinha, e por isso mesmo chegou a hora de falarmos um pouco sobre isso. Antes de mais esclarecer alguns pontos importantes: (1) Se sou a favor da realização deste evento? SIM; (2) Se concordo com o modelo implementado para o evento? NÃO; (3) Se acho que este evento tem impactos ambientais? SIM; (4) Se acho que os impactos ambientais podem ser minimizados? SIM; (5) Se acho este evento importante para a economia da região? SIM; (6) Se acho que este evento tráz um retorno de 8 milhões para a economia local? NÃO; (7) Se acho este evento importante em termos turísticos para a região? SIM; (8) Se acho que os seus promotores têm uma preocupação de integração da comunidade local no evento? NÃO (9) Se gostaria de ver este evento por cá mais alguns anos? SIM Posto isto, e do que me foi dado a observar até ao momento, acho que existe realmente uma preocupação efetiva em termos ambientais na montagem da estrutura, na linha aliás do que já aconteceu no ano passado, e isso é de louvar. Não quer isto dizer que tudo tenha corrido na perfeição ou que não haja margem para melhorias, porque há, há sempre maneira de melhorar. Assim, e sobre a estrutura propriamente dita, continuo a achar que a que se encontra na praia (em frente ao pico) continua demasiado pesada, sendo exageradamente grande (aumentou inclusivamente em termos de metros quadrados relativamente à do ano transato), não havendo do meu ponto de vista qualquer justificação para isso. Na minha opinião a estrutura de praia deveria ser o mais pequena possível, apenas com o essencial para que os atletas e o “staff” pudessem estar e trabalhar confortavelmente, tudo o resto é dispensável, podendo e devendo ser transferido para a estrutura junto do estacionamento, esta, que ao invés da outra, tem vindo a diminuir de dimensão. Julgo ainda que a base da estrutura de praia poderia estar mais uns centímetros sobrelevada, o que ajudaria a diminuir a pressão e o impacto daí resultantes na duna. Quanto à comunidade local, esta continua a ser muito mal tratada pelos promotores deste evento. Os entraves à integração de locais (e não falo apenas da comunidade surfista) na estrutura de recursos humanos do evento são constantes. Ano após ano, estes provém lá dos lados da capital, com o “lobby” que manda no surf em Portugal até nisto a impor as suas pressões. É pena, pois seria uma excelente oportunidade de alavancar a mais-valia de um evento como este junto da comunidade, ter pessoas da terra a trabalhar, contribuindo para o seu crescimento qualitativo, com orgulho de o terem feito, sentindo-se integradas nas coisas importantes que acontecem na sua terra. É pena que daqui a vinte anos, muitos dos agora jovens não possam dizer, eu trabalhei naquele evento, eu ajudei… Não havendo regra sem exceção, ainda assim alguns, poucos, muito poucos, conseguem furar esta barreira, e quando isto acontece o tratamento que recebem é arrogante e indiferente quanto baste para se sentirem deslocados na sua própria terra. Já os de cem quilómetros de distância estão como peixinho na água. É estranho… Venham de lá essas ondas e que seja mais um ano de excelente espetáculo, é isso que desejamos.
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Escrito por: Patrícia Reis O turismo é um fenómeno multidimensional, que produz e consome espaços e, por consequência territórios. Isto significa que, o turismo apropria-se dos territórios e turistifica-os, ou seja, (re) inventa lugares para consumo turístico. O turismo é, por isso, um fenómeno que se concretiza no uso do território, que se torna um elemento decisivo na atratividade turística. No território, a natureza motiva os indivíduos à viagem (porque garante uma evasão ao quotidiano), daí que os elementos naturais de um país/região sejam mencionados como criadores de lugares turísticos dando, deste modo, origem a novas identidades locais. O espaço litoral é um exemplo de território que originou novas identidades. O despertar e a construção do desejo coletivo de praia e beira-mar como espaço lúdico e território de lazer, é uma criação de meados do século XX, que conduziu ao surgimento de várias estâncias balneares em Portugal. Este fenómeno significou uma mutação na perceção da orla costeira que, de território abandonado e selvagem, transformou-se, pela descoberta de uma nova função a ele associada, num sítio socialmente aprazível e recomendável como espaço de fruição e convívio. Instituíram-se novos comportamentos sociais, novos locais e formas de ocupação do tempo livre, que dá origem ao turismo sol/praia. Nesta apropriação dos litorais é possível identificar várias tipologias de destinos costeiros, nomeadamente destinos onde o turismo se desenvolveu na presença de estruturas preexistentes, de que são exemplo as comunidades piscatórias de Peniche, Ericeira e Nazaré. Regiões litorais que, originalmente ocupadas pelos pescadores e comunidades tradicionais, se transformam em aglomerados onde a atividade turística passa a dominante. Mas, longe vão os tempos de longas estadas na praia ao sol, e, cada vez mais, o indivíduo procura usufruir de outras atividades/experiências, que não apenas o sol e os banhos de mar, procurando participar de maneira ativa no destino. Para tal, envolve-se em atividades que lhe proporcionem sensações e emoções fortes e inesquecíveis, com um elevado grau de incerteza e aventura (onde prove limites pessoais) e que lhe proporcionem respirar ar puro e reencontrar-se consigo mesmo, nomeadamente atividades desportivas. Além disso, o mercado de férias perde a sua vinculação a uma só motivação – tradicionais férias de praia – para uma combinação de práticas turísticas em zonas costeiras, associadas a múltiplos interesses. Esta evolução da oferta turística dá lugar à valorização de produtos turísticos segmentados e especializados para nichos de procura e à emergência de uma consciência ambiental, que se traduz na recuperação do natural, como território de experiência turística. Surgem novas modalidades de turismo, novos turistas e novos percursos, que enfatizam a natureza dos lugares visitados e o consumo de bens naturais e culturais diferenciados. Os tradicionais destinos de sol/praia perdem capacidade atrativa e assiste-se a um abrandamento da procura deste produto turístico, na sua forma tradicional. Perante este intensivo cocktail de motivações, onde a procura é cada vez mais experiente e exigente, cabe ao território adaptar-se e responder de modo diferenciador e inovador, apostando em produtos turísticos alternativos ao sol/praia, baseados nas potencialidades existentes no território. Esse processo de aproveitamento de recursos passa pela construção ou reformulação das identidades locais, bem como pela valorização do património natural e cultural, através de projetos de desenvolvimento que resultem num novo tipo de territorialidade. No fundo, trata-se de refazer, renovar ou redescobrir o território, para