Assumimos neste espaço que uma das suas prioridades seria a defesa do património ambiental da Capital da Onda, e consequentemente a denúncia de casos que o lesassem de algum modo, e já o fizemos algumas vezes. Escrevi recentemente que a organização do Rip Curl Pro este ano tinha tido uma preocupação acrescida em minimizar a pegada ecológica que um evento desta magnitude deixaria na zona onde decorre. Assentei esta opinião fundamentalmente na observação que fiz na montagem da estrutura, que me pareceu bastante razoável neste aspeto. Para além disso, houve algumas iniciativas de cariz ambiental durante o evento que me pareceram importantes, bem como a inclusão de algumas ONG’s com preocupações nesta área. Mais de uma semana depois de o evento ter terminado, aquilo que podemos ver na Praia dos Supertubos, vai completamente em sentido contrário do que me tinha sido dado a observar no início. É verdadeiramente inadmissível o estado em que aquela praia está, estou chocado com a irresponsabilidade demonstrada pelo organizador, pois isto de Rip Curl Planet’s …, de não pisem as dunas …, de salvem as nossas praias … e mais não sei o quê, com constantes avisos ao longo do evento é tudo muito bonito, mas quando se vão embora o que fica é isto: Não me venham com a desculpa que ainda não terminaram de desmontar, e mais isto e mais aquilo, pois o estado em que aquela duna ficou nada tem a ver com lixo, tem a ver com o facto de estar completamente destruída na sua biodiversidade, pois andaram lá com máquinas em cima, como é possível ver pelo rasto deixado.
O organizador deste evento tem de ser chamado à responsabilidade pela agressão ambiental que está a praticar nesta praia, não sei é se haverá coragem por parte das instituições que nos representam para o fazer. Se fizermos fé no que fizeram, quando este verão destruíram uma duna na Praia do Cerro, então já sabemos qual é a resposta: NADA Ainda bem que eu não ganho dinheiro nenhum com o surf, pelo menos assim tenho tempo para estas infantilidades…
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Foto: Carlos Tiago As expectativas estavam altas, muito altas, pois em 2011, Supertubos tinha estado simplesmente extraordinário. Apesar de uma estrutura ligeiramente mais leve, a imponência da mesma não deixou de marcar ainda assim a pacata paisagem desta praia, conhecida e reconhecida nos quatro cantos do mundo, onde foi no entanto notória a preocupação de minimizar ao máximo a pegada ecológica de um evento deste calibre. Foi um evento difícil de gerir, talvez pela expectativa das previsões serem bastante animadoras, e de ainda, na nossa memória estarem presentes os tubos do ano anterior. O “swell” esteve pouco consistente ao longo de todo o período de espera, não encaixando sempre nos bancos dos Supertubos, ainda assim, em determinadas alturas da maré, foi possível ver ondas de altíssima qualidade, que aliadas ao talento dos intervenientes, proporcionaram “scores” quase perfeitos. A nível de curiosidade, das duzentas e trinta e três ondas que contaram para definir os “scores”, quase metade delas foram pontuadas com notas de bom para cima (cinco notas dez incluídas), mais precisamente 49,8%. Admitindo que é sempre mais fácil falar à posteriori, houve no entanto na minha opinião, à semelhança de 2009, alguns erros de avaliação das condições por parte do diretor de prova. Exemplo disto, foi a quarta-feira, dia 17, em que os “heats” da parte da manhã nunca deveriam ter ido para a água, pois não se põe em causa daquela maneira, a imagem tanto dos surfistas, como da própria onda, quando nos dois dias anteriores teve a possibilidade de os fazer no pico alternativo em condições bastante melhores. Foi a todos os níveis frustrante ver um surfista como Kelly Slater ter nas suas duas melhores ondas um 2,67 e um 2,60, quando um par de horas depois houve um dez, e várias notas acima de oito. Quanto à final, e se houve um