Foi anunciado no passado dia 26, em Carcavelos, o MOCHE SERIES - CASCAIS TROPHY - PORTUGAL 2013, uma pareceria entre as Câmaras Municipais de Peniche e Cascais, conjuntamente com a MOCHE, naquilo que foi designado como o maior evento combinado de Surf na Europa, que engloba pela primeira vez, as quatro maiores provas internacionais da modalidade realizadas em Portugal. Em termos genéricos o que vai acontecer é a integração coletiva das principais provas internacionais de Surf realizadas em Portugal, onde para além da etapa do WT masculino, que decorre desde 2009 em Peniche, e do WQS 6 estrelas que acontece em São Miguel, nos Açores, foi ainda anunciada a promoção do EDP Surf Fest, em Carcavelos, de evento do WQS para etapa do WT feminino. De raiz vai ser ainda criada uma etapa Prime – as de maior importância do circuito WQS masculino - em Carcavelos. Muito bem, até aqui nada de extraordinário, e até acho interessante o conceito, mas atenção, é só o conceito que acho interessante, tudo o resto acho bastante desinteressante, para não lhe chamar outra coisa. Vamos então lá ver o que poderá estar por de trás de tudo isto. Em 25 de Dezembro de 2009, num artigo intitulado “O Natal mais ‘cool’ da Capital da Onda”, a determinada altura escrevi o seguinte: Algo que me preocupa também, e apelo à atenção dos responsáveis locais, estejam atentos, e vejam o que aconteceu com o “Red Bull Air Race”, que recentemente foi deslocalizado do Porto para Lisboa. Com o “Rip Curl Pro Portugal” o ‘apetite’ também é grande, e pode-lhe perfeitamente acontecer o mesmo, aliás, assunto já aflorado em alguma imprensa da especialidade, muito subtilmente, mas já aflorado, não se esqueçam que apesar do País ser pequeno, a sua costa estende-se até ao “Allgarve”. Ora isto, a propósito da então tentativa de deslocalização do evento lá mais para o sul do País, assunto que esteve em cima da mesa em reunião de altas esferas com interesse nestes assuntos de turismo e surf. Reparem na data, foi logo mal acabou o “The Search”, o primeiro evento cá realizado, não perderam tempo. Na altura não o conseguiram. Um pouco mais à frente, no mesmo artigo, escrevo o seguinte: … se a qualidade das ondas de Peniche por alguma razão pudesse ser minimamente posta em causa, já aí estariam alguns em fila de espera para o levar para outras paragens, e não para tão longe de Peniche como possam imaginar, pois acreditem, existe por aí muita dor de cotovelo por Peniche ter uma prova do “World Tour”. A oportunidade que esperavam para avançar surgiu, e não se fizeram rogados, e tendo como fundo as ondas que deram no último “Rip Curl”, aí estão eles a fazê-lo, “de mansinho” para não dar muita “bandeira”, e aqui há algo que tenho de dizer, o Turismo de Portugal deveria ter como um dos principais desígnios o de proporcionar meios para desenvolver áreas menos mediáticas e não o contrário, como está a acontecer neste caso, em que estamos a ser engolidos pela marca Cascais/Lisboa. Neste sentido, a pergunta é: CASCAIS TROPHY porquê? O evento de charneira deste, como dizem os seus mentores, troféu “umbrella”, é o “RIP CURL PRO PORTUGAL”, agora renomeado de “MOCHE WORLD PRO”, que eu saiba, preferencialmente realizado em Peniche (só se eles já têm outras ideias em mente). Parece-me por outro lado, que os Açores também fazem parte desta parceria, pergunto novamente CASCAIS TROPHY porquê? No mínimo PORTUGAL TROPHY, para sermos coerentes, pois há diferentes eventos espalhados por vários locais de Portugal, e não só em Cascais, como parecem querer fazer crer. Já agora, curiosamente, o campeonato em Peniche nunca se chamou “RIP CURL PRO PENICHE”, aliás como se deveria ter chamado, só para sermos coerentes. A justificação na altura era que não fazia sentido Peniche, mas sim Portugal, pois era esta a marca que se queria passar, parece que agora já não é esse o entendimento, já é Cascais e não Portugal, isto mais uma vez, só para sermos coerentes. Mas já que falamos de coerência, ou em falta dela, é interessante ver que na nota de imprensa, quando falam de Cascais dizem isto: Para Cascais, berço nacional do surf, a associação ao MOCHE SERIES – Cascais Trophy - Portugal 2013 foi um passo natural numa estratégia de desenvolvimento que passa, em grande parte, pela afirmação da marca “Cascais” através do potencial do mar. Habituada