que ganhe novas dimensões e novas missões; trata-se de conferir novas imagens a velhos lugares. Neste contexto, Peniche é um bom exemplo de renovação de território. Em Peniche, o mar tem influenciado a história e vivências das suas gentes ao longo dos séculos e sempre atuou de forma relevante no desenvolvimento local. Foi através do mar que chegaram os primeiros habitantes e foi esse mesmo mar que forneceu os recursos necessários ao desenvolvimento da atividade piscatória (pesca, construção naval e indústria conserveira). Nos anos 70 e 80, com a valorização do litoral e com a melhoria das acessibilidades e transportes, foi sendo absorvido pelo crescimento urbano transformando-se, progressivamente, num território turístico, afirmando-se como um destino de sol/praia e por certas particularidades de uma autenticidade distintiva: cultura, tradições, gastronomia e modos de vida. Assiste-se, em Peniche, a um processo de turistificação (transformação material e simbólica dos espaços tradicionais em espaços de consumo turístico), que se traduziu em uma nova lógica de utilização do território costeiro e que se repercutiu na alteração dos modos de vida e hábitos da comunidade local. Nos últimos anos, as praias (que ocupam desde sempre um lugar de destaque do ponto de vista turístico), têm vindo progressivamente a adquirir novos hábitos de consumo, como resposta às novas necessidades e motivações da procura turística, e tornam-se no espaço ideal para a prática de atividades de lazer ativo e aventura. Os desportos de ondas, como o surf, encontram neste território (peculiar geograficamente) um imenso espaço para se desenvolverem e promoverem (de verão e inverno), fazendo de Peniche um excelente destino de surf. Este potencial do concelho para a prática do surf (e desportos associados) e o pioneirismo assumido por uma geração de surfistas mais qualificados e empreendedores, que souberam potenciar recursos e desenvolver iniciativas, tem conduzido à refuncionalização do espaço costeiro de Peniche, ou seja, ao desenvolvimento de outras funções do território turístico, para além da vertente do lazer passivo. Em Peniche é visível a aposta no potencial turístico relacionado com o mar, assente na capacidade única da sua costa e dos elementos distintivos do concelho. O lugar inventado para e pelo turismo transforma-se em um outro, desejado e esperado pelos turistas. Na medida, em que o território é percorrido e (re) descoberto pelos turistas de surf, que desfrutam e interagem com as belezas naturais do concelho, envolvendo-se ativamente em experiências sensoriais, relacionadas com a natureza e com a cultura local, num ambiente saudável e descontraído, bem ao estilo do espírito surfista. O turismo de surf parece, assim, ser uma oportunidade para revitalizar e consolidar a imagem de Peniche na dimensão desportiva, económica, social e cultural, através da criação de uma nova identidade local, que se repercute no rejuvenescimento do lugar. Assim, de território piscatório e de veraneio, Peniche é, também, hoje um território de surf, desenvolvendo a sua cultura de mar numa perspetiva renovada e moderna, aliando modernidade e tradição. O turismo de surf transforma a forma como o mar é percebido, culturalmente visto e economicamente valorizado. Saliente-se, aqui, a importância do mar como arquétipo estruturante da vida e cultura penichense. Isto significa que, toda a relação entre o desenvolvimento do turismo e do turismo de surf e a constituição de Peniche enquanto território remete sempre, direta ou indiretamente, ao mar. O mar continua a representar um importante papel no desenvolvimento local e no modo de vida da comunidade local, agora já não tanto pelos produtos daí advindos (peixe), mas, sobretudo, pelo desejo que suas praias/ondas/cultura local despertam nos visitantes. Por outras palavras, o mar é o principal responsável pela transformação de Peniche em um território turístico e de surf, o que mostra a capacidade de como o território é recurso/produto principal. Num mundo globalizado, a personalidade de um lugar encerra diferentes identidades que são, cada vez mais, trabalhadas para consumo dos turistas. Desta forma, o uso do território pelo turismo deve ser sempre feito de forma harmoniosa, preservando a identidade e singularidade do local, na medida em que a diferencia dos outros lugares. A competitividade de um território está, assim, associada à sua dinâmica em termos de inovação e depende de caraterísticas e fatores específicos de cada território. Logo, o reforço da identidade e das especificidades locais de Peniche são, pois, condição para a sua valorização enquanto território de surf. Em Peniche, tende a observar-se a articulação das georreferências com novas práticas turísticas, com novas formas de lazer, com novos modos de usar o território. Porque o território, qualquer que seja a sua dimensão, é na sua essência uma produção humana, é nele que se constroem as relações sociais, é nele que se (re) cria a identidade e a singularidade cultural, neste caso concreto identidade que é consubstanciada no mar. Afinal, Peniche é sinónimo de mar! *Este excerto é um resumo de um artigo apresentado e publicado, por ocasião do 1º Encontro Científico da I2ES, Maio de 2015. Escrito por: José Miguel Nunes Como AQUI mencionámos no dia 1 de Dezembro, aquando do lançamento do calendário de provas para 2015 da ASP, vinha referido, e muito bem, como local de prova do MOCHE RIP CURL PRO PORTUGAL, PENICHE, e apenas PENICHE, que como todos sabemos é onde sempre se realizou a prova. Hoje, alertado por um leitor, verifiquei que tinha sido alterado o local para PENICHE/Cascais. Foram vinte e dois, os dias, em que PENICHE não foi prejudicado na sua marca, foram vinte e dois, os dias, em que a ASP (ou a ZoeSea) resistiu ao jogo sujo das influências, foram vinte e dois, os dias, até que a hipocrisia e a falta de vergonha levassem novamente a melhor.
Não sejam hipócritas, tenham vergonha e não prejudiquem PENICHE nem ofendam a inteligência dos PENICHEIROS com estes jogos sujos de influências, para retirar partido do que não é vosso, do que não têm, a onda dos SUPERTUBOS, que é onde os principais intervenientes, os surfistas, já por mais de uma vez disseram, querem competir, e é a razão de se deslocarem a Portugal. têm objetivos diferentes e podem ser enquadradas de formas distintas, as duas primeiras podem ser consideradas desporto a última apenas turismo ativo. Se esta visão como considerado como correta, podemos dizer que o surf de âmbito federado e o surf como prestação de serviço desportivo, podem estar sob a alçada da tutela do desporto, nomeadamente do Instituto Português do Desporto e da Juventude, sendo que o surf ligado ao turismo, geralmente fomentado pelas Empresas de Animação Turística e Operadores Marítimo Turísticos, que prestam serviços de Turismo Ativo, está sob a tutela do Turismo de Portugal.
