Acompanhei de perto a última etapa do Circuito Nacional de Surf Esperanças, que se realizou em Peniche no passado mês de Março, e assisti a um espetáculo, no mínimo triste, não na água, mas na areia. A determinada altura, uma criança, sim, uma criança, não teria mais de oito, nove anos, saía da água, abandonava o seu “heat” poucos minutos depois de ter entrado, não se sentia muito confortável com o mar que estava. Foi recebida à beira d’água pelo seu treinador, acompanhante, ou sei lá o quê, aos gritos, a gesticular, e a mandá-la novamente lá para dentro. Que remédio teve, lá foi. Aquela criança, naquele dia, não se divertiu a fazer surf, simplesmente porque não estava ali para isso, não estava ali para se divertir. Com oito, nove anos, aquela criança, estava ali unicamente para fazer surf e justificar o investimento que alguém está a fazer nela, aquela criança estava ali, porque é um projeto de alguém. Se uma criança com oito, nove anos, fizer surf por mais alguma razão, que não seja o de se divertir, seja em competição ou não, então, algo está muito mal… a competição, pelo menos, como eu a vejo nestas idades, até ao escalão de sub-14, deveria ser encarada de modo divertido, espontâneo, de convivência salutar,… O surf mostrou aqui o seu lado mais negro, em que necessita que uma criança de oito, nove anos, deixe de se divertir a surfar, só porque alguém investiu, seja tempo, seja dinheiro,… e quer retorno. Ainda bem que não são todos assim… Boas ondas, e ... divirtam-se...
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Dezembro 2016
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