Foto: Pedro Carvalho / SurfTotal.com Escrito por: Luís Fernando Almeida e Tomás Almeida Ao refletir sobre a importância de um bom clube de surf local, em especial em Peniche, onde vivo assim como os meus próximos, pensei que seria interessante partilhar a minha opinião. O surf é uma atividade com a qual contato desde, talvez os meus 17 anos (1974/75), pratiquei, tive a minha prancha que se comprava de ocasião aos ingleses e australianos que cá vinham. Pelos vinte, vinte e tal anos afastei-me da prática, não sei porquê, mas continuei muito próximo e a acompanhar toda a evolução da atividade que se tornou um desporto e simultaneamente uma atividade turística e até talvez, um certo modo de vida. Para reforço deste percurso, os meus filhos são praticantes, uma deles com pretensões competitivas. Então estamos a falar de uma atividade desportiva e também económica. Em minha opinião, o clube deve posicionar-se na componente desportiva mas tem muita importância para a perspetiva económica porque é importante na promoção (um campeão de Peniche é um embaixador da sua terra) e também porque deve contribuir para a organização e evolução do surf no seu todo. Na prática e novamente no meu ponto de vista, quais devem ser as principais atividades de um clube de surf local (representativo da maioria dos praticantes): 1– Representar e defender os interesses dos seus sócios; 2– Estabelecer um ranking local; 3– Apoiar e acompanhar os seus melhores praticantes na participação em competições; 4– Ser responsável no local, pelo treino competitivo de topo, garantindo os melhores treinadores; 5– Propor e colaborar na organização de competições de dimensão internacional, nacional ou regional; 6– Ser parceiro do cluster de desenvolvimento do surf; 7 –Ser parceiro consultivo do centro local de alto rendimento do surf; Em concreto para Peniche o que é que estas atividades significam: 1– Este ponto é óbvio o Clube será sempre o que os seus sócios pretenderem que seja. 2– O ranking deverá ser estabelecido com base em 3 ou 4 provas locais por ano, abertas a todos (sócios e não sócios; federados ou não). O grande objetivo é encontrar e definir os melhores, para os treinar e acompanhar no desempenho competitivo desse ano. Com objetivos de motivação e evolução de todos, quer na perspetiva lúdica quer competitiva. 3– O clube com os seus patrocinadores garante a participação do seu ou de dois dos seus melhores nos campeonatos regionais e/ou nacionais, conforme um Plano pré-estabelecido. A participação, sempre acompanhada de treinador, na perspetiva de divulgação do spot Penichee da boa performance e evolução dos atletas. 4– O clube nunca deve concorrer com as escolas de surf privadas, por isso nunca deve ter programas de iniciação ao surf ou acompanhamento de turistas aos melhores spots, mas ter ações de aperfeiçoamento competitivo de alto nível, para formar realmente atletas de topo. 5– Acredito que as competições divulgam o local onde se realizam e contribuem para a evolução dos praticantes locais da modalidade. Deve-se escolher competições que prestigiem Peniche e que também contribuam para a sua afirmação como destino turístico Surf. 6– O cluster surf tem grandes interesses económicos! Estes interesses não podem prejudicar os interesses desportivos e de lazer. Temos de resolver “aquela coisa dos locals” que tenho dificuldade em perceber, talvez por não ser praticante… Por um lado não pode ser prejudicado o aumento da procura turística, mas por outro lado não podemos chegar ao ponto de não ter locais “para surfar com pouca gente”: Uma taxa para as empresas que querem utilizar certos espaços da praia para os seus alunos, pode ser um caminho. Pode ser? Manter algumas praias sem grande divulgação, também pode ser uma eventual solução. Pode ser? Neste aspeto há muito a conversar, sem teimosias e de forma construtiva… 7 – Por fazer tudo o que se referiu, de forma construtiva, será um natural parceiro consultivo de todos os projetos de dimensão acima da dimensão local. Certo ou errado, foi isto que pensei e resolvi escrever, desculpem se estou totalmente fora do fenómeno, mas parece-me que nalguns aspetos talvez não. Tenho para mim que o Surf é um desporto/atividade/vida muito interessante, tem que ser desenvolvido de forma cautelosa, quer em termos económico e sociais quer em termos ambientais.