Deste modo o surf de âmbito federado, seria da responsabilidade da respetiva federação, na qual está inserido o movimento associativo (clubes). Pode ser equacionado a reativação dos Centros de Treino dos clubes, mas com regulamentação específica e concreta. Os objetivos do associativismo passam pela formação de jovens atletas que através do processo de treino vão melhorando as suas capacidades técnicas e físicas, contribuindo para o aumento do número de atletas e melhoria do seu nível de surf. Este trabalho realizado pelos clubes vai permitir que a federação possa recrutar os melhores para representar as respetivas seleções em provas internacionais. A dinamização da modalidade realizada pelos clubes teria obrigatoriamente de ser enquadrada por treinadores devidamente credenciados. O surf de âmbito das Entidades Prestadoras de Serviços Desportivos, sendo que estas têm uma visão empresarial e com fins lucrativos, e podem prestar serviços desportivos, organizar eventos, explorar instalações desportivas. Deveria ser obrigatório a estas entidades ter técnicos reconhecidos, credenciados e certificados pelo IPDJ. O surf ligado ao turismo, fomentado pelas Empresas de Animação Turística e Operadores Marítimo Turísticos, está regulamentado pelo Turismo de Portugal, através do decreto-lei 108/2009, alterado pelo decreto-lei 95/2013. Este diploma considera que “são atividades de animação turística as atividades lúdicas de natureza recreativa, desportiva ou cultural, que se configurem como atividades de turismo de ar livre ou de turismo cultural e que tenham interesse turístico para a região”. Considera ainda que «Atividades de turismo de ar livre», também denominadas por «atividades outdoor», de «turismo ativo» ou de «turismo de aventura», as atividades que, cumulativamente:
Estes decretos do Turismo de Portugal deveriam também fazer referência à qualificação e formação necessária para habilitar os técnicos desenvolver as atividades mencionadas nos diplomas. Seria aconselhável que os organismos que tutelam estas três formas diferentes de intervenção no processo do surf nacional, não descurassem o tipo de formação profissional necessário para prestar um bom serviço ao desenvolvimento do surf em Portugal. Porque as necessidades não me parecem iguais, um treinador de surf tem necessidades diferentes de um técnico de uma empresa prestadora de serviços desportivos, e também distintos de um técnico de uma empresa de animação turística. Um treinador de surf desenvolve o seu trabalho na área do surf federado, que visa um processo competitivo a curto ou longo prazo, treina os seus atletas dos mais diversos escalões com o objetivo de os preparar nas vertentes, técnica, tática, física, psicológica, leitura das condições do mar e segurança, sempre focado em munir o seu atletas de instrumentos que lhe possibilitem realizar boas prestações desportivas na competição. De outra forma um técnico que desenvolva o seu trabalho numa empresa que presta serviços desportivos terá um foco diferente, daquele que é usado por um treinador, em relação aos seus clientes ou alunos. Neste processo interessa-lhe desenvolver processos simples de ensino da técnica do surf, não descurando contudo o especto físico, incluindo também a segurança no mar. Tem a responsabilidade de planear as etapas de aprendizagem, partindo de processos fáceis e aumentando gradualmente o grau de dificuldade, sempre ajustados às capacidades de evolução de cada aluno. Este tipo de ensino tem como objetivo a evolução do aluno através de um acompanhamento técnico, proporcionando-lhe experiencias diversas para que ele se torne autónomo na prática da modalidade. Na verte de uma Empresa de Animação Turística, o profissional responsável pela prestação do serviço de surf, sendo que este deverá ser encarado como experiencias de surf, portanto menos exigentes ao nível dos conhecimentos técnicos profundos da modalidade. Este técnico deverá ter conhecimentos ao nível dos materiais e equipamentos do surf, tem o dever de conhecer as técnicas básicas da modalidade que lhe permita instruir o cliente de como deverá fazer para conseguir surfar. É seu dever conhecer bem as características do mar, bem como as regras de segurança e também as técnicas de salvamento em meio aquático. Normalmente o trabalho desenvolvido por eles, com os seu clientes, é pontual e não tem continuidade, porque este mercado é muito sazonal e procurado por publico que quer ter uma experiencia de surf que na sua maioria não se fideliza. Será de equacionar que a formação necessária para intervir em cada uma destas áreas do surf, não seja igual para todos, pois as necessidades são muito diferentes e umas mais exigentes que outras. No que diz respeito ao surf federado está estipulado pela FPS o processo de formação de treinadores. Em relação às empresas prestadoras de serviços desportivos deverá ser o IPDJ que terá de verificar qual a formação necessária para que os técnicos fiquem habilitados a trabalhar nesta área. O Turismo de Portugal, tem também o dever de se pronunciar sobre as qualificações ou formação que os técnicos das Empresas de Animação Turística devem possuir para operar na área do surf. A melhor forma seria talvez sentar na mesma mesa, o Instituto do Português do Desporto e Juventude, o Turismo de Portugal e também a Federação Portuguesa de Surf para que se chegue a uma base de entendimento no que diz respeito á formação necessária para trabalhar nesta área. Ao abordar as diversas formas de intervenção no fenómeno do surf em Portugal, associadas as distintos organismos que de formas diferentes tem intervindo neste problema, não podemos descurar a entidade, talvez a mais importante ou aquela que tem maior poder para a resolução desta