erro por parte de Gabriel Medina que perdeu a prioridade já no último minuto, o 8,43 atribuído à última onda de Julian Wilson deixou no mínimo algumas dúvidas, mas isso, são contas de outro rosário... Para a história o que perdurará será a vitória do australiano, a primeira da sua carreira no World Tour. Um dos aspetos bastante positivos neste Rip Curl Pro 2012, foi a proximidade existente com o PPSC – Peniche Surf Clube, clube que legitimamente representa os surfistas de Peniche, e que permitiu entre muitas outras coisas, a realização pela primeira vez em Portugal de um “Trials of the Trials”. Esta prova organizada pelo clube local, apurou um atleta para o “Trials” oficial do evento, merecendo destaque o facto de ter sido autorizado pela Rip Curl, a utilização da estrutura do evento principal para a sua realização. Francamente negativo na minha opinião, foi a realização do Festival Moche naquele local. Defendo que este tipo de iniciativas deve ter sempre lugar dentro de Peniche. Foi-me garantido que houve essa preocupação por parte das entidades locais, e acredito que sim, mas que os promotores foram irredutíveis nesse aspeto. É preciso então que não nos verguemos em demasia às decisões de quem tem o dinheiro e que imponhamos também a nossa vontade, puxando se for caso disso, dos galões da legitimidade de sermos parceiros e detentores do bem que eles querem utilizar, a onda dos Supertubos. De uma vez por todas, se nós precisamos deles para realizar cá este evento de modo a nos promovermos, eles também precisam de o fazer cá (lá está, parceiros), pois em Portugal não encontram outro lugar com as condições que nós temos para lhes oferecer. Haja coragem, e se necessário for, dêem-se alguns murros na mesa. Para terminar, os números não mentem, e na minha opinião este campeonato merece nota positiva. Que venha 2013. Localismo, voltamos ao tema. O tal que causa embaraço a muita gente, principalmente àqueles que tem necessidade de ser politicamente correctos, por este ou aquele motivo. Não é o meu caso. Já aqui há uns meses tive oportunidade de falar sobre localismo, hoje volto ao assunto, pois começam a passar-se em Peniche situações que pela sua gravidade terão de ter uma solução. Estes três episódios que irei relatar, passaram-se por cá em pouco mais de um mês, sendo que os dois últimos foram na mesma semana, e são, por si só, demonstrativos do ambiente que se vive nas praias de Peniche. No primeiro estive envolvido, nos outros dois não irei revelar as identidades dos protagonistas, eles o farão, se assim o entenderem. 1º Estávamos em finais de Agosto, princípios de Setembro nos Supertubos, num daqueles poucos dias em que as ondas, apesar de pequenas, nos brindaram por aquelas bandas, numa surfada descontraída de verão. A determinada altura um amigo meu, local dos sete costados, leva um dropino até terra, e ao tirar satisfações do sucedido com o infractor, este empina-se e grita de tal maneira que me fez remar até eles para ver o que se passava… a coisa acalmou. Já cá fora, junto dos chuveiros onde estávamos a tirar os fatos, a conversa começa outra vez entre o meu amigo e o tal forasteiro que entretanto chegara. No meio da conversa, que até estava a ser calma, este vira-se e diz que já faz surf há seis anos e que não tem medo de ninguém. Eu que ainda não tinha intervindo, e já estava com a minha filha ali ao pé, virei-me para ele e disse-lhe que se ele faz surf há seis, eu faço quase há trinta, e que a sorte dele era ter sido com um gajo calmo, pois se fosse com outro, talvez a coisa fosse mais complicada. E virei costas para me ir embora. O personagem vem atrás de mim pela esplanada do bar e começa a gritar comigo e a desafiar-me para resolver o assunto já ali. Ainda parei, mas com a minha filha ao colo, achei que não seria o melhor exemplo que lhe dava, ignorei e segui caminho. Soube mais tarde que este forasteiro manteve esta mesma atitude com outros locais no Baleal e no Molhe Leste. 