É com bastante tristeza que escrevo estas linhas, o Península de Peniche Surf Club (PPSC) está ferido de morte, a Capital da Onda tem um clube moribundo, deixado ao abandono para que tenha uma morte lenta, dolorosa e sem glória. Ao ver as folhas dos “heat’s” para a Taça de Portugal 2011 que começará hoje em Aveiro, deparo-me, e não posso dizer que tenha ficado surpreendido, com a não presença de nenhum atleta do Península de Peniche Surf Clube (PPSC) nas mesmas, ou seja, um clube que apenas há dois anos ganhou esta competição, hoje nem representado está, chegámos ao fundo do poço. Em 26 de Julho de 2010 escrevi aqui que a Capital da Onda corria o risco de ficar sem clube, pois ao levar apenas dois atletas do clube à Taça de Portugal, que nesse ano decorreu em Ílhavo, onde defendia o título alcançado no ano anterior, tendo inclusivamente sido os atletas a suportar grande parte das despesas para o representar, adivinhava-se o início da doença da qual está a padecer, o que revelou desde logo as intensões de completo abandono a que está votado neste momento. Ultrapassámos já o meio do ano, circuito regional ainda não há, e dificilmente acredito que irá haver, pois tendo em consideração que a última notícia colocada no “blog” oficial do clube data de 11 de Dezembro de 2010, onde se dava conta da hora para o “check-in” do segundo dia de prova da quarta etapa do Circuito de Surf e Bodyboard de Peniche 2010, em que os resultados nunca foram divulgados, assim como os rankings finais, o que habitualmente acontecia, leva-nos a crer que foi nesta altura decidido por parte de quem voluntariamente, repito, voluntariamente, se candidatou à tarefa de o dirigir, abandoná-lo em definitivo, deixando-o à morte lenta. Estes dirigentes são os responsáveis pelo estado deplorável em que o clube se encontra, pois receberam-no numa altura em que lutava pelas vitórias, principalmente no Nacional de Clubes e na Taça de Portugal, competições onde até atingiu de facto esses resultados, nomeadamente com esta direcção, poucos meses depois de ter tomado posse (Taça de Portugal 2009), mas esta vitória, e isto tem de ser dito, é o corolário do trabalho da direcção anterior e não fruto das mudanças operadas pela actual. Esta direcção foi completamente incapaz de dirigir o clube, não conseguindo cativar nem atletas nem parceiros, para o projecto a que se propôs. Mesmo a Câmara Municipal de Peniche, como parceiro institucional que é, ou pelo menos era, e que até determinada altura parecia estar em perfeita sintonia com esta direcção, dá a entender que também a deixou cair, pois nas últimas iniciativas por si organizadas em que se discutiam estas temáticas, não ouvi qualquer referência nem ao clube nem à sua direcção, e isto por si só é demonstrativo da falta de credibilidade que neste momento o clube granjeia, mas verdade seja dita, também nunca vi nenhum elemento da direcção do clube a assistir nem a participar nas mesmas, mais que não fosse para se insurgir contra este facto. Não sei que tipo de objectivos acham que foram alcançados para se assistir a este estado de inoperância, como se o sentimento fosse o de dever cumprido, não bastando chegar ao final do transacto ano e dizer que estavam abertas as inscrições para apresentação de listas concorrentes aos novos órgão directivos, pois os actuais já não estavam interessados em continuar. Tinham obrigação, pelo menos moral, de continuar a trabalhar com afico até uma solução ser encontrada, e não o de apenas formar um grupo de gestão provisório para assegurar os serviços mínimos do clube. Há responsabilidades que têm de ser assumidas, há explicações que têm de ser dadas.
5 Comentários
Este ano fui à CONVENÇÃO SOU DE PENICHE, iniciativa organizada pela Câmara Municipal de Peniche. Depois de cinco edições, foi a primeira vez que participei nesta iniciativa, vamos ver se não será a última. O sentimento com que de lá saí, e à semelhança de outras iniciativas do mesmo género a que já assisti, foi de alguma frustração, ou seja, na sua essência a ideia é bastante interessante, mas depois em termos práticos esse interesse desvanece-se, e estou a referir-me obviamente só à apresentação da ALDEIA DO SURF, que foi aquela a que assisti com mais atenção. O projecto Aldeia do Surf, foi uma apresentação repartida entre a Câmara Municipal de Peniche e a Rip Curl Portugal, primeiro através do arquitecto municipal responsável pelo projecto, e numa segunda fase pelo responsável da Rip Curl. Achei uma apresentação demasiado generalista, com pouco foco. Não posso dizer que tenha saído de lá muito mais esclarecido do que quando entrei, mas talvez isso seja um problema meu. Do que consegui retirar da explicação, fiquei a saber que este projecto pretende implementar-se em terrenos municipais na zona próxima ao CAR Surf, o que basicamente quer dizer, a reestruturação do Parque de Campismo Municipal, a possível reconversão do espaço hoje conhecido como Sportágua, e a construção de uma “megastore” da Rip Curl em terrenos próximos, é isto em termos muito gerais, porque a apresentação também o foi, a Aldeia do Surf. Para já é um projecto que na minha perspectiva pode ser muito interessante. Vamos então tentar esmiuçar, dentro do possível, um pouco mais esta Aldeia do Surf. Em primeiro lugar o nome Aldeia do Surf, que nas palavras do Sr. Presidente da Câmara poderá sofrer alteração, na minha opinião não valerá a pena, esta é uma excelente designação. Segundo, a reestruturação do Parque de Campismo Municipal. Era inevitável, com ou sem Aldeia do Surf. Do que me pude aperceber, e aliás foi mencionado no decorrer da apresentação, pretende seguir uma linha muito próxima do existente na Ericeira, concordo, apesar de achar que há sempre lugar