situação. Refiro-me precisamente á entidade que regula o espaço físico onde é praticada a modalidade do surf, designada por Autoridade Marítima Nacional, que tutela as Capitanias dos Portos, são estas regulam as atividades do surf, dentro da sua área de jurisdição, nomeadamente a orla costeira e o espaço marítimo. Embora não existindo uma uniformidade de procedimentos nas diversas capitanias, algumas delas tem tentado ajudar a regular este processo de acordo com as características das praias da sua zona. É do conhecimento geral que a nossa vasta orla costeira é muito diversificada nas características das suas praias, bem como os locais de surf, estes tem de ser fatores de referência para encontrar soluções que possam ser colocadas na prática. Temos de admitir uma solução que possa servir os interesses no Porto, pode não ir ao encontro das necessidades de Peniche e que as necessidades da Ericeira ou Cascais, podem divergir daquelas que são necessárias na Costa Vicentina. Devemos ter a capacidade de observar que a construção de uma lei geral, pode não resolver o problema, embora possamos partir do geral, temos de particularizar e adequar alguns aspetos às necessidades específicas de alguns locais de surf. Atualmente quase todas as Capitanias de Portos tem publicados editais com Instruções de Navegação, Uso e Permanência nos Espaços de Jurisdição das Capitanias, na sua maioria são generalistas e dedicam um capitulo às Atividades de Caracter Recreativo e Desportivo, onde definem as praias destinadas às atividades desportivas, licenciamento de atividades desportivas, náutica de recreio, instruções para a prática de alguns desportos. No entanto poucas capitanias definem condições específicas para a modalidade do surf. Nota-se também que o critério de licenciamento para a prática de atividades de surf não é uniforme, é variável conforme a capitania. Seria aconselhável que a Autoridade Marítima Nacional se envolvesse neste assunto na procura de soluções uniformes que posteriormente seriam colocadas em prática pelas Capitanias, regulando o uso do Domínio Publico Marítimo para fins de prática de atividades de surf. A busca de soluções para as atividades de surf não se adivinha fácil, provavelmente será um longo e demorado caminho a percorrer, mas as melhores resoluções são aquelas que são debatidas de forma criteriosa, com avanços e retrocessos na busca de ajuste para atingir um resultado útil que satisfaças todas as partes envolvidas no processo. A resolução poderia passar pela inclusão deste assunto na Estratégia Nacional para o Mar (ENM 2013-2020), este instrumento de politica publica, aprovado em 16 de novembro, Dia Nacional do Mar, que apresenta a visão de Portugal no quem se refere ao modelo de desenvolvimento assente na preservação e utilização dos recursos e serviços dos ecossistemas marinhos, apontando um caminho de longo prazo para o crescimento económico, inteligente sustentável e inclusivo, assente na componente marítima. Enquadrado nesta estratégia foram criados diversos Programas de Ação, um deles é designado por DED2 – Infraestruturas, Usos e Atividades Recreio, Desporto e Turismo, que engloba os desportos de ondas e concretamente o Surf. O Projeto Surf, visa desenvolver e consolidar a imagem do surf no Mar- Portugal, na dimensão desportiva, económica, social e cultural. Também promover o surf como recurso integrador de valor, de natureza multidimensional e multidisciplinar, potenciador de identidade e da competitividade e coesão dos territórios e integração social. Outro dos objetivos será transformar o Mar-Portugal/ área Atlântica no local de eleição para a prática de surf e eventos associados como apport económico. De acordo com esta estratégia para o surf, fará todo o sentido que as entidades coordenadoras do projeto, a Direção Geral de Politica do Mar e o Instituto Português do Desporto e Juventude, conjuntamente com as entidades que participam na equipa técnica, nomeadamente, o Ministério da Defesa Nacional, a Autoridade Marítima Nacional, o Ministério da Economia e Inovação, Turismo de Portugal, o Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, Agencia Portuguesa do Ambiente, os Municípios, a Federação Portuguesa de Surf, entre outros organismos, possam incluir na sua lista de tarefas a resolução das questões legais e regulamentares que dizem respeito ao surf nas suas mais variadas vertentes. Esta será uma oportunidade de “ouro” para se solucionar este problema, que algumas entidades têm tentado resolver individualmente, mas que não tem apresentado os resultados necessários e desejáveis para o desenvolvimento global do surf. Esta será uma oportunidade impar para que todas as entidades, de acordo com a visão que tem sobre o assunto, possam contribuir para uma resolução que satisfaça todos os envolvidos no processo do surf nacional. A legislação e a regulamentação fazem obrigatoriamente parte do processo de crescimento do surf. Acredito que brevemente o Surf Nacional, encontrará a paz necessária para que todos possam disfrutar das ondas, nas mais diversas formas de abordagem, como desporto, turismo ou negócio. Com a aproximação das festas natalícias, desejo que o Pai Natal Surfista, nos traga um saco cheio de presentes, que permitam um crescimento sustentável de um surf global.
marketing, campanhas publicitárias, bem como imagem de marca do Turismo de Portugal. A associação destes factos conduziu ao acréscimo da procura da atividade de surf, consequentemente para dar resposta a este fenómeno surgiram como “cogumelos”, de norte a sul, as designadas escolas de surf, que não são mais do que empresas prestadoras de serviços desportivos, que observaram que o surf poderia ser uma forma de aumentar a sua faturação anual.
