Escrito por: José Miguel Nunes Mais um ano se aproxima do fim, e este foi particularmente difícil para o “tuga” … pelo menos para a maioria, pois alguns engordaram e bem, as suas contas bancárias à conta da crise, dito de outra forma, à conta da desgraça dos outros. Pelo menos a acreditar na notícia do público de dia 7 de Novembro, em que dizia o seguinte: “Um relatório do banco suíço UBS conclui que, em Portugal, há mais 85 milionários – indivíduos com fortunas superiores a 30 milhões de dólares (perto de 22,4 milhões de euros) – do que em 2012.” Vá lá…, pelo menos o surf AINDA é de graça… AINDA… e no “line-up”, ricos e pobres AINDA disputam as ondas em pé de igualdade… vamos ver até quando. Saiu a público há poucos dias em vários órgãos de comunicação social, especializada e não especializada, uma notícia, para mim, que faço surf quase há trinta anos, e que não pertenço à classe dos ricos (felizmente AINDA não à dos pobres), no mínimo surreal. Então não é que dois surfistas foram parar a tribunal por causa de um “dropino”. Isto não tem nada de extraordinário, a não ser a estupidez do acto em si, e refiro-me, ao ir a tribunal, não ao “dropino”, que fique claro. Vamos lá então a algumas possíveis conjunturas, e não passam disso mesmo, conjunturas, levadas ao extremo, mas já vi tanta coisa acontecer nestes trinta anos de surf que julgava impossíveis, que nunca se sabe o que para aí vêm. Já em 2010, o atual Bastonário da Ordem do Advogados (está de saída), Dr. Marinho Pinto, afirmava que “Em Portugal há duas justiças, uma para ricos e outra para pobres”, referindo ainda que “as cadeias portuguesas estão cheias de pessoas sem meios financeiros para contratar advogados…” Todos sabemos (os exemplos são mais que muitos) que hoje em dia, ter ou não ter dinheiro para contratar advogados, bons o suficiente, para encontrar falhas na lei que permitam adiamentos, prescrições e por aí fora… faz toda a diferença, para se ser condenado ou não. Se pega moda o ir a tribunal por causa dos “dropinos” (e sendo a nossa justiça o que sabemos), a igualdade AINDA patente no “line-up” começa a tornar-se progressivamente uma miragem. Num cenário meramente especulativo, o surfista com mais posses, tendo dinheiro para os melhores advogados, vai tirar partido disso mesmo, e é “dropino” para cima, pois o outro coitado, sem meios económicos para se defender, que remédio tem se não aguentar… isto é, se quiser evitar ir a tribunal e provavelmente ser condenado, pois os seus parcos rendimentos não permitem pagar a um daqueles advogados. Mais um. Não me surpreenderia que alguém se lembrasse de classificar as pranchas de surf como embarcações, que segundo o dicionário de língua portuguesa é: “qualquer construção destinada a viajar sobre a água” (as pranchas de surf viajam sobre a água, são viagens curtas, mas viajam) para arranjar um qualquer estratagema de começar a cobrar seguros sobre as mesmas, como a qualquer outra embarcação (segundo parece uma das questões no tal caso do “dropino” que chegou a tribunal é o facto de ter havido danos materiais e não só). Não há dinheiro para o seguro da prancha, não há surf… Continuando, e partindo do pressuposto anterior, a prancha ser uma embarcação, esta para ser comandada (gosto deste termo), a pessoa tem que estar encartada para o efeito, pelo menos, com carta de marinheiro (se descobrirem entretanto um “out-reef” qualquer a mais de não sei quantas milhas de um porto de abrigo, para lá surfar, já terá de ser a de patrão de costa). Não há dinheiro para a carta, não há surf… Já viram onde o facto de dois surfistas terem decidido ir a tribunal esgrimir argumentos por causa de um “dropino” nos levou. Se calhar o melhor é parar por aqui. BOM NATAL A TODOS, e se não com muitas prendas no sapatinho, pelo menos com muitas ondas, que estas AINDA são de graça.
1 Comentário
Michel
23/11/2013 04:06:50
Sei de alguns dropinadores cronicos que para mim nunca ficam mais ricos(talvez não fala da verdadeira riqueza) quando surfam a minha frente. A minha onda é outra... Gostei da tua conjetura.
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