à inovação e à diferenciação. A oferta de alojamento e o aumento em termos de qualidade que proporcionará esta reconversão é sem dúvida importante (e esta é, ainda nas palavras do Sr. Presidente, uma das carências de Peniche, com a qual também concordo) para um projecto como este, no entanto na minha opinião não chega, pois os surfistas, ao contrário do que alguns ainda pensam e dizem, não procuram só este tipo de alojamentos, procuram também outros, nomeadamente hotéis, e existem dois ali bem perto, poderiam e deveriam também estes ser integrados nesta Aldeia do Surf com algum tipo de pareceria, que fosse de encontro aos desejos de maior conforto que alguns surfistas têm para as suas estadias, e que por outro lado abrisse o leque de futuros clientes a estas unidades hoteleiras. Terceiro, Sportágua, bem quanto ao Sportágua não fiquei a saber nada de relevante, a não ser que se poderá pôr a hipótese de ser reconvertido e integrado na Aldeia do Surf. Também não é nada de extraordinário, pois é um espaço que tal como está obviamente não tem condições para continuar, é um espaço com potencialidades para poder ser aproveitado de uma outra forma, o conceito de “glamping” por exemplo seria bastante interessante e inovador integrado neste projecto e neste espaço. Quarto, mega loja da Rip Curl. Ao que pude apurar, apostará na qualidade, pretendendo ser uma das melhores da marca na Europa, com variadíssimos espaços para além da loja em si, incluindo uma escola de surf. Se é importante, sim, acho que é, é sempre importante este tipo de infra-estruturas, mas é preciso ter alguma atenção. Não devemos esquecer que este tipo de empresas, e fruto das novas técnicas/tecnologias de mercado empregam muito poucas pessoas, não caíamos no erro de nos deslumbrarmos com o tamanho físico do projecto, facilitando mundos e fundos, que depois são muito desproporcionados relativamente às contrapartidas. Logicamente que não podemos falar só em empregos directos, seria no mínimo demagógico se o fizéssemos, mas tomando este caso como exemplo, a Rip Curl que está em Peniche há mais de vinte anos, emprega neste momento pouco mais de uma dezena de pessoas, e dessas apenas cerca de 28% são de Peniche. Se a nova mega loja empregar três vezes mais pessoas, e continuar na mesma proporção que tem actualmente, isto quer dizer que a criação de emprego para pessoas de Peniche se cifrará em cerca de oito postos de trabalho, o que na minha opinião é manifestamente pouco. Há sem dúvida aqui mais qualquer coisa a negociar com a Rip Curl. É verdade que a Rip Curl com o seu campeonato do World Tour em Peniche trouxe uma visibilidade enorme à terra, e que essa visibilidade se traduzirá inevitavelmente num aumento de turistas, é verdade que a Rip Curl nos últimos três anos já investiu em Peniche (leia-se, quase na totalidade Rip Curl Pro Portugal) cerca de três milhões de euros, mas também é verdade que o retorno foi essencialmente para a marca, e isto porque a qualidade das ondas de Peniche permitiu que o campeonato fosse um sucesso, é verdade que é extremamente importante que a Rip Curl continue em Peniche, mas também é verdade que é importante que a Rip Curl tenha a noção que pode ser muito mais “solidária” no apoio que pode prestar em diversas áreas para que o surf possa ser muito mais sustentável e transformar-se na mais-valia que realmente pode ser na precária economia local. Em jeito de conclusão, acho que a Aldeia do Surf, como já disse anteriormente, é realmente um projecto muito interessante, no entanto é preciso ter muita atenção aos pormenores, tendo sempre muito presente que o activo que são as ondas de Peniche, e muito particularmente a onda dos Supertubos têm muito valor, tanto para a Rip Curl, como para outra marca qualquer que tenha o seu “core business” nesta área, e é isto que temos de potenciar na negociação das contrapartidas, o valor das nossas ondas. O patamar negocial agora já é outro, bem diferente daquele de há três anos atrás. Conhecidos já nós somos, o nível e a qualidade das nossas ondas já todos sabem qual é, essa parte está feita, agora precisamos de estabilizar e credibilizar o surf e todo o negócio que o envolve com apoios sustentáveis em várias áreas de intervenção. Não podemos aceitar como contrapartida de construção de um imóvel em terrenos municipais (± 2.400m2) apenas mais ou menos dinheiro para a realização de um campeonato, que mais ano menos ano até pode rumar a outras paragens, pois essa decisão não está unicamente dependente da Rip Curl, ... e mesmo que estivesse. Se queremos realmente que o surf traga algo de muito positivo para o crescimento económico de Peniche, temos de ser mais incisivos e duros na negociação com aqueles que maior partido tiram do nosso património natural, que são as ondas, canalizando as contrapartidas para algo sustentável, de modo a que no futuro tenhamos uma rede bem montada de infra estruturas, que nos permitam ficar cada vez menos dependentes das variações negociais próprias dos grandes grupos empresariais. Podemos e devemos ter como base importante de trabalho aquilo que de bom já foi feito noutros lugares, mas por favor, inovemos e marquemos a diferença, esta Aldeia do Surf pode e deve ser diferente, esta Aldeia do Surf pode e deve ter a nossa marca. Já agora, e a título de remate, porque não mesmo uma aldeia, com ruas e casas em madeira, um parque de campismo (mais pequeno) lá no meio, os hotéis, zona de “glamping”, mega loja de surf, o CAR Surf, e quem sabe, mercearia, lojas de aluguer e arranjo de pranchas, … e por aí fora. Volto a dizer, este projecto da Aldeia do Surf parece-me realmente muito interessante, mas mais interessante ficará se for diferente e inovador. |
Arquivo
Novembro 2016
|