Podemos afirmar que o crescimento do número de praticantes, mesmo que alguns deles ocasionais, contribuíram para um desenvolvimento económico dos negócios de surf. A venda de aulas de surf aumentou, a oferta cresceu com o aparecimento de novas escolas, muitas delas nas mesmas praias. Este desenvolvimento poderá assentar no facto de ser muitíssimo fácil iniciar este tipo de negócio, através da criação da “Empresa na Hora”, aliado á escassa, confusa e obsoleta legislação, que é de acessível contorno e de fiscalização bastante reduzida. Sou da opinião que as empresas que vendem serviços desportivos, vulgo, escolas de surf, não deveriam estar sob a alçada da federação que tutela a modalidade. Porque as federações desportivas devem apenas reger o desporto de âmbito federado, sendo que este assenta no associativismo (clubes). Não me parece normal, mas também não conheço o pressuposto que a FPS (Federação Portuguesa de Surf) utiliza para aceitar no seu seio as escolas de surf. Se as escolas de surf pertencem ao mundo empresarial, porque a maioria delas são Operadores Marítimo-Turístico e algumas Empresas de Animação Turística, licenciadas pelo Turismo de Portugal, e inscritas no RNAAT, (Registo Nacional Agentes Animação Turística), não vejo razão para que a FPS, intervenha na atuação destas. Não faz sentido a FPS regular algo que não lhe pertence, temos de ver que apenas os clubes podem estar inseridos no contexto do associativismo. Numa entrevista o Presidente da FPS, falou de clubes e escolas de surf, algumas das suas afirmações não fazem sentido, senão vejamos, afirma que a linha entre ambos é muito curta, mas será que esta avaliação é correta? Um clube pertence ao mundo do associativismo, tal com a FPS, uma escola de surf pertence ao mundo empresarial, logo podemos afirmar que estão em campos opostos, porque os seus objetivos são bem diferentes, os primeiros pretendem fomentar o desporto, criando bases para o aparecimento de futuros atletas da modalidade, os segundos tem como primeiro objetivo o lucro e a faturação, aspetos que são fundamentais para manter o negócio, só em segundo plano é que aprece a preocupação de algumas escolas em formar atletas. Afirma também que a formação é a espinha dorsal de uma federação, isto é uma verdade absoluta, esta formação deverá ser realizada pelos clubes, mas sempre com o apoio e incentivo da respetiva federação. A FPS tem o dever de delinear estratégias que vão ao encontro das suas necessidades e trilhar um caminho que permita no futuro um aumento do número de praticantes federados. Todos sabemos que quanto maior for a base de recrutamento, maior será a possibilidade de captar jovens talentos, que através da formação e treino podem no futuro evoluir e representar o nosso pais em competições internacionais. Será desta forma urgente criar um Programa de Desenvolvimento Desportivo, que devolva a modalidade aos clubes, dando-lhes mais condições e apoios para desenvolver a formação de base no surf. Os apoios poderiam passar por acompanhamento técnico, ajuda em material técnico e logístico ou até apoio financeiro. Algumas medidas interessantes poderiam ser a isenção de taxas de inscrição nos campeonatos ou circuitos para escalões de formação até aos Sub-16, também apoio nas deslocações, prémio monetário para os clubes com maior número de atletas jovens federados e ou com participação nos campeonatos ou circuitos. Provavelmente a implementação destas medidas iria a longo prazo dar frutos e fazer crescer o surf em Portugal. A FPS ao permitir que as escolas de surf substituam os clubes em matéria de formação está a “matar” os clubes e o associativismo. Reconhece que as escolas de surf são um negócio, têm portanto objetivos com fins lucrativos, os quais são antagónicos aos do associativismo e da própria federação. Reconhece que existe concorrência entre escolas e clubes, será esta uma concorrência leal? Fala ainda em alunos federados, estes pertencentes a escolas de surf e atletas federados de clubes, isto não faz sentido, uma federação não deve ter alunos federados, mas apenas atletas federados. A base da pirâmide da FPS, deveriam ser os clubes, mas o cenário atual vai em sentido oposto. De acordo com os dados obtidos no “website” da federação, relativos ao ano de 2014, observa-se que existem inscritas 189 (cento e oitenta e nove) escolas de surf, com três estatutos diferentes, (privadas, associadas a clube e não estipulado), estas representam 216 (duzentos e dezasseis) federados, salienta-se o facto de 66 (sessenta e seis) dessas escolas não ter qualquer federado e qua na sua maioria, cada uma tem apenas 1 (um) federado. De acordo com estes dados o panorama não é assim tão animador, porque as escolas de surf não representam um grande número de federados. Questiono, qual o interesse da FPS nestas escolas, se elas não acrescentam em número de federados, este acolhimento só pode fazer sentido num acréscimo de receita, porque cada escola paga anualmente 150,00 € (cento e cinquenta) euros de taxa, será esta receita importante para o orçamento da federação e que a mesma é colocada ao dispor da formação desportiva de base. Os 79 (setenta e nove) clubes inscritos na federação representam 1.323 (mil trezentos e vinte e três) federados, os números provam que o movimento associativo é de estrema importância para a vitalidade da federação, os clubes e os seu atletas são a razão da existência de qualquer federação desportiva. Razão suficiente para que a federação encare esta realidade como prioritária e procure soluções que visem beneficiar os clubes e o associativismo. Tem também o dever de renunciar o acolhimento de algumas escolas de surf, principalmente as privadas, que cumulativamente são operadores marítimo-turísticos, que em nada contribuem para os objetivos da federação, com exceção da parte económica, através do pagamento das taxas anuais. O líder da FPS, na mesma entrevista, fala da regulação das escolas de surf, de assimetrias de escolas em relação à área de praias disponível para a prática, das escolas itinerantes. Aborda também a lei dos operadores marítimo-turísticos, que lhes permite operar sem a credenciação da FPS. Afirma que a figura jurídica dos operadores marítimo-turísticos não mencionar “aulas de surf”, resulta numa facilidade em poderem fazê-lo em virtude da fiscalização ser muito reduzida ou inexistente. Sugere regulação e regulamentação, a fim de este desporto sair mais credibilizado, bem como acabar com a grande confusão que existe neste mercado. Estas apreciações são importantes e devem ser consideradas para a resolução de uma situação que se vai arrastando, mesmo com o surgimento de legislação nova o problema persiste. Admito que encontrar uma solução para o assunto não seja tarefa fácil, mas devem as instituições com responsabilidade no surf dialogar a fim de encontrar um resultado que satisfaça ambas as partes. As instituições têm de ter a capacidade para ver a realidade de forma imparcial e cada uma deve contribuir construtivamente, mostrando os argumentos e visão que possam contribuir para uma solução de igualdade para todos. (continua…)
onde o deslumbramento, mediatismo e aproveitamento económico são quem mais ordena.