2º É de conhecimento local que o Pico do Cerro não é uma onda de excelência nem nada que se pareça, mas permite fazer desporto, mexer o corpo, treinar nem que seja rodinhas e cut-backs e por vezes até consegue proporcionar momentos divertidos, lá isso é verdade. Pela primeira vez em 15 anos que faço bodyboard tive medo de estar a surfar, correndo o risco de não sair dali com a minha cara inteira...no pico de onde consigo avistar a minha casa, e onde pela primeira vez senti o que era fazer bodyboard… Se calhar muitos de vós irão pensar: “olha este meteu-se a armar em esperto, se calhar merecia!”, até nem foi o caso, e quem me conhece sabe que não sou violento, nem stressado, até sou calmo. Quando entrei nem estava quase ninguém, depois foi chegando o crowd, e com aquelas ondas nem vale a pena stressar muito. Eis então que sou dropinado, sim fui dropinado e não o contrário. Não puxei o bottom porque senão de certeza que me iria magoar contra o surfista e tranquilo disse-lhe: “pah já dropinas aqui? Aqui não dropinas quase que me magoavas, têm mas é calminha” – responde em brasileiro: ”o que é que você quer, me deixa surfar!!” – Voltei a dizer quem ele pensava que era, que ali não dropinava ninguém. E foi aí que as coisas se complicaram, veio direito a mim e disse nestas palavras: “Brasileiro não briga não, brasileiro parte logo para cima, você quer ir lá para fora?? Você não me conhece cara eu sou maluco!! Vê lá se queres que te estrague essa tua carinha!!” Perante toda aquela agressividade e de ainda me avisar que nos víamos por aí, estando eu sozinho, infelizmente fui obrigado a baixar a bolinha na minha própria terra, no pico onde aprendi a fazer bodyboard. 3º Hoje nos Super, um “pintarolas” do surf, a falar castelhano, meteu-se numa onda de set, supostamente minha, e ainda ficou muito chateado por lhe ter agarrado na remada. De tal maneira, que teve o desplante de me desafiar para ir para a areia resolver o assunto. O ... [outro local] veio ao pé de nós, para perceber porque não fui na onda e também foi convidado para ir lá para fora. Isto é grave, muito grave, e não há muito a falar sobre o assunto, apenas que senhores como estes, são capazes de precisar de uma ajudinha para rever a sua atitude, pois desta maneira não são bem-vindos a Peniche. No entanto, não é por acaso que isto acontece cada vez com maior frequência por cá, e a desunião existente entre os surfistas de Peniche, tanto no “line-up”, como em torno do clube de surf local, é uma das razões que potenciam este tipo de situações. Quem chega, não vê a força/união que deveria ver por parte dos surfistas locais. Por outro lado, e não menos importante que o ponto em cima, os constantes atropelos à dignidade que o surf penicheiro é alvo, uns mais dissimulados do que outros, por parte da imprensa e de alguns lobbies surfísticos, sem que ninguém com responsabilidades institucionais tenha coragem ou vontade de se insurgir, acaba também por potenciar este tipo de situações. Peniche já foi conhecida no mundo do surf nacional pelo respeito que os seus locais impunham a quem cá vinha, mas isso devia-se principalmente há união existente e ao respeito, que nós locais, tínhamos uns pelos outros, e quem chegava percebia nitidamente isso quando entrava na água. Quem faz surf, e não quem anda há meia dúzia de dias metido nestas andanças, sabe perfeitamente que existem regras intrínsecas ao próprio desporto que devem ser respeitadas, e uma delas é o respeito pelos locais. Nos “line-up’s” da Capital da Onda, começa a ser banal essa falta de respeito, e isto é algo que não pode acontecer. Está na altura, de nós locais, mudarmos de atitude, e a palavra de ordem terá de ser… UNIÃO. O rastilho está acesso, esperemos que não rebente a bomba. |
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Novembro 2016
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