0 Comentários
Foto: CMP Terminou mais um RIP CURL PRO PENICHE (Portugal), desculpem lá, mas eu gosto mais de lhe chamar assim. Começa a ser difícil encontrar adjectivos que definam os campeonatos e as ondas em Peniche, foi o terceiro ano consecutivo em que o “Word Tour” passou por Peniche, e mais uma vez Supertubos mostrou toda a sua grandeza, apresentando-se verdadeiramente de gala durante toda a competição. Foi incrível assistir a este campeonato, talvez o melhor dos três que por cá já se realizaram. Supertubos mostrou-se em toda a sua pujança, provando mais uma vez que não existe em Portugal mais nenhum local onde se possa realizar um campeonato desta magnitude com este nível de ondas, apesar disto criar uma certa azia a muita gente no meio do surf em Portugal. Não encontro outro termo para definir esta etapa, a não ser… EXCELENTE, foi um “show” de tubos. Foram tubos para esquerda, para a direita, na maré vazia, na maré cheia… faltam-me as palavras para definir aquilo a que assisti durante estes três dias de competição. Talvez o melhor é irmos mesmo aos números para percebermos melhor a qualidade do campeonato que tivemos. Em termos globais, durante cinquenta e um “heat’s” foram surfadas setecentas e noventa e três (793) ondas, das quais noventa e duas (92) foram classificadas como excelentes, cento e vinte e seis (126) como boas, setenta e cinco (75) como normais e cento e quarenta e duas (142) como fracas. Vamos agora ver as estatísticas para as ondas que contaram para as classificações, ou seja, o conjunto de ondas que serviram para definir os “scores” de cada um dos atletas em cada um dos“heat’s”. Das duzentas e vinte e nove (229) ondas que contaram, oitenta e sete (87) foram excelentes, oitenta e duas (82) boas, trinta e três (33) normais e apenas vinte (20) foram classificadas como fracas. Em termos percentuais temos que, 74% das ondas foram classificadas de boas para cima, divididas em 38% para as excelentes e 36% para as boas, isto meus amigos, é a prova provada que a onda dos Supertubos em Peniche é de uma qualidade como poucas no mundo. Ainda a nível de curiosidade, a onda que fecha o “top 10” foi pontuada com um 9,77, sendo que as quatro primeiras são de nota máxima (10 pts). Penso que estas estatísticas definem bem o que se passou durante este campeonato, e desafio desde já a apresentarem números de qualquer campeonato realizado em Portugal que se aproximem destes, inclusivamente aqueles que se realizaram na recém-galardoada Reserva Mundial de Surf (RMS). Relativamente à estrutura montada na praia, considero que houve uma melhoria em relação ao ano anterior, e quero frisar especificamente o terem montado a área VIP fora do areal, bem como a montagem de duas bancadas em frente ao pico. Chegou agora a altura de falar daquilo que não gostei, e como escrevi no primeiro editorial deste “site”, defenderei sempre o surf e os surfistas de Peniche, doa a quem doer…continuando, houve algumas coisas que já venho a não gostar desde o primeiro campeonato que aqui se realizou em 2009, e vou ser já muito directo, e dizer que acho uma vergonha a maneira como os surfistas locais são tratados pela organização deste evento, e obviamente refiro-me à Rip Curl, com a conivência da Câmara Municipal de Peniche, na pessoa do seu Presidente, António José Correia. É verdadeiramente vergonhoso o desprezo a que os surfistas locais são votados, não se esqueçam, aqueles que são os únicos que dão o melhor que têm (ondas) e nada recebem em troca, ao serem frequentemente escorraçados de todas as áreas da estrutura montada na praia, em detrimento dos meninos residentes