Ouvi o Sr. Presidente da Câmara Municipal de Peniche, em entrevista à RTP, num directo a partir dos Supertubos, durante a recente etapa do WT, dizer que relativamente à Papoa, pretende popularizar o local, para que possa receber no futuro, eventos de ondas grandes, como o Big Wave Tour. Não queria acreditar no que estava a ouvir, fiquei irritado, mas mais que irritado, fiquei sinceramente desiludido. A questão da Papoa não se coloca apenas ao nível da qualidade das suas ondas, que eu acho que não é significativa, nem no desperdício que será investir num evento, que a acontecer, não trará um acréscimo de mais nada áquilo que já temos actualmente, pois não esqueçamos que passa por cá, uma etapa do maior e melhor circuito de surf do mundo, comportando ainda questões ao nível ambiental, bem como de preservação histórica e arqueológica que podem sair seriamente danificadas com este tipo de mediatização. O Sr. Presidente da Câmara Municipal de Peniche tem que ter presente que quando intenta iniciativas deste género, que não é Presidente nem da Câmara de Sintra, e muito menos do Brasil, ou Governador do Havai, é apenas e só, Presidente da Câmara Municipal de Peniche, e como tal, são os surfistas de Peniche os seus eleitores, e não os outros, e são estes, os de Peniche, que esperam ver também satisfeitas algumas das suas pretensões, e não apenas os outros. Há pouco tempo a propósito de um outro assunto, o meu melhor amigo e companheiro de muitas aventuras no meio do surf e não só, crítico relativamente a algumas das minhas opiniões, solidário com muitas outras, são assim os verdadeiros amigos, dizia-me: epa, ò Zé, tens de perceber que há quem não tenha cultura de surf como nós temos, não podes reagir assim. Fiquei a pensar nisto, e há aqui realmente um problema, é que quem toma decisões importantes com base no surf, nunca fez surf, e por esse simples facto, não tem cultura de surf. Quer queiramos, quer não, isso nota-se. Já diz o povo, que quando se junta a fome com a vontade de comer, é um problema, e neste caso, ao apetite mediático de uns, juntou-se a vontade por parte de outros, legitima, diga-se, de aplicar um modelo já utilizado a uns quilómetros daqui, que os tendo deixado de fora lá, viram por aqui, uma boa oportunidade de também eles terem direito ao seu quinhão. A mediatização desta zona, e outras, por via da proximidade, encerram em si questões ao nível da cultura de surf, nomeadamente o resguarda-las, de modo a preservar alguma satisfação da comunidade surfista local, o que também é importante, não se julgue que não, apesar de haver quem ache o contrário. Lembro-me de fazer surf com alguns amigos nos Supertubos, no Molhe Leste, no Lagido, que hoje, com quarenta anos de surf deixaram de frequentar esses lugares. Ainda vou fazendo surf com eles, nomeadamente nestas zonas, refugiados, onde ainda podemos praticar o desporto que tanto gostamos, desfrutando da verdadeira essência do mesmo, vivenciando a sua cultura, partilhando ainda aquilo que nos levou pela primeira vez, contra tudo e todos, a enveredar por algo que na altura não era tão “in” como agora. Há uns dias estive a surfar na Papoa. Eu e mais um amigo, só nós, foram duas horitas, as ondas nem estavam grande coisa, mas divertimo-nos, falámos essencialmente de surf e ondas. Ao escrever este texto lembrei-me de algo engraçado, este meu amigo estava presente quando há trinta anos surfei pela primeira vez na Papoa. Ele, mais velho do que eu, já surfava há uns anos quando eu comecei, fiz muitas e boas surfadas com ele ao longo dos anos, em vários lugares, aprendi muito com ele, hoje praticamente só surfamos juntos ali, por aquelas zonas, locais que o Sr. Presidente quer encher de gente. Esta ganância mediática, não é compatível com uma parte importante do surf em Peniche, que também merece o seu espaço, e que por isso ainda guarda a chave do cadeado, apesar da chave da porta ter já sido oferecida.
te determinados territórios emergindo como uma dimensão com aparente potencial para diferenciar os destinos de surf e aumentar a sua competitividade. No entanto, não há estudos que permitam avaliar com rigor o potencial da cultura de surf, nem que forneçam linhas de orientação para melhor aproveitar este potencial.
Num cenário de elevada competição em termos de oferta turística, a identificação de fatores capazes de aumentar a competitividade dos destinos e as análises de posicionamento para o conhecimento do processo de escolha dos destinos turísticos, constituem ferramentas de investigação muito importantes (Echtner & Ritchie, 1991). O posicionamento dos destinos implica definir uma imagem do destino na mente dos visitantes, de forma a que estes compreendam as mais-valias em relação aos destinos concorrentes (Aaker et al, 2004) e procedam à escolha do destino. A imagem de um destino transmite os seus atributos e é simultaneamente um fator de diferenciação, que permite segmentar o mercado e posicioná-lo no imaginário do visitante. Essa diferenciação pode ocorrer pelos aspetos intangíveis (emoções e experiências) que os destinos conseguem proporcionar aos visitantes (Carneiro et al, 2014). Assim, compreender a relevância da cultura do surf para o posicionamento competitivo dos destinos de surf é de extrema importância. Na história do surf verifica-se que as viagens com motivação principal de surf ganham expressão. A procura da onda secreta, das praias nunca surfadas (situadas em destinos tropicais paradisíacos) e a vivência da envolvente ao surf tornam-se, para muitos, a essência da experiência do surf. Nesta perspetiva, o surf como desporto e o ato de viajar complementam-se no âmbito do turismo de surf, uma vez que os surfistas se aventuram em experiências de viagem com o objetivo de surfar as ondas perfeitas. Entretanto o surf torna-se moda e o seu desenvolvimento tem promovido o aparecimento de uma cultura específica associada ao surf (Butts, 2001), marcada por um estilo de vida e de valores relacionados com o surf – o estilo surfista (surf lifestyle) (Dolnicar & Fluker, 2003). Nesta cultura diferenciada, os adeptos do desporto compartilham valores e ideias diferentes dos indivíduos comuns, ou de uma cultura dominante, tendo como elemento principal o ato de surfar. Assiste-se, assim, ao que se designa de comercialização do ideal surfista (Ponting, 2009) (utilização da imagem do surf como ferramenta de marketing). A comercialização do surf enfatiza a liberdade do estilo de vida e projeta a imagem de um destino de sonho, o que dá origem a novos produtos