Escrito por: Lisa Marques A vontade de vir ao Peru é antiga. Tão antiga que não lhe recordo a origem. A história sempre me fascinou, e desde que me lembro me deslumbro com as civilizações antigas, capazes de construir coisas tão extraordinárias como as Pirâmides, os Moais, os Vimanas, Stonehenge… todas tecnicamente desafiantes para a época e até para hoje em dia. Recusei ir para Arqueologia porque queria ir surfar para Peniche, e sem arrependimento algum, a curiosidade continua a aguçar-me o espírito, e a vontade de conhecer o meu lugar no mundo, e estes berços da civilização humana. Esta, como qualquer outra viagem é uma busca interior, um desafio que imponho a mim mesma, vinda de uma necessidade de saber mais. Não é fácil decidir partir sozinha rumo ao desconhecido, fi-lo por falta de alternativa. A certeza era de que queria conhecer mais, e a falta de companhia não me deteve de continuar. Esta é a terceira viagem que faço sozinha, porém a mais longa em distância e duração.Mas temos que deixar o impulso vencer o medo. 51 dias no Peru! Uma mochila e apenas o bilhete comprado. Sem grandes planos, apenas o de ir. E vim. Resolvi dividir a viagem em duas etapas, para que não me dispersasse e conseguisse conhecer o máximo de coisas durante este tempo. Em primeiro, a viagem com carácter cultural, visitando os locais de interesse histórico para Sul e Este, e depois retornar a Lima para a partir daí subir a costa à procura de umas ondas até Mancora, e fazer a minha Surftrip. Afinei o meu espanhol com o taxista que me apanhou no aeroporto. “Portugal? Cristiano Ronaldo!” (Clássico), que me levou até Miraflores, a zona costeira da região de Lima, onde tinha reservado a primeira noite. Após 15 horas de voo, e mais umas tantas mortas em aeroportos e transportes, decidi deixar a mochila no Hostel e correr até ao mar. O mar, sempre o mar! Estavam a dar umas ondas, direitas e esquerdas. Metrinho mole, mas divertido. O crowd pareceu-me tranquilo, e o nível de surf bastante mediano. Apenas os miúdos sobressaíam com uma ou outra manobra mais radical. Não viajei com prancha, porque para além da companhia aérea cobrar bastante pela bagagem fora de formato, quero ter mobilidade total, sem ter que retornar a um local para a buscar. E hoje em dia onde houver ondas, há pranchas. Estava consciente que não iria encontrar uma Retro Single Fin, como a que surfo em Portugal, mas posso surfar com vários shapes, melhor ou pior, o que me interessa é estar na água. Chegada à praia, perguntei a um surfista onde podia alugar pranchas, ao qual me respondeu que um amigo chegaria à praia com uma carrinha com diferentes modelos, dali por meia hora. Esperei, e logo o vi chegar. Peguei numa 6´, uma prancha performance, bastante diferente daquilo a que estou habituada, e num fato short 2 mm, por 40 soles (aprox. 11€), e corri para a água quente, que sonho! No final surfei “unas olitas buenas”. Miraflores é cosmopolita, com oferta variada, e pouca tipicidade. Não senti que estivesse no Peru, nem mesmo na América, e após 2 noites resolvi por os pés à estrada e começar a minha viagem. Logo no primeiro hostel, conheci 2 raparigas espanholas (Laura e Amélia) que iam fazer o mesmo trajecto que eu até Machu Picchu, e decidi encontrar-me com elas em Paracas, para onde já tinham partido no dia anterior. Os transportes públicos no Peru são bastante confortáveis, e são uma boa opção para longas distancias. É possível faze-los de noite, uma vez que têm bancos extensíveis, e poupar a noite num hostel. Segui então viagem para Paracas, uma pequena vila com um cheiro a maresia intenso, uma Reserva Nacional com uma biodiversidade impressionante. Focas, Leões marinhos, Gaivotas, Pinguins, Pelicanos, Guanays, Zarcito, Churrete, e mais um sem numero de animais marinhos que desconheço o nome, todos prosperam sem predadores neste pequeno arquipélago chamado Islas Ballestas. Os passeios turísticos de 30 minutos não parecem incomodar a vida selvagem, e estes fazem as delícias dos turistas que por momentos têm um emissão de BBC ao vivo. Desde as ilhas, aos quilómetros infinitos de deserto, e às praias solitárias do sul com diferentes características, esta região é deslumbrante. Senti-me em casa em Paracas, com a brisa do mar a reconfortar-me a alma. Paracas é também o local da segunda civilização do Peru, com o mesmo nome, depois dos Chavín, e antes dos Nasca, Moche, Wari, Lambayeque, Chimú, Chancay e Inca (fica o apontamento, para quem gosta de historia também). No museu improvisado após o terramoto de 2007 que destruiu o original, é possível contemplar alguns artefactos desta época, e o que mais me fascina, os crânios alongados. Seguimos para Nasca, a 5h de caminho. Tínhamos o voo para observarmos a linhas Nasca marcado para o dia seguinte pela manhã (70 dólares / pessoa). Cidade pequena, muito quente, e com pouca coisa para ver a não ser as linhas e um pequeno Museu arqueológico. Apesar do voo conturbado, a escala das linhas Nasca é impressionante! Podemos observar dois tipos de geóglifos, os que representam animais e flora, pertencentes aos Nasca, e os trapézios, e linhas rectas pertencentes ao povo guerreiro que conquistou posteriormente Nasca. Acredita-se que as primeiras foram feitas para agradar o Deus Sol, para que este enviasse água, uma vez que só a há durante 3 meses na região. As segundas, seriam linhas de aterragem de naves espaciais, pois de cima parecem um autêntico aeroporto, ou linhas que sinalizavam cursos de água no subsolo. A opinião divide-se, mas eu gosto de extraterrestres! (:D) Seguimos viagem. Arequipa fica a 9h de autocarro de Nasca, e é a segunda cidade mais popular do Peru, tendo sido a sua capital de 1835 a 1883. Chamada a “cidade branca”, pela cor original dos seus edifícios coloniais, feitos de sillar, pedra branca vulcânica, uma mistura de influência espanhola e árabe, e pela abundante população europeia que nas invasões espanholas se sediou neste vale vulcânico de clima ameno. Rica em vinicultura e cultivo de grãos de cacau, produz os melhores chocolates americanos. Iberica é o nome da maior produtora de cacau.
Desde a Catedral, onde se pode ver representada a figura do diabo, a movimentada praça de armas, as fachadas neoclássicas dos edificios do centro histórico, o Museu dos Santuários Andinos, onde infelizmente não podemos ver a Juanita (a múmia mais bem conservada do mundo), que está no período de conservação até Março, o lindo convento de Santa Catalina, e todo o comércio tradicional. Para já não consigo decidir o que mais gostei, na verdade estão em categorias diferentes, todos num patamar elevado! Não vinha com expectativas algumas, e portanto a novidade é sempre entusiasmante. Daqui seguiremos para Puno, a 6h de autocarro para Sudoeste, quase na fronteira com a Bolívia. Até já!
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