mais a sul, que ostentam orgulhosamente pulseiras de todas as cores com entrada escancarada para todo e qualquer lugar, isto é no mínimo revoltante para quem dá uma onda como a dos Supertubos para realizarem uma das melhores etapas do circuito mundial. Não tenham medo que os surfistas locais não têm nenhuma doença contagiosa, não tenham medo que os surfistas locais também se sabem comportar nos eventos sociais, também somos educados, também temos estudos, também sabemos conversar sobre assuntos interessantes, não somos nenhum bando de marginais que por acaso fazemos surf durante todo o ano em Peniche. Por falar em eventos sociais, já no ano passado o disse, e volto a dizê-lo este ano: não percebo qual a razão de a festa de lançamento de um evento realizado em Peniche ser feita em Lisboa, a uma centena de quilómetros de distância. Se não for pela mesma razão que no ano passado avancei, de que seria para poupar o “jet set” alfacinha a uma viagem cansativa, só vejo mais uma, talvez tenham algum receio que este bando de marginais surfistas e residentes nesta terra de pescadores criem algum tipo de embaraço a convivas tão ilustres. Avancemos, e agora Sr. Presidente, vai ter de me ouvir, pois sei que sabe gerir magnificamente o momento mediático, e tiro-lhe o chapéu por isso, não foi com certeza por acaso que escolheu os “heat’s” onde o Tiago Pires e o Kelly Slater estavam a competir para falar aos microfones na praia, fê-lo e muito bem, só não gostei foi de na entrega de prémios agradecer e pedir uma salva de palmas (e eu também aplaudi) a todos os surfistas e de não ter acrescentado algo do género: “e agora peço uma salva de palmas para todos os surfistas de Peniche, pois são eles os verdadeiros donos destas ondas onde foi realizado este excelente campeonato”, tinha-lhe ficado bem. O Centro de Alto Rendimento serviu este ano para a conferência de imprensa de apresentação do campeonato, mais uma vez muito bem. Só não percebi uma coisa, mas por que raio foi o Senhor Presidente dar o nome de um dos quartos ao Tiago “Saca” Pires? Desculpe que lhe diga, mas fazendo uma analogia com o futebol, isso é a mesma coisa que o Pinto da Costa dar o nome do Eusébio a uma bancada no dragão. Coincidência ou não, pois a azia às vezes tem destas coisas, belo agradecimento o dele, com aquele gesto lindíssimo para a praia no fim do primeiro “heat” em que competiu. Tinha tantos nomes dentro do surf penicheiro para escolher, dou-lhe só dois ou três exemplos: um campeão da europa em bodyboard, uma surfista local, que foi só a primeira surfista em Portugal, um surfista e “shaper”, infelizmente já desaparecido, e um visionário para a época, que foi o primeiro a ter uma marca de pranchas (Papoa Surfboards) e uma fábrica em Peniche, para além de mais alguns surfistas locais emblemáticos. O facto de Peniche (cidade) ter passado mais uma vez ao lado deste campeonato, já nem vou comentar, pois as razões são precisamente as mesmas do mesmo ter acontecido nos outros anos, e se assim continua é porque não há vontade para o mudar. Termino, dizendo apenas que mostrámos mais uma vez aquilo que as nossas ondas valem, e que neste momento já não há ninguém no seu perfeito juízo no meio do surf que as possa colocar em causa, aliás, opinião unânime entre os surfistas que competem no “World Tour”, e é essa verdadeiramente a opinião que conta, e que nos deixa cheios de orgulho. Venha 2012 que os Supertubos e os surfistas locais cá estarão para os receber, novamente com a mesma qualidade e simpatia, como é apanágio desta magnifica terra de surfistas e pescadores. |
Arquivo
Novembro 2016
|