e novas experiências, que influenciam o imaginário da procura turística e motivam a escolha do destino (Dolnicar & Fluker, 2003). É com base nesta imagem de destino de sonho, nas suas histórias e aventuras que assenta a cultura do surf. De notar que, as imagens mudam de acordo com o imaginário de cada um, pois dependem das experiências e necessidades dos turistas de surf, quer sejam praticantes ou simpatizantes. Cada destino tem as suas valências e elementos distintivos, ou seja, tem a sua personalidade (Bartikowski et al, 2009), devendo estas valências e elementos ser tidos em consideração na definição do tipo de segmentos de mercado a atrair e das estratégias a desenvolver para atrair esses segmentos. Muitas regiões possuem boas praias e boas ondas, podendo ser concorrentes entre si. No entanto, a cultura de cada região é exclusiva e este detalhe distintivo poderá tornar-se determinante na escolha de um destino de surf. Por isso, torna-se importante obter informação sobre o modo como diferentes turistas de surf avaliam a atratividade dos destinos de surf. Deste modo, será fundamental descobrir que referências se encontram no imaginário do público, a fim de satisfazer os seus sonhos e fantasias e, assim, motivar os turistas a escolherem um destino. Consequentemente, a promoção de um imaginário local associado ao surf vai alterando a cultura desse local, que se reinventa através de uma renovada e revalorizada ligação ao mar, agregando valor às experiências turísticas. Assim, um dos desafios dos destinos de surf parece ser a transformação em lugares que proporcionem a vivência de experiências ligadas ao surf lifestyle - não esquecendo a sua cultura original, suas tradições e modos de vida -, que tenham a capacidade de marcar a diferença, de fazer sonhar e criar desejo. Um destino de surf assenta na onda perfeita e tudo o resto gira à volta desta atração principal, - o imaginário do surf. O turista de surf vem em busca da onda perfeita e do ambiente que a envolve; mesmo que não a surfe, esteve lá e vivenciou o que o destino tem para oferecer, a sua cultura reportada no estilo de vida da “tribo” do surf. É preciso, pois, procurar novas soluções, novas oportunidades de negócio, no sentido de desenvolver destinos de surf mais competitivos. A localização, comunidade local, recursos naturais e culturais, indústria do surf, serviços e a cultura de surf do local ajudam a definir o estilo dos destinos de surf e determinam a experiência dos visitantes. É, por isso, importante aprofundar a investigação científica a fim de estudar os desafios dos novos destinos de surf, de compreender estes destinos como espaços sociais (Ponting, 2009), avaliar a imagem e consequente atratividade destes locais percecionada pelos turistas e analisar a forma como diferentes tipologias de turistas de surf (praticantes e simpatizantes) se envolvem e vivem a atividade. Apesar da investigação realizada sobre a cultura do surf (Martin & Assenov, 2012), do reconhecimento de que a cultura e estilo de vida dos turistas podem introduzir alterações profundas nos destinos influenciando a sua atratividade e do importante papel da cultura no âmbito da competitividade dos destinos, não têm sido realizados estudos relativos à influência da cultura do surf na competitividade dos destinos de surf, que permitam analisar em que medida este atributo contribui para o posicionamento competitivo destes destinos face aos concorrentes. Relembrar, que a aposta no turismo de surf poderá ter, seguramente, efeitos estruturantes num quadro de desenvolvimento económico e social, contribuindo para o aumento da atratividade dos destinos turísticos, pela valorização, diversificação e otimização da oferta turística. “As pessoas esquecem-se que o dinheiro compra e paga muita coisa, mas há uma, que não compra nem paga: A VIDA, quando ficarem sem algum familiar ou amigo é que vão dar o verdadeiro valor a quem arrisca a vida por eles, depois já vão tarde, pois vida há só uma!!!
Só para que se saiba, quando se é profissional não se trabalha para receber um fato de neopreno da marca do principal patrocinador do evento, as pessoas trabalham porque precisam, têm de comer, têm família para sustentar, têm contas para pagar, compromissos, etc… e tem que haver respeito neste País por quem arrisca a vida e faz tudo em prol da "Segurança Pública"! Os Nadadores Salvadores (Salva Vidas) que exercem esta profissão têm e devem ter, todo o respeito de toda a gente neste país, e o que se vê nestes casos infelizmente é só olharem para os seus interesses económicos e rebaixarem e desvalorizarem o trabalho destes, HERÓIS, que também são humanos e têm família. Fico envergonhado e triste quando vejo situações como estas acontecerem, principalmente na terra onde habito e que se diz a CAPITAL DA ONDA! As autoridades e o Estado Português não podem, nem devem deixar que situações como esta aconteçam. Existe uma Associação de Nadadores Salvadores locais (SalvOeste), legalmente constituída e reconhecida pelo ISN e pela Autoridade Marítima, da qual sou presidente, que desde o início do evento em 2009, se queixa que não é ouvida, muito menos contactada pelas entidades responsáveis na organização deste evento (WCT). Não é com fatos de surf que se pagam a profissionais para arriscarem a vida num evento com 20.000 pessoas por dia à beira mar, com um calor avassalador como aconteceu este ano e noutros. Tirando os voluntários que lá estiveram a trabalhar (poucos), todos os outros profissionais recebem bem, em dinheiro, para lá estarem. Falo de todos sem excepção por isso, se existe para uns também tem que existir para outros sem discriminação!!!" Escrito por: José Miguel Nunes Chegou ao fim mais um Moche Rip Curl Pro Portugal, desculpem, vamos lá fazer isto como deve ser, chegou ao fim mais um Moche Rip Curl Pro PENICHE, que decorreu na PRAIA DOS SUPERTUBOS, em PENICHE, localidade situada na zona OESTE de PORTUGAL, a mais de cem quilómetros de Cascais. Assim é que deve ser. Com um período de espera entre 12 e 23 de Outubro, as previsões não eram as mais animadoras, pois se se sabia que o “swell” ia entrar, o vento estragava a coisa, soprando na maioria dos dias do quadrante sul, e como os “experts” decidiram mais uma vez deixar o palco alternativo lá para Cascais, a coisa não se afigurava fácil de gerir, é que os melhores do mundo quando vêm para Portugal é para surfar em Peniche, não querem ir para outro lado, essa é que é essa. Para os mais distraídos, Kelly Slater disse-o na conferência de imprensa.