a ser o palco de grandes acontecimentos mundiais, a Câmara Municipal de Cascais tem acolhido algumas das mais prestigiadas provas desportivas internacionais, como a America’s Cup World Series, Campeonato Mundial de Vela do ISAF ou a Audi Med Cup. Muito bem, Cascais, Cascais e mais Cascais, nitidamente a promover Cascais. Vejamos agora os termos relativamente a Peniche na mesma nota: Ao longo dos últimos anos, essencialmente devido a projeção dada pelo World Tour em Portugal, o surf ganhou nome além-fronteiras. A excelência das ondas, a beleza do País, a gastronomia típica, a hospitalidade das pessoas e o clima inigualável foram fatores determinantes para a afirmação de Portugal enquanto o spot de surf para a elite dos atletas da modalidade e para a promoção do nosso País enquanto destino preferencial para o “Turismo do mar”. Bem diferente não? É interessante reparar que referem os eventos em Cascais para promover Cascais, enquanto que a referência aos eventos em Peniche, nunca mencionam a palavra da terra, e estes já são para promover o País. É por este tipo de coisas, que em 22 de Fevereiro de 2012, no artigo “Estará o surf penicheiro refém de uma utopia?” escrevi o seguinte: Os jogos de interesses começam também agora cada vez mais a fazerem parte do fenómeno surf, e de quem tenta a todo o custo liderar o processo. Todos sabemos que nestes jogos de poder há sempre quem tenha de ser “queimado”, e no surf, somos sempre nós, continuando a máxima a ser: Lisboa é Portugal, o resto é paisagem, e nós, paisagem, estamos cá para acatar as ordens daquilo que eles lá em Lisboa decidem. Passado um ano, nada mais atual. Como disse em cima, isto está a ser feito de mansinho, para não levantar muitas ondas, e depois dar a estocada final, e começa logo por aqui, como que, a preparar o terreno para o que está para vir, senão vejamos o que o Record escreve na sua edição on-line de 26 de Fevereiro: Destaque ainda para a praia de Carcavelos passar a ser palco secundário do Rip Curl Pro Portugal, o que poderá fazer com que o campeonato mude de local, caso as condições não sejam as ideias em Peniche. Meus amigos, devem estar a brincar, ou então julgam que somos todos parvos, Carcavelos como “backup” de Supertubos? O que isto quer dizer é muito simples, o campeonato só será feito nos Supertubos se as ondas estiverem realmente boas, caso contrário será sempre em Carcavelos, esta intenção é por demais evidente. O objetivo nesta primeira fase é levar para lá todo aquele mar de gente na praia, enfraquecer as reservas de alojamento naquela altura em Peniche e estabelecer o “quartel-general” do staff por lá, e não se esqueçam do número de quartos que só o staff ocupa, já para não falar dos atletas, ou seja, se estiver realmente muito bom em Peniche, eles vêm cá aproveitar as ondas, e isso pode acontecer apenas um dia, ou dois, conforme as condições, e depois vão embora, caso contrário, nem sequer cá põem os pés, a animação será toda por lá, de dia… e de noite… ah, e claro, é lá que os tais 130 mil visitantes gastarão o dinheiro, lembram-se daqueles milhões de euros tão falados e difundidos na imprensa, são esses que os senhores de Cascais querem levar, até ao último cêntimo, não pode é ser já. Este ano, ainda têm de suportar a “ralé” penicheira misturada com a “fina flôr” de Cascais, mas daqui a um ano, se calhar já não…. Escrevi-o em 19 de Março de 2009, no artigo “Entre a discriminação e a ingratidão": Peniche e o surf penicheiro continuam a ser tratados e discriminados de um modo inaceitável por parte dos principais agentes deste desporto. Quase quatro anos depois, reforço esta ideia, não mudaram de atitude, refinaram apenas o modo como o fazem. Desenganem-se os mais ingénuos, a coisa está montada e em andamento, o “Rip Curl Pro Portugal”, desculpem, o “Moche World Pro”, em Peniche, tem os dias contados. A raposa descobriu a entrada para o galinheiro, agora ..., desculpem a linguagem, mas estamos a ser “comidos”… e à grande.
