Escrito por: Lisa Marques De Arequipa partimos para Puno, um trajecto de 6h de autocarro, mas que parecia não ter fim. Chegámos já de noite com a ambição de ver o Lago Titicaca de manhãzinha. Comprámos um “tour” de um dia assim que chegamos à estação, e corremos a descansar no hostel que tínhamos reservado de manha. Chegadas ao hostel, não tínhamos reserva! Aparentemente aqui não cruzam a informação com o booking.com. Felizmente encontrámos um outro logo ao virar da esquina. Estávamos realmente cansadas. O lago encontra-se a quase 4 mil metros de altura, sendo o segundo lago mais alto do mundo. Alberga várias ilhas, as mais populares são as ilhas flutuantes dos Uros sobre o lago, feitas com uma espécie de juncos chamados “totoras”, construídas pelo povo Aymara aquando da invasão espanhola, que decidiram fugir nos seus barcos e canoas para não terem que se converter. Passados alguns anos a viver em barcos, os Uros perceberam que cortando a raiz de “totora” em blocos que seriam depois unidos com paus de eucalipto, seria possível formar uma plataforma que se erguia sobre as águas. As camadas de “totora” colocadas por cima davam-lhe consistência e solidez. Assim nasceram as ilhas flutuantes, que hoje em dia são o principal atractivo de Puno, e do lago Titicaca. Actualmente os Uros dependem quase integralmente da visita dos turistas, oferecendo-lhes boa disposição e um pouco da sua cultura ancestral. A possibilidade de andarmos em “totora” é paga à parte, uma quantia que dizem ficar directamente para a população da ilha, um total de 14 habitantes. Vinte e cinco pessoas cabem no “Mercedes Benz” como lhe apelida o chefe da ilha. Os chefes e os seus descendentes usam gorros coloridos como sinal de poder, e forma de distinção. As “totoras” originais tinham a duração de cerca de 3 meses, mas actualmente, reciclam garrafas de plástico, para lhes dar mais flutuabilidade e duração. Esta tinha cerca de 2000 mil garrafas no interior. Apesar dos turistas reconheceram que é uma autenticidade encenada, a tipicidade destas ilhas fazem as delicias dos turistas, e possibilitam registos fotográficos excepcionais. Nos locais mais tradicionais, onde a população ainda segue os costumes antigos Peruanos, os registos fotográficos não são bem vistos, se não forem pagos. Temos sempre que perguntar se podemos fotografar, retribuindo-lhes com 2 a 5 soles. Aqui nos Uros já está incluído no bilhete. O “tour” oferecia também a visita à ilha Taquille, um pouco mais adiante, onde a panorâmica elevada nos mostra um cenário edílico, silencioso e de pura paz. Mas a escadaria até ao miradouro é infinita. O ar rarefeito deixa qualquer forasteiro a desejar uma garrafa de oxigénio. Peru para um lado, Bolivia para outro, e uma imensidão de água de 8300 km2. Aqui as mulheres solteiras utilizam saias coloridas, e as casadas saias pretas durante 3 anos, e depois são livres para voltarem às coloridas e procurarem um marido novo. Os gorros também têm simbologia. As crianças utilizam um gorro pendurado para trás até aos 18 anos, e de lado depois dessa idade, para sinalizar a sua independência. Almoçámos num restaurante com um terraço debruçado sobre a panorâmica. O menu seria uma rica sopa de quinoa e vegetais, truta frita ou omelete de vegetais acompanhado com arroz e “papas” (batatas fritas cortadas em palitos grossos). Para beber, chá de coca. A folha de coca ajuda a aliviar os sintomas da altitude, e é menos amargo que o chá verde, que estou habituada a beber diariamente. A música de “panpipes” tocada por um local animou o almoço. De Puno a Copacabana, já na Bolivia, são perto de 3h de viagem. O Autocarro apenas nos leva até à fronteira, e depois do controle de imigração, seguimos os 8km que nos separavam de Copacabana numa carrinha de 10 lugares. Queriamos visitar a ilha do Sol, onde se acredita que o deus sol criou o primeiro homem inca, e a ilha da lua, que no tempo dos incas acolhia as mulheres que estavam predestinadas a fazer culto ao deus sol, e onde se podem visitar algumas ruínas. A duração da travessia é de cerca de hora e meia, custando cerca de 20 Bolivianos / trajecto (10soles - aprox. 2,5€), íamos pernoitar na ilha do Sol. “Os tontos têm sempre sorte!” diz a Amélia, mas aqui pareceu faltar. Não sabíamos o que nos esperava, e a ignorância foi o nosso bem mais precioso.
Uma menina de 14/15 anos esperava-nos no cais de desembarque com uma placa com o nome do hostel onde vamos ficar. Ia acompanhar o nosso percurso de 40 minutos a subir por velhos trilhos incas, com 20kg às costas, e a uma altitude de 3.800m. “E em caminhada gringa, quanto demora?”, pergunta o Alberto, um Argentino que conhecemos pela manhã, e que nos acompanhou neste trajecto. Uma hora ou mais, responde ela… Eishhhh Pensei várias vezes em desistir, o corpo impunha-se de uma maneira que me era desconhecida. O coração queria saltar pela boca, de tão descompassado que estava. As costelas pareciam ter encolhidos e esmagado os pulmões dentro. Pedimos burros, pedimos lamas, mas a menina não tinha telemóvel para os solicitar. Foi sem duvida um dos maiores desafios da minha vida, mas ganhando a persistência, chegámos ao topo! Para nossa sorte (!) era a último hostel da ilha, ou seja, o mais elevado, e a vista era deslumbrante. Rimos à gargalhada quando abrimos o quarto e nos atirámos para a cama! “Já cá estamos!” Tínhamos a sensação de missão cumprida. Descansei um pouco, e sai para tirar fotos aos lamas, que por ali andavam misturados com as ovelhas, e encontrei um português! Realmente o mundo é pequeno. De seu nome João, Jornalista em Berlim. Segue viagem na direcção oposta, de volta ao Peru, e eu para La Paz, capital da Bolivia. No entanto o objectivo final da viagem é comum, e pode ser que nos voltemos a encontrar na selva. Sinto a liberdade a correr em mim, uma sensação de infinitas possibilidades na minha mão. Sem estrelinhas da sorte, sem requisitos especiais ou qualquer estatuto, podemos ser aquilo que quisermos, se dermos os primeiros passos nesse sentido. Depois só temos que seguir a favor do vento. Ate já.
1 Comentário
José Rodrigues Marques
7/2/2016 23:55:36
Espetacular filhota. Bjs
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