Mas tudo se resolveu, o “swell” entrou, como se esperava, avançou-se com a primeira ronda em condições medianas, onde ninguém era eliminado, para gerir melhor o resto do tempo de prova, decisão acertada. Esperou-se, o vento acabou por acalmar, fez a sua rotação, e os Supertubos, mostraram mais uma vez a razão de os “pros” quererem surfar cá. Não esteve de gala, como em 2011, mas isso meus amigos, foi algo de extraordinário que aconteceu, e que muito dificilmente voltará a acontecer, três dias de ondas sempre iguais, com qualquer tipo de maré, onde todos os factores se conjugaram na perfeição, mas admitamos, a espaços, deram muito boas ondas, muito bons tubos, aliás, foi raro o “heat” em que alguém não fez um. Recordo os dois dez do Jonh Jonh Florence, o tubo de abertura do último dia, de Mick Fanning no derradeiro “heat” da terceira ronda, ou mesmo os tubos da final. O espetáculo foi grande, e seguramente dos milhares de pessoas que estiveram na praia a assistir, nenhuma ficou certamente desiludida com o que estava a ver, eu pelo menos não fiquei. Houve emoção, os menos favoritos avançaram, os favoritos perderam, salvaram-se épocas, goraram-se expectativas, partiram-se pranchas, na água… e fora dela, houve laivos de vedeta, com saídas da água muito antes do objectivo assegurado, e até o Saca nos proporcionou mais do mesmo, perdeu de primeira. Foi um grande campeonato, até pelos merecidos agradecimentos aos locais e ao PPSC – Peniche Surfing Clube, pela sua participação na organização. Faltou talvez a cereja no topo do bolo, a coroação do campeão mundial por cá, mas não aconteceu, ficará para a próxima, do mal, o menos, juntámos mais um candidato à corrida pelo título. Este campeonato, mais do que reiterar a grandeza da onda dos Supertubos, cuja qualidade é inquestionável, serviu para mostrar que a zona de Peniche é realmente incrível em termos de ondas, a melhor do país sem dúvida, e nos sucessivos dias de paragem que aconteceram, era vê-los, aos “pros”, a desfrutar da nossa costa. Não me consta que nenhum deles tivesse ido lá para os lados do palco alternativo. Ficaram-me no ouvido as palavras do vencedor, Mick Fanning, na entrega de prémios: Peniche tem ondas incríveis por todo o lado. Em termos de infraestrutura, pareceu-me mais leve que nos anos anteriores, não sei se por verdadeira convicção ambiental da organização, se resultado da crise, mas de qualquer modo saliento o facto, no meu ponto de vista positivo. Faço notar também a preocupação na montagem, cuidadosa, sem agredir em demasia a envolvente, esperemos que na desmontagem sigam os mesmos pressupostos. O mesmo não posso dizer de alguns espectadores e fotógrafos, que, ano após ano, insistem em usar as dunas como bancadas, apesar dos constantes avisos dos “speakers”. Há algo que não posso deixar passar em claro, costumava ver nadadores-salvadores a patrulhar a beira-mar com as suas “t-shirts” amarelas do ISN, este ano não vi, e … aconteceu… houve quem assistisse ao evento e tivesse que se mandar à água, alguém ficou mal na fotografia, resta saber quem? Era bom que não voltasse a acontecer. Que venha o de 2015… é esse o nosso desejo. Ah, quase me esquecia, a entrega da chave da cidade ao Kelly Slater, o maior galardão que o município pode oferecer. Achei uma “jogada” bastante interessante, não lhe chamarei de mestre, mas bastante interessante, em termos promocionais, quando foi anunciada, no entanto, perdeu todo o fulgor no modo como aconteceu, e passo a explicar, primeiro, ficou-me na retina um certo atropelamento de tanta personalidade local, a querer marcar território, politico talvez, no acto da entrega; segundo, o ter acontecido no palco do evento, precisamente na altura em que a bateria do Gabriel Medina estava na água, não foi, no mínimo de bom tom; terceiro, e talvez por o pensamento estar noutro lugar, nomeadamente na água, a reacção e até as declarações do próprio Kelly Slater, deram a parecer pouca emoção, e até quase a roçar, que foi um favor receber o dito galardão, não lhe ficou bem e desvirtuou ainda mais o momento que já de si não estava a correr muito bem.
A diversidade e número de ondas que nos rodeiam é sem qualquer dúvida uma mais-valia para potenciar a dita economia do surf, e esse aspecto tem de ser valorizado, mas isso não quer dizer que todas elas sejam de excelência como a dos Supertubos, ou seja, não quer dizer que em qualquer sítio onde haja ondas, se monte o circo e se pretenda passar a mensagem que aquilo é muito bom, quando na realidade não é, é apenas bom ou mediano.
Tenho sido particularmente critico para quem trabalha estas coisas do surf, nomeadamente ao nível turístico, relativamente ao facto de não estarem a dar atenção às particularidades, numa lógica de surf é surf, vai tudo para o mesmo saco. Errado. Acho muito sinceramente que devemos trabalhar e potenciar aquilo que nos diferencia dos demais, aquilo em que realmente, e sem sombra de dúvidas, temos melhor que os outros. Resumindo, a onda dos Supertubos e a sua praia é melhor do que todas as outras, logo, é isso que devemos dizer e potenciar, sem receios, sem medos, pois não há dúvidas disso, e faz todo o sentido trabalhar o “marketing” associado a esta realidade. Agora, podemos dizer o mesmo da onda do bico da Papoa? Podemos dizer sem sombra de dúvidas, que a onda do bico da Papoa é melhor que as outras no segmento das ondas grandes? Tenho muitas reservas relativamente a isso. Se tenho criticado fortemente o “marketing” enganoso que alguns fazem relativamente a recursos que não têm, mas que pretendem passar a mensagem que têm, não vou deixar de o fazer quando o mesmo, julgo, acontece por cá. O espetáculo da Papoa, e todo o “show-off” associado, denominado PAPOA BIG WAVE CHALLENGE, com direito inclusivamente a chapéu e “t-shirt”, é entrarmos pelo caminho errado, é tentarmos passar a imagem que também somos os melhores nas ondas grandes, e que aquela onda é um espetáculo, o que em minha opinião, não é. Não somos melhores do que os outros no segmento das ondas grandes, não somos, aceitemos este facto, como dizia o outro, com naturalidade. Não devem tentar passar “gato por lebre”, as ondas que deram na Papoa, são ondas grandes, mas só isso, e nem tão grandes assim, estamos a falar de ondas na casa dos 4 metros, o que neste segmento até podem ser consideradas de medianas. A onda do bico da Papoa é um recurso que pode ser aproveitado, mas numa óptica de complementaridade, relativamente à diversidade de ondas que Peniche tem para oferecer. Bem diferente, é utilizar jogadas de “marketing”, para dar uma dimensão de estrela àquele recurso, que não tem potencial para o ser, só para satisfazer alguns apetites mediáticos e sustentar alguns modos de vida. O que me está a parecer é que a fonte está a começar a secar por outras bandas, e é preciso arranjar mais fontes dispostas a dar água. Encontrei um artigo no “blog” da Surfing Magazine, datado de 16 de Outubro de 2014, intitulado “Life in Peniche”, do qual vou transcrever uma frase que me ficou na retina: “Garrett was seen afterwards about town, with Jet Skis and Mercedes surfboards everywhere and I’m not kidding when I say that he actually looked silver — which further escalates my speculation that he is not a human being all. Just a walking, talking action figure.” |
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Novembro 2016
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