Escrito por: Guilherme Fonseca Escrevo estas linhas no aeroporto de Bali, onde me encontro à espera de fazer o “check-in” para o voo da Emirates que conta já com 10 horas de atraso e me levará ao Dubai. São 2:19 h da manhã, acordei sem sono. Diga-se também em abono da verdade que a rotina de descanso destas últimas 48 horas não tem sido a melhor. Porquê? Uma longa história… Dia 10 (antepenúltimo dia da estadia), somos informados que um vulcão em Java estava a libertar grandes quantidades de cinzas para a atmosfera. O tráfico aéreo estava cancelado e era bastante provável que assim continuasse nos próximos dias. Era uma incógnita, tudo dependeria das condições climatéricas, principalmente os ventos, e claro se o vulcão continuasse a libertar cinzas. Tínhamos os voos marcados para dia 12, de manhã de Bima para Bali, num voo doméstico da Lion Air, e depois às onze da noite para o Dubai com a Emirates. A probabilidade do nosso voo doméstico ser cancelado era grande, e se isso acontecesse perderíamos o voo da noite para o Dubai. O que fazer? Estava bem complicado tomar uma decisão. Mantemos o plano original e arriscamo-nos a perder os voos, ou jogamos pelo seguro e metemo-nos ao caminho numa viagem de carro que duraria 22 horas. Toda a gente concordou que era muito arriscado esperar, optámos pela segunda hipótese. Dia 11 – Acordei por volta das 7 da manhã e fui fazer a minha despedida do surf no país das ondas perfeitas. Um metrão sem vento eram as condições em Lakey Peak. Quem é surfista sabe que aquele último surf é um misto de sensações. Por um lado, o querer voltar para o conforto da casa, as saudades da família, por outro, as condições de surf aqui, água quente, ondas perfeitas dia após dia. Não dá muita vontade de voltar para o mar de verão em Portugal. Muito bem, quando saí do surf, mais uma vez bem satisfeito, fui tomar o típico pequeno-almoço desta estadia: Arroz branco, uma omelete, 4 torradas, café e aquele cházinho ‘top’ da Indonésia. O pequeno-almoço é sem dúvida a melhor refeição.
Estava na hora de fazer as malas, arrumar tudo, pois à uma da tarde, já depois de almoçados, arrancávamos para Bali. Seriam 22 horas de viagem em três carrinhas de seis lugares. Alguns “snacks”, água com fartura, e siga... O início foi um bocado atribulado, e até mesmo preocupante… o Jerry, era como se chamava o nosso condutor, tinha uma condução um pouco “à frente” para o que estou habituado. Com estradas cheias de gente, cães, gatos, galinhas, cabras e até macacos, era sempre prego a fundo. Em Sumbawa quase não há carros, mas em contrapartida as motos são mais que muitos, e na estrada é tudo “à grande”. Três e quatro por moto, bebés, e tudo mais que possam imaginar. Capacetes é para esquecer. Depois de algumas horas na estrada já estava habituado, tanto à velocidade, como à condução que por aquelas bandas se pratica. Primeira paragem para os condutores descansarem um bocado e jantarem. Um mini restaurante à beira da estrada. Saí do carro, meti bastante repelente de mosquitos e fui ver o que havia para comer... ok, era uma espécie de “self-service”. A comida tinha aquele aspecto que era capaz de dar uma diarreiazita, mas eu como até nem sou muito esquisito, estava na disposição de comer o que quer que aquilo fosse. Acabei por não comer e seguir a opinião do treinador, e assim o jantar nessa noite foi uma espécie de bolachas de arroz e um saquinho de milho frito. Evitei seguramente a diarreia, mas confesso que as bolachinhas e o milho me souberam a pouco. Passadas seis horas chegámos finalmente ao fim da ilha de Sumbawa, e embarcámos num “ferry” para uma travessia de três horas até Lumbok. O ambiente no “ferry” era… nem sei bem como descrevê-lo… talvez agressivo, no sentido de ser uma enorme confusão. Camiões que levavam mercadorias de ilha para ilha, pessoas em viagens de trabalho, crianças, idosos… havia de tudo. A parte destinada às pessoas era muito pouco arejada, o ar muito pesado, quase sufocante com um cheiro intenso a tabaco. O barulho das pessoas a falar era quase ensurdecedor, havia pequenos grupos que em troca de uma “moedinha” tentavam animar o público, outros tentavam vender toda a espécie de quinquilharia, já outros dormiam onde podiam, e o chão era um excelente sítio, enquanto outros vomitavam de tão enjoados que estavam. Para alguns, nós, ocidentais, fomos o centro das atenções, pois não deixavam de nos olhar constantemente. Apesar de suado, seboso e com dores de cabeça ainda consegui “passar pelas brasas” lá no meu cantinho. Acordei, o barco encostou, voltámos às carrinhas e estávamos em Lumbok. Quase meia viagem estava feita. Faltavam apenas mais seis horas até ao próximo “ferry” e cinco de travessia até Bali. Chegámos a Bali, já é dia 12, mais duas horinhas e estamos finalmente no aeroporto. Até parece que chegámos ao paraíso. E foram assim as minhas últimas vinte e duas horas no país das ondas perfeitas.
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