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Desde que o surf se tornou a “menina dos olhos” do turismo em Portugal que ouço frases do tipo “as ondas não desaparecem”, “os estádios de surf já estão construídos” ou ainda que “as ondas não são passiveis de serem replicadas”, como argumentos justificativos para o investimento no produto surf. Há muito que sou defensor, que o surf pode ser uma mais-valia muito importante para o desenvolvimento da economia da nossa região, tenho-o escrito variadíssimas vezes. O produto surf tem como base a onda, pois é nela que se pratica a modalidade que serve de âncora a todo o desenvolvimento dos negócios a ele associados, sejam surfcamps, surfschools, surfshops, fábricas de pranchas, etc, etc, etc..., ou seja, sem ondas não há surf, e sem surf não há negócios associados, daí o tal argumento de que as ondas estão lá e não desaparecem, claro está, na perspetiva de não ser necessário construi-las, bastando unicamente que não destruam a sua envolvência, que elas continuam a rolar, como sempre rolaram. Totalmente de acordo até este ponto, é quase uma ‘verdade de la palisse’, fisicamente a onda não desaparece (partindo do princípio que não a destroem), no entanto, o que está aqui em causa é a onda como produto turístico, e nesta perspetiva, na minha opinião, pode efetivamente desaparecer. Senão vejamos, e existem alguns conceitos importantes para percebermos a questão. TURISMO e não havendo uma definição única desse conceito, o que a Organização Mundial de Turismo (OMT) recomenda é que seja entendido como: "as atividades que as pessoas realizam durante as suas viagens e permanência em lugares distintos dos que vivem, por um período de tempo inferior a um ano consecutivo, com fins de lazer, negócios e outros." Partindo do princípio que os turistas são aqueles que praticam o turismo, ainda segundo a OMT, TURISTA “é todo o visitante temporário que permanece no local visitado mais de 24 horas”, o que nos leva à questão dos que permanecem menos de 24 horas, que segundo a mesma organização são os EXCURSIONISTAS. À conjugação destes dois conceitos aplica-se o conceito de VISITANTE, que “é toda a pessoa que se desloca temporariamente para fora da sua residência habitual, quer seja no seu próprio país ou no estrangeiro, por uma razão que não seja a de aí exercer uma atividade remunerada.” Ponting, um dos estudiosos desta matéria, definiu então como TURISMO DE SURF “toda a viagem e permanência temporária, realizada por um surfista, envolvendo pelo menos uma noite fora da sua região de domicílio habitual, cuja principal expectativa é surfar.” Então, analogamente podemos dizer, e numa lógica de, VISITANTE = TURISTA = SURFISTA (e aqui deixamos de fora os acompanhantes dos surfistas e aqueles que vêm ver os surfistas), que TURISTA DE SURF será toda a pessoa que se desloca temporariamente para fora da sua residência habitual, quer no seu próprio país ou no estrangeiro, por uma razão que não seja aí exercer uma atividade remunerada, cuja principal expectativa é surfar. Qualquer turista, e o de surf não é excepção, tem no final da sua estadia, como objetivo, retirar uma sensação de satisfação, resultante da sua experiência de consumo, neste caso da onda, pois é nela que se baseia toda a oferta turística do surf. Muito bem, assim, tudo isto nos leva à regra base do surf, um surfista, uma onda, e só havendo uma determinada percentagem de ondas de um turista de surf que satisfaça esta regra, é que o mesmo retira satisfação da sua estadia, caso contrário o feedback será negativo, com as implicações que isso terá. Temos ainda de separar, na minha opinião, mais dois conceitos, os turistas de surf, que já fazem surf, e vêm para fazer surf, e os turistas de surf, que não fazem surf, mas que vêm para aprender a fazer. São dois nichos de mercado completamente diferentes, e que devem ser vistos de modo diferente. Começando pelo primeiro caso, aqueles que não fazem já surf, aqui a tal regra básica do surf não se aplica, e uma onda (espuma) serve para muito mais do que um ‘surfista’, havendo apenas a preocupação da segurança com o número de ‘surfistas’ sem experiência dentro de água ao mesmo tempo. No segundo caso, aqueles que já fazem surf, então aqui sim, a regra aplica-se, e o seu grau de satisfação aumenta ou diminui consoante aumenta ou diminui o número de ondas que conseguem fazer sozinhos, e não podemos correr o risco de chegar ao ponto de no futuro aparecerem títulos de notícias referentes a Peniche, como aquele que recentemente saiu no site Surftotal, no passado dia 19 de Fevereiro, referente à Gold Coast Australiana, e passo a citar, “As águas da Gold Coast na Austrália são uma autêntica "zona de guerra" com os surfistas a lutarem por espaço no meio do crowd”. SUSTENTABILIDADE, este é o conceito base para o sucesso de Peniche como destino de surf. Este conceito assenta, grosso modo, em três pilares, que só em conjunto o definem: o ambiental, o económico e o social, que nos leva a um outro, o de DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, que se refere a um modo de desenvolvimento capaz de responder às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de crescimento das gerações futuras, visando melhorar as condições de vida dos indivíduos, preservando simultaneamente o meio envolvente a curto, médio e, sobretudo, longo prazo, comportando um triplo objectivo: um desenvolvimento economicamente eficaz, socialmente equitativo e ecologicamente sustentável. O ser sustentável, passa por criar condições para que o crowd não aumente desmesuradamente, pois isso irá ter implicações a médio/longo prazo, na vertente ambiental, económica e até social (e aqui falamos também na comunidade local), influenciando diretamente o grau de satisfação dos surfistas/turistas, e a escolha destes para viajar. O ser sustentável passa por termos a noção que existem ondas que têm capacidades de carga diferentes, consoante o tipo de surfistas que as procuram. O ser sustentável passa por percebermos que os mega-investimentos turísticos têm quase como única e exclusiva preocupação, o ganhar muito dinheiro e o mais rapidamente possível, sem preocupações ambientais e muito menos sociais. O ser sustentável, passa por criarmos condições em infraestruturas que melhorem as condições das praias. O ser sustentável, passa por legislar especificamente o surf e não adaptar legislação ao surf, de modo a que quem tenha negócios nesta área os possa desenvolver de forma ordenada, sustentada e principalmente em igualdade de circunstâncias no mercado concorrencial. Se não conseguirmos desenvolver de modo sustentável o turismo de surf em Peniche, declarações como as de Kelly Slater ao Jornal “A Bola”, de dia 9 de Outubro de 2012, começam a fazer sentido, e mais importante, a “fazer mossa” na afirmação de Peniche como destino turístico de excelência para o surf, e que passo a citar: “Já com Peniche tenho uma relação de amor/ódio. Adoro as ondas mas está sempre lotado. Há tantas escolas de surf que, para ser honesto, nem vou surfar fora dos heats, porque está sempre muita gente. A única hipótese é tentar escapar para alguns spots mais distantes.", e não nos esqueçamos de quem é Kelly Slater, e que tudo aquilo que este Senhor diz, é ouvido com redobrada atenção. O surf é uma excelente aposta para o desenvolvimento turístico, mas não pode ser unicamente “à conta” do surf que resolveremos todos os nossos problemas nesta área, pois para que isso acontecesse seria necessário tanta gente, que o produto turístico surf, deixaria de ser apelativo, perdendo qualidade e sustentabilidade, acabando por desaparecer enquanto tal. Então, as ondas não precisam de desaparecer fisicamente, para desaparecerem como produto turístico, e para que tal não aconteça, devem ser aproveitadas de modo sustentável e equilibrado. O “site” Surftotal colocou um vídeo “on-line” de uma onda de ontem nos Supertubos, onde um surfista que não é de Peniche (Nicolau Von Rupp), aliás nem Português, pois segundo me parece, são as cores da Alemanha que ele defende nos circuitos profissionais que corre, portanto é “bife”, faz uma ultrapassagem a um bodyboarder local dentro do tubo. Isto posto assim até parece que não tem nada de especial, e até é o bodyboarder que está a dropinar, como se fosse ele o mau da fita, e que até mereceu. No entanto os factos não são bem estes, e é preciso que se explique bem a envolvência da questão: 1º) O “bife” chegou aos Supertubos em excursão com mais uma “carrada” de amiguinhos, ou seja, trouxe “crowd” com fartura (imaginem o que era se eu chegasse com mais vinte amigos lá ao rio que eles têm no meio de Berlim para surfar, se eles gostavam); 2º) Passa por toda a gente e senta-se no local da prioridade, ignorando quem já lá estava antes dele à espera de ondas, nomeadamente os locais, onde o bodyboarder que o dropinou se incluí, e arranca na onda que o vídeo documenta (imaginem o que era quando eu chegasse lá ao tal rio de Berlim que dá ondas e passasse à frente da fila toda, se eles gostavam); 3º) A colocação em tempo recorde do vídeo na Internet mostra claramente a intenção de dar um sentido depreciativo ao incidente, e reparem que não está disponibilizada na notícia a tradicional caixa de comentários, o que desde logo é demostrativo dessas intenções. Na minha opinião tudo isto é uma afronta direta aos locais de Peniche, e nem o senhor Von Rupp, nem a imprensa que o divulgou tiveram uma atitude digna e de respeito para com os locais de Peniche, bem pelo contrário. O senhor Von Rupp com atitudes destas deixa de ser bem-vindo a Peniche e às suas ondas, e espero que os locais se unam, e que cada vez que o apanhem por cá dentro de água, lhe dropinem todas as ondas que puderem, pode ser que assim aprenda que não chega com vinte amigos a uma praia em que não é local e que ainda se julgue o “rei” do pico. António Silva (Foto: Diogo D'Orey) Muito se tem falado nestes últimos dias da onda da Nazaré e do Sr. McNamara, o homem que a “dropou”. Correu mundo o feito, e a Nazaré esteve mais uma vez nas bocas do mundo. Na minha opinião é muito positivo, e irá trazer mais-valias importantes no futuro. Das variadíssimas crónicas que li sobre o assunto, a de Pedro Bidarra no DINHEIRO VIVO chamou-me a atenção, e penso que ele disse tudo relativamente a este projeto, classificando-o como provavelmente o mais moderno e criativo programa de marketing e comunicação realizado nos últimos tempos, e que dá pelo nome de THE ZON NORTH CANYON SHOW. Até aqui a coisa está toda muito bem, no entanto este projeto, sim, isto é um projeto, onde para além de rolarem ondas, rola também muito dinheiro, com o Sr. McNamara e a sua equipa, como profissionais que são, a ganharem o seu, e verdade seja dita, merecem cada cêntimo, e a ZON a querer tirar o maior proveito possível do investimento que fez. Continuamos ainda sem nada de extraordinário, e num plano completamente legítimo. No entanto houve algo que me despertou também alguma atenção, que foi esta afirmação ao IONLINE dada pelo único português (a surfar), sim, português, dentro de água nesse dia: “Ontem senti-me excluído, como se estivesse ali a mais”, referindo-se à organização do ZON NORTH CANYON SHOW, ou seja, o que eu li naquela afirmação foi, que toda a equipa do projeto, dentro e fora de água têm obrigatoriamente de garantir que é o Sr. McNamara que apanha a maior onda. Basicamente a coisa funciona do seguinte modo, há a monitorização da boia de medição, em que se estima que a onda tal tem tantos metros, essa informação é transmitida para a água aos membros da equipa, e eles têm de garantir que nessa o Sr. McNamara vai. Enquanto assim for, está tudo bem, o Sr. McNamara apanhou a maior, eventualmente bate o recorde, dá entrevistas com o boné da ZON, e toda a gente ganha dinheiro, o problema colocar-se-á quando algum maluco que por lá ande, conseguir dar a volta à situação e ser ele a “dropar” aquela onda que deveria ser para o Sr. McNamara, e depois como é que é, …é uma carga dos trabalhos, o Sr. McNamara já não dá entrevistas com o boné da ZON, já não bate (outra vez) o recorde… e por aí fora. Desta vez já houve alguém que lá foi e que “mordeu os calcanhares” ao Sr. McNamara, e da próxima, possivelmente estará lá outra vez, e quem sabe até pode ser que leve um amigo, e com mais gente dentro de água, as probabilidades do Sr. McNamara perder a tal onda aumentam, ora, nem ele (que é o seu ganha pão), nem a ZON querem que isto aconteça. Neste momento, a organização do ZON NORTH CANYON SHOW, já reserva dissimuladamente o melhor local fora de água, unicamente para os seus fotógrafos. Qual será o próximo passo? Sem dúvida reservar a zona de ondas, através de algum estratagema de licenciamento que estas empresas bem sabem montar, e assim garantir que é o seu atleta a apanhar a grande, continuando a “teta da vaca a dar leite”, e quem quiser ir lá nestes dias fora do esquema, simplesmente não pode. Eu sei que não haverá muita gente a querer lá ir naqueles dias, mas haverá seguramente alguns, e com aspirações legítimas a também eles serem reconhecidos, mas, ou muito me engano, ou a coisa afigura-se cada vez mais difícil, e irá resumir-se ao seguinte, quem tem dinheiro para montar o circo, vai lá, quem não tem, não vai. |
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